sexta-feira, 11 de julho de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 10:25-37 - 13.07.2025

 Liturgia Diária


13 – DOMINGO 

15º DOMINGO DO TEMPO COMUM


(verde, glória, creio – 3ª semana do saltério)


Contemplarei, justificado, a vossa face; e ficarei saciado quando se manifestar a vossa glória (Sl 16,15).


No mistério do Deus invisível que Se revela no Rosto do Amor, o Cristo desce ao caminho dos que sofrem e ali planta a liberdade da compaixão. Sua presença não impõe: convida, ilumina, desperta. Viver é escolher — e escolher é amar com responsabilidade. O mandamento se encarna no gesto livre do samaritano, que vê, se comove e age. A comunhão verdadeira dilata o coração e o torna sensível à dor do outro, sem dogmas forçados, apenas pelo impulso do Espírito. Seguir o Cristo é tornar-se livre para amar, consciente para servir e compassivo para restaurar o humano em cada encontro.



Evangelium: Lucae 10,25-37

Dominica XV per annum – Anno C

25. Et ecce quidam legis peritus surrexit tentans illum, dicens: Magister, quid faciendo vitam aeternam possidebo?
E eis que um doutor da lei se levantou para pô-lo à prova, dizendo: Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?

26. At ille dixit ad eum: In lege quid scriptum est? Quomodo legis?
Jesus lhe disse: Que está escrito na Lei? Como lês?

27. Ille respondens dixit: Diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo, et ex tota anima tua, et ex omnibus viribus tuis, et ex omni mente tua; et proximum tuum sicut teipsum.
Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao teu próximo como a ti mesmo.

28. Dixitque illi: Recte respondisti: hoc fac et vives.
Disse-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso e viverás.

29. Ille autem volens justificare seipsum, dixit ad Jesum: Et quis est meus proximus?
Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo?

30. Suscipiens autem Jesus, dixit: Homo quidam descendebat ab Jerusalem in Jericho, et incidit in latrones, qui etiam despoliaverunt eum: et plagis impositis abierunt semivivo relicto.
Jesus, tomando a palavra, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram, feriram-no e se foram, deixando-o meio morto.

31. Accidit autem ut sacerdos quidam descenderet eadem via: et viso illo praeterivit.
Aconteceu que um sacerdote descia por aquele caminho; viu-o e passou adiante.

32. Similiter et levita, cum esset secus locum, et videret eum, pertransiit.
De igual modo, um levita, ao passar pelo lugar e vê-lo, também passou adiante.

33. Samaritanus autem quidam iter faciens, venit secus eum: et videns eum, misericordia motus est.
Mas um samaritano que ia de viagem, ao vê-lo, moveu-se de compaixão.

34. Et appropians alligavit vulnera ejus, infundens oleum et vinum: et imponens illum in jumentum suum, duxit in stabulum, et curam ejus egit.
Aproximando-se, ligou-lhe as feridas, derramando nelas óleo e vinho; depois, colocou-o em seu próprio animal, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele.

35. Et altera die protulit duos denarios, et dedit stabulario, et ait: Cura illum: et quodcumque supererogaveris, ego cum rediero reddam tibi.
No dia seguinte, tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Cuida dele; e o que gastares a mais, eu te reembolsarei quando voltar.

36. Quis horum trium videtur tibi proximus fuisse illi, qui incidit in latrones?
Qual destes três te parece ter sido o próximo do que caiu nas mãos dos ladrões?

37. At ille dixit: Qui fecit misericordiam in illum. Et ait Jesus illi: Vade, et tu fac similiter.
Ele respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai e faze tu o mesmo.

Reflexão:

O verdadeiro encontro com o outro revela a grandeza da liberdade interior: um movimento espontâneo do ser que vê, compreende e age. O samaritano não segue mandamento por imposição, mas por reconhecimento da dignidade do outro. Cada ser humano é chamado a ultrapassar as fronteiras do hábito e a gerar, a partir de si, o gesto criador do cuidado. O caminho que desce de Jerusalém é o caminho do mundo, cheio de riscos e escolhas. O amor ativo é ato consciente, não instinto. E nesse gesto, o humano se transforma em ponto luminoso do universo em evolução, onde servir é construir sentido.


Versículo mais importante:

O versículo central e mais importante de Evangelium: Lucae 10,25-37, pois resume a mensagem do amor ativo e universal, é o:

37. At ille dixit: Qui fecit misericordiam in illum. Et ait Jesus illi: Vade, et tu fac similiter.

Ele respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai, e faze tu o mesmo. (Lc 10:37)

Este versículo é o ápice da parábola do bom samaritano. Jesus transforma a pergunta legalista (“Quem é meu próximo?”) numa convocação existencial: torna-te tu o próximo. É um chamado à liberdade interior e à responsabilidade compassiva diante da dor alheia.


HOMILIA

O Rosto do Outro como Caminho da Eternidade

No silêncio profundo da Palavra, o Evangelho de Lucas 10,25-37 se abre como um espelho da alma humana em busca de sentido. Um homem se levanta e pergunta: “Que devo fazer para herdar a vida eterna?” — e essa pergunta ecoa nos abismos interiores de todos os seres conscientes. A resposta de Jesus não é um tratado moral, mas a revelação de uma estrada: a estrada do coração que escolhe ver.

No centro da narrativa, não está apenas o homem ferido, mas a possibilidade eterna que cada ser tem de tornar-se mais do que é. A descida de Jerusalém a Jericó é também a descida do espírito à condição humana — um caminho vulnerável onde o sofrimento do outro revela nossa própria incompletude. A eternidade não se herda por ritos, mas se encarna na ação livre que reconhece a dignidade do outro como espelho da própria essência.

O samaritano não age por dever, mas por um impulso interior de compaixão, que é sempre manifestação da liberdade mais elevada: aquela que escolhe amar sem que ninguém imponha. Nesse gesto, ele transcende seu pertencimento social, rompe as fronteiras dos sistemas e mergulha na pura potência criadora do espírito. Ele vê. Ele se comove. Ele age. E nesse triplo movimento se revela a evolução real da consciência.

A pergunta sobre “quem é o meu próximo” se dissolve diante da resposta viva: tornar-se próximo é o que conta. A proximidade não é geográfica, é ontológica — nasce da liberdade que reconhece no outro um fragmento do infinito. Assim, ao cuidar daquele homem ferido, o samaritano não apenas socorre: ele participa da construção de um mundo interior onde a eternidade se inicia.

A vida eterna, portanto, não é algo distante ou reservado ao além. Ela começa quando o ser humano, livre e consciente, escolhe existir para além de si mesmo. Cada ato de cuidado, cada gesto de misericórdia, é um passo real na grande obra da evolução espiritual — uma ascensão silenciosa onde o amor é o único critério do verdadeiro progresso.

“Vai, e faze tu o mesmo” — não como obrigação, mas como revelação de quem verdadeiramente és.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Versículo:
"Ele respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai, e faze tu o mesmo."
(Lucas 10,37)

1. A Misericórdia como Revelação Ontológica

A resposta do doutor da Lei — “Aquele que usou de misericórdia” — não é apenas uma conclusão moral. É, na verdade, o reconhecimento de um princípio ontológico que atravessa toda a existência: o amor que se manifesta em ato concreto de cuidado. A misericórdia, neste contexto, não é sentimento passageiro, mas a manifestação visível de uma realidade invisível: a imagem de Deus no ser humano, que se torna plenamente viva quando ele é capaz de sair de si para encontrar o outro.

O samaritano revela o que significa ser, de fato, imagem e semelhança de Deus: ele vê, sente e age. E, ao fazê-lo, transcende a condição comum da humanidade fragmentada, ingressando numa dimensão superior do espírito. A misericórdia, assim, não é apenas algo que se faz, mas algo que se é — uma expressão da alma que se unificou com a Fonte de onde provém.

2. "Vai": O Movimento Espiritual da Liberdade

Jesus não responde com um tratado ou mandamento, mas com um verbo: “Vai”. Este imperativo é mais que um envio; é um chamado à transmutação interior. O movimento de “ir” não se refere somente a uma ação externa, mas a um deslocamento do centro da consciência. Ir é sair da clausura do ego, do mundo autocentrado, e abrir-se à alteridade radical.

Esse chamado implica liberdade: a capacidade de escolher tornar-se próximo, não por obrigação, mas por convicção interior. O “ir” de Jesus é o início de uma jornada de amadurecimento espiritual, onde a ação nasce da integração do amor à verdade da pessoa.

3. "Faze tu o mesmo": A Ética Criativa da Pessoa

Ao dizer “faze tu o mesmo”, Jesus desloca o foco da Lei para a pessoa. Já não é o texto escrito, mas a consciência iluminada pelo amor que guia o agir. A norma suprema não está nas tábuas da Lei, mas no coração que reconhece no outro um reflexo do Mistério.

A ação do samaritano é criativa: ele não apenas repete fórmulas, mas inventa um gesto único de cuidado, adaptado à realidade do ferido. Assim, a ética cristã não é reprodução cega de preceitos, mas participação viva na compaixão divina, onde cada pessoa é chamada a ser fonte original de misericórdia no mundo.

4. A Universalidade do Próximo: O Outro como Chamado

O texto nos leva a compreender que o “próximo” não é definido por laço de sangue, religião ou etnia, mas pelo olhar que reconhece e pelo gesto que se compromete. O próximo é todo aquele que, em seu sofrimento, desperta em nós a liberdade de amar.

O samaritano se torna próximo não porque encontrou alguém semelhante, mas porque decidiu amar alguém diferente. Assim, o “próximo” não é uma categoria pronta, mas uma realidade que se constrói na liberdade de quem age. O outro, especialmente o ferido, se torna um chamado à revelação da própria identidade espiritual.

5. Conclusão: A Eternidade Começa no Gesto de Misericórdia

O versículo encerra a parábola com uma síntese da vida cristã: liberdade, compaixão e ação. A misericórdia é a ponte entre o humano e o divino. Ao dizer “Vai, e faze tu o mesmo”, Jesus nos revela que a eternidade não começa após a morte, mas no instante em que escolhemos amar com liberdade e dignidade.

Cada gesto de misericórdia é uma semente de eternidade lançada no tempo. E aquele que age assim não apenas imita o Cristo: torna-se presença viva d’Ele no mundo, transfigurando a história com o brilho da compaixão.

Leia: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão

#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração

#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata

Nenhum comentário:

Postar um comentário