Evangelho (Lucas 18,1-8)
Sábado, 17 de Novembro de 2012
Santa Isabel da Hungria
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 1Jesus contou aos discípulos uma parábola,
para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo:
2“Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum.
3Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo:
‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’ 4Durante muito tempo, o juiz se
recusou. Por fim, ele pensou: ‘Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum.
5Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não
venha agredir-me!’” 6E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz
injusto. 7E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam
por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8Eu vos digo que Deus lhes fará justiça
bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar
fé sobre a terra?”
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
A oração perseverante
Essa parábola forma um par com a Parábola do amigo importuno
(Lc 11,5-13), e também ensina a necessidade de oração paciente, persistente e
perseverante. Ambas se harmonizam em sua estrutura, embora tenham sido
proferidas em circunstâncias diferentes. Em ambas existe um raciocínio baseado
no contraste completo e infinito entre Deus e o homem, e a evidência de que o
Senhor cede aos argumentos e persuasão dos santos. Portanto as duas parábolas
são estreitamente semelhantes por fazerem a mesma comparação e o mesmo contraste
entre o que esperamos da natureza humana, mesmo imperfeita, e o que podemos
esperar de Deus. Ambas nos conduzem à mesma conclusão que Deus não falha para
conosco, como os amigos fazem às vezes.
Na parábola do juiz duro de coração e insensível, ele é
apresentado como um homem sem princípios. Ele não temia a Deus nem tinha consideração
pelos homens. Uma viúva da mesma cidade fora tratada injustamente por um
inimigo e veio a ele pedir justiça. Embora a sua causa fosse justa, ele não deu
atenção ao seu caso. Mas ela persistiu, voltando sempre com o mesmo pedido, até
que finalmente o juiz decidiu fazer-lhe justiça, não porque ele se importasse
com a justiça, mas simplesmente para livrar-se daquela viúva que o importunava
tanto. Não houve outro motivo que o fizesse agir a não ser esse. Grandes
contrastes são apresentados aqui! Arrogância e impotência extremas — e, no
entanto, a impotência venceu no final. Quando procuramos dividir a parábola
temos: A Viúva Importuna, O Juiz Injusto, O Juiz Divino e Justo.
Viúva importuna. As viúvas têm um lugar de destaque na
Bíblia. Na época de nosso Senhor eram, até certo ponto, desprezadas, e
constituíam presa fácil para qualquer homem que não tivesse princípios. Eram pobres
e, portanto, não tinham alguém para protegê-las e resgatá-las. Sua única
esperança era recorrerem aos que administravam a justiça para que interviessem
a seu favor. Quase sempre despertavam pena e, por isso, a sua impotência em
defender-se era reconhecida com misericórdia pela lei judaica. “A nenhuma viúva
afligireis” (Êx 22:22-24; Dt 10:18; 24:17). A religião pura inclui o cuidado
para com as viúvas em sua aflição (Tg 1:27).
Não nos foi revelado qual era a sua causa urgente. Ela fora
injustiçada e buscava apenas justiça na questão com o seu adversário. O juiz
era insensível e não tinha pena; no entanto, a viúva “ia ter com ele” — “vinha
continuamente” (Lc 18:3), como devemos ir ao trono da graça se o nosso pedido
inicial não for atendido. Insistia tanto que, finalmente, o juiz sem coração
cedeu e resolveu atendê-la, “para que enfim não volte, e me importune muito”.
Os discípulos provavelmente riram, quando ouviram esse toque de humor. Bem, a
sua persistência prevaleceu e, no final, conseguiu do relutante juiz a justiça
de que precisava e merecia.
Juiz iníquo. A conduta desse juiz testifica “A
desorganização e corrupção generalizadas da justiça que prevaleciam sob o
governo da Galiléia e Peréia na época”. Não há dúvida de que o caso que Jesus
apresentou aqui tenha sido extremo. Porém havia representantes da lei cuja consciência
estava morta. O que temos aqui era um homem que não tinha Deus. Ele não era
religioso e nem mesmo humanitário. Nunca se preocupava com Deus ou com os homens.
Cuidava apenas de si mesmo. Como judeu ele agia em contradição à lei, a qual
decretava que se estabelecessem juizes nas cidades, em todas as tribos, e
proibia rigorosamente juízos distorcidos, acepção de pessoas ou subornos (Dt
16,18-19). Esse juiz era descaradamente corrupto. Ele justificou a viúva somente
porque o importunava e ele não queria ser molestado fisicamente.
A característica notável dessa parábola, a essa altura, é
que o juiz viu a si mesmo da mesma maneira que Cristo se referiu a ele. Jesus
disse sobre ele: “Certo juiz que não temia a Deus nem respeitava o homem”.
Levado a agir por causa da persistência da viúva, lemos que o juiz “disse
consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens”. Disse consigo!
Esse juiz injusto não pensava em Deus nem na viúva —apenas em si mesmo, preocupado
em não ser forçado a fazer o que quer que fosse. Esse homem tinha prostituído
uma posição privilegiada.
Juiz divino e justo. Examinando como nosso Senhor aplicou
essa sua parábola, torna-se surpreendente que ele tenha comparado os negócios
de Deus não com os de um bom homem, mas com os de um homem mau e sem Deus, e
essa característica apenas dá ainda mais poder à parábola. Há um contraste
muito grande entre tudo o que o juiz era e o que Deus não é. Tudo o que Deus é,
o juiz não era. Deus é exatamente o oposto em caráter a tudo o que o juiz era.
Quando dividimos o ensinamento da parábola em partes menores, temos,
primeiramente, a boa vontade de Deus em ouvir e responder aos pedidos dos que
lhe pertencem. “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de
dia e de noite, ainda que os faça esperar?” Por causa da soberania e
onisciência de Deus, ele responde às orações segundo a sua própria vontade. Ele
se restringe à “perfeição do seu próprio Ser e pela permissão humana”. A
expressão “fazer justiça”, referindo-se ao juiz injusto, e aqui a Deus,
significa a efetivação de sua vingança, não no sentido de vingança, mas de
justificação ou justiça. Quando tratados injustamente, os seus eleitos podem
estar certos de que ele os justificará.
“Clamam de dia e de noite” expressa a mesma idéia da ordem
do Senhor sobre “o dever de orar sempre”. Se o injusto juiz, por fim, reagiu ao
lamento da viúva simplesmente para se ver livre dela, não responderá Deus, que
é completamente justo, às orações dos que lhe pertencem, que trabalham debaixo
da injustiça e opressão? Se um simples sentimento egoísta prevaleceu sobre o
homem perverso, muito mais ainda os santos podem esperar de Deus. Se a
importunação e a perseverança da viúva finalmente prevaleceram, muito mais
ainda essas virtudes prevalecerão com relação a Deus. Se estivermos bem com
Deus, saberemos que da mesma forma que ele nos elegeu, também nos fará justiça
e nos responderá. Podemos esperar um tratamento melhor da parte de um Deus de
amor, do que de um juiz sem coração.
“Ainda que os faça esperar”. O juiz suportou por muito tempo
a viúva e, às vezes, Deus parece também estar indiferente às nossas petições.
George Müller orou por mais de cinqüenta anos pela salvação de um amigo, até
que ele se converteu. Muitas vezes a interferência humana é o maior obstáculo
para que as nossas orações sejam respondidas. Além disso, um dos propósitos da
oração que Deus demora a atender, é a fortificação da nossa fé e da nossa
paciência. Não sabemos o tempo e os caminhos de Deus. “Ele tudo fará” (SI
37,5). Deus não tem que acordar no meio da noite; ele também não é egoísta; ele
não se nega a ajudar de forma abundante. Quando aparentemente Deus segura a
reposta aos pedidos de seus filhos, ele faz isso com sabedoria e amor.
“Quando, porém, vier o Filho do homem, achará fé na terra?”
Aqui o Senhor retorna à mensagem profética do capítulo anterior. Quando ele
voltar para destruir toda a injustiça do mundo, será que encontrará ainda
alguma fé na terra? Com Certeza! Haverá muita fé depositada em objetos falsos.
A fé entregue aos santos será um artigo raro. Nosso dever supremo, apesar de
toda oposição e tribulações, é manter a fé —”tende fé em Deus” (Mc 11,22-24).
Nossa palavra final é que a viúva não prevaleceu por causa
de sua eloqüência ou por sua elaborada petição. Suas palavras foram poucas,
somente seis: “Faz-me justiça contra o meu adversário”. Seu clamor foi curto e
explícito. Ele nada disse sobre a sua condição como viúva, sua família ou sua
opinião sobre o juiz iníquo, Tudo que ela queria era justiça contra o seu
adversário. Deus nos assegura que ouve e responde nossas orações e isso deve nos
incentivar a pedir insistentemente. Os elos da corrente que nos ligam ao céu e
traz o céu até a terra, são os elos das nossas orações.
Pai, faze-me pobre e simples diante de ti, de modo que
minhas súplicas sejam atendidas, pois jamais deixas de atender a quem se volta
para ti na humildade de coração.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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