sábado, 14 de junho de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Mateus 5:38-42 - 16.06.2025

 Liturgia Diária


16 – SEGUNDA-FEIRA 

11ª SEMANA DO TEMPO COMUM


(verde – ofício do dia)


“Escuta, Senhor, a minha súplica; atende a voz do meu apelo.
Sê o meu auxílio, não me abandones, não me rejeites, ó meu Salvador.”

Salmo 27:7 Bíblia de Jerusalém


O instante presente é o ponto luminoso onde o eterno toca o tempo. Cada agora é uma fresta por onde a liberdade se revela como dom e responsabilidade. A salvação não é distante: ela pulsa no hoje, onde a consciência desperta e escolhe. A mente aberta e o coração disposto tornam-se solo fértil para a graça, que não impõe, mas propõe. O bem triunfa quando o indivíduo, em sua interioridade inviolável, acolhe a luz e age com retidão. Viver o agora é afirmar a dignidade do espírito que, mesmo diante do mal, decide ser ponte, não muro — semente, não espinho.



Evangelium secundum Matthaeum 5,38-42

Feria II – Lectio Sancti Evangelii

38 Audistis quia dictum est: Oculum pro oculo, et dentem pro dente.
Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente.

39 Ego autem dico vobis: Non resistere malo; sed si quis te percusserit in dexteram maxillam tuam, praebe ei et alteram.
Eu, porém, vos digo: Não resistais ao mal; mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.

40 Et ei, qui vult tecum iudicio contendere et tunicam tuam tollere, dimittes ei et pallium.
E ao que quiser litigar contigo para tirar-te a túnica, dá-lhe também o manto.

41 Et quicumque te angariaverit mille passus, vade cum eo duo.
E se alguém te obrigar a andar mil passos, vai com ele dois mil.

42 Qui petit a te, da ei; et volenti mutuari a te, non avertaris.
A quem te pedir, dá; e não voltes as costas ao que deseja tomar emprestado de ti.

Reflexão:
Na grande jornada do ser, cada encontro é um convite à expansão interior. A verdadeira força não se mede pela resistência, mas pela capacidade de transcender o instinto de revanche e escolher a oferta generosa. A entrega não é fraqueza, mas potência criadora: abrir-se ao outro é afirmar-se livre diante da imposição. O amor ativo não nega a justiça, mas a cumpre de forma mais alta, onde a pessoa se torna centro consciente de transformação. Agir assim é participar do dinamismo que faz o universo evoluir: não por força, mas por comunhão. É no dar que nos realizamos, e no servir, nos elevamos.


Versículo mais importante:

Ego autem dico vobis: Non resistere malo; sed si quis te percusserit in dexteram maxillam tuam, praebe ei et alteram.
Eu, porém, vos digo: Não resistais ao mal; mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. (Mt 5:39)

Este versículo inverte radicalmente a lógica do “olho por olho”, propondo uma resposta que nasce da liberdade interior e do domínio de si, e não da reação instintiva. Ele propõe uma ética que vai além da justiça retributiva, apontando para a superação da violência por meio da dignidade e da consciência. 


HOMILIA

Caminho da Liberdade Interior

Queridos irmãos e irmãs, hoje somos convidados a contemplar a grande virada do Espírito: a passagem que nos ensina a transcender a retribuição pela resposta generosa. Quando somos golpeados pela face direita do mundo — pelas injustiças, pelas frustrações, pelas mágoas — surge em nós o impulso de devolver na mesma moeda. Mas o Cristo nos revela um caminho mais profundo: oferecer também a outra face.

Essa atitude não é passividade, mas o gesto supremo da liberdade conquistada no íntimo: a liberdade de não ser escravizado pelo mal, a coragem de afirmar a nossa dignidade interior diante da violência. Ao estender o manto ao que nos exige tirania, nós reconhecemos o impulso sagrado que habita cada ser humano — uma centelha da mesma Fonte que nos anima.

Quando aceitamos caminhar não mil, mas dois mil passos com quem nos impõe suas regras, nós despertamos para a evolução que não ocorre apenas nas grandes revoluções externas, mas na alquimia do coração. É aí que o ser humano descobre seu verdadeiro poder: a capacidade de transformar o outro pela própria magnanimidade.

Dar sem calculismo, emprestar sem reservas, abandonar a lógica do ganho imediato — tudo isso reafirma que somos portadores de um chamado mais elevado. Nossa dignidade se afirma na doação, e a liberdade floresce no solo fértil da misericórdia.

Que essa lição ecoe em nossos gestos cotidianos: que nossas decisões diárias sejam reflexo daquela centelha interior que se recusa a ser dominada pelo ódio, e escolhe, em cada instante, a plenitude do amor. Assim, caminhamos não apenas na terra, mas em direção aos horizontes luminosos do Espiríto que nos guia.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A passagem de Mateus 5,39"Eu, porém, vos digo: Não resistais ao mal; mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra" — é uma das mais desafiadoras e mal compreendidas do discurso ético de Jesus. À primeira vista, parece sugerir submissão cega à injustiça ou à violência, mas uma leitura teologicamente profunda revela um chamado à liberdade espiritual, à não-violência ativa e à superação interior da lógica do mundo.

1. Superação da Lei da Retaliação

Jesus está reinterpretando a antiga norma da lex talionis“olho por olho, dente por dente” — não para invalidá-la, mas para elevá-la. A Lei de Moisés regulava a vingança, limitando-a; Jesus a transcende, desativando-a. Ele não propõe anarquia moral, mas uma nova ordem baseada na justiça transformadora, e não retributiva.

2. “Não resistais ao mal” — não é passividade

A expressão grega usada para “resistir” (anthistēmi) é um termo militar, que indica resistência armada ou hostilidade reativa. Jesus, portanto, não diz para aceitarmos o mal como bem, mas para não retribuí-lo com a mesma moeda. Ele ensina uma forma superior de resistência: não violenta, não reativa, mas ativa e profundamente transformadora. É a coragem de recusar ser moldado pelo mal, sem negar a própria dignidade.

3. A face direita — gesto simbólico

No contexto cultural da época, bater na face direita com a mão direita (a mão dominante) implicava um tapa com o dorso da mão — gesto reservado a ofensas humilhantes, como as dirigidas a servos. Jesus se refere, portanto, a situações em que a dignidade é ferida. Oferecer a outra face não é se humilhar, mas afirmar a própria liberdade interior diante do agressor, revelando que o mal não detém o poder final sobre o ser humano.

4. Revelação da dignidade espiritual

Esse ensinamento revela uma verdade espiritual: a dignidade da pessoa humana não pode ser destruída pela violência externa. Ao não reagir com ódio, mas com firmeza interior e amor, o discípulo se assemelha ao próprio Cristo, que na cruz não respondeu às agressões com maldição, mas com perdão. Trata-se de um caminho de ascensão espiritual, onde a alma se afirma na escolha consciente do bem.

5. Cristo como modelo vivo

Jesus não apenas ensina esse caminho, mas o vive. Diante dos que o acusam, açoitam e zombam, Ele permanece em silêncio, oferece compaixão, e vence o mal com o bem. A cruz torna-se o ápice dessa lógica divina: não a aniquilação do justo, mas a manifestação plena do amor que salva.

Mateus 5,39 não nos pede para sermos vítimas resignadas do mal, mas para superarmos o ciclo da violência pela força da liberdade espiritual. É um chamado a sermos agentes de uma nova humanidade, capazes de interromper o fluxo do ódio com a firmeza do amor consciente — uma liberdade interior que brota de Deus e nos faz verdadeiramente humanos.


Leia: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

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