Liturgia Diária
22 – QUARTA-FEIRA
29ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis, inclinai o vosso ouvido e escutai-me! Protegei-me qual dos olhos a pupila e abrigai-me à sombra de vossas asas (SI 16,6.8).
A existência é um ensaio constante diante da eternidade. Cada gesto, palavra e silêncio revelam o grau de fidelidade à centelha divina que habita em nós. Viver com retidão é preparar o espírito para o retorno do Verbo, quando toda aparência cederá lugar à verdade. Que o rito sagrado desperte em nós o desejo de agir com pureza, de sustentar a harmonia entre dever e liberdade, de honrar a justiça nas relações que tecem a comunidade humana. Assim, quando a Luz retornar, encontrará em nós um reflexo sereno de sua própria integridade.
“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.”
Evangelium secundum Lucam 12,39-48
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Hoc autem scitote, quia si sciret pater familias qua hora fur venturus esset, non sineret perfodi domum suam.
Saibam isto: se o dono da casa soubesse a hora em que viria o ladrão, não deixaria que sua casa fosse arrombada. -
Et vos estote parati, quia qua hora non putatis, Filius hominis veniet.
Também vós, estai preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que menos pensais. -
Ait autem ei Petrus: Domine, ad nos dicis hanc parabolam, an et ad omnes?
Disse-lhe Pedro: Senhor, dizes esta parábola para nós, ou também para todos? -
Dixit autem Dominus: Quis, putas, est fidelis dispensator et prudens, quem constituit dominus supra familiam suam, ut det illis in tempore tritici mensuram?
E o Senhor respondeu: Quem é, pois, o administrador fiel e prudente, que o senhor pôs à frente de seus servos, para dar-lhes, a seu tempo, a ração de trigo? -
Beatus ille servus, quem, cum venerit dominus, invenerit ita facientem.
Feliz aquele servo que o senhor, ao chegar, encontrar procedendo assim. -
Vere dico vobis, quia super omnia quae possidet constituet illum.
Em verdade vos digo que o colocará sobre todos os seus bens. -
Quod si dixerit servus ille in corde suo: Moram facit dominus meus venire; et coeperit percutere servos et ancillas, edere autem et bibere et inebriari,
Mas, se aquele servo disser em seu coração: Meu senhor demora a vir; e começar a espancar os servos e as servas, a comer, beber e embriagar-se, -
Veniet dominus servi illius in die qua non sperat, et hora qua ignorat, et dividet eum, partemque eius cum infidelibus ponet.
O senhor daquele servo virá no dia em que ele não espera e na hora que não sabe, e o separará, destinando-o ao mesmo fim dos infiéis. -
Ille autem servus, qui cognovit voluntatem domini sui, et non praeparavit, et non fecit secundum voluntatem eius, vapulabit multis.
Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor, mas não se preparou nem agiu conforme essa vontade, será muito castigado. -
Qui autem non cognovit, et fecit digna plagis, vapulabit paucis. Omni autem cui multum datum est, multum quaeretur ab eo; et cui commendaverunt multum, plus petent ab eo.
Mas o que não a conheceu e fez coisas dignas de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, mais ainda se pedirá.
Verbum Domini
Reflexão:
Viver é vigiar o instante que não anuncia sua chegada. A alma prudente não teme o tempo, pois nele exercita o domínio de si e o serviço silencioso do bem. Quem governa suas ações pela retidão interior constrói uma fortaleza invisível contra o imprevisto. O verdadeiro poder nasce do cuidado e da responsabilidade, não da espera passiva. A vigilância não é ansiedade, mas serenidade ativa. Cada gesto justo é uma resposta antecipada ao chamado do Senhor. Assim, quando a hora chegar, encontrará no coração humano uma casa desperta, ordenada e fiel à luz.
Versículo mais importante:
Evangelium secundum Lucam 12,48
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Omni autem cui multum datum est, multum quaeretur ab eo; et cui commendaverunt multum, plus petent ab eo.
A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, mais ainda se pedirá.(Lc 12:48)
Este versículo é o eixo moral e espiritual de toda a passagem. Ele revela a medida justa entre dom e responsabilidade, poder e consciência. Ensina que os dons não são privilégios, mas encargos sagrados; quanto maior a luz recebida, maior deve ser o zelo em transmiti-la. É o chamado silencioso da alma à integridade que sustenta o mundo.
HOMILIA
A Vigilância da Consciência e o Chamado da Luz Interior
O Evangelho segundo Lucas nos conduz hoje ao mistério da vigilância espiritual. Não se trata de temer a chegada do Senhor, mas de compreender que Ele vem continuamente, em cada instante que nos chama à lucidez e ao domínio de nós mesmos. O ladrão que chega de surpresa simboliza o tempo, que avança silencioso, tomando de volta o que foi mal usado. A casa que pode ser arrombada é a alma desatenta, dispersa no rumor das distrações, esquecida de que a vida é serviço e não posse.
O Mestre nos convida à disciplina interior que desperta a liberdade autêntica. A verdadeira liberdade não é o direito de fazer tudo, mas a força de escolher o bem mesmo quando o mundo se inclina ao contrário. Ela nasce da consciência desperta, do reconhecimento de que a existência é um dom que nos exige participação ativa no ritmo da Criação. Ser o “servo fiel e prudente” é governar a própria vida com justiça, sem submeter-se às paixões, mas orientando-as pela razão iluminada pelo Espírito.
Cada um recebe talentos, dons e responsabilidades. “A quem muito foi dado, muito será exigido” não é sentença de temor, mas afirmação de dignidade. O ser humano é chamado a responder à altura da luz que o habita. Quanto maior a consciência, maior o dever de servir; quanto mais clara a visão, mais pura deve ser a ação. Essa é a lei invisível que ordena o universo e que o coração humano, em sua profundidade, reconhece como justa.
A vigilância espiritual é, portanto, a arte de manter-se desperto em meio à impermanência. Não há evolução sem atenção, nem plenitude sem responsabilidade. Vigiar é permanecer em estado de presença, sustentando o templo interior contra as invasões do esquecimento. Assim, o retorno do Senhor não será um evento distante, mas o reencontro constante entre a alma e sua origem luminosa.
Que cada um de nós viva como guardião da própria casa interior, consciente de que o tempo é sagrado e a liberdade é o altar onde se realiza o culto mais elevado: o da fidelidade à Verdade.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
“A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, mais ainda se pedirá.” (Lc 12,48)
1. A medida divina da responsabilidade
As palavras de Cristo revelam uma lei espiritual que transcende toda medida humana. Não há privilégio sem dever, nem dom sem compromisso. A graça recebida não é ornamento, mas tarefa. O que Deus concede não é propriedade do indivíduo, mas energia que deve circular para o bem comum. Assim, cada dom — inteligência, poder, tempo, amor — converte-se em um chamado à responsabilidade. O valor de uma alma não se mede pelo quanto possui, mas pelo modo como administra aquilo que lhe foi confiado.
2. O dom como peso sagrado
Receber muito significa carregar a beleza e o peso do chamado. O homem dotado de maior clareza espiritual ou de maior poder terreno não é mais livre, mas mais responsável. A exigência não vem de fora, mas do próprio interior, onde a consciência reconhece que o dom, se não for usado para o bem, se transforma em fardo. O mesmo fogo que ilumina também pode consumir, e o mesmo talento que eleva pode perder quem o utiliza em vaidade. A medida da exigência é a medida da luz.
3. A confiança divina como ato de amor
Quando Deus confia algo ao ser humano, Ele o faz por amor, não por expectativa. Confiar é acreditar que a alma pode crescer. O Criador não exige por severidade, mas para despertar a potência adormecida. A exigência é, portanto, um gesto de confiança divina: quanto mais Deus pede, mais Ele acredita. Cada provação, cada responsabilidade, é um espelho da fé que o Eterno deposita no homem.
4. A vigilância interior
Ser digno da confiança recebida requer vigilância. A alma deve permanecer desperta, atenta ao sentido de suas ações. Não basta agir; é preciso compreender o porquê de cada gesto. A vigilância não é medo, mas lucidez. É o estado daquele que reconhece o tempo como sagrado e a própria liberdade como dom a ser cuidado. Estar vigilante é estar em comunhão com o movimento eterno do Espírito que nos habita.
5. A liberdade como resposta
A verdadeira liberdade não é ausência de dever, mas a capacidade de escolher o bem. Quando o homem responde ao dom recebido com retidão, ele se torna coautor da obra divina. A exigência do Evangelho é, na verdade, um convite à plenitude: quanto mais o ser se aperfeiçoa, mais livre se torna, pois age em conformidade com a ordem superior do Amor.
6. Conclusão — O chamado da plenitude
Este versículo não ameaça, mas desperta. Recorda-nos que cada ser humano é uma promessa viva, portador de um desígnio que só se cumpre na fidelidade ao que lhe foi dado. O que Deus exige é que sejamos o que já somos em essência: luz em meio à sombra, consciência em meio à dispersão, ordem em meio ao caos. Quem reconhece o valor de seus dons aprende que a exigência divina é, na verdade, a pedagogia do amor — o impulso que conduz o espírito à sua maturidade eterna.
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