Liturgia Diária
19 – QUARTA-FEIRA
SANTOS ROQUE GONZÁLEZ, AFONSO RODRÍGUEZ E JOÃO DEL CASTILLO
PRESBÍTEROS E MÁRTIRES
(vermelho, pref. comum, ou dos mártires – ofício da memória)
Por amor de Cristo, o sangue dos mártires foi derramado na terra; por isso, eles alcançaram a recompensa eterna.
Na tessitura silenciosa do mundo, alguns homens entregaram sua vida para proteger a dignidade daqueles que nada possuíam além de sua própria existência. Sua coragem não nasce de domínio, mas de uma consciência que sabe que o valor do ser humano é inviolável. Assim, aprendemos que a alma dirigente permanece firme quando decide servir ao bem por convicção e não por imposição. A fé que professamos se torna caminho interior, disciplina que sustém o espírito e orienta nossos atos. Caminhemos, portanto, com lucidez e firmeza, oferecendo ao Senhor uma fidelidade que nasce da liberdade interior e da retidão do coração.
Evangelium secundum Lucam 19,11-28
11 Haec illis audientibus adiecit et dixit parabolam, eo quod esset prope Jerusalem: et quia putarent quod confestim regnum Dei manifestaretur.
Enquanto eles ouviam, acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e pensavam que o Reino de Deus iria manifestar-se imediatamente.
12 Dixit ergo: Homo quidam nobilis abiit in regionem longinquam accipere sibi regnum et reverti.
Então disse: Um homem nobre partiu para uma região distante a fim de receber a dignidade real e depois voltar.
13 Vocatis autem decem servis suis, dedit illis decem minas, et ait ad illos: Negotiamini dum venio.
Chamou dez de seus servos, entregou-lhes dez moedas de prata e disse-lhes: Negociai até que eu volte.
14 Cives autem ejus oderant illum: et miserunt legationem post illum, dicentes: Nolumus hunc regnare super nos.
Mas os seus concidadãos o odiavam e enviaram após ele uma delegação dizendo: Não queremos que este homem reine sobre nós.
15 Et factum est ut rediret accepto regno: et jussit vocari servos quibus dedit pecuniam: ut sciret quantum quisque negotiatus esset.
Quando voltou, tendo recebido a realeza, mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, para saber quanto cada um havia lucrado.
16 Venit autem primus dicens: Domine, mina tua decem minas acquisivit.
Veio o primeiro e disse: Senhor, a tua moeda produziu dez outras.
17 Et ait illi: Euge bone serve, quia in minimo fidelis fuisti, eris potestatem habens supra decem civitates.
Ele lhe respondeu: Muito bem, servo bom; porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades.
18 Et alter venit dicens: Domine, mina tua quinque minas fecit.
Veio o segundo e disse: Senhor, a tua moeda produziu cinco.
19 Et huic ait: Et tu esto super quinque civitates.
E ele respondeu: Também tu governarás cinco cidades.
20 Et alius venit dicens: Domine, ecce mina tua, quam habui repositam in sudario.
Veio outro e disse: Senhor, aqui está a tua moeda, que guardei envolvida num lenço.
21 Timui enim te, quia homo austerus es: tollis quod non posuisti, et metis quod non seminasti.
Pois tive medo de ti, porque és um homem severo: tiras o que não puseste e colhes o que não semeaste.
22 Dicit ei: De ore tuo te judico serve nequam. Sciebas quod ego austerus homo sum, tollens quod non posui, et metens quod non seminavi.
Ele respondeu: Eu te julgo pelas tuas próprias palavras, servo mau. Sabias que sou severo, que tiro o que não pus e colho o que não semeei.
23 Et quare non dedisti pecuniam meam ad mensam, ut ego veniens cum usuris utique exegissem illam?
Por que, então, não puseste o meu dinheiro no banco, para que ao voltar eu o recebesse com juros?
24 Et astantibus dixit: Auferte ab illo minam, et date illi qui decem minas habet.
E disse aos presentes: Tirai-lhe a moeda e dai-a ao que tem dez.
25 Et dixerunt ei: Domine, habet decem minas.
Eles responderam: Senhor, ele já tem dez moedas.
26 Dico autem vobis: Quia omni habenti dabitur: et ab eo qui non habet, et quod habet auferetur ab eo.
Eu vos digo: A todo aquele que tem, mais será dado; e ao que não tem, até o que possui lhe será tirado.
27 Verumtamen inimicos meos illos, qui me noluerunt regnare super se, adducite huc, et interficite eos ante me.
Quanto a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os na minha presença.
28 Et his dictis, praecedebat ascendens Jerosolymam.
Depois de dizer isso, Jesus seguiu à frente, subindo para Jerusalém.
Verbum Domini
Reflexão:
A narrativa aponta para a responsabilidade que recai sobre cada consciência: aquilo que recebemos não é posse inerte, mas impulso para agir. O valor de nossas escolhas define o espaço interior que habitamos e a força com que caminhamos. Quem cultiva suas capacidades amplia o horizonte do próprio ser; quem as esconde reduz a si mesmo. A disciplina de agir sem medo revela maturidade, e a fidelidade ao bem abre caminhos que nenhum poder exterior concede. Assim aprendemos que a verdadeira autoridade nasce do exercício íntegro dos dons confiados à nossa liberdade.
Versículo mais importante:
Um dos versículos mais decisivos de Evangelium secundum Lucam 19,11-28 — tanto pela força teológica quanto pelo sentido moral — é o versículo 26, pois sintetiza o princípio espiritual de responsabilidade, crescimento interior e consequência das escolhas.
26 Dico autem vobis: quia omni habenti dabitur: et ab eo qui non habet, et quod habet auferetur ab eo.
Eu vos digo: a todo aquele que tem, mais será dado; e ao que não tem, até o que possui lhe será tirado. (Lc 19:26)
HOMILIA
O Dom Confiado à Liberdade do Espírito
A parábola proclamada em Lucas 19,11-28 nos conduz ao centro de uma verdade que ultrapassa o tempo e toca a própria estrutura da alma: tudo o que recebemos, dons, capacidades, inclinações, responsabilidades, não é um adorno, mas um chamado. O homem nobre que parte para uma região distante e volta depois para avaliar seus servos não é apenas imagem do Senhor que retorna; é também figura do próprio movimento da vida, que confia ao ser humano a tarefa de expandir aquilo que recebeu.
Cada “mina” é semente de transformação, princípio de evolução interior. Nada nos foi dado para o repouso estéril; tudo nos é entregue para que, pela liberdade, cresçamos em clareza, disciplina e retidão. Quem faz frutificar o dom não é simplesmente recompensado: ele revela aquilo que já se movia silenciosamente dentro de si, a força de uma consciência que compreende a dignidade do que lhe foi confiado.
Aquele que esconde sua mina não é castigado por falta de resultado, mas por ter permitido que o medo ocupasse o espaço onde deveria florescer a ação. O medo paralisa a liberdade; a liberdade, quando amadurecida, transforma o mundo interior e irradia sentido para o exterior. A parábola ensina que não basta conservar o dom: é preciso colocá-lo em circulação, deixá-lo tocar realidades, permitir que ele gere algo que ultrapasse nossas próprias fronteiras.
A família, célula primeira da vida humana, também participa desse movimento. Tudo o que se constrói no interior do lar — cuidado, palavra firme, silêncio sábio, presença que sustém, é uma mina espiritual que cresce quando exercida com amor e responsabilidade. A dignidade da pessoa não se afirma em gestos grandiosos, mas no modo como alimentamos o que é pequeno, como sustentamos a coerência diante da rotina, como permanecemos fieis ao bem mesmo quando ninguém observa.
No versículo 26, a palavra de Jesus ilumina o paradoxo da existência, “a todo aquele que tem, mais será dado”. Não se trata de privilégio, mas de uma lei espiritual. O bem cultivado expande-se. A virtude exercida torna-se mais viva. A alma que age se amplia. Em contrapartida, quando obstruímos o curso do dom, ele se reduz, não porque Deus o arranca, mas porque o próprio coração se fecha.
Assim, esta parábola nos chama à lucidez: cada gesto nosso é semente ou perda; cada escolha revela a direção de nosso espírito. Seguir o Senhor é deixar que os dons confiados maturam em nós e se tornem serviço, firmeza, presença, criação de caminhos. A fidelidade que Ele espera não é submissão cega, mas a coragem de fazer frutificar a vida. Aquele que age cresce; aquele que cresce ilumina; e aquele que ilumina participa, com liberdade, da obra eterna do seu Senhor.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Princípio da Responsabilidade Interior
A palavra do Senhor em Lc 19,26 — “Eu vos digo: a todo aquele que tem, mais será dado; e ao que não tem, até o que possui lhe será tirado.” — revela uma lei espiritual que opera silenciosamente no centro da existência humana. Cristo não fala de acúmulo material, mas de resposta interior ao dom recebido. Cada pessoa é portadora de capacidades, virtudes e luzes que não se reduzem à superfície do cotidiano. Quando esses dons são exercidos, ampliam-se; quando são negligenciados, enfraquecem-se pelo fechamento do coração.
A Dinâmica da Maturidade da Alma
O versículo mostra que a vida espiritual não permanece estática. Aquilo que se cultiva na fidelidade cresce de modo natural, como um movimento que se expande a partir de dentro. A alma que se compromete com o bem, com a retidão e com a lucidez amplia sua própria capacidade de perceber a verdade e de agir com firmeza. A pessoa que age com disciplina e propósito encontra, no exercício contínuo desses dons, uma abertura ainda maior para o que lhe é confiado.
O Vazio que Consome o Dom Não Cultivado
A segunda parte do versículo adverte: “ao que não tem, até o que possui lhe será tirado.” Não é um ato arbitrário de Deus, mas a consequência natural de quem sufoca seu próprio potencial. Quando uma vida interior permanece inerte, movida pelo medo ou pela indiferença, aquilo que poderia florescer se retrai. A própria pessoa se torna incapaz de reconhecer o valor do dom, e o dom, sem espaço para se manifestar, esvai-se como um rio que perde seu curso.
A Liberdade Como Centro da Ação Humana
A parábola da qual este versículo faz parte mostra que o Senhor não exige resultados iguais, mas espera uma resposta livre e consciente. Cada um recebe um encargo e, ao devolvê-lo transformado, revela a grandeza de sua liberdade. O crescimento do dom depende do exercício dessa liberdade — uma liberdade madura, responsável, que compreende que sua missão não é guardar a vida, mas colocá-la em movimento.
O Valor da Perseverança no Bem
Quem se dedica ao bem, mesmo em pequenas ações, descubre que sua força interior se renova. A constância não apenas sustém o espírito, mas atrai novas graças, porque o coração disciplinado torna-se capaz de acolher mais. Aquele que permanece firme, mesmo nas condições mais simples, é gradualmente introduzido em responsabilidades maiores, não por privilégio, mas porque sua alma adquiriu a estrutura necessária para sustentar mais luz.
A Missão Espiritual da Pessoa e da Família
O princípio ensinado por Cristo estende-se também à vida familiar. Todo cuidado, toda palavra que edifica, toda decisão tomada em verdade aumenta a harmonia e a força do lar. Quando os dons de cada membro são reconhecidos e cultivados, a família inteira cresce. Mas quando se escolhe a estagnação, o medo ou o desinteresse, o que deveria sustentar a unidade torna-se frágil. O dom não exercido empobrece as relações.
A Lei Interior da Expansão do Bem
O versículo revela, enfim, que o bem é expansivo por natureza. Ele cresce na medida em que é praticado, assim como a luz se intensifica quando encontra espaço para se refletir. Deus não tira nada do ser humano; é o próprio ser humano que, recusando o movimento da vida, deixa de ter o que poderia possuir de modo pleno. A perda é consequência da recusa do crescimento.
Conclusão
A palavra de Jesus em Lc 19,26 convida cada pessoa a olhar para si mesma com verdade e coragem. Nada nos foi dado em vão. Cada dom é uma convocação. Cada responsabilidade é uma oportunidade de expansão interior. Quando respondemos com fidelidade, recebemos mais. Quando fugimos do dom, empobrecemos a nós mesmos. Assim, este versículo não é ameaça, mas promessa: quem se abre ao que recebeu descobre a força que sempre lhe foi destinada.
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