Liturgia Diária
18 – SÁBADO
SÃO LUCAS
EVANGELISTA E MISSIONÁRIO
(vermelho, glória, pref. dos apóstolos II – ofício da festa)
Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação! (Is 52,7)
Lucas, espírito contemplativo de Antioquia, elevou sua escrita à dimensão do eterno, unindo razão e fé na harmonia do Verbo. Viu na palavra o poder de libertar e no ato de servir a expressão da sabedoria. Seu Evangelho não é apenas relato, mas espelho da alma que busca o sentido da existência. Acompanhar Paulo foi para ele exercício de virtude e domínio de si, pois todo caminho exige coragem interior. Que sua lembrança inspire em nós o zelo pela verdade e o amor ao bem comum, onde a liberdade floresce como fruto da consciência iluminada.
In Festo Sancti Lucae Evangelistae
Evangelium secundum Lucam 10,1–9
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Post haec autem designavit Dominus et alios septuaginta duos, et misit illos binos ante faciem suam in omnem civitatem et locum, quo erat ipse venturus.
Depois disso, o Senhor designou outros setenta e dois e os enviou dois a dois à sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele devia ir. -
Et dicebat illis: “Messis quidem multa, operarii autem pauci; rogate ergo Dominum messis, ut mittat operarios in messem suam.”
E dizia-lhes: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos; portanto, pedi ao Senhor da colheita que envie operários para a sua messe.” -
“Ite; ecce ego mitto vos sicut agnos inter lupos.”
“Ide; eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos.” -
“Nolite portare sacculum neque peram neque calceamenta, et neminem per viam salutaveritis.”
Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias, e a ninguém saudeis pelo caminho. -
“In quamcumque domum intraveritis, primum dicite: Pax huic domui.”
Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa. -
“Et si ibi fuerit filius pacis, requiescet super illum pax vestra; sin autem, ad vos revertetur.”
E se ali houver um filho da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, voltará a vós. -
“In eadem autem domo manete, edentes et bibentes quae apud illos sunt; dignus est enim operarius mercede sua. Nolite transire de domo in domum.”
Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem, pois o trabalhador é digno do seu salário. Não passeis de casa em casa. -
“Et in quamcumque civitatem intraveritis, et susceperint vos, manducate quae apponuntur vobis.”
E em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido. -
“Et curate infirmos, qui in illa sunt, et dicite illis: Appropinquavit in vos regnum Dei.”
Curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O Reino de Deus está próximo de vós.
Verbum Domini
Reflexão:
O envio dos setenta e dois revela a ordem silenciosa que rege o universo: servir é participar do movimento da vida. A verdadeira paz nasce daquele que não possui, mas confia. Quem caminha leve, sem excessos, leva consigo a força do que é livre e inteiro. O Reino se aproxima em cada gesto justo, em cada palavra que consola. A dignidade do trabalhador é a harmonia entre o esforço e o sentido. O dom maior não está em colher, mas em semear. Aquele que cura e anuncia torna-se espelho do próprio Logos que habita todas as coisas.
Versículo mais importante:
Et curate infirmos, qui in illa sunt, et dicite illis: Appropinquavit in vos regnum Dei.
Curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O Reino de Deus está próximo de vós.(Lc 10:9)
Este versículo é o coração do envio: nele se une a ação e a contemplação, o cuidado e o anúncio. A cura simboliza a restauração da ordem interior e exterior, enquanto a proximidade do Reino revela a presença viva do divino no instante humano. É o chamado à transformação do mundo através da compaixão ativa e da consciência desperta.
HOMILIA
O Envio Interior e o Reino que Habita em Nós
O Evangelho segundo Lucas revela um mistério que transcende o tempo: o homem é enviado não apenas ao mundo exterior, mas à vastidão de seu próprio ser. Quando o Senhor designa e envia os setenta e dois, fala também ao núcleo mais silencioso da alma humana, convocando-a a sair de si mesma e servir à vida. O envio é uma metáfora da expansão da consciência — um chamado à maturidade espiritual que reconhece a liberdade não como posse, mas como expressão do Espírito que habita em tudo.
“Curai os enfermos e anunciai que o Reino de Deus está próximo.” Este versículo é a síntese da jornada interior. Curar é restaurar a harmonia perdida entre corpo, mente e alma; é devolver à existência o equilíbrio que o excesso de desejo ou medo desfez. O anúncio do Reino é a proclamação silenciosa de que o divino não se encontra distante, mas pulsa em cada ser que age com retidão e serenidade.
A grandeza humana manifesta-se quando o homem compreende que o verdadeiro poder não é dominar, mas servir; não é possuir, mas oferecer. Quem caminha leve, sem as bolsas simbólicas do orgulho e da ambição, torna-se canal da paz. E essa paz, ao repousar sobre o outro, retorna multiplicada, pois a alma que dá sem cálculo participa da ordem universal.
A dignidade do trabalhador do Reino nasce da fidelidade à própria essência. Cada gesto justo é uma semente plantada no campo da eternidade, e cada ato de cuidado é uma oferenda ao Todo. O caminho do enviado é silencioso, mas pleno; solitário, mas habitado pela presença do Eterno. E quando o homem realiza sua missão com serenidade e desapego, ele já vive o Reino que anuncia.
Assim, o envio de Cristo não é apenas um movimento histórico, mas o eterno convite ao despertar. O homem que escuta esse chamado torna-se ponte entre o invisível e o visível, entre o que é e o que pode ser. Ele não busca recompensas, pois sua alegria está em servir ao que é mais alto, e sua liberdade floresce na obediência à lei da verdade que habita em si.
“Appropinquavit in vos regnum Dei.” O Reino não está distante; ele se aproxima em cada alma que se entrega ao bem, em cada coração que escolhe amar sem medida. Nesse instante, o enviado e o Reino tornam-se um só.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Reino que Se Aproxima: Dimensões do Envio Interior
“Curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O Reino de Deus está próximo de vós.” (Lc 10,9)
A cura como restauração da ordem divina
A palavra “curai” não se limita ao ato físico, mas indica um retorno à harmonia primordial que o ser humano perdeu ao afastar-se da unidade interior. A enfermidade, em qualquer de suas formas, é sinal de ruptura entre a alma e sua fonte de origem. Curar é, portanto, restituir ao homem a consciência de sua inteireza, reconduzindo-o ao equilíbrio que o liga ao Criador. O poder de curar nasce da comunhão com essa Presença que, silenciosa, sustenta o universo. Assim, quem cura participa do movimento criador de Deus, restaurando em cada ser a imagem viva do Bem.
O anúncio do Reino como revelação interior
“Dizei-lhes: o Reino de Deus está próximo de vós.” Não se trata de uma promessa distante, mas de uma revelação imediata. O Reino não é um território a ser conquistado, mas uma realidade a ser despertada. Ele aproxima-se quando o coração humano se liberta das correntes da vaidade e se abre à presença divina que habita em todas as coisas. A proximidade do Reino é o reflexo da consciência desperta, que vê em cada gesto de bondade a manifestação do Eterno.
A liberdade como obediência à ordem do Espírito
Os enviados são convidados a caminhar sem bolsas nem reservas. Essa leveza é símbolo da alma que confia, que se desprende do supérfluo para servir com pureza. A verdadeira liberdade não está em possuir, mas em estar disponível ao chamado. Quem caminha nesse espírito já participa da ordem divina, pois age em conformidade com a razão que sustenta o cosmos. A missão torna-se então um exercício de fidelidade à própria essência, onde o agir e o ser coincidem em unidade.
A dignidade como expressão da presença divina
O trabalhador é digno de seu salário porque sua ação é sagrada. Em cada gesto de cuidado e palavra de paz, ele reflete a dignidade do próprio Criador, que se comunica por meio do homem justo. Dignidade não é conquista, mas reconhecimento do que já é: o reflexo do divino em cada alma consciente. O que serve, portanto, não se diminui; torna-se espelho do Amor que tudo move e tudo sustenta.
A síntese do caminho
Curar e anunciar — dois movimentos que se fundem em um só ato de plenitude. Curar é reconciliar o homem com o que ele é; anunciar é revelar o que ele pode ser. O Reino de Deus não chega de fora: ele se manifesta quando o interior humano se ordena segundo a Verdade. Nesse instante, toda cura é comunhão, e toda palavra é revelação. O enviado torna-se então o próprio sinal do Reino, presença viva da harmonia que nunca se ausenta.
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