Liturgia Diária
27 – TERÇA-FEIRA
6ª SEMANA DA PÁSCOA
(branco – ofício do dia)
“Ouvi então como que a voz de uma grande multidão, como o estrondo de muitas águas e como o ribombar de fortes trovões. Diziam: ‘Aleluia! Pois o Senhor, nosso Deus, o Todo-poderoso, instaurou o seu reinado. Alegremo-nos, exultemos, e demos glória a ele, porque chegaram as núpcias do Cordeiro, e sua Esposa está preparada’.”
— Apocalipse 19,6-7
No íntimo da existência, a esperança canta com voz eterna: "Estendereis o vosso braço em meu auxílio." Aquilo que era prece tornou-se manifestação – libertação inexplicável, quando a liberdade interior encontra eco no mundo. Cada ser, portador da centelha divina, caminha sob a proteção invisível de um Defensor silencioso, que age quando tudo parece perdido. Não se trata de imposição, mas de confiança: a liberdade floresce onde há fé. Na adversidade, somos chamados a exercer nosso discernimento, a ouvir o sopro do Espírito que conduz à verdade. Pois onde o espírito do Senhor está, ali está a liberdade.
“Estendereis o vosso braço em meu auxílio”
Lectio sancti Evangelii secundum Ioannem
Joannes 16,5-11
-
Nunc autem vado ad eum qui misit me, et nemo ex vobis interrogat me: Quo vadis?
Agora, porém, vou para aquele que me enviou, e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais? -
Sed quia haec locutus sum vobis, tristitia implevit cor vestrum.
Mas porque vos falei estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração. -
Sed ego veritatem dico vobis: expedit vobis ut ego vadam: si enim non abiero, Paraclitus non veniet ad vos: si autem abiero, mittam eum ad vos.
Contudo, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá; pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, eu vo-lo enviarei. -
Et cum venerit ille, arguet mundum de peccato, et de iustitia, et de iudicio.
E quando ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do juízo. -
De peccato quidem, quia non crediderunt in me.
Do pecado, porque não creram em mim. -
De iustitia vero, quia ad Patrem vado, et iam non videbitis me.
Da justiça, porque vou para o Pai, e já não me vereis. -
De iudicio autem, quia princeps huius mundi iam iudicatus est.
Do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.
Reflexão:
O Espírito enviado não apenas consola, mas desperta. Sua vinda marca o início de uma jornada interior rumo à plenitude do ser. A liberdade não é ausência de dor, mas a capacidade de compreender o sentido do afastamento e do silêncio. Quando a presença visível parte, surge a oportunidade de amadurecer no invisível. Não é fuga, mas convite ao crescimento. Cada alma é chamada a assumir a responsabilidade por sua própria elevação, num mundo onde o julgamento já não aprisiona, mas liberta. Assim, na escuta da Voz interior, cada ser se torna coautor de sua própria transfiguração.
Versículo mais importante:
Sed ego veritatem dico vobis: expedit vobis ut ego vadam: si enim non abiero, Paraclitus non veniet ad vos: si autem abiero, mittam eum ad vos.
Contudo, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá; pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, eu vo-lo enviarei. (Jo16:7)
Este versículo destaca que a ausência física de Cristo não é perda, mas condição para a vinda do Espírito, que opera interiormente a liberdade, a consciência e a verdade — fundamentos da dignidade humana.
HOMILIA
O Fogo Invisível que Transforma
Amados, no silêncio da partida do Mestre, a tristeza parece ocupar os espaços da alma como bruma espessa. Mas escutemos: "Convém a vós que eu vá, pois se eu não for, o Paráclito não virá a vós." O que parece ausência, na verdade, é gênese. A ida do Cristo não é fuga, mas a abertura de um novo estado de presença, mais íntimo, mais transformador. Já não é o olhar externo que guia, mas o fogo interior que consome o véu da ignorância.
A vinda do Paráclito é a irrupção do Espírito que fala não apenas aos ouvidos, mas à essência. Ele revela o erro não por condenação, mas para que a verdade liberte. Ele não impõe justiça, mas revela sua pulsação viva no coração de quem busca com sinceridade. Ele não anuncia juízo como sentença, mas como vitória da luz sobre a sombra, pois “o príncipe deste mundo já está julgado.”
No íntimo de cada ser arde a semente da plenitude. O Espírito não é propriedade de uns contra outros, mas impulso universal de comunhão e consciência. Ele nos chama a reconhecer que somos coautores do bem, cocriadores do mundo novo, herdeiros de uma liberdade que não se negocia, pois brota do próprio Logos encarnado.
Por isso, não temamos a partida. Celebremos a vinda. Quando tudo parece recolher-se ao silêncio, é aí que o Espírito germina. E quando ele nos move, não o faz por compulsão, mas por amor, pela liberdade de quem ama a verdade. Que cada um de nós, em sua singularidade sagrada, ouça esta voz sutil que grita no fundo do ser: "Eu vos enviarei o Paráclito."
E que Ele, vindo, nos encontre preparados para sermos fogo.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação Teológica Profunda de João 16,7
“Contudo, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá; pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, eu vo-lo enviarei.”
— João 16,7
Este versículo revela um dos momentos mais profundos e misteriosos da teologia joanina: a relação entre a partida de Cristo (sua Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão) e a vinda do Espírito Santo, o Paráclito (do grego Parakletos, que significa Consolador, Advogado, Ajudador). Trata-se de um eixo trinitário e escatológico que manifesta a dinâmica interna da Revelação e a economia da salvação.
1. “Convém a vós que eu vá” — A Ausência como Maturação da Presença
A “ida” de Cristo não deve ser vista como abandono, mas como transição necessária para que os discípulos avancem para uma nova forma de relação com Ele. Enquanto esteve presente fisicamente, Cristo era limitado pelo espaço-tempo da encarnação. Com sua partida gloriosa, Ele inaugura um novo modo de presença: espiritual, universal, interior. Sua “ida” é uma elevação ontológica que possibilita uma comunhão mais profunda.
Essa ausência visível convida o discípulo à interiorização da fé. Não mais guiado por sinais externos, ele é chamado a desenvolver liberdade interior, responsabilidade pessoal e discernimento espiritual — dimensões próprias de uma maturidade espiritual e ética.
2. “Pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós” — O Tempo do Espírito
A vinda do Espírito Santo está condicionada à glorificação de Cristo. Segundo João, a Cruz e a Ressurreição são inseparáveis do envio do Espírito: trata-se de um único movimento redentor. A “partida” de Jesus inaugura o tempo do Espírito, no qual a ação divina se universaliza e interioriza.
O Paráclito não é apenas um Consolador que alivia dores: Ele é o Espírito da Verdade (cf. Jo 16,13), que educa a consciência, ilumina o discernimento, e guia a alma rumo à plenitude. Ele age no íntimo da liberdade humana, despertando a capacidade de reconhecer o bem e de escolher segundo a verdade.
3. “Mas se eu for, eu vo-lo enviarei” — A Missão Trinitária
Aqui, temos um testemunho da íntima colaboração trinitária: o Filho envia o Espírito, em consonância com o Pai, pois o Espírito “procede do Pai” (cf. Jo 15,26) e é enviado pelo Filho. Trata-se de uma missão divina conjunta, que revela a continuidade do amor trinitário derramado sobre o mundo.
O envio do Espírito é também a perpetuação da missão de Cristo, não como repetição, mas como atualização viva. O Espírito dá continuidade à obra do Verbo, não pela imposição de dogmas, mas pela fecundação do coração humano com a semente da Verdade, da Liberdade e do Amor.
Conclusão:
João 16,7 nos convida a penetrar no mistério da pedagogia divina: o Cristo, ao partir, não se retira — ele se espalha, se aprofunda, se torna intimidade ardente no coração dos que creem. A vinda do Espírito não substitui Jesus, mas amplia seu alcance. A verdadeira liberdade espiritual nasce da escuta dessa presença invisível, que ilumina a consciência, desperta a responsabilidade e conduz cada ser à plena realização em Deus.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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