Evangelho (Lucas 18,35-43)
Segunda-Feira, 19 de Novembro de 2012
Ss. Roque G., Afonso R., João del Castillo
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
35Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava
sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. 36Ouvindo a multidão passar, ele
perguntou o que estava acontecendo. 37Disseram-lhe que Jesus Nazareno estava
passando por ali. 38Então o cego gritou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de
mim!” 39As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse calado. Mas ele
gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 40Jesus parou e mandou
que levassem o cego até ele. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou:
41“Que queres que eu faça por ti?” O cego respondeu: “Senhor, eu quero enxergar
de novo”. 42Jesus disse: “Enxerga, pois, de novo. A tua fé te salvou”. 43No
mesmo instante, o cego começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a
Deus. Vendo isso, todo o povo deu louvores a Deus.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Senhor que eu veja
Segundo a narração de São Marcos, Jesus encontra-se em
viagem rumo a Jerusalém, deixando atrás de si Cesaréia de Filipe, ao norte da
Galileia. Como nunca perdia um só segundo nem oportunidade, Ele aproveitará
esse percurso para ir instruindo seus discípulos, a fim de torná-los aptos à
grande missão que lhes caberá, uma vez fundada a Igreja. Ao iniciar-se essa
caminhada, uma grande multidão se junta aos discípulos, sempre desejosa de
assistir a mais algum milagre, ou de ouvir as maravilhas transbordantes dos
lábios do Mestre. Como primeiro ato desse trajeto, está a cura de um cego.
E por que Marcos e Lucas fazem referência a um só cego? Uma
boa maioria dos exegetas opina ser provável que os cegos eram dois, conforme
Mateus indica, mas um deles devia ser muito conhecido, a ponto de Marcos tê-lo
posto em cena com seu nome próprio.
Quanto ao lugar onde se teria dado o milagre, as
explicações, se bem que diversas, visam fazer uma aproximação entre os
Evangelistas, concluindo em favor de um único acontecimento.
Quase nunca faltam a essas cenas evangélicas os aspectos
carregados de cores, característicos do Oriente. Os costumes, marcados por um
temperamento borbulhante e nada retraído, se refletem tanto na atitude do cego
Bartimeu como na reação da multidão contra os gritos dele.
A cegueira, quer seja física, quer espiritual, é um mal
indolor. A perda da vista, apesar de nos impedir de nos guiarmos nos espaços
físicos segundo nossas próprias deliberações e usando de nossa autonomia,
inclina-nos à humildade e submissão aos outros, a confiar em seu auxílio. Por
isso, quando bem aceita, ela pode ser um excelente meio de santificação. Muito
pelo contrário, a cegueira espiritual priva-nos de elementos fundamentais para
nossa salvação – como são as misericórdias que desprezamos – e nos faz correr
terríveis riscos, enquanto acumulamos as iras de Deus.
A Bartimeu lhe faltava um dos elementos essenciais para
enriquecer-se, por isso caiu inevitavelmente na pobreza passando a viver de
esmolas. Ao cego de Deus, entretanto, é possível fazer fortuna; porém, debaixo
deste ponto de vista, é ele ainda mais digno de pena: quando se fecharem
definitivamente para a luz do dia seus olhos carnais, os espirituais de
imediato se abrirão, mas quão tarde será, para ele, ver a grande dimensão de
sua real miséria em todo o seu horror. E, tomara, não seja essa a hora do
desespero.
Se ao analisar-me, com toda a honestidade de consciência,
não encontrarei no fundo de minha alma alguma sombra onde a luz do sobrenatural
não chega, um ou outro refolho onde não penetra a voz de Deus? Esse é o momento
de eu imitar o pobre Bartimeu. O próprio Jesus continua aqui, nos tabernáculos
das igrejas. Por que não aproveitar uma ocasião para d’Ele me aproximar e
pedir-Lhe o milagre? Devo temer a Jesus que passa e não volta, e bradar
continuamente, porque Ele ouve melhor os desejos abrasados.
Tenhamos por certo este princípio: sempre que um cego de
Deus abraça o caminho da conversão, “a multidão” tenta dissuadi-lo de
prosseguir, fazendo todo o possível para lhe criar obstáculos. Infelizmente, a
essa “multidão” de mundanos se associa a multidão de seus próprios pecados e
paixões, para fazê-lo silenciar. Também aqui é oportuno imitar a atitude de
Bartimeu, ou seja, não somente não ceder às pressões, como até, pelo contrário,
redobrar em ardor, esperança e desejos. Dessa forma, não tardará a comprovar a
realidade da convicção do Apóstolo: “Tudo posso n’Aquele que me conforta!” (Fl
4, 13).
“Senhor, que eu veja!”, deve ser o pedido de quem esteja
imerso na tibieza e, sobretudo, de quem é cego de Deus. Bartimeu não pediu a
fé, porque já a possuía. Sua cegueira era simplesmente física. Examinemos
nossas necessidades espirituais e peçamos tudo a Jesus. Sem duvidar, aguardemos
até mesmo o milagre, pois Ele nos assegura: “Tudo quanto pedirdes ao Pai em meu
nome, Eu o farei” (Jo 14, 13).
O número dos que sofrem de cegueira física, no mundo, é
insignificante, em comparação com os cegos espirituais. A cegueira de coração
atinge uma quantidade assustadora de pessoas em nossos dias. A fé vai se
tornando privilégio de minorias. Há cegos não só nos caminhos da salvação, mas
até mesmo nas vias da piedade. Estes levam uma vida pseudotranquila, submersos
nos perigos da tibieza; cometem faltas, mas conseguem muitas vezes, através de
inúmeros sofismas, adormecer suas consciências, não experimentando mais os
benéficos remorsos. Confessam- se por pura rotina, comungam sem dar o devido
valor à substância do Sacramento Eucarístico, rezam sem devoção…
E – quem diria? – há cegos entre os que abraçaram o caminho
da perfeição, mas deixaram de aspirar a ela, contentando-se com uma
espiritualidade medíocre, esquálida e infrutuosa. Eles nada fazem para
atingi-la, procurando-a onde ela jamais se encontra.
Enfim, para não ser cego de Deus, é preciso ser puro de
coração. Uma das principais causas da cegueira de nossos dias é a impureza.
Nosso Senhor diz no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus” (Mt 5, 8). Não se trata exclusivamente da virtude da
castidade, mas, muito, da reta intenção de nossos desejos. Tanto uma quanto a
outra vão-se tornando raras a cada novo dia, nesta era de progressiva cegueira
de Deus.
São essas algumas das razões pelas quais a humanidade
necessita voltar-se urgentemente para a Mãe de Deus, apresentando por meio
d’Ela, ao Divino Redentor, o mesmo pedido de Bartimeu: “Senhor, que eu veja!”
Pai, infunde em mim uma fé profunda como a do pobre cego,
cujo desejo de ser curado por Jesus levou-o a se abrir para a verdadeira visão
que leva à salvação.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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