Liturgia Diária
9 – SEXTA-FEIRA
3ª SEMANA DA PÁSCOA
(branco – ofício do dia)
O Cordeiro imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor, aleluia (Ap 5,12).
Mesmo diante das forças que se erguem com fúria contra o espírito livre, este permanece inviolável, pois não é moldado por mãos humanas, mas sustentado por um princípio superior. O poder último não reside na opressão, mas na liberdade que o Cristo interior desperta, capaz de converter até o algoz em servidor da luz. É na fidelidade à consciência elevada que o ser encontra sua verdadeira soberania. Sigamos, então, o chamado silencioso que ecoa no íntimo: viver não por imposição externa, mas por escolha luminosa daquele que nos convoca à vida plena.
“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou.”
Gálatas 5:1
Lectio Sancti Evangelii secundum Ioannem 6,52-59
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Litigabant ergo Iudæi ad invicem, dicentes: Quomodo potest hic nobis carnem suam dare ad manducandum?
Então discutiam entre si os judeus, dizendo: Como pode este dar-nos a sua carne a comer?
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Dixit ergo eis Iesus: Amen, amen dico vobis: nisi manducaveritis carnem Filii hominis, et biberitis eius sanguinem, non habebitis vitam in vobis.
Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos.
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Qui manducat meam carnem, et bibit meum sanguinem, habet vitam æternam: et ego resuscitabo eum in novissimo die.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
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Caro enim mea vere est cibus: et sanguis meus vere est potus.
Pois a minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebida.
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Qui manducat meam carnem et bibit meum sanguinem, in me manet, et ego in illo.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
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Sicut misit me vivens Pater, et ego vivo propter Patrem: et qui manducat me, et ipse vivet propter me.
Assim como o Pai que vive me enviou, e eu vivo por causa do Pai, também aquele que me come viverá por causa de mim.
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Hic est panis, qui de cælo descendit. Non sicut manducaverunt patres vestri manna, et mortui sunt. Qui manducat hunc panem, vivet in æternum.
Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que os vossos pais comeram e morreram. Quem comer este pão viverá eternamente.
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Hæc dixit in synagoga docens in Capharnaum.
Estas coisas disse ele ensinando na sinagoga em Cafarnaum.
Reflexão:
A liberdade não é fuga do corpo, mas comunhão com a totalidade do ser. Neste pão vivo, oferecido, revela-se a energia de união que nos transforma de fragmentos em unidade viva. O Espírito, ao nutrir-se do Verbo encarnado, deixa de ser passivo: torna-se chama criadora, força de escolha consciente. Não é imposição, é participação. O Cristo, ao entregar-se como alimento, convoca-nos à maturidade interior, onde a vida eterna começa aqui, no ato de acolher. A vida verdadeira não se impõe de fora, nasce do interior iluminado que reconhece no outro a mesma centelha divina.
Versículo mais importante:
O versículo mais central e teologicamente denso de João 6,52-59 é o versículo 56, pois sintetiza a união íntima entre Cristo e aquele que o acolhe:
Qui manducat meam carnem et bibit meum sanguinem, in me manet, et ego in illo.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. (Jo 6:56)
Este versículo revela o núcleo da mensagem: não se trata apenas de um rito externo, mas de uma comunhão interior, uma presença recíproca que transforma o ser. Aqui se expressa a liberdade mais elevada — a de ser plenamente habitado pela Vida que se oferece.
HOMILIA
O Alimento da Unidade Interior
No silêncio do mistério, onde o espírito busca compreender o seu lugar no todo, ressoa a palavra viva: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele." (Jo 6,56)
Não se trata de um convite ao rito vazio, mas a uma fusão real entre o humano e o eterno, entre o que somos e o que estamos chamados a ser. O pão descido do céu não alimenta apenas o corpo, mas desperta a consciência adormecida para o seu destino maior: a liberdade de existir em plenitude.
Ao comer o pão da vida, o ser deixa de ser fragmento e torna-se centro em comunhão com o Centro de tudo. Não se dissolve no absoluto, mas é elevado com todas as suas singularidades à esfera da convergência amorosa. Cada escolha torna-se semente de eternidade; cada gesto, um elo entre o visível e o invisível.
Neste alimento, o espírito não é dominado, mas iluminado. Não se torna escravo de dogmas ou estruturas, mas assume em liberdade a própria vocação: ser morada do Logos vivo. Aqui, a vida não é imposta — ela é oferecida. E só quem escolhe livremente esse banquete pode, de fato, permanecer.
Viver desse pão é, portanto, um ato de coragem espiritual: é permitir que a interioridade seja invadida por uma presença que não anula, mas intensifica. É descobrir que a união verdadeira não exige uniformidade, mas comunhão. E que a eternidade começa onde o eu se abre ao outro, onde a carne se torna palavra e a palavra, carne de novo — no coração que ama e permanece.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele” (Jo 6,56) está entre as mais profundas e místicas afirmações de Cristo no Evangelho segundo João. Teologicamente, ela revela três níveis interligados de significação: sacramental, ontológica e escatológica.
1. Dimensão Sacramental – A Eucaristia como Comunhão Real
A expressão de Jesus se refere diretamente ao mistério da Eucaristia. A carne e o sangue não são meras metáforas, mas realidades comunicadas no pão e no vinho consagrados. Participar desse banquete é entrar em contato com a totalidade do Cristo — sua encarnação, paixão, morte e ressurreição. A Eucaristia não é um símbolo vazio, mas um sacramento no qual a presença real de Cristo se torna alimento que transforma o ser humano desde dentro.
2. Dimensão Ontológica – A Permanência como União de Naturezas
O verbo permanecer (em grego, μένειν – menein) indica uma união estável, contínua e recíproca. Não se trata apenas de uma experiência momentânea, mas de uma incorporação mútua. Cristo permanece naquele que o recebe e aquele que o recebe passa a viver n’Ele. Aqui se revela a teologia da deificação (theosis): o ser humano é chamado não apenas a conhecer a Deus, mas a participar de Sua própria vida, sem deixar de ser quem é. Essa permanência não suprime a liberdade, mas a exalta: é uma união de amor, não de anulação.
3. Dimensão Escatológica – Vida em Plenitude e Transformação do Cosmos
Essa união eucarística antecipa o fim último da criação: a plena comunhão de todas as coisas em Cristo. Ao comungar, o fiel participa já agora da realidade futura, tornando-se célula viva no Corpo glorioso que está sendo formado na história. A frase aponta para uma transformação progressiva, não só individual, mas universal: Cristo deseja permanecer no ser humano para que, por meio dele, o mundo inteiro seja elevado à vida verdadeira.
Portanto, quando Jesus diz “permanece em mim e eu nele”, Ele está descrevendo o movimento profundo pelo qual Deus se comunica inteiramente ao ser humano e o ser humano, em liberdade, acolhe essa comunhão, tornando-se expressão viva do Verbo encarnado no mundo. É o início de uma nova criação onde cada pessoa, ao participar deste mistério, se torna espaço de transfiguração e liberdade no coração do tempo.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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