Liturgia Diária
4 – QUARTA-FEIRA
7ª SEMANA DA PÁSCOA
(branco, pref. [depois] da Ascensão – ofício do dia)
“Povos todos, batei palmas, aclamai a Deus com gritos de alegria!”
(Salmo 47,2 — Bíblia de Jerusalém)
Quando os laços humanos se tecem no respeito e no bem-querer, toda despedida se torna um portal de significados profundos. O adeus não é fim, mas transição — um ponto em que o espírito reconhece a liberdade do outro e o valor de sua jornada. Que nossas partidas deixem rastros de luz, como fez o Cristo: semeando bondade, despertando coragem e inspirando a ascensão interior. Assim, cada encontro vivido em autenticidade torna-se sagrado, e cada afastamento, um chamado ao crescimento. Pois onde há amor verdadeiro, há também o reconhecimento da dignidade do outro como reflexo da própria centelha divina.
Evangelium secundum Ioannem 17,11-19
“Pater, serva eos in nomine tuo”
11 Et iam non sum in mundo, et hi in mundo sunt, et ego ad te venio. Pater sancte, serva eos in nomine tuo, quos dedisti mihi, ut sint unum, sicut et nos.
E já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como nós somos um.
12 Cum essem cum eis, ego servabam eos in nomine tuo, quod dedisti mihi, et custodivi; et nemo ex eis periit, nisi filius perditionis, ut Scriptura impleatur.
Quando eu estava com eles, eu os guardava em teu nome, o nome que me deste; e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.
13 Nunc autem ad te venio et haec loquor in mundo, ut habeant gaudium meum impletum in semetipsis.
Agora, porém, eu vou para ti e digo estas coisas no mundo, para que tenham em si mesmos a plenitude da minha alegria.
14 Ego dedi eis sermonem tuum, et mundus eos odiit, quia non sunt de mundo, sicut et ego non sum de mundo.
Eu lhes dei a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
15 Non rogo, ut tollas eos de mundo, sed ut custodias eos ex malo.
Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal.
16 De mundo non sunt, sicut et ego non sum de mundo.
Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
17 Sanctifica eos in veritate; sermo tuus veritas est.
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
18 Sicut me misisti in mundum, et ego misi eos in mundum;
Assim como me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo;
19 et pro eis ego sanctifico meipsum, ut sint et ipsi sanctificati in veritate.
E por eles eu me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.
Reflexão:
Neste trecho, Cristo revela a semente da unidade que transcende fronteiras e limitações. Ele não deseja a fuga do mundo, mas o florescimento no meio dele. A verdade não é imposição, mas luz que desperta. Cada ser humano é chamado a ser agente de transformação, integrando-se ao todo com autenticidade. A liberdade interior não se opõe à comunhão: ela a fortalece. O Cristo envia, não como quem domina, mas como quem confia. A alegria plena nasce do vínculo com o sentido eterno. E o verdadeiro progresso se manifesta quando a consciência se alinha com o bem, a verdade e a responsabilidade pessoal.
Versículo maiss importante:
Et iam non sum in mundo, et hi in mundo sunt, et ego ad te venio. Pater sancte, serva eos in nomine tuo, quos dedisti mihi, ut sint unum, sicut et nos.
E já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como nós somos um. (Jo 17:11)
Este versículo sintetiza o anseio profundo de Jesus: a preservação dos discípulos na verdade divina e a vivência de uma unidade que espelha o amor eterno entre o Pai e o Filho. É um chamado à comunhão, à responsabilidade espiritual e ao reconhecimento da dignidade de cada pessoa no tecido sagrado da existência.
HOMILIA
Título: “Para Que Sejam Um na Verdade que Liberta”
Amados irmãos e irmãs do Espírito,
No Evangelho segundo João (17,11-19), somos conduzidos ao coração da oração de Cristo, quando Ele, prestes a entregar-se plenamente ao mistério da cruz, eleva aos céus uma súplica que transcende o tempo: “Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como nós somos um.”
Neste clamor, não há temor nem fuga do mundo, mas uma entrega confiante ao processo da integração. Jesus não roga que sejamos retirados da realidade, mas que sejamos preservados do mal enquanto somos enviados como portadores de luz. Ele nos santifica na verdade, e esta verdade não é uma doutrina fria, mas uma vibração viva que pulsa no âmago de cada consciência desperta.
A verdade que liberta é a fidelidade ao próprio centro, à própria vocação interior. Cada ser humano é um ponto sagrado no tecido cósmico da criação, e em cada um habita uma centelha do Verbo. A unidade que o Cristo deseja não é uniformidade, mas harmonia viva entre singularidades conscientes. Ser um é reconhecer o outro como um fim em si mesmo, e não como meio. Ser um é colaborar na grande obra da vida, onde cada liberdade floresce em comunhão, e cada escolha é resposta ao chamado do Amor.
Quando Ele diz: “Como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo,” Cristo nos revela que a missão é inseparável da liberdade. O Pai envia, o Filho acolhe e envia também — e nós, na liberdade do espírito, respondemos com obras que reflitam a dignidade do nosso ser. Ser enviado é ser confiado. E ser confiado é ser capaz de construir, criar, unir, oferecer.
A oração de Jesus por nós é, assim, um gesto de confiança radical na capacidade do humano de se elevar, de se purificar na verdade e de colaborar na transfiguração do mundo. Ele não nos retira do fluxo das coisas; Ele nos mergulha nele com a consciência de que somos mais do que matéria, mais do que forças dispersas: somos consciências em ascensão.
E se “santifica-os na verdade” é o centro desta prece, então compreendamos: a santidade não está nas alturas distantes, mas na fidelidade amorosa à verdade que arde em nosso interior. A verdade que reconhece no outro um irmão. A verdade que não oprime, mas liberta. A verdade que nos permite ser um — sem deixar de sermos nós.
Que esta palavra nos desperte. Que sejamos guardados no Nome. E que sejamos, verdadeiramente, um.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Este versículo — “E já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como nós somos um” (Jo 17,11) — é uma das expressões mais sublimes da oração sacerdotal de Jesus. Nele se revela o coração trinitário da missão do Cristo e o seu desejo mais profundo para a humanidade: a unidade em Deus.
1. "E já não estou no mundo, mas eles estão no mundo"
Aqui, Jesus fala no limiar de sua paixão. Ele já se percebe como pertencente inteiramente ao Pai, prestes a atravessar o véu da cruz e retornar à glória divina. Sua presença física no mundo está para cessar, mas os discípulos permanecem no espaço e no tempo, imersos na realidade histórica e nas lutas da existência humana. Há, portanto, um movimento de transição: Cristo sai do mundo, mas deixa os seus no mundo, como sementes vivas da sua palavra e da sua presença espiritual.
2. "E eu vou para ti"
Este retorno ao Pai não é apenas uma mudança de estado ou lugar: é a consumação da missão redentora. Jesus volta ao Pai como Filho obediente, tendo revelado plenamente o Amor. Ele retorna não só como o Verbo eterno, mas agora também como o Filho encarnado que assumiu e redimiu a condição humana. O “vou para ti” é um êxodo glorioso, o retorno da criação em Cristo à fonte divina.
3. "Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste"
Jesus invoca a santidade do Pai, indicando não apenas a separação de Deus em relação ao pecado, mas sua absoluta fidelidade, pureza e comunhão amorosa. Ao pedir que os discípulos sejam guardados "em teu nome", Jesus suplica que sejam protegidos pela realidade mais íntima de Deus — Sua identidade, Sua verdade, Sua presença. O "nome que me deste" expressa a revelação perfeita do Pai no Filho: Jesus é o nome do Pai tornado visível, o esplendor de Sua glória (cf. Hb 1,3).
4. "Para que sejam um, assim como nós somos um"
Aqui está o clímax espiritual do versículo. Jesus pede ao Pai que os discípulos experimentem uma unidade semelhante à unidade intra-trinitária. Esta unidade não é apenas moral ou institucional, mas ontológica e espiritual: é participação na própria vida divina. Como o Pai e o Filho são um no amor do Espírito, assim também os discípulos devem ser um — uma comunhão de liberdades reconciliadas, unidas não por dominação, mas por amor recíproco e verdade compartilhada.
Síntese Teológica
Este versículo revela que a missão da Igreja e a vocação de cada discípulo é participar da comunhão divina. A unidade entre os fiéis é reflexo e consequência da unidade do Pai e do Filho. Guardar "no nome" é proteger a identidade espiritual, é assegurar a permanência na verdade revelada e no amor divino. A oração de Jesus aponta para a santificação do mundo por meio de seres humanos libertos, reconciliados e conscientes de seu destino transcendente: serem um com Deus e entre si.
Portanto, Jo 17,11 é uma janela aberta ao mistério da Trindade, ao chamado à unidade e à missão de irradiar, no mundo, a presença do Deus que é comunhão e liberdade.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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