segunda-feira, 21 de outubro de 2024

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 12:39-48 - 23.10.2024

 Liturgia Diária


23 – QUARTA-FEIRA 

29ª SEMANA DO TEMPO COMUM


(verde – ofício do dia)



Antífona:


Vigia e prepara teu coração,  

pois o Senhor virá, inesperado,  

na hora que não imaginas,  

como um ladrão na noite.


Lucas 12:39-48


39. Hoc autem scitote, quia si sciret paterfamilias qua hora fur veniret, vigilaret utique et non sineret perfodi domum suam.  

E isso sabei: se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, velaria certamente e não deixaria que fosse arrombada a sua casa.


40. Et vos estote parati, quia qua hora non putatis, Filius hominis veniet.  

Estai também vós preparados, porque, à hora que não pensais, o Filho do Homem virá.


41. Dixit autem ei Petrus: Domine, ad nos dicis hanc parabolam, an ad omnes?  

Pedro disse-lhe: Senhor, dizes essa parábola para nós ou para todos?


42. Et ait Dominus: Quis, putas, est fidelis dispensator et prudens, quem constituit dominus supra familiam suam, ut det illis in tempore tritici mensuram?  

E o Senhor respondeu: Quem é, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor põe à frente de sua casa para dar a ração de trigo a seu tempo?


43. Beatus ille servus, quem, cum venerit dominus eius, invenerit ita facientem.  

Bem-aventurado aquele servo, a quem o senhor, ao chegar, encontrar agindo assim.


44. Vere dico vobis, quoniam supra omnia, quae possidet, constituet eum.  

Em verdade vos digo, que ele o porá sobre todos os seus bens.


45. Quod si dixerit servus ille in corde suo: Moram facit dominus meus venire, et coeperit percutere pueros et ancillas, et edere et bibere et inebriari:  

Mas se aquele servo disser em seu coração: O meu senhor tarda em vir, e começar a bater nos servos e nas servas, a comer, a beber e a embriagar-se,


46.Veniet dominus servi illius in die qua non sperat, et hora qua ignorat, et dividet eum, partemque eius cum infidelibus ponet.  

Virá o senhor daquele servo num dia em que ele não espera e numa hora que ele não sabe, e o cortará ao meio, pondo a sua parte com os infiéis.


47. Ille autem servus, qui cognovit voluntatem domini sui, et non praeparavit, et non facit secundum voluntatem eius, vapulabit multas.  

O servo que soube a vontade de seu senhor, mas não se preparou nem agiu conforme a sua vontade, será açoitado com muitos golpes.


48. Qui autem non cognovit, et fecit digna plagis, vapulabit pauca. Omni autem cui multum datum est, multum quaeretur ab eo: et cui commendaverunt multum, plus petent ab eo.  

Mas o que não a soube, e fez coisas dignas de castigo, será açoitado com poucos golpes. A quem muito foi dado, muito será pedido; e a quem muito foi confiado, mais será exigido.


Reflexão:

"A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiável, mais ainda será pedido." (Lucas 12:48)


Neste Evangelho, somos chamados à vigilância e à responsabilidade. A mensagem de que "a quem muito foi dado, muito será pedido" nos convida a refletir sobre o peso da nossa liberdade e a nossa ação no mundo. O retorno do Mestre é inesperado, como a vinda de um ladrão à noite, o que nos adverte sobre os perigos da inércia espiritual. Somos administradores de dons, e cada um de nós será julgado pelo modo como os utilizamos, tanto na vida pessoal quanto comunitária. A vigilância é um estado profundo de consciência que ultrapassa o tempo e exige um compromisso integral com o presente, onde cada gesto e cada escolha refletem uma responsabilidade cósmica diante do Mistério Divino.


HOMILIA

O Peso da Liberdade e a Responsabilidade de Nosso Ser no Mundo


No Evangelho de Lucas 12:39-48, somos confrontados com uma profunda verdade: a liberdade que nos é dada exige ação responsável. "A quem muito foi dado, muito será exigido." Esta frase ecoa como um chamado à consciência humana, especialmente nos dias de hoje, quando a liberdade, em suas diversas formas, é exaltada, mas frequentemente desvinculada de suas responsabilidades. 

A liberdade não é uma dádiva isolada, mas uma potência que precisa ser orientada pela verdade e pela bondade. Assim como o servo que sabe da vinda do mestre e não se prepara será severamente julgado, também nós, conhecendo a verdade do Evangelho e a grandeza da vida, devemos responder de maneira ativa ao que nos é confiado. 

Vivemos em uma era de grandes possibilidades, onde a ciência, a tecnologia, e a expansão do conhecimento humano nos concedem uma responsabilidade ainda maior sobre a criação. O mundo não é apenas um palco onde atuamos, mas uma extensão de nossa própria liberdade, onde nossas ações ressoam e têm consequências para toda a humanidade. Não podemos, portanto, viver de maneira irresponsável, aguardando passivamente o retorno do Mestre. Somos chamados a vigiar, a agir, a transformar o mundo ao nosso redor com sabedoria e amor.

A liberdade em si carrega um peso espiritual. Ela exige de nós uma decisão constante entre a vida que edifica e a que destrói. O Evangelho de hoje nos lembra que nossa liberdade é um dom precioso, e que, quando usada para o bem, faz ecoar o Reino de Deus, mas quando negligenciada, se torna um fardo que pode trazer destruição. No final, seremos chamados a prestar contas não apenas por aquilo que fizemos, mas também pelo que deixamos de fazer quando nossa liberdade exigia ação. Que nossa vida seja um constante testemunho do amor e da responsabilidade que o Senhor espera de nós.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase de Lucas 12:48, "A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, mais ainda será pedido," carrega uma profundidade teológica que envolve o entendimento da responsabilidade humana perante os dons recebidos de Deus. Esse versículo fala não apenas de uma responsabilidade prática, mas de uma responsabilidade espiritual e moral que está enraizada na própria natureza da criação e no relacionamento do ser humano com o Criador.


A Abundância dos Dons de Deus


Em primeiro lugar, a frase reconhece que Deus, em Sua infinita generosidade, concede a cada ser humano dons, graças e talentos. Esses dons podem se manifestar de diversas maneiras: recursos materiais, capacidades intelectuais, habilidades espirituais e até posições de liderança e influência. Cada um de nós é depositário de uma riqueza única de dons, que não é apenas para o nosso benefício pessoal, mas, sobretudo, para o serviço da comunidade e do Reino de Deus.


Na teologia cristã, o conceito de dom está intimamente ligado à noção de "responsabilidade vocacional." Tudo o que recebemos tem uma finalidade superior, uma missão. Não somos proprietários absolutos de nossos dons; somos administradores. Esta administração envolve uma dimensão escatológica, ou seja, terá implicações eternas. Assim, a nossa vida aqui e agora é uma preparação para o julgamento final, onde seremos chamados a prestar contas de como usamos aquilo que nos foi dado.


O Peso da Responsabilidade


O versículo também fala de uma reciprocidade divina. Quanto mais dons e confiança recebemos de Deus, mais Ele espera de nós. Isso implica uma justiça divina que não é arbitrária, mas profundamente ligada à equidade e à reciprocidade. Aqueles que recebem mais recursos, mais instrução, mais discernimento espiritual, são também chamados a carregar uma responsabilidade proporcional.


Na teologia moral, isso pode ser entendido como a virtude da "correspondência ao dom." É o conceito de que devemos corresponder à graça recebida com obras concretas de caridade, justiça, e testemunho do Evangelho. Essa responsabilidade se estende a todos os aspectos da vida, desde o uso de bens materiais até o cuidado com a criação e a construção de uma sociedade mais justa.


Confiança e Justiça


Além disso, o fato de Deus confiar em nós fala do Seu profundo respeito pela nossa liberdade. A confiança divina implica que Deus acredita na nossa capacidade de responder ao Seu chamado com fidelidade. Aqui, a liberdade humana é elevada ao mais alto grau: somos livres para responder à graça, mas também seremos julgados pela maneira como usamos essa liberdade. A justiça divina, portanto, é sempre proporcionada à nossa capacidade e aos dons que recebemos.


O Testemunho e a Comunhão


Essa responsabilidade está diretamente relacionada ao testemunho que damos ao mundo. A quem muito foi confiado, espera-se que seja uma testemunha mais ativa do amor e da misericórdia de Deus. Isso se reflete na vida em comunidade, nas obras de caridade e na busca pela verdade. Somos chamados a ser exemplos vivos do Evangelho, construindo uma sociedade baseada na justiça, no amor ao próximo e na busca do bem comum.


Uma Exigência de Amor


Finalmente, esse versículo também revela o caráter amoroso de Deus. A exigência de Deus nunca é para a nossa destruição, mas para a nossa santificação. A quem muito foi dado, muito será exigido, mas essa exigência é sempre feita no contexto de um relacionamento de amor. Deus espera que respondamos a Ele com generosidade, usando os dons que recebemos para trazer luz ao mundo e construir o Seu Reino.


Portanto, "A quem muito foi dado, muito será exigido" não é uma ameaça, mas um convite. Um convite para correspondermos ao amor divino com generosidade, vivendo de acordo com os dons que nos foram confiados e reconhecendo que nossa vida é uma missão que tem consequências eternas.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

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Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

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