Evangelho (Lucas 6,36-38)
Segunda-Feira, 25 de Fevereiro de 2013
2ª Semana da Quaresma
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 36“Sede
misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. 37Não julgueis e não
sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis
perdoados. 38Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida,
transbordante será colocada no vosso colo; porque com a mesma medida com que
medirdes os outros, vós também sereis medidos”.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
A tua missão é a
misericórdia
No imenso tesouro do Evangelho, a misericórdia é como uma
gema preciosa: sólida e delicada ao mesmo tempo; verdadeira e transparente na
sua simplicidade; brilhante pela vida e alegria que difunde. Compaixão,
solidariedade, ternura e perdão são como seus ângulos de polimento, por onde se
reflete – em raios coloridos e acessíveis – o amor regenerador de Deus.
Para mim neste tempo da Quaresma, a misericórdia de Deus se
traduz em resgate, cura, abrigo, libertação, sustento, proteção, acolhida,
generosidade e salvação – tão marcantes na caminhada do Povo de Deus. No
decorrer dos séculos, a comunidade cristã tem atualizado esta experiência em
novos contextos, lugares e relacionamentos. A liturgia a celebra; a prece a
invoca; a pregação a proclama; os místicos a enfatizam; o magistério a propõe;
as obras a cumprem.
Antiga e sempre nova, a misericórdia de Deus se pode
entender em outras palavras sob três pontos:
bem-aventurança, profecia e terapia. Como bem-aventurança, a
misericórdia aproxima o Reino de Deus das pessoas, e as pessoas do Reino de
Deus. É prática que dignifica o ser humano: tanto quem a dá, quanto quem a
recebe. Está repleta de gratuidade e alegria, como disse Jesus: “Felizes os
misericordiosos, pois alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). As obras de
misericórdia são também profecias da justiça do Reino, que supera toda
fronteira de raça, credo ou ideologia: diante da humanidade ferida e carente,
somos servidores da vida e da esperança, dentro e fora da Igreja, para crentes
e não-crentes, afim de que “todos tenham vida e vida em plenitude” (Jo 10,10).
Jesus nos indicou o exemplo do bom samaritano para mostrar a
todos que a misericórdia não aceita fronteiras! Enfim, a misericórdia é também
terapia: compaixão que restaura, toque que regenera e cuidado que aquece. As
obras de misericórdia têm eficácia curadora: socorrem nossa humanidade ferida
pelo pecado e pelo desamor, restaurando em nós a imagem do Cristo glorioso,
para que suas feições resplandeçam na nossa face, na face da Igreja, na face de
toda a humanidade redimida.
Se a compaixão é um sentir que nos comove na direção do
próximo, a misericórdia se caracteriza como gesto que realiza este sentir
solidário. Na compaixão temos um sentimento que mobiliza; na misericórdia temos
o exercício deste sentimento. Daí os verbos: cumprir, mostrar, fazer e agir –
que expressam a eficácia do amor misericordioso humano e, sobretudo, divino
(cf. Êx 20,6; Sl 85,8; Lc 1,72 e 10,37). A misericórdia tem caráter operativo:
é amor em exercício de salvação. Se o amor é a qualidade essencial de Deus; a
misericórdia é este mesmo amor exercitado para com a criatura humana, revelando
a qualidade ativa de Deus. Assim, a misericórdia se mostra muito mais na
experiência do dia a dia, do que na conceituação teológica, catequética ou
espiritual. E ainda que tal experiência se revista de beleza, o lar da
misericórdia não é o discurso e nem explicações. Porque as crianças
abandonadas, os andarilhos e os excluídos da sociedade não comem explicações. O
lar da misericórdia é a solidariedade. Seu órgão vital é o coração e as mãos:
erguem o caído, curam o ferido, abraçam o peregrino, alimentam o faminto.
A misericórdia que Deus exige de ti e de mim não é outra
senão a evangélica, que consiste em 14 obras: 7 corporais: dar de comer a quem
tem fome, dar de beber a quem tem sede, acolher o forasteiro, vestir quem está
nu, visitar os doentes e assistir aos prisioneiros e sepultar dignamente os
mortos. Sete obras, centradas na exortação “cada vez que o fizestes a um desses
meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (25,40). E 7 espirituais: dar
bom conselho a quem necessita, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram,
consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as fraquezas do
próximo, rogar a Deus pelos vivos e mortos.
Obras de misericórdia corporais: dar de comer ao faminto,
dar de beber ao sedento, vestir os maltrapilhos, abrigar os peregrinos, cuidar
dos enfermos, visitar os encarcerados,
Meu irmão, minha irmã, em Emaús e à beira do lago da
Galiléia, Jesus toma o pão, abençoa e reparte: os discípulos o reconhecem, por
causa de seu tato característico (Lc 24,30; Jo 21,12-13). Que gestos tens feito
para que as pessoas te reconheçam como discípulo de Jesus? Saiba que os gestos
alimentam, curam e restauram! Eles são toques da misericórdia de Deus.
O nosso mandato é a prática da misericórdia para com o
irmão: “Vai e faze o mesmo!”
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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