Evangelho (Lc 14,12-14)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 12dizia Jesus ao chefe dos fariseus que o
tinha convidado: “Quando deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos
nem teus irmãos nem teus parentes nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam
também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. 13Pelo contrário, quando
deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14Então
serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na
ressurreição dos justos”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
REFLEXÃO
É preciso renunciar
ao anseio de recompensa ou retribuição.
Trata-se de uma refeição na casa de um fariseu, num sábado
(cf. v. 1), dia dado pelo Senhor para celebrar o dom da vida, através da obra
da criação, e a libertação do país da escravidão. A instrução é motivada pela
observação de Jesus de que “os convidados escolhiam os primeiros lugares” (v.
7). A parábola utiliza a imagem do casamento, em que os lugares já eram
predeterminados.
Há duas lições: o lugar é recebido de quem convidou para a
festa (cf. v. 8-11). A segunda lição, nosso texto de hoje, é um convite à
generosidade: quando der um banquete, convide aqueles que não podem retribuir
(cf. vv. 12-14). É preciso renunciar ao anseio de recompensa ou retribuição: “Se
amais os que vos amam, que graça alcançais? Até mesmo os pecadores agem assim.
Fazei o bem aos que no-lo fazem, que graça alcançais? Até mesmo os pecadores
agem assim… E se emprestais àqueles de que quem esperais receber, que graça
alcançais? […]. Fazei o bem e empresteis sem esperar coisa alguma em troca” (Lc
6,32-35).
Carlos Alberto Contieri,sj
CONVIDE OS POBRES Lc
14,12-14
HOMILIA
Jesus olhar tanto para o dono da festa bem como para os
convidados ficou desapontado; e, então levantando a cabeça dirige a palavra à
seus Apóstolos: Quando você der um almoço ou um jantar, não convide os seus
amigos, nem os seus irmãos, nem os seus parentes, nem os seus vizinhos ricos.
Porque certamente eles também o convidarão e assim pagarão a gentileza que você
fez.
A quero
lembrar-te de que a oportunidade do Evangelho sobre o banquete dos pobres e
aleijados permite abordar o tema da Igreja como assembléia universal e
indiscriminada dos filhos de Deus.
O plano
salvífico de Deus, manifestado em Jesus de Nazaré, apresenta-se definitivamente
como a assembléia universal e indiscriminada dos filhos de Deus dispersos. Por isso, a Igreja, através de variadas
modalidades associativas pelo amor, os ministérios e os sacramentos, sobretudo
a celebração eucarística, se manifesta nas múltiplas assembléias locais. Abre-se ao projeto divino da acolhida de
todos os homens, mediante a fé em Cristo.
Prossegue e prolonga a obra da congregação universal dos filhos de Deus,
privilegiando os pobres e marginalizados, na qualidade de primeiros convidados
ao festim dos bens messiânicos, pois se os pobres têm vez, ninguém se sente
excluído. Entretanto, a Igreja jamais
será um fim em si mesmo, mas o meio pelo qual se processa a unificação dos
homens entre si e com Deus em Cristo.
Daí, o tema da congregação universal apontar para o banquete definitivo
do Reino de Deus onde serão acolhidos na morada do Pai (Jo 14,2-3), a Jerusalém
do Alto (Apc 21,10; Hb 12,22-23).
O amor
preferencial pelos pobres, o espaço aberto aos marginalizados, a promoção dos
necessitados será sempre sinal evidente do Reino de Deus que a Igreja anuncia,
vive e constrói. O próprio Reino
manifesta sua força e vitalidade, congregando os pobres na Igreja de Cristo
para promovê-los a uma vida mais digna até a eternidade feliz.
Lucas apresenta o tema da humildade, a partir da parábola da
escolha dos lugares, e o tema da importância dos pobres no Reino de Deus, a
partir da parábola da escolha dos convidados (Lc 14,1.7-14).
Nos
diálogos à mesa, os autores gregos geralmente apresentavam os comensais em
torno do dono da casa, sublinhando a posição social dos presentes. Lucas também começa retratando um dos
notáveis entre os fariseus para logo, desconcertantemente, introduzir um
hidrópico na cena, necessitado de cura.
Deste modo, dá a entender que a refeição messiânica não é reservada a
elites, mas se abre a todos, notadamente os pobres e marginalizados.
Durante os
diálogos à mesa, era costume que cada conviva pronunciasse um discurso para
elogiar o tema a ser abordado e descrever-lhe as situações. No caso de Lucas, é Jesus quem inicia a
conversação, referindo-se à possibilidade de curar o hidrópico no Sábado,
enquanto os legistas e fariseus se calam e não conseguem replicá-lo. Jesus, no entanto, insiste no diálogo,
escolhendo como tema a humildade e descrevendo suas manifestações. Tendo como pano de fundo a literatura
sapiencial (Pr 25,6-7), elogia a humildade, a partir da parábola da escolha dos
lugares em que o ocupante do último posto é convidado a se transferir para mais
perto.
Quanto à
parábola da escolha dos convidados, mais do que apontar para a humildade de
quem convida os marginalizados, acentua, bem a gosto de Lucas, a importância
dos pobres no Reino de Deus. Na
realidade, há a questão básica que se impõe aos que crêem, sobre a acolhida
devida aos carentes e necessitados, privilegiados de Jesus. Em tom sapiencial, que sobre exalta as
conseqüências dos atos humanos, é melhor, para Jesus, convidar os pobres, pois,
não tendo com que retribuir, a recompensa da gratuidade há de ser dada pelo
próprio Deus na ressurreição dos justos.
Do mesmo modo que é conveniente se colocar no último lugar pela vivência
da humildade, também é mais dadivoso convidar os pobres e aleijados para o
banquete do que os amigos, parentes e vizinhos ricos.
Consciente
de que Jesus inaugura o banquete universal dos pobres (Is 55,1-5), Lucas
insiste na gratuidade do gesto divino que acolhe a todos em seu Reino, chamado
a atenção para a mesma atitude daqueles que convidam os que não podem
retribuir. Entretanto, se considerarmos
a interpretação eucarística proposta por vários comentadores, teremos a
superação, nas assembléias dominicais, de manifestações de vaidade e ostentação
das reuniões pagãs, através das regras da humildade ou das escolhas dos lugares
e a exclusão de barreiras judaicas, impostas pela impureza legal aos
marginalizados mediante as regras da gratuidade e da acolhida dos pobres. Quem
são os que participam da tua festa? Com quem gastas o teu dinheiro? E como o
gastas? Lembra-te do apelo do Mestre: Quando deres um banquete convide os
cegos, os aleijados, os pobres e serás abençoado. Pois eles não poderão pagar o
que tu fizeste, mas Deus te pagará no dia em que as pessoas que fazem o bem
ressuscitarem.
Fonte Homilia: Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
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