Liturgia Diária
26 – DOMINGO
30º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – 2ª semana do saltério)
Exulte o coração que busca a Deus! Procurai o Senhor Deus e seu poder, buscai constantemente a sua face (SI 104,3s).
Reunimo-nos em gratidão, não por glória própria, mas pela presença silenciosa da Bondade que tudo sustenta. A alma, quando se curva diante do Infinito, encontra força nas provações e serenidade nas perdas. O coração que ora com pureza reconhece que nada lhe pertence, e tudo lhe é dado para servir. Assim, guiados pelo sopro interior da fé, tornamo-nos mensageiros de esperança. Cada gesto justo, cada palavra prudente, é missão que transcende o tempo, pois quem vive segundo a razão e a virtude testemunha o divino que habita o mundo e o transforma com serenidade e amor.
Evangelium secundum Lucam 18,9-14
-
Dixit autem et ad quosdam qui in se confidebant tamquam iusti, et aspernabantur ceteros, parabolam istam:
Disse também a alguns que confiavam em si mesmos por se julgarem justos e desprezavam os outros esta parábola: -
Duo homines ascenderunt in templum ut orarent: unus pharisaeus, et alter publicanus.
Dois homens subiram ao templo para orar: um fariseu e o outro publicano. -
Pharisaeus stans, haec apud se orabat: Deus, gratias ago tibi quia non sum sicut ceteri hominum, raptores, iniusti, adulteri, velut etiam hic publicanus.
O fariseu, de pé, orava consigo mesmo: Ó Deus, dou-te graças porque não sou como os demais homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem mesmo como este publicano. -
Jejuno bis in sabbato, decimas do omnium quae possideo.
Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo o que possuo. -
Et publicanus a longe stans, nolebat nec oculos ad caelum levare: sed percutiebat pectus suum, dicens: Deus, propitius esto mihi peccatori.
O publicano, porém, mantendo-se à distância, nem sequer ousava levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem piedade de mim, pecador. -
Dico vobis, descendit hic iustificatus in domum suam ab illo: quia omnis qui se exaltat, humiliabitur; et qui se humiliat, exaltabitur.
Eu vos digo: este desceu justificado para sua casa, e não aquele; pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado.
Verbum Domini
Reflexão:
A grandeza não nasce do orgulho, mas do reconhecimento da própria fragilidade. Aquele que se conhece verdadeiramente não busca aplausos, busca sentido. A humildade é a força que eleva, pois nela o homem encontra sua proporção diante do Eterno. A justiça não se afirma pelo poder, mas pela retidão do coração. Quem se recolhe em silêncio aprende que a oração sincera é mais profunda que qualquer palavra. Assim, o homem livre é aquele que domina a si mesmo e caminha em paz, sem vanglória, sustentado apenas pela luz interior que o guia.
Versículo mais importante:
Evangelium secundum Lucam 18,14
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Dico vobis, descendit hic iustificatus in domum suam ab illo: quia omnis qui se exaltat, humiliabitur; et qui se humiliat, exaltabitur.
Eu vos digo: este desceu justificado para sua casa, e não aquele; pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado.(Lc 18:14)
A Humildade que Revela o Absoluto
O Evangelho de hoje nos conduz ao templo interior, onde dois homens se colocam diante do Mistério. Um fala de si; o outro, fala com o Eterno. No silêncio entre suas palavras, o Espírito revela que a verdadeira oração não se mede pela forma, mas pela direção da alma. Aquele que se exalta fecha o horizonte da consciência em torno do próprio mérito; aquele que se humilha abre o coração ao infinito.
A evolução do ser não se dá pela superioridade moral, mas pelo reconhecimento sereno de que toda virtude é participação na Luz que sustenta o mundo. A liberdade espiritual floresce quando o homem abandona o orgulho de possuir a verdade e se entrega à verdade que o possui. A dignidade não nasce da aparência de justiça, mas da retidão silenciosa que se ergue do arrependimento e da consciência desperta.
Assim, o publicano é justificado não por negar o mal, mas por encará-lo com humildade. Ele não busca aprovação, busca comunhão. E nessa entrega, reencontra o sentido de existir — não como criatura que compete, mas como alma que retorna à Fonte. Aquele que se esvazia do próprio nome torna-se espelho da Presença. É nesse esvaziamento que o homem se eleva, não sobre os outros, mas acima de si mesmo, alcançando o lugar onde o orgulho se dissolve e a paz tem morada.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Caminho da Justificação Interior
“Eu vos digo: este desceu justificado para sua casa, e não aquele; pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado.” (Lc 18,14)
1. O Silêncio que Revela o Verdadeiro Culto
A parábola conduz o olhar para o centro da experiência espiritual: o encontro do homem consigo mesmo diante de Deus. Não há mérito exterior que substitua a pureza interior. O fariseu fala com as palavras do orgulho, o publicano fala com o silêncio do arrependimento. A diferença entre ambos é o estado de consciência — um busca afirmar-se, o outro permitir-se ser transformado. A oração autêntica nasce quando o ser humano reconhece que não há nada em si que não provenha da Fonte.
2. A Humilhação como Ascensão da Alma
A humilhação, na lógica divina, não é derrota, mas retorno à verdade. Quando o ego se curva, a alma se ergue. Aquele que se exalta erige um trono de areia; aquele que se humilha constrói sobre a rocha da eternidade. O movimento de descer é, portanto, o caminho da ascensão interior — a entrega da vontade pessoal à Vontade Suprema. Somente quem se reconhece pequeno pode ser elevado, pois o espaço do vazio é o lugar da plenitude.
3. A Justiça como Equilíbrio Interior
A justificação do publicano não é recompensa moral, mas manifestação da harmonia restabelecida. A justiça divina não mede feitos, mas intenções. É uma vibração de equilíbrio entre o humano e o eterno, o finito e o absoluto. Aquele que se mantém em humildade torna-se justo porque aceita a própria incompletude e se deixa ordenar pela sabedoria do Todo. Assim, a verdadeira justiça não é imposição, é integração com a ordem sagrada que rege o universo.
4. A Liberdade que Nasce do Reconhecimento
A liberdade espiritual não consiste em fazer o que se quer, mas em ser o que se é diante de Deus. O fariseu está preso ao reflexo de si mesmo; o publicano é livre porque reconhece a própria dependência. A confissão da fragilidade abre o ser à luz da misericórdia, e nessa abertura o homem torna-se senhor de suas paixões e servo da verdade. É esse paradoxo — humilhar-se para ser exaltado — que revela a dignidade mais alta: a liberdade conquistada pela entrega.
5. O Retorno à Casa Interior
“Desceu justificado para sua casa” — o Evangelho não fala apenas de um lugar físico, mas do retorno à morada da alma. A casa é o centro interior onde o homem reencontra o equilíbrio perdido. A justificação é a restauração da unidade entre o humano e o divino, a reconciliação do fragmento com o Todo. O publicano volta transformado, pois a humildade o reconduziu à essência. Ele não leva uma nova doutrina, mas um novo olhar: aquele que vê a si mesmo à luz do Amor que tudo sustenta.
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