Liturgia Diária
17 – DOMINGO
33º DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – 1ª semana do saltério)
Jeremias 4,23-24 (Vulgata)
23. Aspiciebam terram, et ecce vacua erat et nihili; et cælos, et non erat lux in eis.
24. Vidi montes, et ecce movebantur; et omnes colles conturbati sunt.
Tradução:
23. Olhei para a terra, e eis que estava deserta e vazia; para os céus, e não havia luz neles.
24. Vi os montes, e eis que tremiam; e todas as colinas estavam abaladas.
Esses versículos refletem diretamente os sinais descritos em Marcos 13,24-25, como o escurecimento do sol, o abalo dos céus e a queda das estrelas. A visão de Jeremias sobre a terra desolada e os céus sem luz reforça o simbolismo de um julgamento cósmico e a transformação universal associada à manifestação da glória divina.
Marcos 13:24-32 (Vulgata)
24 Sed in diebus illis, post tribulationem illam, sol obscurabitur, et luna non dabit splendorem suum.
24 Mas, naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol se escurecerá, e a lua não dará sua luz.
25 Et erunt stellæ de cælo decidentes, et virtutes, quæ sunt in cælis, movebuntur.
25 E as estrelas cairão do céu, e as forças que estão nos céus serão abaladas.
26 Et tunc videbunt Filium hominis venientem in nubibus cum virtute multa et gloria.
26 E então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens, com grande poder e glória.
27 Et tunc mittet angelos suos, et congregabit electos suos a quatuor ventis, a summo terræ usque ad summum cæli.
27 E enviará os seus anjos, e reunirá os seus eleitos dos quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu.
28 A ficu autem discite parabolam: Cum iam ramus eius tener fuerit, et nata fuerint folia, cognoscitis quia prope est æstas.
28 Aprendei a parábola da figueira: Quando o seu ramo já se torna tenro e brotam as folhas, sabeis que o verão está próximo.
29 Sic et vos, cum videritis hæc fieri, scitote quod in proximo sit in ostiis.
29 Assim também vós, quando virdes estas coisas acontecerem, sabei que ele está próximo, às portas.
30 Amen dico vobis, quia non transibit generatio hæc, donec omnia ista fiant.
30 Em verdade vos digo, esta geração não passará até que todas essas coisas aconteçam.
31 Cælum et terra transibunt, verba autem mea non transibunt.
31 O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.
32 De die autem illa vel hora, nemo scit, neque angeli in cælo, neque Filius, nisi Pater.
32 Quanto, porém, àquele dia ou hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, mas somente o Pai.
Reflexão
"Cælum et terra transibunt: verba autem mea non transibunt."
"O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão." (Marcos 13,31)
Entre as sombras do tempo e a luz da eternidade, o cosmos se torna um palco para a revelação última. A vinda do Filho do Homem nas nuvens convida a humanidade a transcender o imediato, reconhecendo na fragilidade da matéria a promessa da glória eterna. Os sinais no céu não são apenas prenúncios de fim, mas uma convocação à plenitude, onde cada alma se abre ao horizonte absoluto. Assim como a figueira anuncia o verão, o coração humano, despertado pelo amor divino, vislumbra a unidade final. É no encontro com o eterno que a vida adquire sentido, como uma preparação para o infinito que já habita em nós.
HOMILIA
A Esperança que Transcende as Sombras do Tempo
O Evangelho de Marcos 13,24-32 apresenta uma linguagem carregada de simbolismo, onde sinais cósmicos anunciam a chegada do Filho do Homem em poder e glória. Esse texto, que à primeira vista pode parecer apocalíptico e assustador, é, na verdade, uma mensagem de profunda esperança e renovação para tempos de crise.
Vivemos dias marcados por divisões, intolerâncias e um abalo generalizado na saúde mental. A polarização política e social consome energias que deveriam ser dedicadas ao crescimento pessoal e à construção de comunhão. Muitos se sentem perdidos, como se o "sol se escurecesse" em suas vidas, e a "lua" deixasse de iluminar seus caminhos. As "estrelas que caem" são como sonhos despedaçados, enquanto as forças internas são "abaladas".
No entanto, o Evangelho nos aponta para além do caos aparente. Ele nos lembra que as tribulações, por mais intensas, são prelúdios de algo maior: a manifestação de uma verdade eterna. Assim como a figueira que anuncia o verão, os sinais do nosso tempo clamam por uma transformação interior. Não é o fim, mas o convite a uma nova consciência.
Nesse processo, somos chamados a não nos fixar nos conflitos passageiros, mas a buscar uma unidade mais profunda. É no "Filho do Homem", que vem "nas nuvens com grande poder e glória", que encontramos a promessa de que a luz supera as trevas. Essa vinda é também um evento interior, um despertar em nosso ser, onde reconhecemos que o verdadeiro poder reside na capacidade de amar, reconciliar e construir pontes.
As palavras de Jesus nos asseguram: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão." Essas palavras são âncora em tempos de incerteza. Elas nos convidam a transcender a fragmentação do momento presente, cultivando uma visão onde a humanidade caminha unida em direção a uma plenitude comum.
Que, em meio às dificuldades atuais, possamos encontrar essa esperança viva. Ela não nega o sofrimento, mas o redime, transformando-o em um caminho de crescimento e iluminação. É na entrega ao eterno que se encontra a verdadeira paz, uma paz que não depende das circunstâncias, mas brota de um coração renovado na confiança em Deus.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Teologia de Marcos 13,24-32: Sinais Cósmicos e a Manifestação do Reino de Deus
O Evangelho de Marcos 13,24-32 situa-se em um contexto apocalíptico, revelando um discurso de Jesus sobre o fim dos tempos. Essa passagem está profundamente enraizada na tradição judaica, especialmente na literatura apocalíptica, e comunica uma visão teológica que transcende o medo e aponta para a esperança escatológica.
1. O contexto literário e teológico: tribulação e renovação
Os versículos 24 e 25 descrevem sinais cósmicos: o sol se escurece, a lua deixa de brilhar, e as estrelas caem do céu. Essa linguagem reflete o uso profético de fenômenos cósmicos como símbolos de julgamento e renovação divina, encontrados em textos como Joel 2,31 e Isaías 13,10. No contexto de Marcos, esses sinais representam o colapso das estruturas humanas e cósmicas para dar lugar à manifestação plena do Reino de Deus.
Esse cenário não deve ser lido como um evento literal, mas como uma metáfora da passagem de uma ordem antiga para uma nova criação. Deus, em sua soberania, não apenas julga, mas restaura todas as coisas.
2. A vinda do Filho do Homem (vv. 26-27)
A expressão "Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória" evoca Daniel 7,13-14, onde o Filho do Homem é apresentado como figura messiânica que recebe domínio eterno de Deus. Em Marcos, essa vinda não é apenas uma manifestação futura, mas uma revelação contínua da autoridade de Cristo.
A missão dos anjos que reúnem os eleitos dos "quatro ventos" representa a universalidade da salvação. É uma mensagem de consolação para os fiéis: em meio às tribulações, o plano divino permanece inabalável, e a salvação é destinada a toda a humanidade, sem fronteiras.
3. A parábola da figueira: sinais de proximidade (vv. 28-29)
Jesus usa a imagem da figueira para ensinar que os sinais do tempo final são perceptíveis, como os brotos anunciam o verão. Aqui, Ele não chama a atenção para um cálculo de datas, mas para a vigilância e a abertura espiritual. Os sinais descritos não são motivo de pavor, mas de esperança: a proximidade de Deus é uma certeza.
4. A eternidade da palavra divina (vv. 30-31)
A promessa de que "esta geração não passará até que tudo isso aconteça" tem gerado debates teológicos. Alguns interpretam "esta geração" como referência à geração contemporânea de Jesus, sugerindo que os eventos narrados aludem à destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Outros entendem que "geração" refere-se à humanidade enquanto partícipe do plano divino.
Independentemente da interpretação, a mensagem central é clara: as palavras de Cristo são eternas, inabaláveis e confiáveis, mesmo quando céus e terra parecem desmoronar.
5. A imprevisibilidade do dia e da hora (v. 32)
Jesus conclui enfatizando que o momento exato da consumação permanece oculto, conhecido apenas pelo Pai. Essa afirmação reforça a necessidade de vigilância e confiança. Não cabe ao ser humano controlar o tempo divino, mas preparar-se espiritualmente para viver em conformidade com o Reino de Deus.
Uma mensagem para hoje
Marcos 13,24-32 nos desafia a interpretar os "sinais dos tempos" em nossa própria era. As tribulações que enfrentamos — sejam pessoais, sociais ou globais — são momentos de conversão e esperança. O Reino de Deus não se manifesta apenas no futuro escatológico, mas na transformação contínua de nossas vidas e do mundo.
Cristo nos convida a olhar além do caos aparente, reconhecendo n’Ele o centro de todas as coisas. A eternidade de suas palavras é a âncora para uma fé que não se abala, mesmo quando tudo ao nosso redor parece desmoronar. Assim, a vinda do Filho do Homem não é motivo de temor, mas uma promessa de renovação e plenitude.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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