Liturgia Diária19 – SEGUNDA-FEIRA
20ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia da 4ª semana)
Evangelho: Mateus 19:16-22
Ó Mestre, que nos chamas a abandonar o que nos aprisiona, ensina-nos a seguir-Te com o coração livre, desprendido das riquezas passageiras, buscando o tesouro eterno. Concede-nos a coragem de renunciar ao supérfluo e encontrar em Ti a plenitude da vida verdadeira.
Mateus 19:16-22
16. Aproximou-se dele alguém e lhe perguntou: “Mestre, que farei eu de bom para alcançar a vida eterna?”
17. Respondeu-lhe Jesus: “Por que me perguntas sobre o que é bom? Um só é o bom. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.”
18. Perguntou-lhe ele: “Quais?” E Jesus respondeu: “Não matarás; não cometerás adultério; não furtarás; não dirás falso testemunho;
19. honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
20. Disse-lhe o jovem: “Tenho observado tudo isso; que me falta ainda?”
21. Respondeu-lhe Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me.”
22. O jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitos bens.
Reflexão:
"Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me." (Mateus 19:21)
Neste encontro com o jovem rico, percebemos que o verdadeiro caminho para a vida eterna transcende o cumprimento das leis externas e nos convida a uma transformação interior mais profunda. A perfeição que Jesus propõe não é apenas a obediência, mas a desapropriação de tudo o que nos prende ao material e ao ego. A evolução espiritual que somos chamados a abraçar implica abrir mão das seguranças e dos apegos terrenos, para que possamos ascender a uma vida de verdadeira liberdade e união com o divino. O convite de Cristo é para que integremos todas as dimensões de nossa existência, direcionando-nos para uma plenitude que vai além do mundo visível, rumo à realização do propósito maior da criação.
HOMILIA
"Uma Jornada de Desapego e Plenitude"
Queridos irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje nos apresenta um encontro profundamente significativo entre Jesus e um jovem que busca a vida eterna. Este jovem, já observador dos mandamentos, sente em seu coração que algo ainda lhe falta. Ele busca, não apenas uma resposta, mas uma direção que o conduza à plenitude.
Jesus, com a sabedoria que transcende o tempo, olha para ele e oferece um desafio que vai além do cumprimento da lei: "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me." Este convite não é apenas um chamado ao desapego material, mas uma proposta radical de transformação interior.
O que Jesus oferece ao jovem é a oportunidade de uma evolução espiritual que ultrapassa o simples cumprimento das regras. Ele é convidado a transcender o visível, a abandonar as seguranças do mundo material, para mergulhar na verdadeira vida que é encontrada em Cristo. Esta é uma jornada de desapego, onde o eu interior é liberado das correntes do egoísmo e da posse, para que possa ser integrado ao todo maior do amor divino.
Neste processo, percebemos que a perfeição, segundo Jesus, não é um estado de imaculada obediência às leis, mas uma evolução contínua rumo à união com o divino. É uma abertura à dinâmica da vida, onde o desapego do supérfluo e a partilha com os outros criam um espaço em nossos corações para o crescimento espiritual.
O jovem, no entanto, se retira triste, pois seus muitos bens o prendem. Ele não consegue abraçar a liberdade que Jesus lhe oferece. Este episódio nos coloca diante de uma questão crucial: até que ponto estamos dispostos a deixar para trás aquilo que nos impede de crescer espiritualmente? Estamos prontos para abrir mão de nossas seguranças materiais em favor de um tesouro que não pode ser corroído ou perdido?
A mensagem central do Evangelho é clara: o caminho para a vida eterna e a perfeição é um caminho de desapego e de confiança plena em Deus. À medida que avançamos neste caminho, somos chamados a integrar nossa existência ao plano divino, onde cada renúncia terrena nos aproxima mais da plenitude prometida.
Que possamos, inspirados por este encontro, refletir sobre nossos próprios apegos e estar dispostos a seguir o chamado de Jesus com o coração livre, buscando não os tesouros deste mundo, mas a riqueza eterna que só Ele pode oferecer. Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"A Perfeição como Caminho de Transcendência e União Divina"
"Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me." (Mateus 19:21)
1. O Chamado à Perfeição: Um Convite à Transformação Integral
Na frase "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me" (Mateus 19:21), Jesus nos oferece uma visão profunda da perfeição cristã. Ele não está apenas sugerindo uma renúncia material, mas propondo uma transformação integral do ser humano. A perfeição, aqui, é entendida não como uma impecabilidade moral, mas como um estado de ser em que o indivíduo se alinha totalmente com a vontade divina. Esse estado exige uma entrega completa, uma liberação de tudo o que nos prende ao mundo material e uma abertura para o infinito.
2. Desapego como Condição para a Ascensão Espiritual
O pedido para vender os bens e dar aos pobres é um símbolo de desapego que vai além das posses materiais. Jesus reconhece que a matéria, se não for colocada a serviço do bem, pode se tornar um obstáculo à nossa união com Deus. O desapego, portanto, não é um fim em si mesmo, mas um meio para libertar o espírito humano das amarras do ego e das ilusões do mundo. Ao liberar-nos das seguranças materiais, somos convidados a confiar plenamente em Deus e a direcionar nossa energia para uma vida mais elevada e significativa.
3. O Tesouro no Céu: A Convergência para a Plenitude Divina
A promessa de um "tesouro no céu" deve ser entendida como a recompensa pela participação ativa no plano divino. Este tesouro não é uma riqueza futura em um paraíso distante, mas uma experiência presente de plenitude que começa a ser vivida aqui e agora. Ao nos desapegarmos das riquezas terrenas e nos dedicarmos ao serviço dos outros, estamos, na verdade, acumulando um tesouro espiritual que consiste na nossa progressiva união com Deus. Essa união nos traz a verdadeira felicidade e paz, que são os sinais da presença do Reino de Deus em nossas vidas.
4. Seguir a Cristo: A Jornada Evolutiva para a União com o Divino
O chamado final de Jesus, "vem e segue-me", é o ápice da transformação espiritual. Seguir Cristo não é apenas imitá-lo em suas ações, mas entrar em um processo evolutivo onde nos tornamos cada vez mais conformes à imagem divina. Esta jornada é marcada por desafios, sacrifícios e renúncias, mas é através dela que o ser humano se eleva, transcendendo suas limitações e participando ativamente na realização do propósito último da criação. Seguir Cristo é, portanto, integrar-se ao movimento cósmico de ascensão em direção ao divino, onde o humano e o divino se encontram em perfeita harmonia.
Conclusão: A Perfeição como Participação no Mistério da Criação
Em última análise, a perfeição que Jesus propõe ao jovem rico é uma participação no mistério da criação, onde o ser humano, desapegado do transitório, é convidado a se unir ao eterno. Esta união não é apenas uma experiência individual, mas um ato de colaboração com o plano divino, onde cada renúncia e cada ato de amor contribuem para a realização do Reino de Deus. Através deste caminho de desapego, serviço e seguimento de Cristo, somos chamados a participar da plenitude da vida divina, que é o nosso verdadeiro tesouro no céu.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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