Liturgia Diária
5 – SEGUNDA-FEIRA
3ª SEMANA DA PÁSCOA
(branco – ofício do dia)
Ressurge o Pastor eterno, cuja liberdade é doar-se plenamente. Nele, o amor não impõe, mas se oferece; não subjuga, mas liberta. Sua entrega voluntária revela que a verdadeira autoridade nasce do serviço. A alma que O segue enfrenta o campo invisível das ideias e dos poderes, onde a consciência é o templo da resistência. Pois a verdade caminha com firmeza mesmo entre calúnias e sombras. A cada passo, o Espírito sopra coragem, e a dignidade humana se ergue com nobreza.
"O bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas."
— João 10:11
Evangelium secundum Ioannem 6,22–29
In illo tempore
22. Altera die, turba, quae stabat trans mare, vidit quia navicula alia non erat ibi nisi una, et quia non introisset cum discipulis suis Iesus in naviculam, sed soli discipuli eius abiissent.
No dia seguinte, a multidão que estava do outro lado do mar viu que não havia ali senão um barco, e que Jesus não entrara nele com os seus discípulos, mas que estes tinham partido sós.
23. Aliae autem supervenerunt naves a Tiberiade iuxta locum, ubi manducaverant panem, gratias agente Domino.
Mas chegaram outros barcos de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças.
24. Cum ergo vidisset turba quia Iesus non esset ibi neque discipuli eius, ascenderunt ipsi naviculas et venerunt Capharnaum quaerentes Iesum.
Quando a multidão percebeu que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, entraram nos barcos e foram a Cafarnaum à procura de Jesus.
25. Et cum invenissent eum trans mare, dixerunt ei: «Rabbi, quando huc venisti?».
E, encontrando-o do outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?”
26. Respondit eis Iesus et dixit: «Amen, amen dico vobis: quaeritis me, non quia vidistis signa, sed quia manducastis ex panibus et saturati estis.
Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados.”
27. Operamini non cibum, qui perit, sed cibum, qui permanet in vitam aeternam, quem Filius hominis vobis dabit; hunc enim Pater signavit Deus.
Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece para a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois a este Deus Pai marcou com seu selo.”
28. Dixerunt ergo ad eum: «Quid faciemus, ut operemur opera Dei?».
Perguntaram-lhe então: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?”
29. Respondit Iesus et dixit eis: «Hoc est opus Dei: ut credatis in eum, quem misit ille».
Jesus respondeu: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que Ele enviou.”
Reflexão:
A centelha do Verbo desperta o impulso interior do homem livre: busca não pelo pão material, mas pela presença que transcende a fome. Quando a consciência reconhece que o essencial não é dado, mas descoberto, inicia-se o verdadeiro caminho. O Cristo não impõe, chama. Quem crê, escolhe — e nessa escolha brota a verdadeira obra. Não é o milagre que sustenta a alma, mas a liberdade de aderir ao sentido eterno. Onde há fé, há também movimento; e onde há movimento, há progresso em direção à luz. O espírito humano é convidado a ascender, não pela força, mas pelo desejo de plenitude.
Versículo mais importante:
O versículo mais importante de Evangelium secundum Ioannem 6,22–29 é o versículo 29, pois nele Jesus revela de forma clara o núcleo da vontade divina para o ser humano: a fé livre e consciente em sua missão.
Respondit Iesus et dixit eis: «Hoc est opus Dei: ut credatis in eum, quem misit ille».
Jesus respondeu: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que Ele enviou.” (Jo 6:29)
Esse versículo destaca que o verdadeiro "trabalho" que Deus deseja do ser humano não é uma obra exterior, mas um ato interior de liberdade: crer. Crer é mais que aceitar — é confiar, aderir, comprometer-se com a Verdade que se revelou em Cristo. É o ponto onde o humano e o divino se encontram pela vontade, não pela imposição.
HOMILIA
O Alimento que Move o Cosmos
Amados,
No Evangelho segundo João (6,22–29), o Cristo nos revela algo mais profundo que o milagre visível: Ele nos conduz à origem do impulso que move toda a realidade — a busca por um alimento que não perece, que permanece na eternidade. Aqueles que o seguiam estavam saciados de pão, mas vazios de sentido. Procuravam o milagre, mas não compreendiam o Sinal. E é aqui que Ele nos ensina: “Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece para a vida eterna.”
A alma humana, em sua liberdade, é chamada a este labor invisível: o de crer. Crer não como fuga, mas como adesão plena à verdade viva que pulsa no centro do Ser. Esse crer é um ato criador — é obra. Não um fardo imposto, mas um movimento espontâneo da consciência que se reconhece parte de algo maior, e ainda assim, única e insubstituível.
O Cristo não exige subserviência. Ele oferece um caminho. Sua presença não violenta a liberdade interior, mas a desperta. Por isso, diz: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que Ele enviou.” Aqui não há domínio, há convite. Não há medo, há atração. Pois o Espírito só se move em direção ao que o chama com verdade.
Esse alimento eterno que nos é oferecido é o dinamismo da vida que se organiza, se orienta e se eleva. Quando escolhemos crer, tocamos o que há de mais íntimo em nós e no universo: a direção para o Amor. E este Amor, longe de ser mera emoção, é força estruturante, centro evolutivo, energia de ascensão.
Crer é portanto mais que aceitar: é cooperar com a gênese contínua do mundo, com a expansão da consciência, com a elevação do ser. É unir-se ao Logos que não apenas sustenta, mas impele todas as coisas a seu ponto de convergência — onde liberdade e plenitude se encontram.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase de Jesus, “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que Ele enviou” (Jo 6:29), contém um significado teológico profundo que revela o núcleo da relação entre Deus e a humanidade, além de expor o verdadeiro propósito da ação divina na criação. Vamos explorar o significado desta afirmação à luz da revelação cristã e da espiritualidade metafísica.
1. A Obra de Deus:
Quando Jesus fala da “obra de Deus”, Ele não se refere a ações exteriores ou a grandes realizações humanas que podem ser tidas como "boas obras" no sentido convencional. Ao contrário, a obra de Deus é algo profundamente interno, algo que atinge a essência da humanidade. Trata-se da obra que Deus deseja realizar em cada ser humano: a transformação interior que ocorre quando a pessoa se volta para Ele em fé e verdade. Deus não busca apenas comportamentos externos ou rituais, mas uma renovação do coração e da mente, algo que reflete a verdade eterna de Deus em toda a realidade humana.
Deus deseja que Sua obra seja realizada de forma plena na liberdade do ser humano, na sua capacidade de escolher crer, livremente, em Sua mensagem de salvação e transformação. A obra divina não é uma imposição, mas uma semente plantada que floresce na liberdade do ser humano que, ao crer, se torna participante consciente no plano de Deus.
2. Crer em Quem Ele Enviou:
A segunda parte da frase é ainda mais profunda, pois revela o objeto dessa obra de fé: crer naquele que Deus enviou — Jesus Cristo. O verbo "crer" aqui não é apenas uma aceitação intelectual, mas um compromisso total da pessoa com o Cristo, com Sua mensagem, com Sua missão e, finalmente, com Sua revelação de Deus. Cristo não é apenas um mensageiro ou profeta, mas o próprio Enviado de Deus, o Verbo feito carne, a presença plena de Deus entre os homens.
Crer em Jesus é mais do que entender suas palavras; é permitir que Ele se torne a referência última de toda a vida humana. O ato de crer em Jesus é uma adesão à verdade revelada por Ele, que não é apenas uma proposição teórica, mas a experiência direta do Reino de Deus na vida cotidiana. Ao crer, o ser humano se coloca na dinâmica do amor e da salvação, aceitando e participando da ação redentora de Cristo.
3. A Redenção no Ato de Crer:
A expressão de Jesus também nos leva a um entendimento profundo da salvação. A salvação não é algo que se conquista por méritos próprios ou por observâncias externas, mas é algo que se recebe pela fé. No contexto da obra de Deus, crer em Cristo é o meio através do qual a salvação é realizada na vida do crente. Quando Jesus fala que a obra de Deus é crer n'Ele, Ele nos mostra que a resposta humana à revelação divina não é um esforço humano, mas um reconhecimento daquilo que já foi feito por Deus. É, portanto, a graça de Deus, aceita pela fé, que realiza em nós a obra da redenção.
4. Implicações Cósmicas e Espirituais:
Teologicamente, a obra de Deus não se limita ao indivíduo; ela é cósmica. Quando Jesus diz que a obra de Deus é crer em Quem Ele enviou, Ele se refere à restauração de toda a criação. A fé em Cristo se torna a chave para a ordem cósmica, para a integração do ser humano no plano divino. A obra de Deus, ao ser aceita, não apenas transforma a alma do crente, mas também a sua relação com o mundo. A fé em Cristo restabelece a ordem original da criação, restaurando a harmonia entre o ser humano e Deus, entre a humanidade e o cosmos. Isso se reflete na convivência com o próximo, no respeito pela criação e na vivência de uma vida que se alinha com os princípios do Reino de Deus.
5. A Dimensão Libertadora da Fé:
Em um nível mais existencial, o "crer" em Cristo é um ato de liberdade, pois, ao crer, o ser humano encontra seu verdadeiro propósito. A fé em Jesus não é um fardo que oprime, mas a força libertadora que permite ao ser humano transcender suas limitações e viver de acordo com sua verdadeira natureza, que é criada à imagem e semelhança de Deus. A obra de Deus, portanto, é algo que transforma a liberdade humana, não no sentido de dar-lhe autonomia completa (pois a verdadeira liberdade só é possível em Deus), mas no sentido de restituir-lhe sua verdadeira dignidade e capacidade de amar.
Conclusão:
A obra de Deus, como entendida em João 6:29, é a transformação radical do ser humano através da fé em Cristo. Esse ato de crer não é uma simples adesão intelectual, mas uma entrega total da pessoa ao Cristo, o Enviado de Deus, e a participação no mistério da salvação. Em Cristo, Deus revela Sua vontade, e a verdadeira obra que Ele deseja realizar em nós é uma obra de liberdade, de transformação interna, de reconciliação com a criação e de restauração da ordem cósmica. Crer em Cristo, portanto, é o princípio da verdadeira vida, a ação divina que renova toda a realidade humana e cósmica.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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