Evangelho (Mateus 16,13-19)
Sexta-Feira, 22 de Fevereiro de 2013
Cátedra de São Pedro, Apóstolo
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 13Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e
ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”
14Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias;
outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. 15Então Jesus lhes
perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” 16Simão Pedro respondeu: “Tu és o
Messias, o Filho do Deus vivo”.
17Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho
de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que
está no céu. 18Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. 19Eu te
darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado
nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
A afirmação de Pedro
Na narrativa de Mateus encontramos duas de suas
características dominantes. Ele acentua a dimensão messiânica de Jesus e já
apresenta sinais da instituição eclesial nascente. Escreve na década de 80,
quando os discípulos de Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das
sinagogas que até então frequentavam. Ele pretende convencer estes discípulos
de que em Jesus se realizam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga
tradição de Israel. Daí o acentuado caráter messiânico atribuído a Jesus por
Mateus. Os cristãos, afastados das sinagogas, começam a estruturar-se em uma
instituição religiosa própria, na qual a figura de referência é Pedro, já
martirizado em Roma. Pedro é apresentado como o fundamento da Igreja e detentor
das chaves do Reino dos Céus.
Ó Deus, hoje nos concedeis a alegria de festejar S. Pedro e
S.Paulo… apóstolos que nos deram as primícias da fé. Estamos aqui como Igreja a
reconhecer a unidade de fé que viveram na diversidade de missão. Por isso os
celebramos juntos. Sua fé em Jesus foi força que encontraram para suas vidas e
para sua missão. O Espírito moldou seus corações de tal modo que puderam, como
diz Paulo, dizer: “Para mim, viver é Cristo” (Fl 1,21). Pedro faz a primeira
expressão de fé do discípulo: “Tu és o Messias, o Filho de Deus Vivo” (Mt 16.16).
Eu tenho a tentação de ver Pedro mais ligado à tradição e Paulo como um tipo
mais avançado e rebelde. Os dois eram parecidos. Vemos Pedro romper com a
tradição judaica e entrar em casa de pagãos consciente de que não devia chamar
de impuro o que Deus declarara puro (At 10,15). Pedro abre as portas do
paganismo ao Evangelho, no Concílio de Jerusalém, tachando a tradição judaica
de um jugo impossível de suportar (At.15,10). Era uma grande libertação que
fazia dentro de si mesmo pela ação do Espírito. Essa posição liberou a Igreja.
Esse ato dá liberdade total a Paulo para evangelizar os pagãos (v.12). Paulo
tão forte na liberdade, mantém tradições judaicas como cortar cabelos para
cumprir um voto (At 18,18) e, por causa dos judeus, circuncidar Timóteo que
tinha pai grego (At 16,3). A fé professada por Pedro se dá em um momento
crucial da vida de Jesus, e O anima a seguir rumo à Paixão. Pedro recebe uma
bem-aventurança: “Feliz és tu Simão, pois não foi um ser humano que te revelou
isso, mas meu Pai que está nos céus”. Tem o dom de ser pedra de alicerce sobre
a qual Jesus constrói a Igreja e lhe dá o poder de ligar e desligar (Mt
16,17-19). Paulo reconhece a ação do Espírito: “Combati o bom combate,
completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7).
Deram a vida pela Igreja e por Cristo. Rezamos no prefácio:
“Unidos pela coroa do martírio, recebem igual veneração”. Eles têm consciência
durante sua vida de que a perseguição que sofrem é por causa do Evangelho.
Herodes desencadeou a perseguição sobre a Igreja; Matou Tiago e prendeu Pedro
para apresentá-lo ao povo e ser morto. Ele foi libertado da prisão por um anjo
(At 12,1-11). Paulo tem consciência do fim: “Já estou para ser derramado em
sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida” (2Tm 4,8). Os dois têm a experiência
de que são protegidos pelo Senhor: “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças”
(v. 17); Pedro reconhece: “Agora sei que o Senhor enviou seu anjo para me
libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava” (v.11).
O ensinamento desta festa à Igreja é a abertura à tradição e
ao acolhimento da novidade para ser fiel. A Igreja tem que se voltar sempre
para o dinamismo destes dois homens que deram a vida pelo evangelho. Eles nos
ensinam. Não podemos ficar na superficialidade e celebrar sem refletir o que os
fez grandes. Eles não só são colunas da fé, mas também dão rumos para seu
futuro. Vivemos tempos nos quais há tendências de voltar à tradição pela
tradição e à novidade pela novidade. Mas devemos partir da fé que professamos
em cada celebração.
A Igreja celebra Pedro e Paulo no mesmo dia porque
trabalharam na unidade da fé e na diversidade de modalidades. Sua força
apostólica está na fé em Jesus. Pedro e Paulo não se diferem pelo apego à
tradição ou inovação, mas pelo campo. Ambos têm a tradição que preserva e a
inovação que assume caminhos novos. Ambos vivem da fé.
Unidos pelo martírio recebem igual veneração. Sofrem por
causa do Evangelho. Herodes prende Pedro e Paulo está preso em Roma com a
consciência de ter combatido o bom combate e guardado e fé. Ambos sabem que o
Senhor esteve sempre com eles.
O ensinamento desta festa é a abertura à tradição e o
acolhimento da novidade para ser fiel. Eles são colunas da Igreja, mas também
dão rumos. Há tendência de voltar à tradição pela tradição ou ir à novidade
pela novidade. Como Pe. Vitor Coelho dizia: a Igreja não é de bronze, pois
enferruja. É uma árvore que cresce porque tem ramos novos e permanece porque
tem tronco.
Celebrando S. Pedro e S. Paulo nós celebramos a ação de Deus
em Jesus para implantar o seu Reino no mundo. Ele usou duas luvas de briga: uma
grosseira, Pedro, e outra mais caprichada, Paulo. Por que essa diferença?
Os dois implantaram a Igreja de Deus em dois mundos
diferentes, mundo judeu e mundo pagão. Missão diferente, mas o mesmo fim.
Diferente é o modo de compreender a fé. Isso enriquece. O judaísmo tende ao
ritualismo; o paganismo tende a um modo mais livre de vida. A Igreja se
enriquece com esses dois modos de entender.
Eles se fundam na fé. Pedro e Paulo vivem Jesus. Mesmo
passando na boca do leão, foram salvos e preservados. Deram a vida por Jesus.
Eles falavam grosso e tinham o que dizer sobre Deus. Eu e você, o que temos
feito no que toca a nossa fé em Deus?
Pai consolida minha fé, a exemplo do apóstolo Pedro que, em
meio às provações, soube dar, com o seu martírio, testemunho consumado de
adesão a Jesus.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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