Liturgia Diária
2 – SEXTA-FEIRA
SANTO ATANÁSIO
BISPO E DOUTOR DA IGREJA
(branco, pref. dos doutores – ofício da memória)
No meio da Igreja o Senhor abriu os seus lábios, encheu-o com o espírito de sabedoria e inteligência e o revestiu com um manto de glória, aleluia (Eclo 15,5).
Mesmo diante das forças que se opõem à livre manifestação da verdade, há almas que, inspiradas pela luz do Verbo Eterno, não se calam. Santo Atanásio, farol do espírito, sustentou com coragem o reconhecimento do Logos divino, afirmando a dignidade da consciência contra as imposições do tempo. Seu testemunho revela que o impulso interior rumo à verdade transcende qualquer dogma externo. Que a centelha do espírito, como nele, desperte em nós a firmeza de viver segundo princípios universais, onde cada ser é chamado a buscar, expressar e defender a verdade que reconhece no íntimo de sua própria razão iluminada.
Evangelium secundum Ioannem 6,1–15
1 Post haec abiit Iesus trans mare Galilaeae, quod est Tiberiadis.
Depois disso, Jesus atravessou o mar da Galileia, que é o de Tiberíades.
2 Et sequebatur eum multitudo magna, quia videbant signa quae faciebat super his qui infirmabantur.
E seguia-o grande multidão, porque viam os sinais que fazia sobre os enfermos.
3 Subiit ergo in montem Iesus, et ibi sedebat cum discipulis suis.
Jesus subiu ao monte e ali se sentou com seus discípulos.
4 Erat autem proximum Pascha, dies festus Iudaeorum.
Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus.
5 Cum sublevasset ergo oculos Iesus, et vidisset quia multitudo maxima venit ad eum, dicit ad Philippum: Unde ememus panes, ut manducent hi?
Então Jesus, levantando os olhos e vendo que grande multidão vinha até ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para que estes comam?
6 Hoc autem dicebat tentans eum: ipse enim sciebat quid esset facturus.
Dizia isso para prová-lo, pois ele sabia o que ia fazer.
7 Respondit ei Philippus: Ducentorum denariorum panes non sufficiunt eis, ut unusquisque modicum quid accipiat.
Filipe respondeu: Duzentos denários de pão não bastariam para que cada um recebesse um pedaço.
8 Dicit ei unus ex discipulis eius, Andreas, frater Simonis Petri:
Disse-lhe um de seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro:
9 Est puer unus hic, qui habet quinque panes hordeaceos et duos pisces; sed haec quid sunt inter tantos?
Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes; mas o que é isso para tanta gente?
10 Dixit ergo Iesus: Facite homines discumbere. Erat autem foenum multum in loco. Discubuerunt ergo viri, numero quasi quinque milia.
Jesus disse: Fazei sentar os homens. Havia muita relva naquele lugar. Sentaram-se, pois, os homens, em número de cerca de cinco mil.
11 Accepit ergo Iesus panes: et cum gratias egisset, distribuit discumbentibus; similiter et ex piscibus quantum volebant.
Jesus então tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu aos que estavam sentados; igualmente fez com os peixes, tanto quanto quiseram.
12 Ut autem impleti sunt, dixit discipulis suis: Colligite quae superaverunt fragmenta, ne pereant.
Depois de se saciarem, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca.
13 Collegerunt ergo, et impleverunt duodecim cofinos fragmentorum ex quinque panibus hordeaceis, quae superfuerunt his qui manducaverant.
Recolheram, pois, e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram dos que haviam comido.
14 Illi ergo homines cum vidissent quod fecerat signum, dicebant: Quia hic est vere propheta, qui venturus est in mundum.
Então os homens, vendo o sinal que Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo.
15 Iesus ergo cum cognovisset quia venturi essent ut raperent eum, et facerent eum regem, fugit iterum in montem ipse solus.
Jesus, sabendo que viriam arrebatá-lo para fazê-lo rei, retirou-se novamente ao monte, ele sozinho.
Reflexão:
A presença do Verbo entre os homens revela que a liberdade mais plena não está em possuir, mas em oferecer. O gesto do menino, entregando o pouco que tinha, desencadeia uma abundância que transcende o cálculo. Cada ser humano carrega em si o poder de transformar a realidade ao colaborar com o bem comum. A dignidade do indivíduo não se mede por suas posses, mas por sua capacidade de participar livremente na construção de um mundo mais justo. Quando o espírito se alinha com a doação consciente, a matéria responde em multiplicação e comunhão — e o mundo se recria.
Versículo mais importante:
Accepit ergo Iesus panes: et cum gratias egisset, distribuit discumbentibus; similiter et ex piscibus quantum volebant.
Jesus então tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu aos que estavam sentados; igualmente fez com os peixes, tanto quanto quiseram. (Jo 6:11)
Esse versículo concentra a essência do milagre: a transformação da escassez em abundância por meio da gratidão e da partilha. Ele revela o poder criativo do espírito quando unido à generosidade e à comunhão. A multiplicação não é apenas material, mas uma imagem da plenitude que nasce do gesto livre de ofertar.
HOMILIA
O Banquete do Sentido: quando o Espírito partilha o Mundo
No alto do monte, entre relvas silenciosas e corações expectantes, o Verbo se fez gesto. Cinco pães e dois peixes, mínimos na lógica da matéria, tornaram-se vastos na lógica do Espírito. Ali, não era apenas o estômago da multidão que se saciava, mas a fome ancestral do ser por comunhão, por pertencimento, por sentido.
Naquele instante, toda separação entre o sagrado e o cotidiano se dissolveu. O menino que oferece o pouco que tem — sem cálculo, sem contrato — inaugura uma nova economia: a da confiança. Porque é na entrega voluntária do que se é, e não na imposição do que se tem, que a realidade se transfigura. A liberdade não se ergue sobre o isolamento do eu, mas floresce no reconhecimento do outro como extensão de si mesmo.
O Cristo não criou pão do nada. Ele partiu o que havia. A criação segue o ritmo da doação. Ao agradecer, antes mesmo da multiplicação, revelou que tudo já é abundância quando acolhido com gratidão. Cada gesto livre, movido pelo bem, é centelha de um universo em evolução, empurrando a matéria para sua transparência espiritual.
E quando todos comeram e se saciaram, não houve desperdício. O que sobra da partilha consciente não se perde, pois é memória da generosidade encarnada. Os cestos recolhidos são como páginas escritas pelo Espírito, registrando que tudo quanto é dado com amor retorna multiplicado em sentido.
Neste banquete invisível, somos chamados não a sermos reis sobre os outros, mas servidores do pão que alimenta a alma. A verdadeira realeza não é domínio, mas presença; não é poder, mas a capacidade de revelar o sagrado no comum.
Assim, enquanto houver um que parta seu pão com outro, o milagre continuará. E o mundo, como um corpo em ascensão, seguirá sendo transformado — não pela força, mas pela liberdade de amar.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"Jesus então tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu aos que estavam sentados; igualmente fez com os peixes, tanto quanto quiseram." (Jo 6,11)
é uma expressão densamente teológica, carregada de simbolismo cristológico, eucarístico e antropológico. Cada verbo, cada imagem, revela camadas de sentido que tocam o coração do mistério cristão.
1. “Tomou os pães” — a matéria acolhida pelo Verbo
Ao tomar os pães, Cristo assume o elemento humano e terreno — fruto do trabalho, da natureza, do tempo. Os pães, produzidos pela terra e pelas mãos humanas, são símbolo da criação entregue à liberdade do homem. O gesto de "tomar" revela que Deus não despreza a matéria, mas a assume, a acolhe e a transforma. Aqui, o Verbo eterno entra na história concreta e se serve do comum para revelar o divino.
2. “Tendo dado graças” — a Elevação pelo Espírito
A ação de dar graças (em grego, eucharistein) é mais do que um simples agradecimento. É um ato sacerdotal. Jesus, ao agradecer, eleva a matéria ao Pai, inscreve-a na eternidade. O pão deixa de ser apenas pão: torna-se dom. A gratidão é a chave da transfiguração — onde há reconhecimento do dom, há abertura para o milagre. Este gesto antecipa a Ceia Eucarística, na qual Ele não apenas agradecerá, mas Se entregará como o próprio pão.
3. “Distribuiu aos que estavam sentados” — a partilha universal e inclusiva
Não há distinções: os sentados são muitos, diversos, mas todos recebem. O fato de estarem “sentados” evoca a disposição da escuta, da receptividade, do descanso diante do Mistério. A ação de Cristo não é seletiva, não depende de mérito, mas é derramada conforme a abertura do coração. Todos os que se sentam, todos os que se abrem, participam da abundância.
4. “Igualmente fez com os peixes” — a totalidade dos dons
O milagre não se limita ao pão, mas se estende aos peixes — alimento mais efêmero, mais ligado ao cotidiano. Isso demonstra que a providência divina atinge todas as dimensões da vida, tanto o essencial quanto o secundário, tanto o espiritual quanto o sensível. Deus é total em seu dom, e nada é pequeno demais para escapar de seu cuidado.
5. “Tanto quanto quiseram” — liberdade e plenitude
Este detalhe é o ápice da revelação: Deus não impõe medida. Ele oferece conforme o desejo. A plenitude do dom divino respeita a liberdade da criatura. Cada um recebe "quanto quer", porque Deus não força o coração humano — Ele se oferece e espera ser acolhido. O milagre, portanto, não é apenas uma manifestação de poder, mas uma pedagogia da liberdade: o infinito se derrama segundo a sede de cada alma.
Essa frase, na sua simplicidade, é um compêndio da economia da salvação: Deus assume a matéria, eleva-a pela ação de graças, partilha-a com todos, respeita a liberdade de cada um, e tudo isso através do Verbo encarnado. É uma antecipação da Eucaristia, mas também um espelho da vida cristã: acolher, agradecer, partilhar e confiar que o dom se multiplicará conforme a fome do espírito.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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