Liturgia Diária
8 – DOMINGO
23º DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – 3ª semana do saltério)
Evangelho: Marcos 7:31-37
Abre-te, ó alma, ao sopro do Espírito que cura, e que faz os ouvidos ouvirem o sussurro divino. Que a língua professe a graça, e que o coração se abra ao mistério que liberta.
Marcos 7:31-37
31. Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e foi para o mar da Galileia, atravessando a região da Decápolis.
32. Trouxeram-lhe um surdo, que falava com dificuldade, e pediram que lhe impusesse a mão.
33. Jesus o afastou da multidão, colocou os dedos nos ouvidos dele, cuspiu e tocou a língua dele.
34. Levantando os olhos para o céu, suspirou e disse: "Effathá!", que quer dizer "abre-te".
35. Imediatamente os ouvidos do homem se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar corretamente.
36. Jesus recomendou que não contassem a ninguém; mas, quanto mais Ele recomendava, mais eles divulgavam.
37. Estavam profundamente impressionados e diziam: "Ele tem feito tudo bem: faz os surdos ouvir e os mudos falar."
Reflexão:
"Efatá, que quer dizer: Abre-te!" (Marcos 7:34).
Esta frase simboliza não apenas a cura física do surdo-mudo, mas também a abertura espiritual para a compreensão e receptividade da Palavra divina.
Este trecho é um convite para que reflitamos sobre a importância de estarmos abertos à transformação espiritual, assim como os ouvidos e a língua do surdo-mudo foram abertos. O ato de Jesus não é apenas físico, mas um sinal de uma abertura maior, a abertura do coração e da alma para o mistério do amor divino. Este processo de abertura não é um evento isolado, mas um contínuo desdobramento, onde somos chamados a romper as barreiras que nos separam da verdadeira compreensão e da união com o divino. É através da escuta profunda e da palavra justa que encontramos o caminho para uma vida mais plena e conectada ao propósito espiritual maior.
HOMILIA
A Expansão da Vida Através da Abertura do Ser
No Evangelho de Marcos 7:31-37, somos testemunhas de um dos momentos mais profundos da ação de Jesus: a cura de um homem surdo e com dificuldade para falar. Ao tocar seus ouvidos e sua língua, e ao pronunciar a palavra "Efatá" — "Abre-te" — Jesus realiza mais do que uma cura física. Ele realiza um ato de profunda libertação espiritual.
Este gesto nos revela uma verdade fundamental: a abertura ao mistério da vida é o que nos conecta ao sentido mais profundo da existência. A surdez e a mudez do homem simbolizam a condição humana em sua limitação de percepção, confinada a um estado de desconexão com o universo ao nosso redor. Jesus, ao curá-lo, está restaurando a capacidade humana de se sintonizar com o infinito, de ouvir as vozes que ressoam além das fronteiras do visível e do audível. A cura, assim, transcende o corpo e toca o espírito.
O chamado "Abre-te" é uma convocação a cada um de nós, para que, no fundo de nossos corações, deixemos cair as barreiras que nos separam da plenitude do ser. O mundo ao nosso redor pulsa com a energia divina, e somos convidados a participar dessa comunhão. A vida se revela como um constante abrir-se ao novo, ao inesperado, à presença de Deus que penetra todas as coisas.
Esta cura é, então, um símbolo poderoso do que acontece quando nos permitimos ser abertos para a vastidão do universo e para o mistério do divino que se manifesta em todas as dimensões da vida. Jesus nos convida a essa abertura, para que, tal como o homem curado, possamos ouvir as harmonias ocultas da criação e proclamar com clareza a verdade de Deus.
Neste ato, somos lembrados de que não devemos permanecer fechados em nossas próprias limitações, mas devemos nos abrir a um crescimento contínuo, uma expansão do nosso ser em comunhão com o Todo. Isso não é apenas uma cura individual, mas um convite à humanidade para que nos unamos à vida divina que permeia tudo.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Efatá: O Chamado à Abertura Interior
A frase "Efatá, que quer dizer: Abre-te!" (Marcos 7:34) ecoa profundamente nas reflexões teológicas, especialmente quando examinada à luz dos ensinamentos de Santo Agostinho. Este comando de Jesus não é apenas um gesto milagroso de cura física; é uma mensagem espiritual carregada de significado. Para Agostinho, a cura física no Evangelho é sempre um sinal externo de uma realidade mais profunda, a cura do coração e da alma. Vamos explorar essa frase com base em três aspectos fundamentais: a abertura para Deus, a abertura para a verdade interior e a abertura para o amor.
1. A Abertura para Deus
Para Santo Agostinho, a alma humana está sempre inquieta até que encontre repouso em Deus. O "Efatá" de Jesus, portanto, é primeiramente um chamado à alma para se abrir à graça divina, para reconhecer a presença de Deus em todas as coisas. O homem surdo e mudo simboliza, no pensamento agostiniano, a condição de quem vive afastado de Deus, incapaz de ouvir Sua voz e de proclamar Suas maravilhas. A cura, então, torna-se um sinal da salvação espiritual: abrir-se a Deus é permitir que Sua luz entre em nossos corações, dissipando a escuridão do pecado e da ignorância. Agostinho nos recorda que sem essa abertura, permanecemos isolados, surdos ao chamado divino.
2. A Abertura para a Verdade Interior
Agostinho sempre enfatizou a necessidade de uma introspecção profunda, um retorno à interioridade, onde o ser humano encontra a verdade divina inscrita em seu coração. O "Efatá" também pode ser visto como um convite a essa auto-exploração. Quando Jesus diz "Abre-te", Ele está, de certa forma, exortando cada um de nós a nos abrirmos à verdade interior que muitas vezes ocultamos ou negligenciamos. No interior da alma, segundo Agostinho, está a imagem de Deus, mas ela pode estar obscurecida pelos desejos terrenos, pelas distrações mundanas e pela falta de autoconhecimento. Abrir-se, portanto, é um ato de humildade, de reconhecer nossas limitações e permitir que a verdade de Deus ilumine o interior da nossa vida.
3. A Abertura para o Amor
Agostinho vê o amor como a essência da vida cristã e o fundamento de toda a existência. O "Efatá" de Jesus é também um chamado para abrir nossos corações ao amor. Fechar-se ao amor é fechar-se à própria essência de Deus, que é amor. No gesto de Jesus de curar o homem, percebemos que o amor é expansivo, ele quebra barreiras e reconcilia o que está separado. Abrir-se ao amor de Deus e ao amor pelo próximo significa viver em comunhão com o universo e com todos os seres. O fechamento nos isola; a abertura, nos une. Para Agostinho, amar é uma forma de conhecimento: ao amarmos, compreendemos melhor quem somos e quem Deus é.
Conclusão: O Efatá como Transformação
A frase "Efatá, que quer dizer: Abre-te!" encapsula, na visão agostiniana, um movimento contínuo de transformação espiritual. É um convite a nos libertarmos das amarras que nos impedem de viver plenamente a relação com Deus, de encontrar a verdade dentro de nós mesmos e de nos entregarmos ao amor que transforma o mundo. Jesus, ao pronunciar essa palavra, não apenas curou um homem fisicamente; Ele revelou o caminho para a cura interior de todos os seres humanos, um caminho de abertura que leva à plenitude da vida divina.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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