Liturgia Diária
26 – TERÇA-FEIRA
34ª SEMANA COMUM
(verde – ofício do dia)
É de paz que o Senhor vai falar a seu povo e seus fiéis, e aos que a ele se converterem. (Sl 84,9)
A paz mencionada no versículo é uma manifestação do equilíbrio cósmico, que transcende a realidade material. É a convergência de todas as forças espirituais em harmonia, onde o ser humano, ao se voltar para o divino, ressignifica sua essência e alcança a unidade com o Todo, vivenciando a plenitude da verdade.
Lucas 21:5-11 (Vulgata)
5. Et dum somebantur, dicebant de templo, quod ornatum pulchritudine lapidum et oblationibus, dixit:
E, quando alguns diziam acerca do templo, que estava adornado com belas pedras e com ofertas, ele disse:
6. "Hæc quæ videtis, venient dies, quibus non relinquetur lapis super lapidem, qui non destrueretur."
"Essas coisas que vedes, virão dias nos quais não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada."
7. Et interrogaverunt eum, dicentes: "Magister, quando ergo hæc erunt, et quale signum, cum fierent hæc?"
E perguntaram-lhe, dizendo: "Mestre, quando acontecerão essas coisas, e qual será o sinal de que isso está para acontecer?"
8. Qui dixit: "Videte ne seducamini: multi enim venient in nomine meo, dicentes: Ego sum, et tempus appropinquavit. Nolite ergo ire post illos."
Ele disse: "Vede que não sejais enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou, e o tempo está próximo. Não os sigais."
9. "Cum autem audieritis bella et seditiones, nolite terreri: oportet primum fieri, sed non statim finis."
"Quando, porém, ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis: é necessário que primeiro aconteçam, mas o fim não será imediatamente."
10. "Tunc dixit eis: 'Gens super gentem, et regnum super regnum erit; et erunt pestilentiae et fames et terrores de cælo, et signa magna erunt."
Então lhes disse: "Levantará nação contra nação, e reino contra reino; haverá grandes terríveis terremotos e fome, e pestes, e terríveis sinais do céu."
11. "Sed ante hæc omnia induent vos manus et persecutabuntur tradentes in synagogas et in custodias, et ad reges et præfectos ducent vos propter nomen meum."
"Mas, antes de tudo isso, vos lançarão mão e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e prisões, e vos conduzindo perante reis e governadores, por causa do meu nome."
12. "Et erunt vobis in testimonium."
"E isso vos acontecerá para testemunho."
13. "Ponite ergo in cordibus vestris, ne præmeditemini defensionem:"
"Por isso, ponde no coração de vós não premeditar a defesa."
Reflexão:
"Dixit autem: Videte ne seducamini: multi enim venient in nomine meo, dicentes: Ego sum, et tempus appropinquavit. Nolite ergo ire post illos."
"Vede que não sejais enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou, e o tempo está próximo. Não os sigais." (Lucas 21:8)
As palavras de Jesus revelam um processo de destruição das formas estabelecidas, indicando uma necessidade de transformação interior. O caos aparente que virá não deve ser temido, pois é a porta para a evolução espiritual, uma oportunidade de transcendência. Em meio aos sinais de destruição e desordem, a humanidade é convidada a redescobrir sua essência mais profunda, conectando-se com a verdade universal que não é material, mas imutável. O verdadeiro significado da vida se revela na comunhão com o divino, onde a consciência humana deve se expandir para compreender os desígnios do cosmos e da evolução espiritual.
HOMILIA
Buscando a Paz Interior e Cósmica
Queridos irmãos e irmãs,
Vivemos dias difíceis. O mundo, marcado por guerras, conflitos e divisões, parece estar em um ciclo interminável de destruição. As tragédias que afligem as nações, a violência que permeia muitas de nossas vidas e a constante sensação de insegurança nos fazem questionar: "Onde está a paz que Deus prometeu? Como encontrar esperança em meio a tanto sofrimento?"
Neste contexto, o Evangelho de hoje, tirado de Lucas 21,5-11, nos traz palavras de Cristo que ressoam com uma atualidade impressionante. Jesus nos fala de tempos difíceis, de conflitos e destruições que ocorrerão, mas Ele nos diz também: "Vede que não sejais enganados... Não vos assusteis... Não será o fim imediato." Ele nos chama a não nos deixarmos dominar pelo medo, pois, por mais que o caos se abata sobre o mundo, ele é um momento de preparação para algo maior.
Jesus, ao prever os sinais de sofrimento e destruição, não faz isso para nos amedrontar, mas para nos preparar. O sofrimento, como vimos e vivemos em nossos dias, é uma realidade dolorosa, mas é também um convite a algo mais profundo. Ele nos desafia a transcender as condições materiais, a olhar para além das aparências e a perceber que, em meio ao caos, o espírito humano está sendo chamado a se transformar. A guerra e o sofrimento não são fins, mas caminhos que nos levam, se soubermos caminhar por eles, a uma compreensão mais profunda de nossa verdadeira natureza.
Nos tempos de hoje, a visão materialista do mundo, que coloca o poder, o dinheiro e a violência como forças dominantes, tem gerado sofrimento sem fim. A busca por segurança através do controle externo nos faz esquecer que a verdadeira paz nasce de uma transformação interior. Através de Jesus, somos convidados a entender que a paz não está nas coisas do mundo, mas na nossa capacidade de nos conectar com o divino, de expandir nossa consciência para além do físico e encontrar a unidade com o Todo.
Cristo nos pede para não nos perdermos na angústia das circunstâncias. Ele nos convida a olhar para o futuro com confiança, pois, mesmo em meio à tribulação, há um propósito divino. "Antes que tudo isso aconteça", diz Ele, "vocês terão a oportunidade de serem testemunhas". A verdadeira paz nasce dessa confiança no mistério divino que opera nas nossas vidas, além das condições temporais e dos conflitos externos. Somos chamados a viver de forma transcendente, buscando a paz que vem de uma profunda união com o coração de Deus.
A história humana, como também a história de cada um de nós, não é apenas uma sucessão de eventos materialistas, mas um caminho de evolução espiritual. O sofrimento que enfrentamos, as guerras que assolam o mundo e as crises que nos afligem não são apenas acidentes da história, mas oportunidades de crescermos em direção à nossa verdadeira vocação: a de sermos partes de um plano divino mais amplo, que visa a plenitude do ser humano e da criação. Nossa jornada é a de integrar nossa humanidade com o cosmos, de nos transformarmos em seres que, em vez de contribuir para a destruição, sejam agentes de reconciliação e unidade.
Neste momento histórico de grandes divisões, somos chamados a agir não apenas no plano material, mas principalmente no plano espiritual. O Evangelho nos diz que seremos perseguidos, que passaremos por dificuldades, mas que, acima de tudo, seremos testemunhas. Testemunhas do amor incondicional de Deus, da paz verdadeira que Ele oferece, que não é fruto de acordos humanos, mas da união de todas as coisas com o divino. Somos chamados a transformar o sofrimento em um meio de evolução, a cada passo que damos, buscando a verdadeira paz que transcende a guerra.
Queridos irmãos e irmãs, o mundo pode estar em guerra, mas nossa verdadeira luta é espiritual. Estamos sendo chamados a transcender o medo e a desesperança, e a abraçar um caminho de evolução que leva à paz interior e cósmica. Olhemos, então, para os sinais do tempo não com olhos de medo, mas com os olhos da fé, conscientes de que, embora o mundo pareça em ruínas, há algo eterno sendo gestado em nosso interior. A paz que Jesus nos oferece é mais profunda do que qualquer resolução humana; ela é a paz de um coração transformado e unido ao coração de Deus.
Que possamos ser, então, instrumentos de paz, testemunhas vivas dessa transformação que começa em nosso espírito e se espalha para o mundo ao nosso redor.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O versículo de Lucas 21:8, "Vede que não sejais enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou, e o tempo está próximo. Não os sigais", contém uma profunda advertência de Jesus aos seus discípulos, que permanece relevante até os dias de hoje, tanto em termos de seu conteúdo teológico quanto de sua aplicação espiritual.
1. O aviso contra o engano:
A expressão "Vede que não sejais enganados" é uma instrução direta, carregada de urgência. Ela nos convoca a uma vigilância constante e a discernir, com clareza espiritual, as mensagens que ouvimos e seguimos. O engano é uma das maiores ameaças à verdadeira fé, e Jesus, conhecendo a fragilidade humana, alerta para os falsos mestres que surgiriam, pretendendo ser representantes legítimos de Sua missão. A palavra "enganados" nos faz refletir sobre a natureza sedutora do erro: o engano não se apresenta de forma explícita e grosseira, mas de maneira subtil, disfarçado de verdade, o que torna o discernimento ainda mais necessário.
2. "Porque muitos virão em meu nome":
Esta frase aponta para a proliferação de figuras messiânicas falsas que se aproveitariam da autoridade do nome de Jesus. Eles se apresentariam como continuadores de Sua obra, mas sem a verdade do Evangelho que Ele revelou. O uso do nome de Jesus por essas figuras reflete uma tentativa de manipular as pessoas através de uma falsa promessa de salvação e revelação. Isso é particularmente relevante, pois, ao longo da história, vimos muitos se autoproclamarem "salvadores" ou "ungidos" do Senhor, distorcendo a mensagem cristã para suas próprias agendas. Jesus, ao alertar para isso, também nos convoca a examinar as ações e os frutos daqueles que se dizem representantes do Reino de Deus, pois nem tudo o que é proclamado em Seu nome é, de fato, conforme a verdade divina.
3. "Dizendo: Eu sou":
A expressão "Eu sou" evoca uma identificação direta com a divindade. Na tradição judaica, o "Eu sou" é o nome de Deus revelado a Moisés em Êxodo 3:14, quando Deus se revelou como "Eu sou o que sou" (YHWH). Este "Eu sou" de Jesus e sua associação com o Pai são fundamentais para o entendimento cristão da divindade de Cristo. Quando falsos messias dizem "Eu sou", eles estão tentando se apropriar de uma identidade divina que não possuem, criando uma imitação de Cristo, mas sem a essência de sua verdadeira missão. Este erro é particularmente grave, pois toca no centro da fé cristã: a divindade de Cristo, que é única e irrepetível. Ao se apropriar do "Eu sou", esses falsos mestres se arrogam uma autoridade que não lhes pertence, enganando aqueles que não estão espiritualmente preparados para discernir.
4. "E o tempo está próximo":
Este aspecto do versículo trata da expectativa escatológica, que é o pensamento sobre os últimos tempos e o retorno de Cristo. Muitos, ao longo da história, se aproveitaram dessa expectativa para criar pânico e manipulação. A frase "o tempo está próximo" pode ser vista como uma tentativa de gerar um sentimento de urgência, de modo que as pessoas se entreguem sem reflexão crítica ao que lhes é imposto. No entanto, a verdadeira vinda de Cristo, segundo a revelação bíblica, será acompanhada de sinais claros, e não de especulações enganosas. O chamado à vigilância é também um chamado a não nos deixarmos levar por falsas promessas de um fim iminente, que muitas vezes têm mais a ver com interesses humanos do que com a verdade do Reino de Deus.
5. "Não os sigais":
Esta exortação final é um convite à liberdade e ao discernimento espiritual. Jesus não deseja que Seus discípulos sigam falsos mestres, pois estes conduzem ao erro e à destruição. A admoestação "não os sigais" é, portanto, uma expressão de confiança na capacidade de cada cristão de discernir a verdade pela luz do Espírito Santo. Ela nos desafia a desenvolver uma fé sólida, que não dependa da busca por respostas fáceis ou de promessas de salvação rápida e superficial, mas que se alicerce na compreensão profunda da verdadeira Palavra de Deus.
6. Reflexão Teológica e Espiritual:
Teologicamente, este versículo nos chama a refletir sobre a natureza da verdade e a fidelidade de Cristo. O engano é a antítese da verdade divina, e a história humana tem sido marcada por inúmeros momentos de confusão e desinformação em nome da fé. O discernimento que Jesus pede aqui é mais do que uma vigilância passiva; é um convite à sabedoria ativa, que se constrói na relação pessoal com Deus, na oração, no estudo das Escrituras e na vivência autêntica do Evangelho.
Além disso, este versículo nos desafia a compreender a verdadeira escatologia cristã. Enquanto muitos se deixam seduzir por falsas promessas de apocalipses e revelações secretas, o cristão deve manter os olhos voltados para a promessa de Cristo: Ele virá em Sua glória no tempo determinado por Deus, não segundo os cálculos humanos. A missão cristã é viver na esperança da consumação dos tempos, mas sem ser seduzido pelas falsas interpretações e enganos que surgem ao longo da história.
Jesus, portanto, nos orienta a uma vigilância constante, não só externa, mas também interna, para que possamos ser preservados da ilusão e encontrar em Sua verdade o caminho para a paz e para a salvação. O "não os sigais" é um convite a uma fé pura e transformadora, que não se deixa manipular pelas incertezas do mundo, mas que se ancora na sólida promessa da volta de Cristo e na plena realização do Seu Reino.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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