quinta-feira, 8 de maio de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 6:60-69 - 10.05.2025

Liturgia Diária


10 – SÁBADO 

3ª SEMANA DA PÁSCOA


(branco – ofício do dia)


Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados, por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, aleluia (Cl 2,12).


A liberdade interior é o solo onde germina a fé verdadeira — não imposta, mas escolhida com consciência. Seguir o Cristo é lançar-se no invisível com confiança, mesmo quando a multidão recua. A fé, semente de responsabilidade pessoal, sustenta a comunhão dos que caminham sem garantias visíveis, guiados por uma luz íntima. Assim floresceu a Igreja: não por coerção, mas pelo sopro do Espírito que inspira livremente.

“A Igreja... crescia em número, com a ajuda do Espírito Santo.”
— Atos 9:31

Que nossa adesão ao Verbo seja sempre fruto da liberdade e da luz da razão desperta.



Evangelium secundum Ioannem 6,60-69

Lectio sancti Evangelii secundum Ioannem

60 Multi ergo audientes ex discipulis eius dixerunt: “ Durus est hic sermo! Quis potest eum audire? ”
Então muitos dos seus discípulos, ouvindo isso, disseram: “Dura é esta palavra! Quem a pode escutar?”

61 Sciens autem Iesus apud semetipsum quia murmurabant de hoc discipuli eius, dixit eis: “ Hoc vos scandalizat?
Sabendo, porém, Jesus em seu íntimo que seus discípulos murmuravam por isso, disse-lhes: “Isto vos escandaliza?”

62 Et si videritis Filium hominis ascendentem, ubi erat prius?
E quando virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes?

63 Spiritus est qui vivificat, caro non prodest quidquam; verba, quae ego locutus sum vobis, spiritus sunt et vita sunt.
O espírito é que vivifica, a carne de nada serve; as palavras que vos falei são espírito e vida.

64 Sed sunt quidam ex vobis, qui non credunt ”. Sciebat enim ab initio Iesus, qui essent non credentes et quis traditurus esset eum.
Mas há alguns entre vós que não creem”. Pois Jesus sabia desde o início quem eram os que não criam e quem o havia de entregar.

65 Et dicebat: “ Propterea dixi vobis: Nemo potest venire ad me, nisi fuerit datum illi a Patre ”.
E dizia: “Por isso vos disse: Ninguém pode vir a mim, se não lhe for concedido pelo Pai”.

66 Ex hoc multi discipulorum eius abierunt retro et iam non cum illo ambulabant.
Desde então, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e já não andavam com ele.

67 Dixit ergo Iesus ad Duodecim: “ Numquid et vos vultis abire? ”
Disse então Jesus aos Doze: “Também vós quereis retirar-vos?”

68 Respondit ei Simon Petrus: “ Domine, ad quem ibimus? Verba vitae aeternae habes;
Respondeu-lhe Simão Pedro: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna;

69 et nos credidimus et cognovimus quia tu es Sanctus Dei ”.
e nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus”.

Reflexão:

Quando o espírito humano é chamado à verdade, ele se vê diante de uma escolha radical: permanecer na superfície das coisas ou abrir-se ao chamado interior que transcende os sentidos. Cristo não impõe — convida, e nesse convite está a mais alta dignidade da liberdade. Sua palavra é semente que só germina em terra livre. Muitos voltam atrás, pois o caminho exige coragem de integrar-se com o Todo em transformação. Mas os que ficam, permanecem não por medo, mas por íntima adesão a uma Presença que fala à razão desperta e ao coração livre: vida eterna em liberdade consciente.


Versículo mais importante:

Respondit ei Simon Petrus: “ Domine, ad quem ibimus? Verba vitae aeternae habes;
Respondeu-lhe Simão Pedro: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna;” (Jo 6:68)

Esse versículo sintetiza a liberdade da fé: diante da possibilidade de ir embora, Pedro escolhe permanecer, não por coerção, mas por reconhecimento da verdade vivificante que emana de Cristo.


HOMILIA

A Palavra que Atrai o Centro

No coração do ser pulsa uma tensão antiga: o chamado à comunhão e a tentação do retorno ao disperso. A Palavra do Cristo, em João 6,60-69, não busca agradar; ela revela. Revela o eixo invisível que sustenta todas as coisas, não com o peso da imposição, mas com a leveza de quem convida à liberdade. Muitos, diante da exigência de um sentido mais profundo, voltam às margens. Mas os que permanecem — como Pedro — fazem-no por íntima convergência:
“Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna.”

Esta resposta não é fuga, mas afirmação. A vida eterna não é um tempo distante, mas uma qualidade presente — uma vibração do real onde tudo ganha direção. A carne nada aproveita quando desligada do Espírito, pois é o Espírito que move a matéria ao seu fim pleno. E esse fim não é ruptura, mas união — não absorção da vontade, mas sua elevação.

A liberdade de seguir ou não, de crer ou não, é respeitada por aquele que tudo sustém. Mas a verdadeira liberdade se encontra no movimento de adesão a esse Foco vivo, no qual o eu não se dissolve, mas se integra e se realiza. O Cristo, centro de convergência de toda evolução interior, não força — ele chama. Cada palavra sua é centelha que reacende o sentido no coração desperto.

A vida, portanto, se decide onde a consciência encontra o Verbo. Não nos extremos do medo ou do conformismo, mas no silêncio interior onde se discerne o que tem peso de eternidade. Ali, a escolha é sempre pessoal, intransferível — e profundamente criadora.

“Tu tens palavras de vida eterna...”
Que cada ser escute essa palavra com o ouvido da alma livre — e, ao escutá-la, torne-se mais inteiro.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Explicação teológica profunda de João 6,68:

“Respondeu-lhe Simão Pedro: ‘Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna;’”
(João 6,68)

Este versículo está entre os mais densos teologicamente do Evangelho de João, pois revela, em poucas palavras, a essência da fé cristã: adesão livre, pessoal e consciente ao Cristo como única fonte de sentido absoluto e definitivo.

1. “Senhor, a quem iremos?” – A crise como lugar de revelação

Pedro responde a uma pergunta direta de Jesus: “Também vós quereis retirar-vos?” (v.67). A pergunta de Cristo não é retórica, mas escatológica: toca o núcleo da liberdade humana diante do Mistério. Pedro não responde apenas com fidelidade emocional, mas com consciência da ausência de alternativas verdadeiras. Ele não diz apenas que quer ficar, mas que não há outro a quem ir — ou seja, todo outro caminho é insuficiente, pois nenhum outro contém o Logos encarnado.

Teologicamente, isso revela que a fé cristã não é uma entre muitas vias possíveis: é a resposta ao único que é Palavra Eterna do Pai (cf. Jo 1,1). Pedro reconhece que seguir a Cristo não é uma preferência, mas uma adesão ontológica — uma resposta ao que é estruturalmente verdadeiro.

2. “Tu tens palavras...” – O Logos que comunica o ser

No original grego, “palavras” é rhemata, plural de rhema, que designa uma palavra falada, viva, eficaz. Não é mero discurso: é Palavra que faz ser, que transmite vida. Ao dizer que Cristo “tem palavras”, Pedro reconhece a autoridade performativa do Verbo: sua fala não informa apenas — transforma. É Palavra que cria e recria, como no Gênesis: “Disse Deus… e foi”.

Na tradição joanina, essa Palavra é o próprio Cristo (cf. Jo 1,14), e acolhê-la é tornar-se filho de Deus (Jo 1,12). Portanto, Pedro está dizendo que apenas em Cristo está a Palavra que penetra a alma e a reconcilia com sua origem e destino.

3. “…de vida eterna” – O dom absoluto

A expressão vida eterna (zoē aiōnios) não se refere primariamente à duração infinita, mas à qualidade divina da vida. É a vida como plenitude de ser, vida em comunhão com Deus, vida que transcende a corrupção do tempo. É a vida que o Filho possui em si mesmo (Jo 5,26) e comunica aos que nele creem (Jo 3,16).

Assim, Pedro reconhece que as palavras de Cristo não apenas instruem, mas geram comunhão com o próprio Deus. A eternidade aqui é experimentada como intensidade da presença divina — já iniciada na escuta e acolhida do Verbo.

Conclusão

A resposta de Pedro é o paradigma da fé que une razão e liberdade: uma escolha que reconhece que não há plenitude fora daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). Ele não crê por compreender tudo, mas por ter experimentado que as palavras de Cristo tocam o centro do seu ser. Trata-se de uma confissão teologal: reconhecimento de Cristo como única fonte de sentido último e salvação.

Pedro não foge da dúvida — ele a atravessa com liberdade interior, discernindo que entre o mistério exigente de Cristo e o vazio das alternativas, a única resposta verdadeira é permanecer com aquele que fala a Vida.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

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