Evangelho (Mateus 4,18-22)
Sexta-Feira, 30 de Novembro de 2012
Santo André
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 18quando Jesus andava à beira do mar da
Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam
lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. 19Jesus disse a eles: “Segui-me,
e eu farei de vós pescadores de homens”. 20Eles imediatamente deixaram as redes
e o seguiram. 21Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago,
filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu,
consertando as redes. Jesus os chamou. 22Eles imediatamente deixaram a barca e
o pai, e o seguiram.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
A evangelização nasce
a partir de um relacionamento pessoal com Jesus Cristo
João Batista foi preso porque Herodes temia, assim como os
chefes religiosos de Israel, a popularidade dele [João] e a contestação que
fazia do sistema opressor sob o qual o povo vivia. Após a prisão, Jesus retorna
à Galileia, que é um território predominantemente gentílico. Ali, o Senhor
desenvolve Seu ministério com o mesmo anúncio de João Batista: a proximidade do
Reino e da conversão à justiça.
Marcos, bem como Mateus e Lucas, narra o chamado dos
primeiros discípulos às margens do Mar da Galileia. O Evangelho de João narra
este chamado já na ocasião do Batismo de Jesus, quando alguns discípulos dele
[João Batista] se dispõem a seguir o Senhor. O chamado, narrado em estilo sumário,
na realidade, se fez em um clima de diálogo e conhecimento mútuo. Assim como
Cristo abandonou Sua rotina de vida em Nazaré, também Seus discípulos abandonam
seu antigo sistema de vida, não para fugirem do mundo, mas para iniciarem uma
nova prática social alternativa de justiça, fé e paz.
Segundo a narração de Marcos (1,16-29) e de Mateus
(4,18-22), o cenário da vocação dos primeiros apóstolos é o mar da Galileia.
Jesus acabara de iniciar a pregação do Reino de Deus, quando o Seu olhar pousou
sobre dois pares de irmãos: Simão e
André, Tiago e João. São pescadores, empenhados no seu trabalho cotidiano.
Lançam as redes, consertam-nas. Mas outra pesca os aguarda. Jesus chama-os com
decisão e eles seguem-No imediatamente: agora serão “pescadores de homens” (cf.
Mc 1,17; Mt 4,19).
Lucas, ainda que siga a mesma tradição, faz uma narração
mais elaborada sobre isso (5,1-11). Ele mostra o caminho de fé dos primeiros
discípulos, esclarecendo que o convite para o seguimento lhes chega depois de
terem ouvido a primeira pregação de Jesus e experimentam os primeiros sinais
prodigiosos por Ele realizados. Em particular, a pesca milagrosa constitui o
contexto imediato e oferece o símbolo da missão de pescadores de homens, que
lhes foi confiada. O destino destes “chamados”, de agora em diante, estará
intimamente ligado ao de Jesus. O apóstolo é um enviado mas, ainda antes, um
“perito” em Jesus.
Precisamente este é o aspecto realçado pelo evangelista João
desde o primeiro encontro de Jesus com os futuros apóstolos. Aqui o cenário é
diferente. A presença dos futuros discípulos, provenientes também eles, como
Jesus, da Galileia, para viver a experiência do batismo administrado por João,
esclarece o seu mundo espiritual. Eram homens na expectativa do Reino de Deus,
desejosos de conhecer o Messias, cuja vinda estava anunciada como iminente.
Para eles, é suficiente a orientação de João Batista que
indica em Jesus o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1,36), para que surja neles o desejo
de um encontro pessoal com o Mestre. As frases do diálogo de Jesus com os
primeiros dois futuros apóstolos são muito expressivas. À pergunta: “Que
procurais?”, eles respondem com outra pergunta: “Rabi (que quer dizer Mestre),
onde moras?”. A resposta de Jesus é um convite: “Vinde e vede” (cf. Jo
1,38-39).
Vinde para poder ver. A aventura dos apóstolos começa assim,
como um encontro de pessoas que se abrem reciprocamente. Começa para os
discípulos um conhecimento direto do Mestre. Veem onde Ele mora e começam a
conhecê-Lo. De fato, eles não deverão ser anunciadores de uma ideia, mas
testemunhas de uma Pessoa. Antes de serem enviados a evangelizar, deverão
“estar” com Jesus (cf. Mc 3,14), estabelecendo com Ele um relacionamento
pessoal. Sobre esta base, a evangelização não será mais do que um anúncio
daquilo que foi experimentado e um convite a entrar no mistério da comunhão com
Cristo (cf. 1 Jo 13).
A quem serão enviados os apóstolos? No Evangelho parece que
Jesus limita a Sua missão unicamente a Israel: “Não fui enviado senão às
ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15,24). De modo análogo parece que Ele
circunscreve a missão confiada aos Doze: “Jesus enviou estes Doze, depois de
lhes ter dado as seguintes instruções: ‘Não sigais pelo caminho dos gentios,
nem entreis em cidade de samaritanos. Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas
da casa de Israel’ “ (Mt 10,5s.).
Uma certa crítica moderna de inspiração racionalista vê
nessas expressões a falta de uma consciência universalista do Nazareno. Na
realidade, elas devem ser compreendidas à luz da Sua relação especial com
Israel, comunidade da aliança, em continuidade com a história da salvação.
Segundo a expectativa messiânica as promessas divinas, imediatamente dirigidas
a Israel, ter-se-iam concretizado quando o próprio Deus, por intermédio do Seu
Eleito, reunisse o Seu povo, como faz um pastor com o rebanho: “Eu virei em
socorro das minhas ovelhas, para que elas não mais sejam saqueadas…
Estabelecerei sobre elas um único pastor, que as apascentará, o meu servo Davi;
será ele que as levará a pastar e lhes servirá de pastor. Eu, o Senhor, serei o
seu Deus, e o meu servo Davi será um príncipe no meio delas” (Ez 34,22-24).
Jesus é o Pastor escatológico, que reúne as ovelhas perdidas
da casa de Israel e vai à procura delas, porque as conhece e ama (cf. Lc 15,4-7
e Mt 18,12-14; cf. também a figura do Bom Pastor em Jo 10,11ss.). Por meio
desta “reunião” o Reino de Deus é anunciado a todas as nações: “Manifestarei a
minha glória entre as nações, e todas me verão executar a minha justiça e
aplicar a minha mão sobre eles” (Ez 39,21). E Jesus segue precisamente este
caminho profético. O primeiro passo é a “reunião” do povo de Israel, para que
assim todas as nações, chamadas a reunirem-se na comunhão com o Senhor, possam
ver e crer.
Assim os Doze, chamados a participar na mesma missão de
Nosso Senhor Jesus Cristo0, cooperam com o Pastor dos últimos tempos, indo
também eles, em primeiro lugar, até as ovelhas perdidas da casa de Israel, isto
é, dirigindo-se ao povo da promessa, cuja reunião é o sinal de salvação para
todos os povos, o início da universalização da Aliança. Longe de contradizer a
abertura universalista da ação messiânica do Nazareno, a inicial limitação a
Israel da Sua missão e da dos Doze torna-se assim o Seu sinal profético mais
eficaz. Depois da Paixão e da Ressurreição de Cristo este sinal será
esclarecido: o caráter universal da missão dos apóstolos tornar-se-á mais
explícito. Cristo enviará os apóstolos “a todo o mundo” (Mc 16,15), a “todas as
nações” (Mt 28,19; Lc 24,47), “até aos
extremos confins da terra” (At 1,8).
E essa missão continua. Continua sempre o mandato do Senhor
de reunir os povos na unidade do Seu amor. Esta é a nossa esperança e este é
também o nosso mandato: contribuir para esta universalidade, para esta
verdadeira unidade na riqueza das culturas, em comunhão com o nosso verdadeiro
Senhor Jesus Cristo.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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