Liturgia Diária
19 – DOMINGO
29º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – 1ª semana do saltério)
Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis, inclinai o vosso ouvido e escutai-me! Protegei-me qual dos olhos a pupila e abrigai-me à sombra de vossas asas (SI 16,6.8).
A oração é o sopro que mantém acesa a centelha interior. Pela constância do espírito, o ser humano eleva-se acima das circunstâncias e aprende que a justiça divina age com silenciosa precisão. Assim como a viúva perseverante alcançou resposta, também quem permanece fiel à verdade encontra equilíbrio e força. Ser missionário é irradiar esperança, não apenas em palavras, mas em conduta. A fé viva não se separa da ação; ambas sustentam a respiração da alma. Quando a consciência se unifica ao Bem, todo gesto torna-se anúncio silencioso do Eterno, e cada vida se converte em luz para o mundo.
Dominica XXIX per Annum – Evangelium secundum Lucam 18,1-8
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Dicebat autem illis et parabolam, quoniam oportet semper orare et non deficere,
E dizia-lhes também uma parábola sobre a necessidade de orar sempre e nunca desfalecer. -
Dicens: Iudex quidam erat in quadam civitate, qui Deum non timebat et hominem non reverebatur.
Dizia: Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. -
Vidua autem quaedam erat in civitate illa, et veniebat ad eum, dicens: Vindica me de adversario meo.
E havia também naquela cidade uma viúva, que vinha até ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário. -
Et noluit per multum tempus; post haec autem dixit intra se: Etsi Deum non timeo nec hominem revereor,
E por muito tempo ele não quis; mas depois disse consigo mesmo: Ainda que eu não tema a Deus nem respeite os homens, -
Tamen quia molesta est mihi haec vidua, vindicabo illam, ne in novissimo veniens suggillet me.
Contudo, porque esta viúva me importuna, farei justiça a ela, para que, vindo sempre, não me importune mais. -
Ait autem Dominus: Audite quid iudex iniquitatis dicit;
E o Senhor acrescentou: Ouvi o que diz o juiz injusto. -
Deus autem non faciet vindictam electorum suorum clamantium ad se die ac nocte, et patientiam habebit in illis?
E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele dia e noite, ainda que pareça demorar em atendê-los? -
Dico vobis, quia cito faciet vindictam illorum. Verumtamen Filius hominis veniens putas inveniet fidem in terra?
Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, pensas que encontrará fé sobre a terra?
Verbum Domini
Reflexão:
A perseverança na oração revela o poder interior que sustenta o ser consciente. A fé não é súplica de fraqueza, mas exercício da vontade alinhada ao Eterno. Orar é disciplinar o espírito, ordenar o caos interior, purificar o desejo e transformá-lo em princípio de ação justa. Assim como a viúva insistiu, o justo permanece firme diante do tempo e das adversidades. O que é divino responde na medida em que a alma se torna digna de escutar. A verdadeira justiça nasce do silêncio persistente e da serenidade que compreende que o retorno vem pela retidão do próprio ser.
Versículo mais importante:
Deus autem non faciet vindictam electorum suorum clamantium ad se die ac nocte, et patientiam habebit in illis?
E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele dia e noite, ainda que pareça demorar em atendê-los?(Lc 18:7)
Este versículo é o centro espiritual da parábola, pois revela a fidelidade divina diante da perseverança humana. Nele se une o clamor do tempo ao silêncio da eternidade: a alma que persevera, mesmo sem resposta imediata, é a que se torna digna da justiça divina.
HOMILIA
A Perseverança como Movimento da Alma
O Evangelho revela, na figura da viúva insistente, o símbolo da alma em busca de sentido. Ela representa a consciência humana diante do mistério divino: frágil na aparência, mas indomável em sua fidelidade ao que é justo. O juiz iníquo é a imagem das forças interiores que resistem à luz, o endurecimento do coração que o tempo e a razão não conseguem dissolver. Contudo, a insistência da viúva mostra que o Espírito, quando unido à verdade, vence até o silêncio aparente de Deus.
Orar sempre é manter viva a chama da consciência desperta, é permitir que o sopro divino encontre em nós morada e expressão. A oração, neste sentido, não é petição por vantagens, mas exercício de liberdade e dignidade: é o ato de permanecer firme na direção do Bem, mesmo quando o mundo parece surdo ao clamor da alma.
A perseverança é o ritmo da eternidade que pulsa em cada instante do tempo. Quando o ser humano ora sem cessar, ele transcende o desejo e alcança a pureza do querer. Ele se torna instrumento da harmonia universal, participante da ordem divina que sustenta os mundos.
O Filho do Homem pergunta se encontrará fé sobre a terra — não por dúvida, mas para despertar o olhar interior que reconhece que a fé é mais do que crença: é comunhão viva com o Princípio que habita o silêncio. Aquele que permanece fiel à justiça, mesmo sem recompensa visível, já vive a eternidade em seu próprio coração.
Assim, a oração perseverante não busca mudar Deus, mas transformar o orante. É a arte de permanecer ereto diante do invisível, de purificar o íntimo até que o juízo da alma se alinhe à vontade divina. Nessa comunhão, a liberdade se revela não como escolha arbitrária, mas como adesão consciente à luz que tudo sustenta.
E quando a fé é encontrada, mesmo em um só coração, o universo inteiro respira mais próximo de Deus.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Justiça que Nasce do Silêncio
“E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele dia e noite, ainda que pareça demorar em atendê-los?” (Lc 18,7)
1. O Clamor que Transcende o Som
O clamor dos escolhidos não é apenas uma voz que sobe ao céu, mas o movimento interior da alma que busca alinhar-se ao eterno. Orar dia e noite é permanecer consciente da presença divina em meio à alternância dos tempos. A súplica constante não é insistência exterior, mas fidelidade interior: é o espírito que, mesmo em meio à noite do silêncio, continua voltado para a Luz que o gerou.
2. A Justiça como Ordem do Ser
A justiça divina não se confunde com a justiça humana. Enquanto a humana busca retribuição, a divina restaura harmonia. O tempo de Deus não é o tempo da impaciência humana. Quando parece que o Altíssimo tarda, na verdade Ele trabalha nas profundezas do ser, purificando o desejo, dilatando o coração, preparando-o para compreender o dom. A justiça de Deus é sempre pedagógica: não pune, desperta; não vinga, equilibra.
3. O Escolhido e a Responsabilidade do Espírito
Ser “escolhido” não é privilégio, mas missão. O chamado divino é convite à consciência, ao domínio de si, à fidelidade ao bem mesmo diante da ausência de recompensas. Quem clama dia e noite é aquele que já reconheceu sua dependência do Alto, mas também sua liberdade de agir conforme o Bem. Essa tensão entre o divino e o humano não é conflito, mas caminho de amadurecimento.
4. A Espera como Forma de Sabedoria
A demora aparente de Deus é a escola da alma. A paciência é o campo onde se cultiva a confiança pura. O homem que sabe esperar sem desespero já alcançou o domínio do próprio coração. A demora purifica a intenção, separa o desejo do ego do anseio do espírito. E quando a justiça chega, ela encontra o ser transformado — não mais pedindo o que queria, mas acolhendo o que precisa.
5. O Silêncio de Deus e a Fé que Permanece
O silêncio de Deus não é ausência, mas linguagem profunda. Nele se prova a autenticidade da fé. Aquele que permanece fiel, mesmo sem resposta, é o verdadeiro justo: não busca sinais, mas presença; não exige recompensas, mas comunhão. Assim, a justiça prometida não é apenas reparação externa, mas a ordenação interior que faz da alma um espelho da vontade divina.
6. A Justiça Realizada na Unidade
Quando o ser humano se harmoniza com a vontade de Deus, a justiça já se cumpre. Não se trata de um evento futuro, mas de um estado de consciência presente. O clamor e o silêncio tornam-se um só movimento: o da alma que aprendeu a respirar em sintonia com o Eterno. Nesse ponto, a oração deixa de pedir para simplesmente ser — e a justiça, antes esperada, habita o próprio coração.
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