Liturgia Diária
6 – QUARTA-FEIRA
31ª SEMANA COMUM
(verde – ofício do dia)
Lucas 14:25-33 (Vulgata)
"Committe viam tuam Domino, et spera in eo, et ipse faciet." (Salmo 36:5)
“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele agirá.”
Este versículo reflete a essência do discipulado exigido por Jesus em Lucas 14,25-33: a entrega total de nossa vida e confiança absoluta em Deus, mesmo quando isso significa deixar tudo para segui-lo.
25. Ibant autem turbae multae cum eo: et conversus dixit ad illos:
25. Grandes multidões o acompanhavam; ele voltou-se e lhes disse:
26. Si quis venit ad me, et non odit patrem suum, et matrem, et uxorem, et filios, et fratres, et sorores, adhuc autem et animam suam, non potest meus esse discipulus.
26. Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
27. Et qui non bajulat crucem suam, et venit post me, non potest meus esse discipulus.
27. Quem não carrega sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.
28. Quis enim ex vobis, volens turrem ædificare, non prius sedens computat sumptus, si habeat ad perficiendum?
28. Pois qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos e ver se tem com que terminá-la?
29. Ne, posteaquam posuerit fundamentum, et non potuerit perficere, omnes qui vident, incipiant illudere ei,
29. Para que, depois de ter lançado os alicerces, não podendo terminá-la, todos os que a virem comecem a zombar dele,
30. Dicentes: Quia hic homo cœpit ædificare, et non potuit consummare.
30. Dizendo: ‘Este homem começou a construir e não pôde terminar.’
31. Aut quis rex iturus committere bellum adversus alium regem, non sedet prius, et cogitat si possit cum decem millibus occurrere ei qui cum viginti millibus venit ad se?
31. Ou qual é o rei que, indo enfrentar outro rei em guerra, não se senta primeiro para deliberar se pode, com dez mil, enfrentar o que vem contra ele com vinte mil?
32. Alioquin, adhuc illo longe agente, legationem mittens, rogat ea quæ pacis sunt.
32. Se não pode, enquanto o outro ainda está longe, envia-lhe uma delegação e pede condições de paz.
33. Sic ergo omnis ex vobis, qui non renuntiat omnibus quæ possidet, non potest meus esse discipulus.
33. Assim, portanto, qualquer um de vós que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo.
Reflexão:
"Quem não carrega a sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo." (Lucas 14,27)
A mensagem de renúncia no Evangelho nos convida a um discernimento profundo: aquilo que verdadeiramente tem valor não se mede pelas posses ou vínculos materiais, mas pelo compromisso integral com o caminho espiritual. Seguir o Cristo é mais do que um simples desejo; é uma entrega radical que envolve sacrifícios, escolhas conscientes e a aceitação das consequências. Assim como a construção de uma torre ou o planejamento de uma guerra requerem preparação e cálculo, o discipulado exige lucidez e coragem. É um chamado a transcender as superficialidades, ancorando-se na missão cósmica de viver e testemunhar o Amor absoluto, que transforma o ser e expande a consciência para além de si mesmo, em comunhão com o Todo.
HOMILIA
O Discipulado Radical em Tempos de Crise Moral
Caros irmãos e irmãs,
Vivemos em uma era de profundas crises morais, em que crimes e injustiças parecem permear o cotidiano de nosso país. Em meio a esse cenário, somos confrontados com as palavras exigentes de Jesus no Evangelho de Lucas 14,25-33: "Quem não carrega a sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo." Essas palavras ecoam como um chamado urgente à conversão, à reflexão sobre o que realmente significa seguir o Cristo em tempos de tanta desordem ética e social.
O que significa carregar a nossa cruz hoje? Significa tomar consciência das escolhas que fazemos diariamente, mesmo em um mundo onde a corrupção, a violência e a ganância parecem reinar livremente. Seguir Jesus implica um compromisso com a verdade, com a justiça, e com o bem comum, mesmo quando isso nos coloca em oposição aos valores predominantes da sociedade. É uma decisão de viver de acordo com princípios mais elevados, recusando os atalhos fáceis e as tentações que prometem ganhos rápidos, mas destroem a alma.
Jesus nos fala de renunciar a tudo o que temos, não apenas em termos materiais, mas também em relação ao egoísmo e aos desejos de poder que tantas vezes moldam nosso comportamento. Essa renúncia é um ato de liberdade espiritual, de desapego de tudo o que nos aprisiona em nossas ambições mesquinhas e medos paralisantes. Assim, somos chamados a abraçar uma visão maior da vida, na qual o bem dos outros é tão importante quanto o nosso próprio bem.
O discípulo verdadeiro é aquele que compreende que a transformação do mundo começa na transformação de si mesmo. Em meio a um contexto em que o mal parece prevalecer, somos convocados a ser sinais de esperança, construtores de uma nova realidade que reflita o Reino de Deus. Essa missão exige que sejamos corajosos, que calculemos o custo de ser fiéis ao Evangelho e que vivamos com integridade, mesmo quando isso significa sermos incompreendidos ou perseguidos.
No entanto, essa mensagem não é um peso, mas uma promessa: ao abraçarmos a cruz de Cristo, encontramos a verdadeira liberdade, a alegria que não depende das circunstâncias, mas brota do amor que nos une ao Criador. Que possamos, então, assumir esse discipulado radical, como resposta ao chamado de Jesus, e ser luzes em um mundo tão carente de valores que transcendem o egoísmo e a violência.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação Teológica Profunda: "Quem não carrega a sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo." (Lucas 14,27)
1. O Chamado ao Discipulado Autêntico
A frase "Quem não carrega a sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo" é uma das mais desafiadoras no ensinamento de Jesus. Aqui, Ele define de maneira inequívoca o que significa ser Seu seguidor: um compromisso radical, que exige disposição para enfrentar o sofrimento, a rejeição, e até a própria morte. O discipulado cristão não é uma adesão superficial a uma crença ou a práticas religiosas, mas uma entrega total da vida. Jesus estabelece que o caminho de seus seguidores não é fácil, mas marcado por um amor que se doa até as últimas consequências.
2. A Simbologia da Cruz
No tempo de Jesus, a cruz era o instrumento de execução mais cruel e humilhante, reservado aos criminosos. Quando Jesus convida seus discípulos a carregarem a sua própria cruz, Ele está falando de um ato de profunda humildade e aceitação do sacrifício. A cruz simboliza todas as dificuldades e sofrimentos que a vida nos impõe, especialmente quando escolhemos viver de acordo com o Evangelho. Seguir Jesus implica renunciar às comodidades do mundo e aceitar os desafios da vida cristã, não por masoquismo, mas por uma fé que transcende o medo da dor e da morte.
3. O Renúncio ao Ego
Carregar a cruz significa, também, um renúncio ao ego. A natureza humana, muitas vezes, busca a autopreservação, o poder e a glória. No entanto, Jesus nos chama a abandonar essas inclinações. A cruz é um símbolo do sacrifício de si mesmo por um bem maior. Esse autoabandono é a essência do discipulado: viver não mais centrado em si, mas em Cristo. Isso exige um coração desprendido, disposto a colocar os valores do Reino de Deus acima das ambições pessoais.
4. A União com o Sofrimento de Cristo
Jesus não pede que carreguemos uma cruz que Ele mesmo não tenha carregado. Ele precede os seus discípulos no caminho da dor e do amor sacrificial. Ao carregar nossa cruz, unimo-nos ao sofrimento de Cristo, participando do mistério da redenção. É por meio dessa união com Cristo crucificado que a nossa própria dor ganha um significado redentor. O discípulo entende que o sofrimento, quando vivido em união com Jesus, se transforma em fonte de vida, esperança e salvação para si e para o mundo.
5. O Seguimento de Cristo
A segunda parte da frase, "e não me segue", sublinha que carregar a cruz não é suficiente se não formos atrás de Jesus. O seguimento implica uma caminhada diária com Cristo, aprendendo Dele e moldando nossa vida de acordo com a sua. Não é um evento único, mas uma jornada constante, onde somos chamados a conformar nossas escolhas, pensamentos e ações com o amor e a verdade de Jesus. Seguir Jesus é um processo dinâmico de conversão, de renovação contínua em direção ao que é eterno.
6. A Exclusividade do Chamado
Jesus deixa claro que o discipulado é uma escolha exclusiva. Não se pode servir a dois senhores; ou seguimos a Cristo, ou escolhemos os caminhos do mundo. A cruz é o ponto de decisão, o divisor de águas que nos obriga a tomar uma posição: viver para nós mesmos ou viver para Deus. O discipulado exige que sejamos inabaláveis na nossa fé, mesmo quando os desafios se tornam intensos.
7. O Paradoxo da Cruz e da Vida
A cruz parece, à primeira vista, um símbolo de derrota e perda. Mas no mistério cristão, ela se transforma em um emblema de vitória e vida. Jesus ensina que é somente ao perdermos nossa vida que a encontraremos. Este paradoxo nos desafia a confiar em Deus de maneira radical, acreditando que a verdadeira vida é encontrada na doação de si mesmo.
8. A Esperança do Discipulado
Apesar da dureza desse chamado, ele é repleto de esperança. Carregar a cruz de Cristo significa participar da sua glória futura. Somos chamados a sofrer com Ele, para também reinarmos com Ele. Assim, o discípulo que carrega a sua cruz faz isso com a convicção de que, no final, o amor triunfará sobre todo o mal e a ressurreição virá após a crucificação.
Este chamado ao discipulado é, portanto, uma convocação a viver com a mente e o coração voltados para o que é eterno, sabendo que o caminho da cruz é, na verdade, o caminho da verdadeira liberdade e vida.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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