Liturgia Diária
16 – SÁBADO
32ª SEMANA COMUM
(verde – ofício do dia)
Levavi oculos meos in montes, unde veniet auxilium mihi. Auxilium meum a Domino, qui fecit caelum et terram. (Salmo 120 (Vulgata) )
Levantei meus olhos para os montes: de onde virá o meu auxílio? Meu auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra.
Assim como a viúva busca justiça com perseverança, o Salmo 120 destaca a necessidade de voltar-se constantemente a Deus em busca de auxílio e proteção, enfatizando que o Senhor não deixa que o fiel vacile.
São Lucas 18:1-8 (Vulgata)
1. Dicebat autem parabolam ad illos, quoniam oportet semper orare, et non deficere,
1. E contou-lhes uma parábola sobre a necessidade de orar sempre e nunca desanimar,
2. dicens: «Iudex quidam erat in quadam civitate, qui Deum non timebat, et hominem non reverebatur.
2. dizendo: "Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus e não respeitava homem algum.
3. Vidua autem quaedam erat in civitate illa, et veniebat ad eum, dicens: ‘Vindica me de adversario meo’.
3. Havia também naquela cidade uma viúva que vinha sempre a ele, dizendo: 'Faze-me justiça contra o meu adversário.'
4. Et nolebat per multum tempus. Post haec autem dixit intra se: ‘Etsi Deum non timeo, nec hominem revereor,
4. Ele, por muito tempo, recusou. Depois, contudo, disse consigo: 'Ainda que eu não tema a Deus, nem respeite homem algum,
5. tamen quia molestat me haec vidua, vindicabo illam, ne in novissimo veniens suggillet me’.
5. esta viúva me importuna; farei justiça a ela, para que, afinal, não venha a molestar-me.'"
6. Ait autem Dominus: «Audite quid iudex iniquitatis dicit.
6. O Senhor continuou: "Ouvi o que diz este juiz injusto.
7. Deus autem non faciet vindictam electorum suorum clamantium ad se die ac nocte, et patientiam habebit in illis?
7. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele dia e noite, mesmo que pareça tardar com eles?
8. Dico vobis quia cito faciet vindictam illorum. Verumtamen Filius hominis veniens, putas inveniet fidem in terra?».
8. Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas, quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?"
Reflexão:
"Verumtamen Filius hominis veniens, putas inveniet fidem in terra?"
"Mas, quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?" (Lc 18:8)
Nesta parábola, somos chamados a ver a oração não como simples pedido, mas como um profundo ato de conexão com a Fonte que sustenta toda a realidade. A viúva persistente simboliza a alma que, no esforço contínuo, transcende as aparentes demoras e frustrações. O juiz, ainda que insensível, acaba respondendo, sugerindo que até as forças menos receptivas se dobram diante de uma vontade perseverante e fiel. Na dinâmica entre espera e realização, aprendemos que a evolução da fé não é automática, mas fruto de uma busca ativa e incessante pela verdade, que culmina em uma transformação interior.
HOMILIA
"A Perseverança que Transcende o Tempo"
No Evangelho de hoje, Jesus conta uma parábola sobre uma viúva que, enfrentando um juiz insensível, não cessa em pedir justiça. Diante da recusa inicial, ela não desanima; sua determinação é maior do que a insensibilidade do mundo ao seu redor. Essa história reflete a realidade de muitos de nós, que, ao enfrentar desafios, se veem desgastados, ansiosos, vivendo em uma era de estresse quase ininterrupto. Neste contexto, a persistência dessa viúva revela algo que transcende o simples ato de pedir: mostra uma entrega à verdade que habita além das circunstâncias imediatas e que se mantém ativa no silêncio da espera.
A oração, como nos ensina Jesus, não é um simples pedido ou súplica repetida; ela é o fio invisível que nos conecta a um ponto onde passado, presente e futuro convergem em uma realidade maior, a realidade divina que nunca abandona. Neste ponto de união, a alma encontra descanso, mas também um propósito. Na busca de justiça, a viúva não apenas insiste, mas transforma seu clamor em um ato de fé, em uma entrega que a une àquilo que é perene e indestrutível.
Nos dias de hoje, somos frequentemente arrastados por ciclos de ansiedade, na expectativa constante de que as situações do mundo respondam aos nossos anseios e apaziguem nossas inquietações. No entanto, a mensagem do Evangelho nos convida a uma compreensão mais profunda: a verdadeira paz não depende da rapidez com que nossas súplicas são atendidas, mas sim da profundidade do nosso contato com o que é eterno. A fé, afinal, é mais do que acreditar; é viver conectado a essa Fonte que sustenta todas as coisas, é confiar que, mesmo quando tudo parece silenciar, algo em nós é sustentado e ampliado.
Jesus nos desafia com sua pergunta final: "Quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?" Esta é uma chamada para que deixemos de buscar apenas respostas rápidas e imediatas. Que possamos, ao contrário, mergulhar em uma fé que transcende os limites do tempo e que nos forma para um futuro onde nossa alma encontra não só descanso, mas uma verdade mais alta. Assim, a oração da viúva torna-se não só uma súplica, mas um cântico de confiança, uma expressão de um amor que persiste, uma confiança que avança para além do visível e abraça o infinito.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A pergunta de Jesus, "Mas, quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?" (Lucas 18:8), é uma das mais desafiadoras e profundamente provocativas de todo o Evangelho. Esta frase, carregada de mistério, toca no cerne da condição humana, da relação com Deus e do propósito de nossa existência no tempo e na história. Ela fala de fé, mas não de uma fé passiva; ela fala da fé ativa, aquela que se manifesta em persistência, em busca incessante, em compromisso profundo com a verdade e com o amor.
Na parábola da viúva e do juiz injusto, Jesus destaca a perseverança como um traço essencial da fé. A viúva não se resigna ao silêncio do juiz, mas persiste em sua busca de justiça, mesmo diante de aparente negligência. No final, o juiz injusto cede, não por compaixão, mas pela insistência da viúva. Jesus, ao usar este exemplo, não está comparando Deus ao juiz, mas mostrando que, se até uma autoridade indiferente pode finalmente ceder à persistência, quanto mais o Deus que ama a humanidade ouvirá aqueles que O buscam com fé.
A frase final, no entanto, muda o foco: Jesus volta o olhar para o futuro, para o dia de sua vinda. A pergunta é se, naquele dia, Ele encontrará fé sobre a terra. Aqui, "fé" não se refere a uma mera crença teórica ou à prática religiosa superficial, mas a uma fé profunda, aquela que é ativa, perseverante e que se mantém viva, mesmo diante da dúvida, do silêncio e da aparente demora de Deus. Jesus está questionando a capacidade da humanidade de sustentar uma relação viva e autêntica com Deus até o fim.
Teologicamente, essa questão toca em três aspectos centrais:
1. A Fé como Relação Dinâmica com Deus
A fé, neste contexto, não é algo estático ou simplesmente dogmático; é uma relação dinâmica e vivencial com Deus. Jesus está nos perguntando se, em meio aos desafios, desilusões e sofrimento, ainda manteremos nossa abertura para essa relação. A fé, portanto, é vista como uma atitude que exige constância e renovação diária, uma busca incessante que ultrapassa o desejo de respostas imediatas e encontra seu repouso no mistério da confiança em Deus.
2. O Problema da Incredulidade e da Secularização
Esta frase de Jesus também reflete a preocupação com a tendência humana de se afastar da fé ao longo do tempo. Em um mundo cada vez mais secularizado, onde a fé é muitas vezes questionada, ignorada ou substituída por soluções temporais, a permanência da fé autêntica se torna uma questão premente. Jesus antevê um tempo em que a fé pode ser suprimida ou minimizada, e questiona se, diante de tantos desafios e da tentação de buscar segurança em coisas materiais e passageiras, ainda haverá corações abertos para Deus.
3. A Prova da Fé no Tempo e na Perseverança
A fé, neste contexto, é testada pelo tempo. Jesus pergunta se encontrará fé porque Ele sabe que a fé verdadeira não é construída na rapidez, mas na espera paciente, no silêncio e na perseverança. É uma fé que resiste aos tempos difíceis, que não se desanima com o aparente distanciamento de Deus e que confia no seu amor mesmo quando não há sinais visíveis. É a fé que aguarda o retorno do Senhor, não com ansiedade ou desespero, mas com uma esperança que transcende as circunstâncias.
A Visão Escatológica da Fé
Por fim, há uma dimensão escatológica nesta pergunta. A vinda do "Filho do Homem" refere-se ao retorno de Cristo ao final dos tempos, quando todos os que perseveraram na fé encontrarão sua realização plena. Jesus nos desafia a não apenas viver na expectativa de seu retorno, mas a manter uma fé que seja digna desse dia, uma fé que não apenas aguarda passivamente, mas que colabora com o Reino de Deus aqui e agora, transformando o mundo.
Assim, a pergunta de Jesus não é apenas retórica; é uma convocação. Ele nos chama a refletir sobre o estado de nossa fé e nos convida a cultivar uma fé que vá além do visível, que transcenda as dificuldades e que, apesar das tribulações do mundo, continue a pulsar viva e verdadeira. A fé que Jesus procura é aquela que transforma o coração e, através dele, transforma o mundo, tornando-se, no final, a resposta ao amor que Deus revelou em Cristo.
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