Liturgia Diária
6 – SEGUNDA-FEIRA
27ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Ao vosso poder, Senhor, tudo está sujeito, e não há quem possa resistir à vossa vontade, porque sois o criador de todas as coisas, do céu e da terra e de tudo que eles contêm; vós sois o Senhor do universo (Est 4,17).
O mundo se aperfeiçoa quando cultivamos a proximidade verdadeira, reconhecendo no outro a expressão da mesma essência que nos habita. Cada encontro torna-se ocasião de reafirmar a liberdade como vínculo que sustenta a dignidade comum e fortalece a convivência. A Eucaristia, em sua profundidade, recorda que a comunhão não é apenas rito, mas sinal de uma ordem maior que une todas as diferenças em harmonia. A misericórdia surge, então, como exercício consciente de justiça e equilíbrio, não como concessão, mas como força interior que guia a ação. Cumprir a missão é viver plenamente o bem que transcende o tempo.
Evangelium secundum Lucam 10, 25-37
25 Et ecce quidam legisperitus surrexit tentans illum, et dicens: Magister, quid faciendo vitam æternam possidebo?
E eis alguém, doutor da lei, levantou-se e, procurando-o, perguntou: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
26 At ille dixit ad eum: In lege quid scriptum est? quomodo legis?
Ele lhe disse: O que está escrito na Lei? Como lês tu?
27 Ille respondens dixit: Diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo, et ex tota anima tua, et ex omnibus virtutibus tuis, et ex omni mente tua: et proximum tuum sicut teipsum.
A ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todas as tuas faculdades; e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
28 Dixitque illi: Recte respondisti: hoc fac, et vives.
Disse-lhe ele: Respondeu bem; faze isso, e viverás.
29 Ille autem volens justificare seipsum, dixit ad Jesum: Et quis est meus proximus?
Porém aquele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?”
30 Suscipiens autem Jesus, dixit: Homo quidam descendebat ab Jerusalem in Jericho, et incidit in latrones, qui etiam despoliaverunt eum: et plagis impositis abierunt semivivo relicto.
Jesus, tomando a palavra, disse: Certo homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de assaltantes, que o despojaram; e, tendo-lhe imposto feridas, foram-se, deixando-o quase morto.
31 Accidit autem ut sacerdos quidam descenderet eadem via: et viso illo praeterivit.
Sucedeu que descia por aquele caminho um sacerdote; e, ao vê-lo, passou de largo.
32 Similiter et Levita, cum esset secus locum, et videret eum, pertransiit.
De igual modo um levita, estando naquele lugar, e vendo-o, passou adiante.
33 Samaritanus autem quidam iter faciens, venit secus eum: et videns eum, misericordia motus est.
Mas um samaritano, que viajava, chegou onde ele estava; e, vendo-o, foi movido de compaixão.
34 Et appropians alligavit vulnera ejus, infundens oleum et vinum: et imponens illum in jumentum suum, duxit in stabulum, et curam ejus egit.
E aproximando-se, curou-lhe as feridas, derramando óleo e vinho; e, pondo-o sobre sua própria montaria, levou-o a uma estalagem, e cuidou dele.
35 Et altera die protulit duos denarios, et dedit stabulario, et ait: Curam illius habe: et quodcumque supererogaveris, ego cum rediero reddam tibi.
No dia seguinte, tirou dois denários, entregou-os ao estalajadeiro e disse: “Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu te reembolsarei quando voltar.”
36 Quis horum trium videtur tibi proximus fuisse illi, qui incidit in latrones?
Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos assaltantes?
37 At ille dixit: Qui fecit misericordiam in illum. Et ait illi Jesus: Vade, et tu fac similiter.
Ele disse: Aquele que teve compaixão dele. E Jesus lhe disse: Vai, e faz da mesma maneira.
Verbum Domini
Reflexão:
A Palavra nos convida a reconhecer que o verdadeiro valor reside no gesto livre e consciente que eleva a convivência. Cada pessoa manifesta um poder originário, uma dignidade que não se subsume ao coletivismo nem se subordina ao arbitrário. A prática da compaixão é exercício da autonomia interior que fortalece vínculos e promove a ordem justa, sem diluir a identidade individual. O chamado “fazer assim” é convite à ação responsável — manter-se firme na escolha do bem, sem depender de aplausos, e edificar ao redor um espaço onde a liberdade se une ao serviço.
Versículo mais importante:
At ille dixit: Qui fecit misericordiam in illum. Et ait illi Jesus: Vade, et tu fac similiter.
Ele disse: Aquele que teve compaixão dele. E Jesus lhe disse: Vai, e faz da mesma maneira.(Lc 10:37)
HOMILIA
A Travessia da Misericórdia Interior
O Evangelho nos conduz a um caminho que vai além do relato histórico: ele nos coloca diante da realidade eterna da existência. O doutor da lei pergunta pela vida eterna, mas Jesus não lhe dá um conceito; oferece-lhe um percurso. Amar a Deus e ao próximo não é mero mandamento, é expressão da ordem cósmica que sustenta o ser.
Na parábola, o homem caído na estrada é imagem de nossa condição humana: vulnerável, exposta ao acaso e ao esquecimento. O sacerdote e o levita passam adiante porque a vida sempre apresenta a tentação da indiferença, que endurece o coração. O samaritano, porém, vê e se compadece. Esse gesto é mais do que solidariedade; é revelação do princípio universal que une liberdade e responsabilidade.
A verdadeira liberdade não é o direito de se afastar do outro, mas a força de reconhecê-lo como reflexo da mesma essência que habita em nós. A dignidade da pessoa não é atributo concedido por estruturas externas, mas realidade inscrita no ser. Quando o samaritano age, ele se torna participante da harmonia invisível que rege o cosmos: cura, sustenta, dá de si, sem esperar retorno.
Jesus conclui: “Vai, e faz da mesma maneira.” Não é uma ordem externa, mas um chamado à evolução interior. Cumprir esse convite é atravessar a estrada da vida não como espectador, mas como presença transformadora. É compreender que cada ato de misericórdia é também um ato de ascensão espiritual, um degrau no caminho que nos conduz à vida eterna, onde liberdade e amor se fundem em uma só realidade.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
“Vai, e faz da mesma maneira” (Lc 10,37)
O Coração da Resposta
A parábola culmina nesse versículo, onde a Palavra não descreve apenas uma cena, mas estabelece um princípio eterno. Não basta reconhecer o bem ou admirá-lo; é preciso encarná-lo. A vida não se define pelo discurso, mas pela prática que confirma o que a alma já intui: agir com compaixão é alinhar-se à ordem superior que sustenta a criação.
A Dimensão da Compaixão
A compaixão não é emoção passageira, mas força ativa que atravessa o ser. Ela não enfraquece, mas fortalece, pois exige desprendimento do ego e abertura para o outro. O homem que “faz misericórdia” torna-se parte de uma corrente invisível que une todos os seres, libertando-se da indiferença que aprisiona e conduz à solidão.
O Chamado à Liberdade Interior
Quando Jesus ordena “Vai”, convoca à ação livre. A verdadeira liberdade não está em escolher qualquer caminho, mas em optar conscientemente pelo que dignifica a vida. A ordem divina não impõe servidão; oferece ao homem a possibilidade de ser plenamente si mesmo, exercendo a responsabilidade que lhe é inerente.
O Caminho da Dignidade
Agir em favor do outro é afirmar a dignidade humana em sua raiz. O próximo não é objeto de nossa benevolência, mas espelho de uma mesma origem. O gesto compassivo revela que a existência tem sentido apenas quando se reconhece o valor inalienável de cada pessoa.
Síntese da Estrada Espiritual
O versículo encerra não apenas a parábola, mas a estrada de cada vida: ver, mover-se, agir, cuidar, sustentar. Não é teoria, mas prática constante que transforma. O mandamento “faz da mesma maneira” é chamado universal à elevação do ser — caminhar na estrada do tempo com os olhos fixos no eterno, sem fugir do dever, vivendo a grandeza de cada gesto que reflete a luz que não se apaga.
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