quinta-feira, 7 de agosto de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 12:32-48 - 10.08.2025

 Liturgia Diária


10 – DOMINGO 

19º DOMINGO DO TEMPO COMUM


(verde, glória, creio – 3ª semana do saltério)


Lembrai-vos, Senhor, da vossa aliança e nunca esqueçais a vida dos vossos pobres. Levantai-vos, Senhor, e julgai vossa causa, e não fecheis o ouvido ao clamor dos que vos procuram (Sl 73,20.19.22s).


Somos felizes porque a Luz nos chamou à existência com propósito. A cada despertar, somos convidados a viver, pela fé, o compromisso com a Verdade que liberta e honra a dignidade de cada ser. A Voz do Alto acende em nós a vigilância do espírito e o serviço por livre amor, pois o Reino habita no íntimo e é o tesouro maior. No tempo consagrado da celebração, honremos a vocação sagrada da convivência e da liberdade partilhada. Celebremos a família como espaço da autonomia, onde pais, em sua missão, refletem a presença do Bem invisível que gera e sustenta o mundo.

“Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.”
    — 2 Coríntios 3:17



Evangelium secundum Lucam 12,32-48

Dominica XIX per Annum – Evangelium

32. Nolite timere, pusillus grex, quia complacuit Patri vestro dare vobis regnum.
Não temais, pequeno rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.

33. Vendite quae possidetis et date eleemosynam. Facite vobis sacculos, qui non veterascunt, thesaurum non deficientem in caelis, quo fur non appropiat, neque tinea corrumpit.
Vendei o que possuís e dai esmola. Fazei para vós bolsas que não envelhecem, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega e a traça não corrói.

34. Ubi enim thesaurus vester est, ibi et cor vestrum erit.
Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.

35. Sint lumbi vestri praecincti, et lucernae ardentes.
Estejam cingidos os vossos rins, e acesas as vossas lâmpadas.

36. Et vos similes hominibus exspectantibus dominum suum, quando revertatur a nuptiis: ut, cum venerit et pulsaverit, confestim aperiant ei.
Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar das bodas, para que, quando vier e bater, logo lhe abram a porta.

37. Beati servi illi quos, cum venerit dominus, invenerit vigilantes: amen dico vobis, quod praecinget se, et faciet illos discumbere, et transiens ministrabit illis.
Bem-aventurados aqueles servos que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo, ele se cingirá, os fará sentar à mesa e, passando entre eles, os servirá.

38. Et si venerit in secunda vigilia, et si in tertia vigilia venerit, et ita invenerit, beati sunt servi illi.
E se vier na segunda vigília, ou na terceira, e assim os encontrar, bem-aventurados serão esses servos.

39. Hoc autem scitote, quia si sciret paterfamilias qua hora fur veniret, non sineret perfodi domum suam.
Sabei, porém, isto: se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, não permitiria que a sua casa fosse arrombada.

40. Et vos estote parati: quia qua hora non putatis, Filius hominis venit.
Estai vós também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que menos pensais.

41. Ait autem ei Petrus: Domine, ad nos dicis hanc parabolam, an et ad omnes?
Pedro disse-lhe então: Senhor, dizes esta parábola só para nós, ou também para todos?

42. Dixit autem Dominus: Quis, putas, est fidelis dispensator et prudens, quem constituet dominus supra familiam suam, ut det illis in tempore tritici mensuram?
O Senhor respondeu: Quem é, pois, o administrador fiel e prudente, que o senhor estabelecerá sobre os seus servos, para dar-lhes a ração de trigo no tempo devido?

43. Beatus ille servus, quem, cum venerit dominus eius, invenerit ita facientem.
Feliz aquele servo que o senhor, ao chegar, encontrar procedendo assim.

44. Vere dico vobis: quoniam supra omnia quae possidet, constituet illum.
Em verdade vos digo: ele o constituirá sobre todos os seus bens.

45. Quod si dixerit servus ille in corde suo: Moram facit dominus meus venire: et coeperit percutere servos et ancillas, et edere, et bibere, et inebriari:
Mas se esse servo disser em seu coração: Meu senhor demora a vir; e começar a espancar os servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se,

46. Veniet dominus servi illius in die qua non sperat, et hora qua nescit, et dividet eum, partemque eius cum infidelibus ponet.
o senhor daquele servo virá no dia em que ele não espera, e na hora que ele não sabe, e o punirá severamente, e lhe dará sorte entre os infiéis.

47. Ille autem servus, qui cognovit voluntatem domini sui, et non praeparavit, et non fecit secundum voluntatem eius, vapulabit multis:
O servo que conheceu a vontade de seu senhor, mas não se preparou, nem agiu conforme essa vontade, será castigado com muitos açoites.

48. Qui autem non cognovit, et fecit digna plagis, vapulabit paucis. Omni autem cui multum datum est, multum quaeretur ab eo: et cui commendaverunt multum, plus petent ab eo.
Mas aquele que a não conheceu e fez coisas dignas de castigo, será punido com poucos açoites. A todo aquele a quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, mais ainda se pedirá.

Reflexão:

O chamado à vigilância não é imposição, mas convite à liberdade lúcida. Quem desperta para a vida como dom e responsabilidade, compreende que o Reino não é herança de imposição, mas conquista de consciência. O serviço livre, feito por amor e não por medo, revela a grandeza de quem age com inteireza. A recompensa não é o poder, mas a integração com o Bem. Cada ser, dotado de razão e vontade, participa da construção de um mundo mais justo quando assume seu lugar com fidelidade. A eternidade começa quando escolhemos viver com autenticidade o presente que nos foi confiado.


Versículo mais importante: 

O versículo mais importante de Evangelium secundum Lucam 12,32-48 é, para muitos intérpretes espirituais e contemplativos, o versículo 32, pois ele revela o coração da mensagem de confiança, liberdade interior e herança do Reino como dom gracioso — não imposto, mas ofertado em amor.

32. Nolite timere, pusillus grex, quia complacuit Patri vestro dare vobis regnum.
Não temais, pequeno rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.(Lc 12:32)

Esse versículo expressa:

– A confiança como fundamento da jornada espiritual;
– A escolha divina que respeita a liberdade humana;
– A imagem de um Pai que se compraz em conceder, e não dominar;
– A suavidade do Reino, não como domínio exterior, mas realidade interior que se revela aos que permanecem vigilantes no amor.


HOMILIA

O Reino Que Se Revela no Centro do Ser

Nolite timere, pusillus grex, quia complacuit Patri vestro dare vobis regnum.
(Não temais, pequeno rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino. — Lc 12,32)

Há uma promessa sutil que atravessa o véu do tempo e ecoa no âmago de cada consciência desperta: o Reino não é algo a ser conquistado por força, mas a ser reconhecido em sua doação silenciosa, no íntimo do ser. O Evangelho que ouvimos é um convite ao retorno à origem — ao centro de onde tudo brota, onde a liberdade verdadeira repousa e onde a dignidade da pessoa se revela como imagem do Eterno.

Não temais. Essa é a primeira chave. O medo paralisa a expansão interior e obscurece a visão do real. Aquele que caminha com o coração assombrado pela ameaça não consegue ouvir o chamado do Espírito, que é suave como brisa e firme como rocha. O Reino, diz o Senhor, é dado. Não imposto. Não comprado. Não imposto por violência, nem recebido por privilégio. Ele é doado, como semente em solo livre.

Mas para acolhê-lo, é necessário estar vigilante. Vigilância, neste contexto, não é ansiedade, mas presença. É o estado desperto de quem vive alinhado com a fonte. Aqueles que têm as lâmpadas acesas são os que se tornaram luz por dentro. Que transformaram o servir em expressão de amor livre. Que descobriram que a mais alta realização humana consiste em participar da obra do Bem com consciência e alegria.

Ser encontrado desperto não é mérito, mas fruto de uma adesão interior ao chamado. Aquele que se deixa moldar pela fidelidade silenciosa se torna, pouco a pouco, um espaço onde o Reino se manifesta. Cada gesto de cuidado, cada palavra que edifica, cada decisão tomada na liberdade do amor é como um degrau na ascensão invisível da alma.

O Senhor confia sua casa àqueles que se tornam responsáveis por si mesmos. Pois quem governa seu próprio coração com justiça está apto a participar da construção de um mundo onde a dignidade de cada ser é respeitada como sagrada. A quem muito foi dado — e a existência já é um dom supremo — muito será pedido. Não por exigência exterior, mas porque a grandeza interior exige expressão. Quem carrega dentro de si a centelha do Infinito não pode permanecer inerte.

Este Evangelho nos revela que o tempo é sagrado. E que cada instante contém em si a possibilidade da transformação. A vigilância é, então, o cultivo do presente como espaço de eternidade. E o serviço não é submissão, mas escolha consciente de colaborar com a luz que tudo vivifica.

O Reino está próximo, porque está dentro. E aquele que se abre a essa verdade se torna, aos poucos, aquilo que contempla: um reflexo vivo da Presença que nos sustenta, nos chama e nos confia a eternidade em forma de agora.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Explicação teologicamente profunda e metafísica do versículo Lucas 12,32"Não temais, pequeno rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino." — com estrutura em subtítulos para conduzir o entendimento por camadas espirituais e contemplativas:

1. “Não temais” — O Despertar da Liberdade Interior

A primeira palavra do versículo é um apelo direto à liberdade interior: “Não temais.” O medo, na tradição espiritual, não é apenas emoção humana; é uma sombra ontológica que afasta a alma de sua origem luminosa. O temor paralisa o ser e fecha o coração à confiança radical em Deus.

Este imperativo revela que a verdadeira liberdade nasce na superação do medo: quando a alma compreende que não está à mercê do acaso, mas é amparada por uma Vontade Amorosa que a precede e a sustém.
O medo é vencido não pela força, mas pela lembrança da Origem. Quando reconhecemos que fomos pensados e desejados eternamente, descobrimos que a segurança não vem da posse, mas da pertença.

2. “Pequeno rebanho” — A Singularidade da Alma na Multidão

Jesus fala a um “pequeno rebanho”, o que indica uma comunidade invisível de seres que ouviram o chamado do Alto e seguem a luz interior mesmo entre as massas que caminham distraídas.

Esse pequeno rebanho não é identificado por visibilidade ou poder mundano, mas por sua escuta atenta e adesão silenciosa ao Bem. Ele representa as almas que se deixaram conduzir pela voz do Espírito, mesmo na obscuridade.

A expressão também ressalta a dimensão singular da relação com Deus: cada pessoa é conhecida, chamada e amada no singular. A grandeza espiritual não está na quantidade, mas na profundidade da resposta dada.

3. “Aprouve ao vosso Pai” — A Vontade Amorosa que sustenta o Ser

A estrutura do versículo revela que a origem do dom está no agrado do Pai. Deus não entrega o Reino por obrigação, mas por alegria. “Aprouve ao vosso Pai” significa que há uma Vontade que é amor puro, uma deliberação eterna em favor da vida.

Esta vontade não é arbitrária, mas fruto de uma liberdade perfeita, que deseja o bem do outro como extensão de Si. A fonte da existência não é força cega, mas Intenção Pura.

A dignidade do ser humano nasce deste mistério: fomos desejados por uma Vontade que se alegra em nos fazer participantes da sua própria realidade.

4. “Dar-vos o Reino” — A Herança Ontológica do Espírito

O ponto culminante do versículo é este: “dar-vos o Reino.” O Reino não é algo conquistado por mérito, nem imposto por imposição exterior. Ele é dado. E como dom, só pode ser acolhido por quem se abre ao mistério da gratuidade.

Dar o Reino é entregar o acesso à própria realidade divina: é oferecer ao ser humano a possibilidade de comungar com o Infinito, não após a morte, mas desde já, na profundidade do espírito desperto.

Esse Reino não é lugar geográfico, mas estado de consciência: é a plenitude da presença divina em nós. Receber o Reino é tornar-se templo da eternidade, onde Deus reina no centro da vontade livre do ser.

5. Síntese Contemplativa — O Reino como Reconhecimento da Origem

Este único versículo condensa toda a espiritualidade do Cristo:
– O medo é substituído pela confiança;
– A alma, embora pequena, é escolhida;
– A Vontade divina se revela como benevolente;
– E o Reino, como dom, convida à participação na própria Vida de Deus.

Aceitar esse dom é reencontrar-se com a própria origem. O Reino é o retorno do ser a Si mesmo, reconciliado com a Fonte. Ele não vem com aparência exterior, mas cresce silenciosamente na alma que se oferece em liberdade.

Quando o ser humano desperta para essa realidade, ele se reconhece não como servo amedrontado, mas como herdeiro consciente de uma grandeza que o transcende e o habita. E então, tudo muda — pois o Reino, que parecia distante, estava já dentro de nós.

“O Reino de Deus está dentro de vós.”
    — Lucas 17,21

Leia: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

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