quarta-feira, 9 de julho de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Mateus 10:16-23 - 11.07.2025

 Liturgia Diária


11 – SEXTA-FEIRA 

SÃO BENTO, ABADE


(branco, pref. comum, ou dos santos – ofício da memória)


Houve um homem cuja alma ansiava por mais do que o mundo podia oferecer. Deixou a herança do sangue e buscou a liberdade interior que nasce da escuta silenciosa ao Eterno. Seu nome era Bento, mas sua essência era vontade desperta. Entre o labor e o recolhimento, uniu autonomia e obediência, mostrando que a verdadeira ordem nasce do espírito livre, não da imposição. Sua Regra ensinou que a vida floresce quando equilibramos ação e contemplação. Ele viveu não para agradar homens, mas para corresponder à Voz que chama de dentro. Assim, a liberdade encontra sua mais alta expressão no serviço sagrado.



Evangelium secundum Matthaeum 10,16-23

Feria sexta, XIII per annum

16. Ecce ego mitto vos sicut oves in medio luporum. Estote ergo prudentes sicut serpentes et simplices sicut columbæ.
Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas.

17. Cavete autem ab hominibus; tradent enim vos in conciliis, et in synagogis suis flagellabunt vos.
Acautelai-vos, porém, dos homens; pois vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas.

18. Et ad præsides, et ad reges ducemini propter me in testimonium illis, et gentibus.
Sereis levados à presença de governadores e reis por causa de mim, para servirdes de testemunho a eles e às nações.

19. Cum autem tradent vos, nolite cogitare quomodo aut quid loquamini: dabitur enim vobis in illa hora quid loquamini.
Quando vos entregarem, não vos preocupeis em como ou o que haveis de falar: naquela hora vos será concedido o que deveis dizer.

20. Non enim vos estis qui loquimini, sed Spiritus Patris vestri, qui loquitur in vobis.
Pois não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós.

21. Tradet autem frater fratrem in mortem, et pater filium: et insurgent filii in parentes, et morte eos afficient.
O irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; os filhos se levantarão contra os pais e os farão morrer.

22. Et eritis odio omnibus propter nomen meum: qui autem perseveraverit usque in finem, hic salvus erit.
Sereis odiados por todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim será salvo.

23. Cum autem persequentur vos in civitate ista, fugite in aliam. Amen dico vobis, non consummabitis civitates Israël, donec veniat Filius hominis.
Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo: não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que venha o Filho do Homem.

Reflexão:
O Espírito que habita o coração livre conduz além do medo, onde a verdade se faz palavra viva. Não se trata de fugir do mundo, mas de atravessá-lo com consciência desperta, mantendo a simplicidade diante do caos e a coragem diante do poder. A verdadeira fidelidade nasce da união entre escuta interior e responsabilidade ativa. Cada perseguição é um chamado ao discernimento; cada palavra dada, um ato de criação. O progresso da alma se revela quando escolhemos o bem não por imposição, mas por liberdade. A missão não impõe pesos: ela revela potências. E o Reino não é longe — ele se constrói em nós.


Versículo mais importante:

O versículo central e mais importante de Evangelium secundum Matthaeum 10,16-23 é, geralmente, considerado o versículo 16, pois ele resume a condição existencial e espiritual dos discípulos no mundo, unindo vigilância, prudência e pureza — valores que atravessam toda a passagem.

16. Ecce ego mitto vos sicut oves in medio luporum. Estote ergo prudentes sicut serpentes et simplices sicut columbæ.
Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. (Mt 10:16)

Este versículo une duas forças fundamentais: a sabedoria prática (prudência) e a pureza de coração (simplicidade), como exigência para aqueles que caminham livres na verdade, sem violentar o outro nem se omitir diante da injustiça.


HOMILIA

Evangelium secundum Matthaeum 10,16-23

Chamados à Liberdade na Travessia do Invisível

Amados,

“Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos.” Assim começa o Evangelho de hoje, com palavras que não anunciam segurança, mas missão. Somos lançados ao mundo não para pertencer a ele, mas para elevá-lo. Não para lutar com as armas que ele oferece, mas com a luz que em nós se acende quando respondemos ao chamado da Eternidade.

O Cristo nos envia como ovelhas — seres de paz — entre lobos, símbolos do caos, da violência e do instinto desordenado. Mas não nos deixa indefesos. Ele nos orienta a sermos prudentes como as serpentes, e simples como as pombas. Eis aí o segredo da evolução interior: unir em si o discernimento desperto e a pureza do coração. A serpente representa a consciência que desce ao abismo e conhece o mundo em sua verdade; a pomba, a alma que não se corrompe ao tocá-lo. O caminho do Espírito é este: andar entre sombras sem se tornar sombra, ver as engrenagens do poder sem pactuar com ele, falar com autoridade sem perder a mansidão.

Neste Evangelho, não somos apenas avisados sobre perseguições — somos convidados à liberdade interior. O Cristo não promete uma estrada fácil, mas uma direção luminosa. Ele não pede temor, mas entrega. Quando diz que o Espírito do Pai falará em nós, revela que o ser humano é mais do que carne — é templo, é sopro, é canal. E a verdadeira dignidade da pessoa não está em evitar o sofrimento, mas em ser fiel à origem divina que a sustenta, mesmo quando tudo ao redor tenta negá-la.

“Quem perseverar até o fim será salvo.” Não é o êxito exterior que define o triunfo da alma, mas a fidelidade ao impulso original que a chama à sua plenitude. A liberdade, portanto, não é fazer o que se quer, mas tornar-se aquilo que se é. E esse tornar-se é obra lenta, como o amadurecer de uma estrela no seio do universo.

A fuga de cidade em cidade não é covardia, mas sabedoria. Em cada passo, há uma semente lançada. E mesmo que pareça dispersa, ela germina onde o solo está preparado. O Filho do Homem virá — mas não virá de fora. Ele se revelará onde a fidelidade tiver construído um espaço para Ele nascer: no íntimo da consciência desperta, na presença que age com justiça, na alma que se recusa a odiar mesmo quando odiada.

Portanto, amados, este Evangelho é uma travessia. Uma travessia entre o visível e o invisível. Entre a estrutura imposta e o chamado interior. Entre a noite do mundo e a alvorada do Reino. E é na fidelidade silenciosa ao Espírito que em nós habita que nos tornamos verdadeiramente livres, profundamente dignos, eternamente humanos.

Amém.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Versículo: "Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas." (Mateus 10,16)

1. O Envio: Participação na Missão do Logos

Eis que eu vos envio” — esta afirmação é teologicamente carregada de sentido ontológico. Não se trata de um deslocamento físico apenas, mas de um envio existencial. O Cristo, como Logos eterno encarnado, transmite aos discípulos não apenas uma tarefa, mas uma participação em sua própria missão salvífica. O ser humano é, aqui, chamado a sair de si, a sair de suas zonas de conforto e segurança, e entrar na tessitura viva da realidade, onde o bem e o mal se entrelaçam, onde a liberdade e o perigo coexistem. É um envio que brota da origem divina, de um centro que transcende o tempo, convocando cada ser a tomar parte no drama da salvação do mundo.

2. Ovelhas entre Lobos: A Fragilidade Consagrada

Ser enviado como ovelhas entre lobos é mais que uma metáfora da perseguição: é uma revelação sobre a economia da graça. A ovelha não ataca, não se defende, não domina — ela confia. Esta condição, teologicamente, remete à kenosis (esvaziamento) do Cristo, que, embora sendo Deus, escolheu a fraqueza da carne, a entrega da cruz, a mansidão diante do poder violento. Metafisicamente, esta imagem revela a escolha divina de operar não por coerção, mas por atração: a força da ovelha está no seu não-poder, na sua resistência silenciosa. Assim também o discípulo é chamado a não responder ao mundo nos termos do mundo, mas a ser presença transformadora pela paz ativa.

3. Prudência da Serpente: Consciência Lúcida no Mundo Dual

A serpente, desde o Gênesis, é símbolo ambíguo: ela representa tanto o engano quanto a sabedoria profunda. Aqui, Cristo resgata sua dimensão luminosa. Ser prudente como a serpente é cultivar uma consciência desperta, que sabe discernir o momento, ler os sinais, perceber as intenções ocultas. No plano metafísico, essa prudência é uma inteligência que compreende a estrutura do mundo sem se aprisionar a ela; uma sabedoria encarnada, que reconhece a tensão entre luz e trevas, mas que não perde seu eixo. Não se trata de malícia, mas de lucidez espiritual: uma atenção profunda, ativa, penetrante.

4. Simplicidade da Pomba: Retorno à Unidade Perdida

A pomba, figura do Espírito Santo, representa a simplicidade que brota da unidade com Deus. Ser simples como a pomba é não se fragmentar interiormente, é manter-se íntegro e transparente diante da verdade. Essa simplicidade não é superficialidade, mas profundidade sem duplicidade. Metafisicamente, é o estado de alma que permanece enraizado no Bem, mesmo quando cercado por forças desagregadoras. Enquanto a prudência é movimento horizontal, a simplicidade é eixo vertical: eleva a alma à sua fonte divina e permite que ela aja com pureza, sem ódio, sem rancor, sem manipulação.

5. A União dos Contrários: Caminho da Liberdade Interior

Cristo une neste versículo dois pólos aparentemente opostos — serpente e pomba — para formar a imagem do discípulo completo. Não basta ser prudente se há dureza no coração. Não basta ser simples se há ingenuidade e cegueira. O discípulo deve ser síntese viva: consciência desperta e coração pacificado, discernimento e entrega, firmeza e doçura. Esta união dos contrários é reflexo da harmonia divina: em Deus, justiça e misericórdia não se opõem; em Cristo, força e fraqueza coexistem em plenitude. No discípulo, essa síntese revela a liberdade interior: a capacidade de agir no mundo sem se perder nele, de atravessar as trevas sem apagar a luz.

6. Conclusão: Uma Presença que Transforma

Este versículo não é apenas uma advertência — é uma revelação da natureza do ser humano quando ele responde ao chamado do Alto. Somos frágeis, sim, mas essa fragilidade é habitada por um Espírito que fala por nós, que nos guia, que nos transforma. Ser enviados como ovelhas entre lobos é, portanto, participar do mistério da encarnação divina no mundo: tornar-se presença que não destrói, mas redime; que não domina, mas ilumina; que não impõe, mas testemunha.

Assim, cada discípulo torna-se um ponto de irradiação da Sabedoria Eterna, uma chispa de liberdade no campo dos conflitos, e uma porta aberta entre o visível e o invisível — entre o tempo e o Eterno.

Leia: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

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