Liturgia Diária
12 – QUINTA-FEIRA
10ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
O Senhor é minha luz e minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a proteção da minha vida; perante quem tremerei? Quando os malfeitores se aproximam para devorar-me as carnes, meus opressores e inimigos, são eles que tropeçam e caem. (Salmo 27:1-3)
Este salmo é atribuído a Davi e reflete sua confiança em Deus como fonte de proteção e força. A expressão "São eles, inimigos e opressores, que tropeçam e sucumbem" é uma interpretação do versículo 2, que descreve como os adversários de Davi falham diante da proteção divina.
Somos chamados a despertar para a Nova Aliança, um convite ao mergulho profundo na liberdade do espírito que transcende toda servidão. A verdadeira emancipação nasce do encontro interior com o Espírito que vivifica, orientando a alma na busca da justiça plena e maior, aquela que não se impõe, mas se revela na harmonia das escolhas conscientes. É pela conexão íntima com essa força viva que se desvela o Reino autêntico, onde cada ser é guardião da própria dignidade, responsável por sua jornada de autodomínio, respeito e responsabilidade, na construção de um mundo sustentado pela verdade e pela virtude.
Evangelium Secundum Matthaeum 5,20-26
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Dico vobis: Si non melius fuerit justitia vestra quam scribarum et pharisaeorum, non introibitis in regnum caelorum.
Digo-vos: Se a justiça de vocês não for superior à dos escribas e fariseus, não entrarão no Reino dos Céus. -
Audistis quia dictum est antiquis: Non occides; qui autem occiderit, reus erit iudicio.
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; quem matar será réu de juízo. -
Ego autem dico vobis quia omnis qui irascitur fratri suo, reus erit iudicio; qui autem dicit fratri suo: Raca, reus erit concilio; qui autem dicit: Fatuus, reus erit gehennae ignis.
Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão será réu de juízo; quem disser a seu irmão: “Raca!” será réu do Sinédrio; e quem disser: “Tolo!” será réu do fogo do inferno. -
Si ergo offeris munus tuum ad altare, et ibi recordatus fueris quia frater tuus habet aliquid adversum te,
Portanto, se ao ofereceres tua oferta no altar, lembrares que teu irmão tem algo contra ti, -
Relinque ibi munus tuum coram altari, et vade prius reconciliari cum fratre tuo, et tunc veniens offer munus tuum.
Deixa ali teu presente diante do altar, vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e então vem apresentar tua oferta. -
Esto propter tecum coram adversario tuo, dum es in via, ne tradat te iudex adversario, et iudicet te, et tradat te ministro, et in carcere mittaris.
Sê resoluto em teu acordo com o adversário enquanto estiverdes a caminho, para que o juiz não te entregue ao oficial e o oficial te lance na prisão. -
Amen dico tibi: Non exies inde, donec reddas ultimum quadrantem.
Em verdade te digo: não sairás dali enquanto não pagares o último quadrante.
Reflexão:
A verdadeira liberdade nasce da responsabilidade consciente, onde o encontro com o outro se torna a base da justiça autêntica. O aperfeiçoamento moral transcende regras exteriores e encontra sentido na harmonia das relações, pautadas pelo respeito mútuo e pela integridade pessoal. Reconhecer o valor do diálogo e a urgência da reconciliação é libertar-se das amarras internas que prendem o ser. O caminho para a realização plena não está na imposição, mas no acordo sincero, construído passo a passo. Cada gesto de reconciliação é um ato criador, que abre espaço para um mundo renovado, onde a dignidade humana floresce em liberdade e responsabilidade compartilhada.
Versículo mais importante:
Dico vobis: Si non melius fuerit justitia vestra quam scribarum et pharisaeorum, non introibitis in regnum caelorum.
"Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus." (Mt 5:20)
Este versículo é o núcleo da passagem, pois define a exigência da justiça interior que ultrapassa as meras normas externas dos escribas e fariseus, mostrando a profundidade moral e espiritual que Jesus ensina.
HOMILIA
O Caminho Íntimo da Justiça que Liberta a Alma
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no reino dos céus.”
— Mateus 5,20
O Mestre nos convoca a um chamado mais profundo do que a mera observância externa das leis: ele nos convida à revolução silenciosa da alma, à metamorfose da essência interior, onde a verdadeira justiça não é medida por ritos ou aparências, mas pela transformação íntima do ser.
A justiça que nos é exigida é uma justiça da consciência, uma justiça que nasce da luz que penetra o coração e dissolve as sombras do orgulho, da ira e da mágoa. Ela transcende o juízo exterior e penetra na fibra mais sutil do nosso existir — onde a liberdade germina.
A verdadeira liberdade nasce quando reconhecemos a dignidade inviolável de cada pessoa, começando por nós mesmos. É a liberdade que não depende da ausência de conflito externo, mas da harmonia interna conquistada pelo esforço do autodomínio e pela entrega consciente ao Amor que tudo transcende.
Quando o Mestre diz que, se não reconciliarmos com nosso irmão antes de apresentar a nossa oferenda, estamos bloqueados na porta da divindade, Ele revela o mistério profundo da integração interior: não há sacralidade plena na presença de rancor ou desavença. O Espírito se mostra integro quando habita um templo limpo, onde o perdão e a paz são oferecidos como oferendas.
O caminho da evolução interior não é linear, nem fácil. Requer coragem para olhar no abismo das próprias sombras, para libertar a ira que prende e para reconhecer a face divina no outro, por mais oculta que esteja sob as máscaras do conflito. A dignidade do homem é chama que arde além da aparência, chamando-nos a elevar-nos da réstia da violência para a plenitude do ser reconciliado.
Assim, a evolução da alma se faz pela prática constante do desapego das forças que a diminuem — o rancor, a injustiça, o julgamento — e pela afirmação do espírito livre que honra a si mesmo e ao outro como expressão única da luz criadora.
No silêncio interior onde o perdão se cultiva, brota a verdadeira justiça — aquela que não apenas corrige o externo, mas que transforma e liberta o nosso mundo invisível, preparando-nos para a morada eterna do Reino, onde a paz é plenitude e a justiça, liberdade.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A declaração de Jesus em “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no Reino dos céus.” (Mt 5:20) situa-se no coração do Sermão da Montanha: não se trata apenas de um convite ao cumprimento rígido da Lei, mas a uma transformação radical e interior do sujeito.
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Justiça externa versus justiça interna
Os escribas e fariseus eram mestres da letra da Lei, zelosos pelos preceitos exteriores (jejum, dízimos, ritos), mas frequentemente descuidados quanto à atitude do coração (Mt 23:25-28). Jesus contrapõe-lhes uma δικαιοσύνη (justiça) que brota do espírito: não basta obediência mecânica, mas a conformação da vontade com o amor divino. É a passagem da retidão “de fora para dentro” (Mc 7:20-23) à retidão “de dentro para fora”. -
A Lei cumprida em plenitude
Logo antes (Mt 5:17-19), Cristo afirma ter vindo não para abolir, mas para cumprir a Lei e os Profetas. Então, a justiça que excede a dos escribas não ignora o Decálogo, mas o aprofunda: não apenas “não matarás”, mas “não deixar que a ira domine o teu coração” (Mt 5:21-22); não apenas “não adulterarás”, mas “não cobiçarás com o olhar” (Mt 5:27-28). A retidão cristã é escatológica: ela aponta para o Reino futuro, onde a Lei estará escrita nas tábuas dos corações (Jer 31:33). -
Perfeição e vocação divina
Ao longo do Sermão, Jesus convoca a “serdes perfeitos, assim como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5:48). Esta perfeição não é mera ausência de defeito moral, mas plenitude de comunhão com Deus. A justiça que “excede” implica um chamamento à santidade que transborda a justiça dos códigos humanos, assumindo a lógica da graça: só quem recebe o Espírito pode amar com o mesmo amor divino que perdoa, reconcilia e oferece a vida. -
Entrada no Reino dos céus
A expressão “entrar no Reino” retoma a imagem do banquete messiânico (Mt 22:1-14) e do “reino ao qual fomos chamados” (1 Cor 1:9). O critério não é judicial no sentido moderno, mas relacional e existencial: participar do Reino é viver, já agora, a justiça vindoura. A porta não se abre ao mero observador de regras, mas ao convertido, ao reconciliado, ao que tem o coração transfigurado pela misericórdia. -
Implicações práticas
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Autocrítica permanente: desafia-nos a examinar não só nossas ações, mas as motivações internas (2 Cor 13:5).
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Dependência da Graça: reconhece-se a fragilidade humana e a necessidade da ação santificadora do Espírito Santo (Gal 5:16-25).
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Testemunho coerente: viver uma justiça que excede implica integração entre fé e prática, palavra e vida (Tiago 2:14-26), para que a comunidade cristã seja sinal credível do Reino.
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Em suma, Mateus 5:20 nos impele a ir além do formalismo legal, buscando a justiça do Reino que brota da união do coração com o Cristo vivente e que se manifesta em liberdade, amor e dignidade para todos.
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