Evangelho (Lucas 14,1.7-11)
Sábado, 3 de Novembro de 2012
São Martinho de Lima
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
1Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa
de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. 7Jesus notou como os
convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola:
8“Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro
lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, 9e o
dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então
ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. 10Mas, quando fores convidado,
vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá:
‘Amigo, vem mais para cima’. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos
os convidados. 11Porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha será
elevado”.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Humildade e
hospitalidade
Este Evangelho nos ajuda a corrigir um preconceito sumamente
difundido. «Num sábado, Jesus entrou para comer na casa de um dos principais
fariseus. Eles o observavam atentamente». Ao ler o Evangelho a partir de um
certo ponto de vista, acabou-se fazendo dos fariseus o modelo de todos os
vícios: hipocrisia, falsidade; os inimigos por antonomásia de Jesus. Com estes
significados negativos, o termo «fariseu» passou a fazer parte do dicionário de
nossa língua e de outras muitas.
Semelhante idéia dos fariseus não é correta. Entre eles
havia certamente muitos elementos que respondiam a esta imagem e Cristo os
enfrenta. Mas nem todos eram assim. Nicodemos, que vai ver Jesus de noite e que
depois o defende ante o Sinédrio, era um fariseu (cf. João 3, 1; 7, 50ss).
Também Saulo era fariseu antes da conversão, e era certamente uma pessoa
sincera e zelosa, ainda que não estivesse bem iluminado. Outro fariseu era
Gamaliel, que defendeu os apóstolos ante o Sinédrio (cf. Atos 5, 34 e
seguintes).
As relações de Jesus com os fariseus não foram só de
conflito. Compartilhavam muitas vezes as mesmas convicções, como a fé na
ressurreição dos mortos, no amor de Deus e no compromisso como primeiro e mais
importante mandamento da lei. Alguns, como neste caso, inclusive o convidam
para uma refeição em sua casa. Hoje se considera que mais que os fariseus, quem
queria a condenação de Jesus eram os saduceus, a quem pertencia a casta
sacerdotal de Jerusalém.
Por todos estes motivos, seria sumamente desejável deixar de
utilizar o termo «fariseu» em sentido depreciativo. Ajudaria ao diálogo com os
judeus, que recordam com grande honra o papel desempenhado pela corrente dos
fariseus em sua história, especialmente após a destruição de Jerusalém.
Durante a refeição, naquele sábado, Jesus ofereceu dois
ensinamentos importantes: um dirigido aos «convidados» e outro para o
«anfitrião». Ao dono da casa, Jesus disse (talvez diante dele ou só em presença
de seus discípulos): «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides seus
amigos, nem seus irmãos, nem seus parentes, nem os vizinhos ricos…». É o que o
próprio Jesus fez, quando convidou ao grande banquete do Reino os pobres, os
alitos, os humildes, os famintos, os perseguidos.
Mas nesta ocasião quero deter-me a meditar no que Jesus diz
aos «convidados». «Se te convidam a um banquete de bodas, não te coloques no
primeiro lugar…». Jesus não quer dar conselhos de boa educação. Nem sequer
pretende alentar o sutil cálculo de quem se põe em uma fila, com a escondida
esperança de que o dono lhe peça que se aproxime. A parábola nisso pode dar pé
ao equívoco, se não se levar em consideração o banquete e o dono dos quais
Jesus está falando. O banquete é o universal do Reino e o dono é Deus.
Na vida, quer dizer Jesus, escolhe o último lugar, procura
contentar os demais mais que a ti mesmo; sê modesto na hora de avaliar seus
méritos, deixa que sejam os demais quem os reconheçam e não tu («ninguém é bom
juiz em causa própria»), e já desde esta vida Deus te exaltará. Ele te exaltará
com sua graça, te fará subir na hierarquia de seus amigos e dos verdadeiros
discípulos de seu Filho, que é o que realmente importa.
Ele te exaltará também na estima dos demais. É um fato
surpreendente, mas verdadeiro. Não só Deus «se inclina ante o humilde e rejeita
o soberbo» (cf. Salmo 107, 6); também o homem faz o mesmo, independentemente do
fato de ser crente ou não. A modéstia, quando é sincera, não artificial,
conquista, faz que a pessoa seja amada, que sua companhia seja desejada, que
sua opinião seja desejada.
Vivemos em uma sociedade que tem suma necessidade de voltar
a escutar esta mensagem evangélica sobre a humildade. Correr para ocupar os
primeiros lugares, talvez pisoteando, sem escrúpulos, a cabeça dos demais, são
características desprezadas por todos e, infelizmente, seguidas por todos. O
Evangelho tem um impacto social, inclusive quando fala de humildade e
hospitalidade.
Pai, faz-me humilde e discreto no trato humano. E que eu não
aspire grandeza humana. Basta-me ser reconhecido e exaltado por ti.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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