segunda-feira, 18 de novembro de 2024

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 19:11-28 - 20.11.2024

 Liturgia Diária


20 – QUARTA-FEIRA 

33ª SEMANA COMUM


(verde – ofício do dia)



O Evangelho de Lucas 19,11-28, que apresenta a parábola das minas, ressoa com o Salmo 2,8-9 da Vulgata, que expressa a soberania do Rei divino e o destino daqueles que se opõem ao Seu reinado. Este salmo ecoa o tema da autoridade e do chamado à submissão ao Reino de Deus presente na parábola. 


Salmo 2,8-9

Postula a me, et dabo tibi gentes hereditatem tuam, et possessionem tuam terminos terrae. Reges eos in virga ferrea, et tamquam vas figuli confringes eos.

Pede-me, e eu te darei as nações como herança, e os confins da terra como tua posse. Governarás com cetro de ferro, e como um vaso de oleiro os despedaçarás.    


A parábola das minas reflete este mesmo princípio: o Rei retorna para reivindicar o que é seu, recompensando os fiéis e executando julgamento sobre os opositores. A ideia de autoridade divina e a responsabilidade dos servos são temas centrais compartilhados entre Lucas 19 e este salmo.


Lucas 19:11-28 (Vulgata)


11. Audiens autem haec, adjiciens dixit parabolam, eo quod esset prope Jerosolymam: et quia existimarent quod confestim regnum Dei manifestaretur.  

11. Enquanto ouviam estas coisas, acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e pensavam que o Reino de Deus iria manifestar-se imediatamente.  


12. Dixit ergo: Homo quidam nobilis abiit in regionem longinquam accipere sibi regnum, et reverti.  

12. Disse então: Um homem nobre partiu para uma terra distante a fim de tomar posse de um reino e depois voltar.  


13. Vocatis autem decem servis suis, dedit eis decem mnas, et ait ad illos: Negotiamini dum venio.  

13. Chamando dez de seus servos, entregou-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu volte.  


14. Cives autem ejus oderant eum: et miserunt legationem post illum, dicentes: Nolumus hunc regnare super nos.  

14. Mas os seus concidadãos o odiavam e enviaram uma embaixada atrás dele, dizendo: Não queremos que este homem reine sobre nós.  


15. Et factum est ut rediret, accepto regno: et jussit vocari servos illos, quibus dedit pecuniam, ut sciret quantum quisque negotiatus esset.  

15. E aconteceu que, ao voltar, tendo recebido o reino, mandou chamar os servos aos quais entregara o dinheiro, para saber quanto haviam lucrado.  


16. Venit autem primus, dicens: Domine, mna tua decem mnas acquisivit.  

16. Veio o primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez minas.  


17. Et ait illi: Euge bone serve, quia in modico fidelis fuisti, eris potestatem habens supra decem civitates.  

17. Ele lhe disse: Muito bem, servo bom; porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades.  


18. Et alter venit, dicens: Domine, mna tua fecit quinque mnas.  

18. Veio o outro e disse: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.  


19. Et huic ait: Et tu esto super quinque civitates.  

19. A este disse: Tu também serás sobre cinco cidades.  


20. Et alter venit, dicens: Domine, ecce mna tua, quam habui repositam in sudario:  

20. Veio outro e disse: Senhor, aqui está a tua mina, que guardei num lenço.  


21. Timui enim te, quia homo austerus es: tollis quod non posuisti, et metis quod non seminasti.  

21. Pois tive medo de ti, porque és homem severo: tiras o que não puseste e colhes o que não semeaste.  


22. Dicit ei: De ore tuo te judico, serve nequam. Sciebas quod ego homo austerus sum, tollens quod non posui, et metens quod non seminavi:  

22. Disse-lhe: Julgo-te pelas tuas palavras, servo mau. Sabias que sou homem severo, que tiro o que não pus e colho o que não semeei.  


23. Et quare non dedisti pecuniam meam ad mensam, ut ego veniens cum usuris exegissem illam?  

23. Por que não colocaste o meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu o recebesse com juros?  


24. Et astantibus dixit: Auferte ab illo mnam, et date illi qui decem mnas habet.  

24. E disse aos presentes: Tirai dele a mina e dai-a ao que tem dez minas.  


25. Et dixerunt ei: Domine, habet decem mnas.  

25. E disseram-lhe: Senhor, ele já tem dez minas.  


26. Dico autem vobis, quia omni habenti dabitur, et abundabit: ab eo autem qui non habet, et quod habet auferetur ab eo.  

26. Pois eu vos digo: A todo aquele que tem será dado, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.  


27. Verumtamen inimicos meos illos, qui noluerunt me regnare super se, adducite huc, et interficite ante me.  

27. Quanto a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os diante de mim.  


28. Et his dictis, præcedebat ascendens Jerosolymam.  

28. Depois de dizer isso, prosseguia à frente, subindo para Jerusalém.  


Reflexão:

"Omni habenti dabitur, et abundabit: ab eo autem qui non habet, et quod habet auferetur ab eo."

"A todo aquele que tem será dado, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado." (Lucas 19,26)


A parábola nos convida a refletir sobre o compromisso da humanidade em transformar dons recebidos em ações concretas. Cada talento é um potencial que precisa ser ampliado para contribuir com a construção do Reino. O servo que não arrisca retrai-se em sua própria limitação, negando a dinâmica da evolução. No entanto, aquele que investe multiplica não apenas os frutos, mas a profundidade do seu ser. A união entre esforço humano e graça divina nos impulsiona a uma plenitude que transcende o tempo e se projeta em direção ao eterno.


HOMILIA

A Responsabilidade de Expandir o Bem no Reino de Deus


Amados irmãos e irmãs, o Evangelho de Lucas 19,11-28 nos traz uma parábola profundamente provocativa, que nos desafia a refletir sobre a administração dos dons recebidos de Deus. Em uma realidade como a nossa, onde o roubo, a corrupção e a apropriação indevida parecem ter se tornado comuns, a mensagem de Jesus ressoa como um convite à transformação interior e social.  

O homem nobre da parábola representa Cristo, que confia a cada um de nós talentos, capacidades e oportunidades. Esses dons não nos pertencem, mas são concedidos para que, através deles, possamos colaborar na edificação de um Reino que não se fundamenta no acúmulo egoísta, mas na expansão do bem, da justiça e da verdade. Quando optamos pelo roubo – seja material, moral ou espiritual – negamos a essência desse chamado e subtraímos do outro aquilo que lhe é devido.  

Nesta sociedade, o roubo não está apenas nos grandes escândalos que vemos nos noticiários. Ele está presente quando não utilizamos nossos talentos para o bem comum, quando negamos o tempo que poderíamos dedicar ao próximo ou quando preferimos acumular em vez de compartilhar. Essa atitude nos alinha ao servo negligente da parábola, que, por medo ou indiferença, enterra o que recebeu, bloqueando o fluxo de crescimento e abundância que Deus espera de nós.  

Aos servos fiéis que multiplicaram as minas, o Senhor confiou ainda mais. Isso nos ensina que a fidelidade nas pequenas coisas tem um impacto que ultrapassa nossas vidas individuais. Cada ação virtuosa que realizamos – por menor que pareça – reverbera no tecido universal, gerando um movimento de transformação e progresso que nos aproxima do cumprimento pleno do Reino.  

No entanto, a mensagem não é apenas de esperança, mas também de advertência. Aos que rejeitam o chamado e se opõem ao reinado de Deus, a parábola anuncia juízo. Não por arbitrariedade divina, mas porque quem vive de maneira contrária à verdade acaba colhendo os frutos de sua própria desordem.  

Neste tempo, somos chamados a ser contracultura em um mundo que normaliza o roubo. Cabe a nós viver como administradores fiéis, não apenas rejeitando a corrupção externa, mas combatendo as sementes de egoísmo dentro de nós mesmos. Que possamos multiplicar os dons que recebemos, confiantes de que cada ato de bondade, justiça e serviço contribui para um Reino que não conhece fim.  

Que nossas vidas sejam um testemunho de fidelidade e transformação, para que, ao final, ouçamos do Senhor as palavras tão desejadas: "Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel no pouco, eu te confiarei muito." Assim seja.  


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

"A todo aquele que tem será dado, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado." (Lucas 19,26)


Esta frase, rica em significado, revela uma profunda dinâmica do Reino de Deus, que transcende interpretações simplistas de justiça humana. Ela deve ser compreendida à luz de três dimensões: a graça divina, a cooperação humana e a justiça escatológica.  


1. A Dinâmica da Graça Divina

   No Reino de Deus, "ter" não se refere meramente à posse material, mas à abertura interior à graça. Quem "tem" é aquele que reconhece e acolhe os dons de Deus – seja a fé, os talentos ou as oportunidades – e os utiliza para a glória divina e o bem dos outros. Esse "ter" implica uma relação ativa e generosa com a fonte da graça. Por isso, quem "tem" receberá ainda mais, pois Deus, em sua generosidade infinita, recompensa a fidelidade e amplia as capacidades de quem as utiliza em harmonia com sua vontade.


2. A Cooperação Humana na Graça

   O ato de "ter" envolve a resposta do ser humano à graça recebida. A parábola que precede essa frase mostra que aqueles que multiplicaram as minas foram recompensados. Esse multiplicar simboliza o uso criativo, fiel e proativo dos dons confiados por Deus. Já quem "não tem" é aquele que, por medo, indiferença ou egoísmo, falha em corresponder à graça. A graça, que é dinâmica e requer movimento, não pode permanecer estagnada; quando não é usada, perde sua eficácia e se dissipa.  


3. A Justiça Escatológica

   Esta frase também aponta para a justiça escatológica do Reino de Deus. No juízo final, a resposta que cada um deu aos dons de Deus será revelada. Quem multiplicou os talentos dados por Deus entrará na plenitude do Reino, recebendo em abundância, enquanto quem os enterrou – simbolizando a negligência espiritual – experimentará a perda definitiva até mesmo do que parecia ter. Essa não é uma punição arbitrária, mas a consequência natural de uma vida que rejeita a comunhão com Deus e o propósito para o qual fomos criados.  


4. Um Chamado à Responsabilidade e à Fé

   Teologicamente, essa frase sublinha o princípio de que a graça é cooperativa. Deus concede os dons, mas espera a participação ativa do ser humano. É um convite à confiança e à ousadia espiritual, a investir os talentos recebidos, sabendo que o Senhor é justo e misericordioso. Aqueles que vivem essa lógica não apenas prosperam espiritualmente, mas também contribuem para a realização do Reino de Deus na história.


Assim, "a todo aquele que tem será dado" é um lembrete do dinamismo da graça e da generosidade de Deus; "mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado" revela a seriedade de nosso chamado a viver em plenitude, multiplicando o bem que nos foi confiado para a glória de Deus e o bem de toda a criação.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

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