Liturgia Diária10 – SEXTA-FEIRA
27ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Ao vosso poder, Senhor, tudo está sujeito, e não há quem possa resistir à vossa vontade, porque sois o criador de todas as coisas, do céu e da terra e de tudo que eles contêm; vós sois o Senhor do universo (Est 4,17).
Estar com o Cristo não é pertencer a um rótulo, mas alinhar a alma ao princípio eterno da justiça que habita o cosmos. Quem vive segundo a verdade interior participa do mesmo Verbo que sustenta o mundo; quem o nega, desordena a própria essência. A presença divina não exige culto exterior, mas coerência entre o pensar e o agir. Servir à paz é permanecer em harmonia com o todo, e cultivar a fraternidade é reconhecer o reflexo do divino em cada ser. Assim, estar com Cristo é escolher a retidão que liberta e ordena o espírito ao bem universal.
Evangelium secundum Lucam 11,15-26
-
Quidam autem ex eis dixerunt: In Beelzebub principe daemoniorum eicit daemonia.
Mas alguns deles diziam: É por Beelzebu, príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios. -
Et alii tentantes, signum de caelo quaerebant ab eo.
E outros, para o tentar, pediam-lhe um sinal do céu. -
Ipse autem, ut vidit cogitationes eorum, dixit eis: Omne regnum in seipsum divisum desolabitur, et domus supra domum cadet.
Mas ele, conhecendo os pensamentos deles, disse: Todo reino dividido contra si mesmo será devastado, e casa sobre casa cairá. -
Si autem et Satanas in seipsum divisus est, quomodo stabit regnum eius? Quia dicitis in Beelzebub eicere me daemonia.
Se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que é por Beelzebu que eu expulso os demônios. -
Si autem ego in Beelzebub eicio daemonia, filii vestri in quo eiciunt? Ideo ipsi iudices vestri erunt.
Mas se é por Beelzebu que eu expulso os demônios, por quem os expulsam os vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. -
Porro si in digito Dei eicio daemonia, profecto pervenit in vos regnum Dei.
Mas se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou até vós. -
Cum fortis armatus custodit atrium suum, in pace sunt ea quae possidet.
Quando o homem forte, bem armado, guarda sua casa, seus bens estão em paz. -
Si autem fortior illo superveniens vicerit eum, universa arma eius auferet, in quibus confidebat, et spolia eius distribuet.
Mas se chega outro mais forte que ele e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e reparte os despojos. -
Qui non est mecum, contra me est; et qui non colligit mecum, dispergit.
Quem não está comigo, está contra mim; e quem não ajunta comigo, espalha. -
Cum immundus spiritus exierit de homine, ambulat per loca inaquosa quaerens requiem; et non inveniens dicit: Revertar in domum meam unde exivi.
Quando o espírito impuro sai do homem, vagueia por lugares áridos procurando repouso; e não o encontrando, diz: Voltarei para a minha casa de onde saí. -
Et cum venerit, invenit eam scopis mundatam et ornatam.
E quando vem, acha-a varrida e adornada. -
Tunc vadit et assumit septem alios spiritus nequiores se, et ingressi habitant ibi; et fiunt novissima hominis illius peiora prioribus.
Então vai, toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e entrando, habitam ali; e o estado final daquele homem torna-se pior que o primeiro.
Verbum Domini
Reflexão:
O mal é ausência de ordem interior, não poder próprio. Quando a alma se divide, perde o domínio de si e se torna casa aberta ao caos. A força verdadeira não provém da violência, mas da lucidez que conhece a si mesma. O Cristo revela que o Reino é interior, sustentado pela harmonia entre o pensar e o agir. Expulsar os demônios é restaurar a consciência à sua integridade. A vigilância é o escudo da alma; quem o mantém firme guarda a paz. O homem que se unifica com o bem torna-se fortaleza invencível diante das sombras.
Versículo mais importante:
Porro si in digito Dei eicio daemonia, profecto pervenit in vos regnum Dei.
Mas se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou até vós.(Lc 11:20)
HOMILIA
O Reino Interior e o Dedo de Deus
O Evangelho nos conduz ao âmago do conflito invisível que se trava dentro de cada ser. Quando o Cristo fala do espírito impuro que retorna, revela não apenas o perigo da recaída moral, mas a lei silenciosa que rege a evolução interior: o espaço vazio da alma jamais permanece neutro. O que não é habitado pela luz, será novamente ocupado pela sombra.
O “dedo de Deus” que expulsa os demônios é o toque da consciência desperta, força que não impõe, mas ordena. Essa presença divina manifesta-se no íntimo de quem busca a verdade, libertando-o da fragmentação e conduzindo-o à unidade essencial. Ser livre é tornar-se senhor de si mesmo, disciplinar os movimentos interiores e alinhar o pensamento à ordem eterna que sustenta o cosmos.
A dignidade do homem está em conservar-se íntegro diante das forças que o dispersam. Quando o coração se harmoniza com o Verbo, o caos cessa e o Reino se estabelece em silêncio. O Cristo, centro da harmonia universal, não domina pelo temor, mas pela serenidade que nasce da lucidez. Assim, quem acolhe sua presença torna-se fortaleza de paz, porque descobriu que o verdadeiro campo de batalha não está no mundo, mas no próprio espírito.
EXPLICAÇÃO TEOL[ÓGICA
O Dedo de Deus e o Reino que Habita o Interior
(Lc 11,20)
“Mas se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou até vós.”
1. O gesto divino e a ordem invisível
O “dedo de Deus” não é mera metáfora de poder, mas expressão da presença ordenadora que estrutura toda a criação. É o princípio que age sem violência, a inteligência silenciosa que sustenta o cosmos e penetra cada ser. Quando o Cristo menciona esse gesto, revela a íntima ligação entre o humano e o divino: a ação de Deus não vem de fora, mas desperta no interior de quem se abre à harmonia original.
2. A expulsão dos demônios e a purificação da consciência
Expulsar os demônios é restaurar a alma à sua clareza primordial. O mal, antes de ser entidade externa, é desordem interior — o esquecimento da luz que habita o espírito. O toque divino não destrói, mas reordena; não oprime, mas desperta. Cada movimento de purificação é uma reconquista da liberdade interior, uma volta à verdade que o ser perdeu ao fragmentar-se entre paixões e ilusões.
3. O Reino que chega como estado de consciência
O Reino de Deus não é evento futuro, mas presença que se manifesta quando a alma se pacifica e se reconhece participante do Eterno. Ele não se impõe ao mundo pela força, mas floresce no silêncio da mente disciplinada, onde o discernimento supera o tumulto das emoções. Quando o Cristo afirma que o Reino “chegou até vós”, revela a possibilidade de viver essa realidade agora, no instante em que a consciência se abre à ordem divina.
4. A liberdade e a dignidade da alma desperta
Ser alcançado pelo Reino é libertar-se da servidão interior. A verdadeira liberdade não consiste em agir conforme o impulso, mas em harmonizar o querer com a vontade superior que conduz todas as coisas ao bem. A alma que reconhece o “dedo de Deus” em sua própria existência encontra dignidade, pois sabe que sua essência é portadora do divino.
5. A presença silenciosa que transforma o ser
O dedo de Deus age em silêncio, tal como o sopro que move as águas sem alterar sua pureza. Sua força não domina, mas revela. Aquele que o sente não busca sinais externos, pois compreende que o Reino não está distante, mas pulsando no íntimo. Assim, cada gesto de lucidez, cada vitória sobre o caos interior, é manifestação desse toque sagrado — o Reino que já chegou e continua chegando em todo aquele que desperta.
Leia também:
#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão
#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração
#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata #metafísica #teologia #papaleãoIV #santopapa #sanrtopadre

Nenhum comentário:
Postar um comentário