domingo, 17 de novembro de 2024

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 19,1-10 - 19.11.2024

 Liturgia Diária


19 – TERÇA-FEIRA 

SANTOS ROQUE, AFONSO E JOÃO


PRESBÍTEROS E MÁRTIRES



O trecho de Lucas 19,1-10, que narra o encontro de Jesus com Zaqueu, encontra ressonância no Salmo 118, versículo 19 da Vulgata:


Salmo 118,19 (Vulgata)

"Aperi mihi portas iustitiae: ingressus in eas confitebor Domino."

"Abram-me as portas da justiça: entrando por elas, darei graças ao Senhor." Salmo 118,19 (Vulgata)


Esse versículo do salmo reflete o desejo de Zaqueu de abrir as "portas da justiça" em sua vida ao buscar Jesus. Sua transformação pessoal, expressa em suas ações de reparação e generosidade, mostra que ele entrou por essas portas, recebendo a graça e a salvação. Essa busca por justiça e comunhão com Deus ecoa profundamente no gesto de acolhimento de Zaqueu e no reconhecimento de Jesus de que a "salvação entrou nesta casa".


Lucas 19:1-10 (Vulgata)


1. Et ingressus perambulabat Iericho.  

1. E entrando, caminhava por Jericó.  


2. Et ecce, vir nomine Zachaeus: et hic princeps erat publicanorum, et ipse dives.  

2. E eis que havia um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos publicanos e rico.  


3. Et quaerebat videre Iesum, quis esset: et non poterat prae turba, quia statura pusillus erat.  

3. E procurava ver quem era Jesus, mas não podia por causa da multidão, pois era de pequena estatura.  


4. Et praecurrens ascendit in arborem sycomorum ut videret eum: quia inde erat transiturus.  

4. Correndo adiante, subiu em uma figueira para vê-lo, porque Jesus devia passar por ali.  


5. Et cum venisset ad locum, suspiciens Iesus vidit illum, et dixit ad eum: Zachae, festinans descende, quia hodie in domo tua oportet me manere.  

5. Quando Jesus chegou ao lugar, levantando os olhos, viu-o e disse: Zaqueu, desce depressa, porque hoje devo ficar em tua casa.  


6. Et festinans descendit, et excepit illum gaudens.  

6. E ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria.  


7. Et cum viderent omnes, murmurabant, dicentes quod ad hominem peccatorem divertisset.  

7. Todos os que viram isso murmuravam, dizendo que ele havia se hospedado com um homem pecador.  


8. Stans autem Zachaeus dixit ad Dominum: Ecce dimidium bonorum meorum, Domine, do pauperibus: et si quid aliquem defraudavi, reddo quadruplum.  

8. Zaqueu, porém, de pé, disse ao Senhor: Eis que dou metade dos meus bens aos pobres, Senhor, e se defraudei alguém em alguma coisa, restituo quatro vezes mais.  


9. Ait Iesus ad eum: Quia hodie salus domui huic facta est: eo quod et ipse filius sit Abrahae.  

9. Disse-lhe Jesus: Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este é filho de Abraão.  


10. Venit enim Filius hominis quaerere et salvum facere quod perierat.  

10. Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido.  


 Reflexão:

"Venit enim Filius hominis quaerere et salvum facere quod perierat."

"Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido." (Lucas 19:10)


O encontro de Zaqueu com Jesus transcende um simples ato de compaixão; ele simboliza uma convergência espiritual rumo à plenitude do ser. Quando Zaqueu sobe à figueira, busca não apenas ver, mas transcender sua condição limitada. O olhar de Jesus, ao identificá-lo, reflete a ação divina que desperta no ser humano a consciência de seu potencial redentor. A transformação de Zaqueu revela que a salvação não é imposta, mas ocorre na interação livre entre o divino e o humano, orientando o homem a um alinhamento interior com a verdade suprema. Essa verdade não apenas o redime, mas o insere em um movimento cósmico de reconciliação e plenitude universal.


HOMILIA

"O Encontro que Redefine a Existência"


Amados irmãos e irmãs,  

O Evangelho de Lucas 19,1-10 nos apresenta Zaqueu, um homem pequeno em estatura, mas profundamente necessitado de significado. Ele vive cercado de riqueza, mas seu coração está vazio. Em seu ato de subir em uma figueira, vemos um gesto simbólico: ele se eleva para enxergar algo maior do que sua própria condição. Esse movimento reflete uma busca universal, presente também em nossa época, onde o sentido da vida é uma questão urgente.

Vivemos tempos desafiadores. O índice crescente de suicídios revela um grito silencioso de almas que se sentem perdidas, esmagadas pela solidão, pela falta de propósito ou pelo peso de expectativas inalcançáveis. É como se multidões ao nosso redor bloqueassem a visão de algo maior, tal como a multidão bloqueava Zaqueu. Muitos, incapazes de encontrar uma direção, se deixam consumir por uma desesperança que os desliga da própria vida.

No entanto, o encontro entre Jesus e Zaqueu traz uma verdade revolucionária: o olhar de Cristo atravessa as barreiras da multidão, da riqueza, dos pecados e da vergonha. Jesus enxerga Zaqueu. Esse olhar nos lembra que somos profundamente conhecidos, amados e desejados por Deus. Mesmo quando nos sentimos perdidos, há uma presença que nos busca, que nos chama para descer de onde estamos e nos convida à comunhão.

A transformação de Zaqueu nos ensina que o sentido da vida não está no que possuímos, mas na nossa capacidade de nos doar, de reconciliar o passado e de responder ao chamado do amor. Quando Zaqueu entrega seus bens aos pobres e repara o que havia feito, ele não apenas muda suas ações, mas redefine sua existência. Ele se torna participante de uma realidade maior, um movimento de salvação que dá valor à sua vida e o conecta com o Todo.

Hoje, somos chamados a ser como Jesus, a enxergar os que sobem em “figueiras invisíveis” buscando esperança. Precisamos ser um olhar de acolhimento, uma voz que diz: “Desce depressa, hoje quero estar contigo.” E se somos nós que estamos na figueira, que possamos ouvir esse chamado e deixar que a presença divina nos redescubra, nos salve e nos dê uma nova missão.

O Filho do Homem continua buscando e salvando o que estava perdido. Que esse amor incondicional nos inspire a ser luz para os outros e a redescobrir o valor infinito de nossas vidas. A cada um de nós, Jesus diz: “Hoje, a salvação entrou na sua casa.”


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

"Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido." (Lucas 19,10)  


Essa frase, colocada no final do encontro entre Jesus e Zaqueu, é uma síntese teológica poderosa que revela o cerne da missão de Cristo e a profundidade do mistério da salvação. Vamos explorá-la em três dimensões: a identidade do Filho do Homem, a busca divina, e a salvação do que estava perdido.  


1. A identidade do Filho do Homem

O título "Filho do Homem" é uma autodesignação frequente de Jesus nos Evangelhos, evocando imagens de humildade e glória. Ele aponta para a humanidade de Cristo, ao mesmo tempo que alude à visão apocalíptica de Daniel 7,13-14, onde o Filho do Homem é apresentado como uma figura messiânica que recebe autoridade universal. Em Lucas 19,10, Jesus revela que essa autoridade não é imposta pela força, mas manifestada no serviço e na misericórdia. O Filho do Homem não vem para condenar, mas para resgatar, revelando um Deus que se faz próximo ao sofrimento humano.  


2. A busca divina

"Veio buscar" expressa uma iniciativa divina que parte do coração de Deus. A humanidade caída, simbolizada por "o que estava perdido", não tem a capacidade de encontrar a Deus por si mesma. O ato de buscar é mais do que uma procura; é uma jornada de amor sacrificial que culmina na encarnação e na cruz. Essa busca é pessoal e comunitária: Deus não se contenta em deixar ninguém perdido, mas empenha-se em trazer cada alma de volta à comunhão. No contexto de Zaqueu, a busca divina é expressa no gesto concreto de Jesus ao entrar na casa de um homem rejeitado pela sociedade, sinalizando que ninguém está fora do alcance de sua misericórdia.  


3. A salvação do que estava perdido

"Salvar" no contexto bíblico vai além de uma libertação do pecado ou das dificuldades terrenas. A palavra em grego, sōzō, significa restaurar, curar e fazer completo. A salvação é um processo de reconciliação, onde o ser humano é restaurado à sua plena identidade como imagem de Deus. "O que estava perdido" não se refere apenas a Zaqueu como indivíduo, mas simboliza toda a humanidade afastada de Deus. O gesto de Zaqueu, ao restituir e doar metade de seus bens, demonstra que a salvação atinge não apenas a alma, mas transforma também a vida concreta, social e relacional.  


Aplicação Teológica

Essa declaração final de Jesus coloca em perspectiva a economia divina da salvação: um movimento dinâmico onde Deus desce para elevar, busca para reconciliar e salva para transformar. A "perda" aqui não é uma condição estática, mas uma alienação que pode ser superada pela abertura ao chamado de Deus. A missão de Jesus é universal, mas também profundamente individual, alcançando cada ser humano em sua necessidade única.  


Conclusão

Em Lucas 19,10, Jesus não apenas declara o propósito de sua missão, mas revela a profundidade do amor de Deus: um amor que não mede esforços para buscar, encontrar e salvar. Essa frase nos desafia a reconhecer nossa condição de "perdidos" e a confiar no poder transformador da graça. Somos chamados a deixar-nos ser encontrados por Cristo, e, como Zaqueu, a transformar nossas vidas em um reflexo desse amor redentor. Assim, o mistério do Filho do Homem que busca e salva se torna não apenas uma verdade teológica, mas uma realidade vivida e compartilhada. 


Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão

#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração

#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata

Nenhum comentário:

Postar um comentário