Liturgia Diária
26 – SÁBADO
29ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Antífona:
Senhor, dá-nos o tempo da graça,
Que o arrependimento floresça,
Como figueira renovada,
Antes que venha a colheita.
Lucas 13,1-9 (Vulgata)
1. Aderant autem quidam ipso in tempore, nuntiantes illi de Galilæis, quorum sanguinem Pilatus miscuit cum sacrificiis eorum.
1. Estavam presentes, nesse mesmo tempo, alguns que lhe contavam acerca dos galileus, cujo sangue Pilatos havia misturado com os sacrifícios deles.
2. Et respondens dixit illis: Putatis quod hi Galilæi præ omnibus Galilæis peccatores fuerint, quia talia passi sunt?
2. E, respondendo, Jesus lhes disse: Pensais vós que esses galileus eram mais pecadores do que todos os galileus, por terem sofrido tais coisas?
3. Non, dico vobis: sed nisi pœnitentiam habueritis, omnes similiter peribitis.
3. Não, digo-vos; mas, se não vos arrependerdes, todos perecereis igualmente.
4. Sicut illi decem et octo, supra quos cecidit turris in Siloë, et occidit eos: putatis quia et ipsi debitores fuerunt præter omnes homines habitantes in Ierusalem?
4. Ou aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou: pensais que eles eram mais culpados do que todos os outros homens que habitam em Jerusalém?
5. Non, dico vobis: sed nisi pœnitentiam habueritis, omnes similiter peribitis.
5. Não, digo-vos; mas, se não vos arrependerdes, todos perecereis igualmente.
6. Dicebat autem hanc similitudinem: Arborem fici habebat quidam plantatam in vinea sua, et venit quærens fructum in illa, et non invenit.
6. E Jesus propôs esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e veio procurar fruto nela, mas não encontrou.
7. Dixit autem ad cultorem vineæ: Ecce anni tres sunt, ex quo venio quærens fructum in ficulnea hac, et non invenio: succide ergo illam: ut quid etiam terram occupat?
7. Então, disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não encontro. Corta-a. Por que está ainda ocupando a terra inutilmente?
8. At ille respondens, dicit illi: Domine, dimitte illam et hoc anno, usque dum fodiam circa illam, et mittam stercora:
8. Mas ele, respondendo, disse-lhe: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu cave ao redor dela e lhe deite estrume.
9. Et siquidem fecerit fructum: sin autem, in futurum succides eam.
9. Se der fruto, muito bem; e, se não, depois a cortarás.
Reflexão:
"Se não vos arrependeres, todos perecereis do mesmo modo." (Lucas 13,5)
Este trecho do Evangelho convida-nos a refletir sobre a urgência do arrependimento e a graça de um tempo adicional para a conversão. A parábola da figueira sem fruto nos alerta para a necessidade de dar frutos espirituais em nossas vidas. Assim como a figueira recebeu uma última oportunidade de produzir, nós também somos chamados à transformação antes que o tempo nos seja tirado. É preciso perceber que o arrependimento não é um simples ato de reconhecimento, mas uma mudança profunda que reflete a conexão entre nosso ser e o cosmos, desdobrando nossa realidade para uma evolução interior e coletiva.
HOMILIA
"A Conversão Profunda e a Evolução Interior"
Vivemos em um tempo em que a superficialidade domina nossas ações e pensamentos. Em um mundo tão marcado pela dispersão, muitas vezes nos limitamos a um reconhecimento externo dos problemas que enfrentamos, esquecendo que a verdadeira mudança começa dentro de nós. O simples ato de reclamar sobre a vida, sobre as circunstâncias, ou sobre as dificuldades, não é um fim em si mesmo. Quando visto de maneira profunda, a reclamação pode ser a centelha que nos move para um despertar espiritual mais elevado, revelando o quanto estamos desconectados de nosso ser mais profundo e daquilo que nos une ao cosmos.
A conversão não se trata apenas de uma correção moral, mas de uma transformação integral do ser, onde somos chamados a reconfigurar nossa relação com a realidade. Cada reclamação ou insatisfação revela uma fratura interior que necessita de cura, uma brecha que aponta para uma necessidade de evolução. O chamado à conversão é, na verdade, o convite para retornarmos ao ponto central da nossa existência, onde o material e o espiritual se encontram. Neste ponto, a evolução interior não se dá de maneira isolada, mas sempre em comunhão com o todo.
Se não nos movermos em direção a essa mudança interior, arriscamo-nos a perder a oportunidade de participar da evolução coletiva da humanidade. A conversão, então, não é um mero ajuste superficial, mas um movimento profundo de transformação, onde nossa realidade individual e coletiva se desdobra, permitindo-nos uma nova visão. Assim como o universo está em expansão, também somos chamados a expandir nossa consciência, a partir do nosso ser mais profundo, para que possamos cooperar na grande obra de recriar a realidade ao nosso redor.
O desafio da conversão está em abraçar a evolução como parte essencial de nossa existência, onde a mudança interna reflete o crescimento externo. Nossa reclamação deve ser o ponto de partida, não para a desesperança, mas para um ato consciente de evolução, para que possamos, juntos, evoluir em direção à plenitude que nos aguarda, em comunhão com o cosmos e com o Criador.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase de Lucas 13,5 — "Se não vos arrependeres, todos perecereis do mesmo modo" — é uma declaração teologicamente densa que toca o núcleo da relação entre o ser humano, o pecado e a salvação. Ela aborda a urgência do arrependimento e a natureza das consequências espirituais da alienação de Deus. Para compreender a profundidade dessa frase, é necessário analisar o conceito de arrependimento (metanoia) e a ameaça da "morte" no contexto bíblico.
Arrependimento como transformação do ser
O termo "arrependimento", traduzido do grego *metanoia*, vai além de um mero remorso pelos erros cometidos. Ele aponta para uma profunda mudança de mente e coração, uma conversão radical em direção a Deus. Jesus não está simplesmente alertando contra o castigo físico, mas revelando a necessidade de uma transformação espiritual para evitar uma ruína eterna, que aqui se expressa como "perecer". O arrependimento, portanto, não é apenas sobre evitar o castigo, mas sobre redescobrir a vida autêntica em comunhão com Deus.
Perecimento e a Morte Espiritual
A expressão "perecereis do mesmo modo" pode ser lida em múltiplas camadas teológicas. De um lado, há a iminência do juízo divino, onde aqueles que persistem no pecado, sem arrependimento, se afastam cada vez mais da fonte de vida que é Deus. A consequência desse afastamento é a "morte" espiritual, que, segundo a teologia cristã, representa a separação definitiva da graça divina. Esta morte não é simplesmente o fim físico, mas um estado de alienação que condena o ser humano à ausência de comunhão com o Criador.
O juízo coletivo e a solidariedade no pecado
Ao dizer "todos perecereis do mesmo modo", Jesus aponta para uma responsabilidade coletiva. Todos os seres humanos são solidários no pecado e igualmente chamados ao arrependimento. Não é apenas uma questão de atos individuais de pecado, mas de uma condição espiritual que afeta a humanidade em seu conjunto. Assim, Jesus alerta que, sem uma conversão, o destino de todos será o mesmo — um destino marcado pela morte espiritual e pela perda da verdadeira vida.
A urgência do tempo presente
Lucas 13,5 também transmite a urgência do tempo da graça, ou seja, o "hoje" da salvação. A oportunidade para o arrependimento está disponível, mas é limitada ao tempo da vida terrena. Cada momento de adiamento é uma oportunidade perdida de reconciliação com Deus. A falta de arrependimento conduz inevitavelmente ao perecimento, uma realidade que Cristo coloca de forma enfática: a menos que haja uma mudança real e profunda, a destruição espiritual é certa.
Arrependimento como participação na vida divina
Na teologia cristã, o arrependimento é o caminho pelo qual o ser humano volta a participar da vida divina. Não é um simples retorno às regras morais, mas uma reconfiguração do ser em Cristo. O arrependimento é o que abre o coração para a graça, permitindo que a vida de Deus flua novamente dentro da alma humana. Ao escolher não se arrepender, o ser humano fecha-se para esta fonte de vida, escolhendo o caminho da autossuficiência e, portanto, da morte.
Em resumo, a frase "Se não vos arrependeres, todos perecereis do mesmo modo" revela a seriedade e a universalidade do chamado de Cristo ao arrependimento. É um lembrete da nossa condição caída, da urgência de conversão, e da realidade do juízo divino. Arrepender-se é abrir-se à vida, rejeitar a autossuficiência, e aceitar a transformação em Cristo. Sem isso, o destino de todos é a morte espiritual, a alienação definitiva da plenitude que Deus oferece.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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