Liturgia Diária
4 – SEXTA-FEIRA
13ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Povos todos do universo, batei palmas, gritai a Deus aclamações de alegria (Sl 46,2).
Quando o ser se deixa guiar pela Presença invisível que sustenta todas as coisas, desperta-se uma potência silenciosa capaz de irradiar transformação. Cada dom recebido é uma semente de liberdade interior, e sua oferta voluntária fecunda o campo do bem comum. Não há verdadeira realização sem entrega consciente, e não há serviço autêntico sem escuta da Voz que chama desde o íntimo. Celebrar o caminho de Jesus é participar da construção de um mundo onde cada pessoa floresce como expressão única do Amor que tudo move. A criação se eleva quando cada ser escolhe servir a partir de si mesmo.
Evangelium secundum Matthaeum 9,9-13
9. Et cum transiret Jesus inde, vidit hominem sedentem in telonio, Matthæum nomine. Et ait illi: Sequere me. Et surgens, secutus est eum.
E, passando Jesus dali, viu um homem sentado na coletoria, chamado Mateus. E disse-lhe: Segue-me. E ele se levantou e o seguiu.
10. Et factum est, discumbente eo in domo, ecce multi publicani et peccatores venientes discumbebant cum Jesu et discipulis ejus.
E aconteceu que, estando ele à mesa em casa, muitos publicanos e pecadores vieram e sentaram-se com Jesus e seus discípulos.
11. Et videntes pharisæi, dicebant discipulis ejus: Quare cum publicanis et peccatoribus manducat Magister vester?
Vendo isso, os fariseus diziam aos discípulos: Por que o vosso Mestre come com publicanos e pecadores?
12. At Jesus audiens, ait: Non est opus valentibus medicus, sed male habentibus.
Mas Jesus, ouvindo, disse: Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes.
13. Euntes autem discite quid est: Misericordiam volo, et non sacrificium. Non enim veni vocare justos, sed peccatores.
Ide, pois, e aprendei o que significa: Quero misericórdia e não sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.
Reflexão:
No gesto de chamar Mateus, Jesus revela que a transformação começa onde o ser humano se permite escutar o impulso do Alto. A liberdade autêntica não é a negação do passado, mas a coragem de responder ao futuro que nos chama. Cada pessoa traz em si uma centelha em evolução, que se acende quando tocada pelo olhar da dignidade e do amor. O convite de Cristo não impõe, mas desperta. Ele não exige pureza prévia, mas abertura para o movimento. A comunhão nasce da inclusão, e o verdadeiro progresso se realiza na força da misericórdia, que regenera o mundo a partir do coração.O versículo mais central de Evangelium secundum Matthaeum 9,9-13 é o versículo 13, pois ele revela o coração da mensagem de Jesus sobre misericórdia, vocação e redenção. Eis o versículo com a numeração original e sua tradução:
13. Euntes autem discite quid est: Misericordiam volo, et non sacrificium. Non enim veni vocare justos, sed peccatores.
Ide, pois, e aprendei o que significa: Quero misericórdia e não sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.(Mt 9:13)
O Chamado que Ressoa no Centro do Ser
No silêncio mais profundo da alma, onde as palavras cessam e apenas a vibração essencial permanece, ressoa um chamado eterno: “Segue-me.” Este chamado, dirigido a Mateus, não ecoa apenas em um momento histórico, mas atravessa o tempo e chega a cada consciência desperta, convidando à transfiguração interior.
Mateus, sentado na coletoria, representa a condição humana no ponto exato entre o apego às estruturas externas e a possibilidade de libertação interior. O Cristo que passa não obriga, mas revela. Seu convite não é imposto, mas sussurrado com a autoridade de quem conhece as profundezas do coração humano. E nesse instante, quando o olhar de Jesus encontra o de Mateus, uma nova gênese se inicia: não de sangue nem de carne, mas do Espírito.
Levantando-se, Mateus abandona não apenas seu posto, mas uma forma de existência condicionada. Ele se ergue como símbolo da liberdade interior que se descobre amada, convocada e acolhida não por seus méritos, mas por sua abertura ao Infinito. A grandeza de sua resposta não está na ação exterior, mas no movimento invisível de entrega que o restitui à sua dignidade mais alta: ser um com o Verbo Vivo.
Ao sentar-se à mesa com publicanos e pecadores, Cristo inaugura a verdadeira comunhão: não aquela fundada na pureza ritual ou na perfeição moral, mas na potência regeneradora da misericórdia. O médico não cura os sãos, porque não há cura onde não há escuta. E só escuta verdadeiramente quem reconhece a própria necessidade, quem se desnuda diante do Amor e se permite ser refeito a partir dele.
Misericordiam volo, et non sacrificium. O que Deus deseja não são rituais vazios, mas corações que se rendem ao mistério da compaixão. Essa misericórdia é a força secreta que move o universo, a energia que eleva a matéria à consciência, e a consciência à liberdade. É nela que o ser humano encontra sua grande vocação: tornar-se cooperador do Divino na contínua construção do mundo.
Assim, este Evangelho nos revela que toda evolução autêntica é um retorno — não ao passado, mas ao centro — onde a liberdade floresce, a dignidade resplandece, e o Amor, silenciosamente, nos chama pelo nome.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação Teológica Profunda – Mateus 9,13
"Ide, pois, e aprendei o que significa: Quero misericórdia e não sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores." (Mt 9,13)
Este versículo é uma chave teológica da revelação de Jesus, condensando a tensão entre a antiga aliança baseada no ritual e a nova aliança fundada na compaixão transformadora. Aqui, o Cristo retoma e ilumina a profecia de Oséias (6,6): “Pois misericórdia quero, e não sacrifício; o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” Esta citação não é apenas um lembrete moral, mas uma convocação à conversão do olhar teológico: o culto autêntico não é formal, mas relacional; não se esgota no rito, mas se cumpre no amor.
1. "Ide, pois, e aprendei":
Jesus fala aos fariseus, mestres da Lei, os quais, embora conhecedores das Escrituras, ainda não compreenderam o espírito que as anima. “Ide” — como um envio pedagógico — remete à necessidade de uma aprendizagem espiritual que ultrapasse a letra. Aprender, aqui, é uma abertura ao sentido divino que subverte as expectativas humanas de justiça, mérito e retribuição.
2. "Quero misericórdia e não sacrifício":
Deus declara sua preferência por um culto que brota do coração compassivo e não apenas do cumprimento exterior de normas religiosas. O sacrifício, embora instituído na Lei, tornara-se um fim em si mesmo, desvinculado da ética e da compaixão. Misericórdia — hesed em hebraico — é fidelidade amorosa, ternura ativa, compromisso com o outro. A teologia cristã reconhece nesse deslocamento o núcleo da revelação: Deus se faz acessível não por rituais perfeitos, mas por relações restauradas.
3. "Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores":
Aqui se encontra o fundamento cristológico da missão de Cristo. Ele é o Logos encarnado que desce até a miséria humana não para confirmar os supostamente justos, mas para abrir caminho de retorno aos que se perderam. Não se trata de afirmar que Deus ignora os justos, mas de expor a verdade escatológica de que a salvação é dom e não conquista; é graça que se oferece onde há abertura, não onde há presunção.
O versículo desmonta a lógica meritocrática do culto e revela o coração de Deus que escolhe a proximidade, a paciência e o perdão. O Cristo é o Médico das almas — e o reconhecimento da própria enfermidade é o início da cura. Assim, a verdadeira justiça não é a que se apresenta diante de Deus como impecável, mas aquela que se deixa purificar, dia após dia, pela força da misericórdia.
Esse ensino transcende a moral e funda uma nova visão antropológica e soteriológica: a dignidade da pessoa não está em seu desempenho religioso, mas em sua capacidade de acolher o amor que a transforma. Em Jesus, Deus não exige vítimas, mas oferece reconciliação. Ele não busca perfeitos, mas corações dispostos a recomeçar. A misericórdia, portanto, é a nova linguagem da santidade.
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