domingo, 4 de maio de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 6:30-35 - 06.05.2025

Liturgia Diária


6 – TERÇA-FEIRA 

3ª SEMANA DA PÁSCOA


(branco – ofício do dia)


Louvai o nosso Deus, todos os seus servos e todos os que o temeis, pequenos e grandes, pois chegou a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, aleluia (Ap 19,5; 12,10)

O verdadeiro alimento da existência é Jesus, o Pão descido do alto, que nutre não o corpo, mas a liberdade interior. *“Quem vem a mim não terá mais fome; quem crê em mim nunca mais terá sede.”* Nele, a alma encontra plenitude, e o ser se eleva além das necessidades passageiras. Alimentados por essa presença viva, despertamos convicções autênticas e coragem para enfrentar toda opressão, não por imposição, mas por fidelidade à verdade que nos habita. Nesse alimento, encontramos a força de sermos inteiros — mesmo quando chamados a oferecer a vida, pois só o que é livre pode realmente doar-se.




Lectio: Evangelium secundum Ioannem 6:35-40

35. Dixit autem eis Iesus: Ego sum panis vitae; qui venit ad me, non esuriet; et qui credit in me, non sitiet umquam.
Disse-lhes Jesus: Eu sou o pão da vida; quem vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede.

36. Sed dixi vobis quia et vidistis me, et non creditis.
Mas eu vos disse: vós me vistes, e mesmo assim não credes.

37. Omne quod dat mihi Pater, ad me veniet; et eum qui venit ad me, non eiciam foras:
Todo aquele que o Pai me dá virá a mim; e aquele que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.

38. Quia descendi de caelo, non ut faciam voluntatem meam, sed voluntatem eius qui misit me.
Porque desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

39. Haec est autem voluntas eius qui misit me, ut omne quod dedit mihi, non perdam ex eo, sed resuscitem illud in novissimo die.
E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas que os ressuscite no último dia.

40. Haec est autem voluntas Patris mei, ut omnis qui videt Filium et credit in eum, habeat vitam aeternam; et ego resuscitabo eum in novissimo die.
E esta é a vontade do meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e crê nele tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.

Reflexão:

No fulcro da existência, encontramos a realidade de um alimento que não perece, pois não nutre apenas o corpo, mas sustenta o espírito na sua jornada para o Infinito. Cada passo, quando orientado pela confiança, é fortalecido por esta presença silenciosa que age como fermento no interior da história. O pão vindo do céu revela que a verdadeira liberdade não é ausência de limites, mas fidelidade à fonte que nos chamou à vida. Ao acolhermos este dom, nos tornamos capazes de transcender os ciclos da matéria, pois nele habitam as sementes do eterno. A fé, então, não é recuo diante da dúvida, mas impulso criador que nos configura para a verdade. Seguir este caminho é integrar a vida pessoal no movimento de comunhão com todos os seres. O alimento divino nos ergue para sermos agentes da esperança, irradiando luz onde reina a dispersão.


Versículo principal:

Dixit autem eis Iesus: Ego sum panis vitae; qui venit ad me, non esuriet; et qui credit in me, non sitiet umquam.
Disse-lhes Jesus: Eu sou o pão da vida; quem vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede. (Jo 6:35)

Esse versículo sintetiza a promessa central de Cristo: Ele é o sustento absoluto da alma, resposta às carências humanas mais profundas, não apenas físicas, mas existenciais e espirituais.


HOMILIA

O Pão que Eleva Todas as Fomes

Há uma fome que atravessa os séculos, não marcada pelo vazio do estômago, mas pela inquietação do espírito. Ela se revela onde há desejo de sentido, onde pulsa a sede de comunhão, onde o ser anseia por integração com algo maior do que si mesmo. Jesus responde a essa fome com algo que não se esgota, pois não é matéria que se corrompe, mas presença que transforma.

O homem, em seu impulso de crescimento, procura sinais — quer provas, quer obras — mas esquece que o maior sinal é a própria existência sustentada por um Amor que se faz pão. Não um pão qualquer, mas o pão que desce do Céu, ou seja, que não nasce das estruturas da necessidade, mas da liberdade criadora. Ao nos oferecer esse pão, Cristo não apenas alimenta: Ele eleva. Ele desperta o que há de mais nobre em nós — a capacidade de transcendência.

Esse pão é mais que sustento; é direção. Ele orienta a jornada do ser para sua plenitude, não por imposição, mas por atração, pois a verdade não se impõe — ela se revela e se oferece. Quem se aproxima deste pão encontra não apenas saciedade, mas dignidade. Acreditar é, pois, um ato de liberdade: é caminhar em direção àquilo que nos realiza, mesmo sem possuir todas as certezas.

Quando o coração humano se abre à escuta profunda da Palavra que se fez pão, ele começa a transformar a própria realidade. Cada gesto de fé, cada ato de confiança, cada abertura ao outro torna-se um fragmento do Reino em construção. Esse pão nos une, não porque nos uniformiza, mas porque nos alinha ao centro comum onde todas as diferenças encontram harmonia.

Assim, quem come desse pão começa a compreender que a verdadeira saciedade não está em possuir, mas em participar. Não está em controlar, mas em comungar. E quando essa fome é enfim saciada, surge a paz — não como ausência de conflito, mas como plenitude de sentido. Pois aquele que se alimenta do pão vivo desce ao mundo como fermento novo, irradiando vida onde só havia dispersão.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase de Jesus em João 6,35 — “Disse-lhes Jesus: Eu sou o pão da vida; quem vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede” — é uma das declarações mais teologicamente densas do Evangelho, revelando a identidade profunda de Cristo e seu papel essencial na economia da salvação. Ela deve ser lida à luz da revelação veterotestamentária, da teologia da encarnação e da dinâmica espiritual do desejo humano.

1. “Eu sou” (Ego eimi):

A expressão grega ego eimi (εγώ εἰμι) ecoa diretamente o nome divino revelado por Deus a Moisés na sarça ardente: “Eu sou Aquele que sou” (Êx 3,14). Ao utilizá-la, Jesus não está apenas se identificando como alguém com uma missão profética, mas está se revelando como o próprio Logos eterno, encarnado. Ele se apresenta como Aquele que é em Si mesmo — a fonte do ser e da vida. Esta autodeclaração carrega, portanto, um peso ontológico: Jesus não apenas tem o pão, Ele é o pão — é o próprio alimento essencial à existência espiritual.

2. “O pão da vida”:

No Antigo Testamento, o maná era o pão do céu que sustentava o povo no deserto (cf. Ex 16). Esse pão, porém, era perecível e provisório. Jesus contrapõe-se a esse símbolo e se apresenta como o verdadeiro pão, aquele que confere vida plena, eterna e incorruptível. A palavra grega usada para “vida” (zoē) refere-se à vida divina, à plenitude de ser que transcende a mera sobrevivência biológica (bios). Jesus é o pão que comunica o próprio ser de Deus, permitindo que o homem participe da comunhão eterna com o Pai.

3. “Quem vem a mim... quem crê em mim”:

A teologia joanina associa o vir a Jesus com o crer n’Ele. Esses dois movimentos — aproximar-se e crer — são expressões existenciais de fé. Não se trata apenas de adesão intelectual, mas de um ato de entrega total, de configuração interior a Cristo. “Vir a Jesus” é um movimento da liberdade humana em resposta à atração da graça, e “crer n’Ele” é o ato pelo qual se acolhe essa presença salvadora em um compromisso vital.

4. “Não terá fome... nunca mais terá sede”:

Aqui, Jesus toca na realidade mais profunda da condição humana: a fome e sede de sentido, de verdade, de amor e de comunhão. Estas são fomes espirituais inscritas no coração da criatura feita à imagem de Deus. A promessa de Jesus não é a ausência de desejo, mas a sua saciedade plena e dinâmica. Ele não elimina o anseio — Ele o preenche de maneira contínua e crescente, porque o dom que Ele oferece é inesgotável.

Essa saciedade não se refere a uma satisfação estática, mas a um estado de comunhão viva, onde o ser humano encontra repouso, mas também impulso para um contínuo crescimento na verdade, na liberdade e no amor. É uma plenitude que não anula o desejo, mas o redime e o eleva.

Conclusão:
Essa afirmação de Jesus revela o coração da teologia cristã: a união do humano com o divino em Cristo. Ele é o alimento da alma, não apenas por meio da Eucaristia, mas também por sua Palavra, sua Pessoa e seu Espírito. Crer n’Ele e vir a Ele é ser introduzido na dinâmica trinitária do amor, onde as fomes mais profundas do ser encontram sua resposta. Essa frase, portanto, não é apenas uma promessa espiritual, mas a revelação de que a realidade última da vida é relação com Aquele que é o Pão do ser.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

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Primeira Leitura

Segunda Leitura

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