Liturgia Diária7 – QUINTA-FEIRA
18ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Vinde, ó Deus, em meu auxílio, apressai-vos, ó Senhor, em socorrer-me. Sois meu Deus libertador e meu auxílio. Não tardeis em socorrer-me, ó Senhor! (Sl 69,2.6)
O ser humano, livre por essência, tende a esquecer-se do Mistério que o sustenta. Quando a memória se ausenta, cede-se à ilusão do domínio próprio, ignorando a mão invisível que conduz com amor eterno. A alma, em sua nobre dignidade, não foi feita para a servidão do medo, mas para a confiança lúcida na Providência. Somos conduzidos, não por força, mas por um chamado interior à liberdade que floresce na Verdade.
"O Senhor é meu pastor; nada me faltará"
(Salmo 23,1)
Lembrar é libertar-se. Confiar é reconhecer que a verdadeira autoridade é a que guia, não a que oprime.
Confessio Petri
Evangelium secundum Matthaeum 16,13-23 (Vulgata Clementina)
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Venit autem Jesus in partes Cæsareæ Philippi: et interrogabat discipulos suos, dicens: Quem dicunt homines esse Filium hominis?
Jesus foi para a região de Cesareia de Filipe e perguntou a seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” -
At illi dixerunt: Alii Joannem Baptistam, alii autem Eliam, alii vero Jeremiam, aut unum ex prophetis.
Eles responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas.” -
Dicit illis Jesus: Vos autem, quem me dicitis esse?
Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” -
Respondens Simon Petrus dixit: Tu es Christus, Filius Dei vivi.
Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” -
Respondens autem Jesus, dixit ei: Beatus es, Simon Bar Jona: quia caro et sanguis non revelavit tibi, sed Pater meus, qui in cælis est.
Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus.” -
Et ego dico tibi, quia tu es Petrus, et super hanc petram ædificabo Ecclesiam meam, et portæ inferi non prævalebunt adversus eam.
E eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. -
Et tibi dabo claves regni cælorum. Et quodcumque ligaveris super terram, erit ligatum et in cælis: et quodcumque solveris super terram, erit solutum et in cælis.
Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus. Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” -
Tunc præcepit discipulis suis ut nemini dicerent quia ipse esset Jesus Christus.
Então ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que Ele era o Cristo. -
Exinde cœpit Jesus ostendere discipulis suis, quia oporteret eum ire Jerosolymam, et multa pati a senioribus, et scribis, et principibus sacerdotum, et occidi, et tertia die resurgere.
Desde então Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que era necessário ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos escribas e dos sumos sacerdotes, ser morto e ressuscitar no terceiro dia. -
Et assumens eum Petrus, cœpit increpare illum, dicens: Absit a te, Domine: non erit tibi hoc.
Pedro, chamando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Isso jamais te acontecerá.” -
Qui conversus, dixit Petro: Vade post me, Satana: scandalum es mihi: quia non sapis ea quæ Dei sunt, sed ea quæ hominum.
Jesus, voltando-se, disse a Pedro: “Afasta-te de mim, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, pois não pensas as coisas de Deus, mas sim as dos homens.”
Reflexão:
O reconhecimento da Verdade nasce da liberdade interior que ousa escutar o invisível. Quando Pedro confessa o Cristo, não o faz por lógica imposta, mas por uma abertura que transcende o mero entendimento humano. A confiança que o Cristo deposita em sua resposta é também um apelo à responsabilidade: ligar e desligar, construir e transformar. Cada ser humano é chamado a ser pedra viva de uma realidade em evolução. Não se trata de submissão cega, mas de adesão consciente ao centro vivo que atrai todas as coisas para a plenitude. Nessa liberdade ativa, a alma encontra sua verdadeira dignidade: ser coautora do eterno.
Versículo maiss importante:
O versículo mais importante de Evangelium secundum Matthaeum 16,13-23 é o versículo 16, pois nele se dá a confissão de fé de Pedro, fundamento da revelação cristã sobre a identidade de Jesus como o Cristo:
16. Respondens Simon Petrus dixit: Tu es Christus, Filius Dei vivi.
Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.(Mt 16:16)
Este versículo é o centro do diálogo entre Jesus e os discípulos, revelando a identidade messiânica do Senhor não por sabedoria humana, mas por revelação divina. É também a base sobre a qual Jesus anuncia a edificação de sua Igreja.
HOMILIA
Sobre a Rocha da Consciência Desperta
Na região de Cesareia de Filipe, longe do centro religioso de Jerusalém, Jesus dirige aos seus discípulos a pergunta que ecoa através dos séculos: "Quem dizeis que eu sou?" — não como mera indagação histórica, mas como convocação interior a cada alma desperta. Esta pergunta atravessa os véus do tempo e repousa no âmago de todo ser que busca sua origem e seu destino.
Pedro responde: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." E nesse instante, algo se revela. Não apenas sobre Jesus, mas sobre Pedro, sobre cada um de nós. Aquele que reconhece o Cristo não apenas identifica o Mistério, mas desperta para o seu próprio chamado eterno. Pois a Verdade, quando acolhida, transforma aquele que a contempla.
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.” — não sobre a fragilidade do homem, mas sobre a solidez da consciência que se abre ao divino. Esta pedra é mais do que um nome: é símbolo da interioridade edificada sobre o reconhecimento da Fonte. E as portas do inferno — as forças da desintegração, do esquecimento de si, da opressão da liberdade interior — não prevalecerão contra ela.
A Igreja que Cristo edifica não é feita apenas de muros e ritos, mas de consciências que evoluem em direção à luz. Cada ser humano, quando assume sua liberdade e acolhe a revelação interior, torna-se templo vivo do eterno. As “chaves do Reino” entregues a Pedro são, em essência, a possibilidade de cada alma abrir ou fechar o seu próprio caminho ao Absoluto. O que ligamos ou desligamos na Terra — com nossas escolhas, palavras e silêncios — ressoa no invisível.
Mas Pedro, instantes depois, é repreendido. Aquele que fora rocha torna-se escândalo, tropeço. Porque pensa como os homens, não como Deus. Esta oscilação revela o drama da liberdade: somos capazes de alturas sublimes e quedas profundas. Mas é neste caminho, entre luz e sombra, que se forja a verdadeira dignidade da pessoa — não por perfeição imediata, mas por fidelidade ao processo.
O Cristo não impõe sua glória por força. Ele caminha para a cruz, e convida cada um a seguir a mesma via: a da entrega, da superação do ego, da abertura amorosa ao infinito. Esta não é uma renúncia passiva, mas a mais ativa das liberdades: a de consentir à Obra maior que em nós deseja se realizar.
Por isso, a pergunta permanece: "Quem dizeis que eu sou?" — pois a resposta não é apenas doutrina. É o nascimento de uma nova consciência, a pedra sobre a qual o ser inteiro pode ser reconstruído.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16): Uma Leitura Teológica e Metafísica Profunda
1. A Palavra que Revela: O Reconhecimento do Mistério Encarnado
A resposta de Simão Pedro — "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" — é mais do que uma afirmação doutrinária: é uma manifestação de abertura interior ao Mistério que se revela na carne. A confissão de Pedro não procede da razão discursiva, mas de uma iluminação vinda do Alto ("não foi a carne nem o sangue que te revelaram, mas meu Pai que está nos céus", Mt 16,17). Assim, esta proclamação nasce do espírito que contempla e reconhece, em Jesus, não apenas um enviado, mas a própria Presença divina em manifestação histórica.
Nesse reconhecimento, Pedro ultrapassa a aparência sensível e penetra no âmago da realidade. Vê no Filho do Homem a totalidade do Verbo encarnado, o Ungido (Cristo), aquele que une em si o Céu e a Terra.
2. Cristo: A Plenitude do Ser e o Centro da Evolução Espiritual
Chamar Jesus de Cristo é reconhecer nele a unção suprema, a plenitude do Espírito. Ele é o ponto culminante do processo criacional, o centro que atrai todas as coisas a si (cf. Ef 1,10). Cristo é mais do que um nome próprio: é o princípio pelo qual tudo foi feito e para o qual tudo tende.
Metafisicamente, essa afirmação reconhece a existência de uma direção na história do ser — uma teleologia sagrada. Cristo representa o ápice da evolução consciente da criação, em quem a unidade do divino com o humano se realiza plenamente. O reconhecimento do Cristo, portanto, é também o início da nossa própria transfiguração, pois contemplar o Centro é caminhar para ele.
3. Filho do Deus Vivo: Vida que Transcende e Sustenta
Pedro não diz simplesmente “Filho de Deus”, mas “Filho do Deus vivo”. Essa expressão traz consigo uma potência metafísica: Deus não é um conceito fixo, mas Vida em si mesma — aquel’Ele que é (cf. Ex 3,14), fonte inesgotável do Ser. Chamar Jesus de Filho do Deus vivo é afirmar que Ele é expressão direta e substancial dessa Vida que tudo sustenta e transcende.
O Deus vivo não é uma abstração distante, mas presença atuante, dinâmica, criadora. A filiação do Cristo não é simbólica, mas ontológica: Ele é da mesma substância do Pai, e Nele a Vida eterna se manifesta no tempo. O ser humano, ao reconhecer isso, não apenas afirma uma verdade externa, mas reconhece a Vida que também nele pulsa — como imagem e semelhança do Vivente.
4. A Confissão como Ato de Liberdade e Despertar da Consciência
Essa proclamação não foi imposta. Pedro não a repete por conformismo, mas a profere em liberdade interior, fruto de uma revelação íntima. Aqui, a fé não é submissão cega, mas liberdade iluminada. É um ato pessoal e consciente diante do Sagrado.
Neste sentido, a confissão de Pedro inaugura um novo estado de consciência: a alma reconhece sua origem e se volta ao seu destino. O Cristo reconhecido fora é também aquele que deve ser gerado interiormente. O “Tu és” que Pedro dirige a Jesus volta-se silenciosamente como um “eu sou” transformado — um ser que, ao reconhecer o Filho, torna-se também filho.
5. Conclusão: A Pedra Sobre a Qual se Edifica a Nova Humanidade
A partir dessa confissão, Jesus proclama: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). Não se trata apenas da pessoa de Pedro, mas da rocha que é a fé viva e consciente no Cristo. Essa rocha é fundamento não só de uma instituição, mas de uma nova humanidade, edificada sobre a liberdade espiritual, sobre o reconhecimento da Verdade que liberta.
Essa Igreja não é feita de tijolos, mas de seres que despertaram para a sua origem divina. É a comunidade invisível dos que foram tocados pelo Fogo vivo da presença de Cristo, e que, como Pedro, ousam dizer com o coração transfigurado: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo."
“E esta é a vida eterna: que te conheçam, a ti só, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”
(João 17,3)
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