Liturgia Diária
6 – DOMINGO
27º DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – 3ª semana do saltério)
Antífona:
Na pureza das crianças,
a verdade floresce, singela,
onde o coração se entrega,
o Reino se revela.
Que o amor unido,
por Deus seja abençoado,
e jamais separado.
Marcos 10,2-16
2 Então, aproximando-se, alguns fariseus, para o tentar, perguntaram-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher?
3 Ele respondeu-lhes: Que vos ordenou Moisés?
4 Disseram: Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiá-la.
5 Jesus disse-lhes: Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deu essa lei.
6 Mas, no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.
7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher,
8 e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne.
9 Não separe, pois, o homem o que Deus uniu.
10 Em casa, os discípulos fizeram-lhe perguntas sobre o mesmo assunto.
11 Ele disse-lhes: Todo aquele que repudiar sua mulher e se casar com outra, comete adultério contra a primeira.
12 E se a mulher repudiar seu marido e se casar com outro, comete adultério.
13 Apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam.
14 Vendo isto, Jesus indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se assemelham a eles.
15 Em verdade vos digo: Todo aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.
16 E, abraçando-os, abençoava-os, impondo-lhes as mãos.
Reflexão:
"Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele." (Marcos 10:15)
Este trecho do Evangelho nos convida a olhar além da simples questão legal do divórcio e compreender a profundidade do relacionamento humano como uma expressão da união sagrada que Deus criou no início dos tempos. A união entre homem e mulher reflete a unidade fundamental da criação, em que toda separação é uma distorção dessa harmonia original. O chamado à indissolubilidade do matrimônio é um reflexo da ordem cósmica em que tudo está interligado, e a pureza das crianças nos lembra a simplicidade necessária para entrar nesse Reino, onde a conexão com o Divino é plena e sem divisões.
HOMILIA
O Reino de Deus e a Superação do Egoísmo e do Poder
No Evangelho de Marcos 10:2-16, somos confrontados com a profundidade da simplicidade do Reino de Deus, contrastada com as complexidades e ambições humanas. Jesus nos ensina que, para entrar no Reino, devemos nos despir de toda pretensão e nos tornar como crianças, puras e dependentes da graça divina. Este ensinamento, no entanto, fala diretamente contra duas das maiores forças que dominam o ser humano: o egoísmo e o poder.
Nos dias de hoje, o egoísmo se manifesta de muitas formas – na busca incessante por sucesso pessoal, na competição desenfreada e na indiferença ao sofrimento alheio. O desejo de possuir, controlar e dominar faz com que muitas vezes esqueçamos que o Reino de Deus não é construído sobre essas bases. Jesus, ao exaltar as crianças, nos lembra que o Reino é um dom de Deus e não uma conquista nossa. Ele não pode ser adquirido pelo acúmulo de poder, riqueza ou status.
O poder, muitas vezes, vem acompanhado de uma ilusão de controle. As estruturas sociais, econômicas e políticas nos incentivam a acreditar que, ao alcançar posições de destaque, seremos "senhores" de nossa própria existência e, talvez, de outros. Mas Jesus nos inverte essa lógica. Ele nos mostra que o verdadeiro poder não está em dominar, mas em servir; não em controlar, mas em amar. Assim como as crianças dependem completamente dos pais, devemos nos colocar em total confiança e entrega diante de Deus.
O Evangelho, portanto, é um convite à transformação interior. Ele nos pede que rejeitemos as armadilhas do egoísmo e do poder e, ao invés disso, cultivemos uma humildade genuína, uma abertura ao outro, e uma confiança radical na bondade divina. Se olharmos para o mundo de hoje, vemos que as crises globais – ambientais, políticas e sociais – são amplificadas pela avareza e pela sede de poder. Nosso desafio, como seguidores de Cristo, é rejeitar essas tentações e abraçar o caminho da humildade e do serviço.
Se quisermos realmente ser agentes do Reino de Deus no mundo, precisamos começar pela nossa própria conversão. Precisamos reaprender o que significa "receber o Reino como uma criança": sem arrogância, sem pretensão, sem a ânsia de controlar tudo. Somente então seremos capazes de construir um mundo mais justo, onde o poder se converte em serviço e o egoísmo se dissolve no amor que Jesus nos ensinou.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele” (Marcos 10:15) carrega uma profundidade teológica que transcende uma simples referência à infância. Jesus utiliza aqui a figura da criança como um símbolo de uma atitude espiritual indispensável para aqueles que desejam fazer parte do Reino de Deus. Para compreendê-la teologicamente, é necessário desdobrar os elementos de humildade, dependência, simplicidade e confiança que caracterizam as crianças.
1. Humildade e Despojamento
Na tradição bíblica, a criança é vista como um ser dependente e despojado de qualquer poder, status ou mérito. Jesus nos ensina que o Reino de Deus não pode ser alcançado pelas conquistas humanas, intelectuais ou morais, mas através de um despojamento radical. Assim como a criança não reivindica direitos sobre si mesma, o cristão é chamado a abandonar qualquer pretensão de autossuficiência. A humildade da criança é uma renúncia ao orgulho e ao ego, elementos que muitas vezes bloqueiam nossa abertura à graça divina.
2. Dependência Radical de Deus
Crianças, especialmente nos tempos bíblicos, eram dependentes de seus pais para tudo. Não tinham voz, poder ou segurança fora do cuidado paterno. Jesus usa essa imagem para nos chamar a uma total dependência de Deus. No Reino de Deus, a autossuficiência é uma ilusão. Somos completamente dependentes da graça e do amor de Deus, assim como uma criança depende dos pais para sua sobrevivência e bem-estar. Reconhecer essa dependência é fundamental para entrar no Reino, pois somente aqueles que confiam plenamente em Deus podem experimentar a plenitude da vida divina.
3. Simplicidade de Coração
A simplicidade de uma criança reflete a pureza de coração que Jesus tanto exalta em outros momentos do Evangelho (como em Mateus 5:8: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”). Essa pureza está ligada à ausência de duplicidade, à transparência de intenções. A entrada no Reino de Deus exige essa simplicidade, ou seja, uma abertura sincera à verdade e ao amor de Deus, sem as complexidades e as distorções criadas pela mente adulta que, muitas vezes, busca manipular ou racionalizar a fé.
4. Confiança Incondicional
A confiança que uma criança tem em seus pais é um modelo da confiança que somos chamados a ter em Deus. Enquanto adultos muitas vezes enfrentam dúvidas, desconfianças e a necessidade de controle, as crianças se entregam sem reservas. Para "receber o Reino de Deus como uma criança" é necessário adotar essa confiança total, crendo que Deus, em sua bondade, nos guia e nos sustenta, mesmo nos momentos mais difíceis. A confiança é o fundamento da relação filial com Deus e um elemento essencial para entrar no Reino.
5. A Natureza do Reino de Deus
Essa frase também nos leva a refletir sobre a natureza do próprio Reino de Deus. O Reino não é uma realidade que pode ser conquistada ou adquirida, mas um dom que deve ser recebido. Assim, como as crianças recebem de seus pais tudo o que precisam para viver, o cristão recebe o Reino como uma graça imerecida. Entrar no Reino de Deus significa, portanto, reconhecer que estamos sempre à mercê da generosidade divina, acolhendo o dom da salvação com gratidão e humildade.
6. Rejeição da Autossuficiência
Teologicamente, essa passagem também denuncia a falsa noção de que podemos merecer ou conquistar o Reino por meio de nossos próprios esforços. Jesus contrasta a atitude infantil de receptividade com a autossuficiência do adulto que tenta garantir seu caminho para Deus através de seus próprios méritos ou obras. O Reino de Deus não se abre àqueles que confiam em suas próprias forças, mas aos que se entregam como crianças, dependentes da graça.
Portanto, a profundidade dessa frase repousa no reconhecimento de que o Reino de Deus é uma realidade divina que requer uma transformação interior: desapego do orgulho, abertura à graça, e uma confiança radical e simples, como a de uma criança. Esse é o caminho para a verdadeira comunhão com Deus.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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