Liturgia Diária
18 – QUARTA-FEIRA
24ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Evangelho: Lucas 7:31-35
"Senhor, que vieste entre nós, mas não foste compreendido, dá-nos olhos para ver a Tua sabedoria, que transcende aparências. Que sejamos filhos da luz, justificados em Ti."
Lucas 7:31-35
31 - A quem, pois, compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes?
32 - São semelhantes a meninos que, sentados nas praças, gritam uns para os outros, dizendo: Tocamos flauta para vós, e não dançastes; cantamos lamentações, e não chorastes.
33 - Pois veio João Batista, que não comia pão, nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio.
34 - Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores.
35 - Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.
Reflexão:
"Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos." (Lucas 7:35)
Essa frase encapsula a ideia central de que, independentemente das críticas e incompreensões humanas, a verdadeira sabedoria se manifesta plenamente naqueles que a seguem e a vivem. Ela transcende julgamentos superficiais e se revela através de suas obras e frutos.
A passagem revela a dificuldade humana em reconhecer o sagrado na diversidade de suas manifestações. As expectativas limitadas e pré-concebidas impedem o acolhimento do mistério divino em sua plenitude. A verdadeira sabedoria transcende as barreiras e os julgamentos, manifestando-se nas múltiplas expressões da vida, conduzindo a humanidade a uma compreensão mais profunda do sagrado. A evolução espiritual está em perceber o que se oculta nas formas, nas palavras e nos gestos, enxergando, assim, a unidade subjacente que move toda a criação em direção à sua consumação final.
HOMILIA
"Escutando a Voz de Deus nas Incertezas de Hoje"
Meus irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje, tirado de Lucas 7:31-35, nos traz uma advertência poderosa e atemporal. Jesus fala diretamente sobre a dificuldade humana de acolher a verdade divina quando ela não se encaixa em nossas expectativas. Ele compara sua geração a crianças que, insatisfeitas, não respondem ao que lhes é oferecido, seja alegria ou lamento. Elas resistem à flauta que chama à dança e à lamentação que convida ao choro. Este mesmo padrão de resistência se repete nos dias de hoje.
Estamos vivendo em um mundo marcado por mudanças rápidas e incertezas constantes. Diante de tantas vozes e opiniões, às vezes nos sentimos perdidos, incapazes de reconhecer a verdade. Buscamos, muitas vezes, uma resposta imediata e clara, algo que se encaixe em nossas expectativas ou que confirme as nossas visões de mundo. No entanto, Jesus nos adverte que a verdade de Deus nem sempre se manifesta da maneira que esperamos.
O povo rejeitou João Batista por sua austeridade, acusando-o de estar possuído por um demônio. Rejeitaram Jesus por sua proximidade com os pecadores, chamando-o de comilão e beberrão. Ambos, João e Jesus, foram mal compreendidos, porque suas maneiras de transmitir a mensagem de Deus não correspondiam às expectativas humanas.
Hoje, essa mesma dinâmica se repete. Em um tempo de polarização e ruído, estamos sempre inclinados a julgar e classificar o que não entendemos. O risco que corremos é o de rejeitar a sabedoria que Deus está nos oferecendo, simplesmente porque ela não se manifesta da forma que esperamos. Somos rápidos em criticar, em descartar ou em ignorar aqueles que nos desafiam com verdades desconfortáveis. Assim, muitas vezes, ficamos surdos e cegos à voz de Deus que ecoa no inesperado, no diferente, no desconhecido.
Jesus nos lembra que "a sabedoria é justificada por todos os seus filhos." Ou seja, a verdadeira sabedoria é reconhecida pelos frutos que produz, e não pelas formas superficiais com que se apresenta. Em um mundo onde as aparências muitas vezes enganam e as vozes mais altas não são necessariamente as mais verdadeiras, somos chamados a um discernimento profundo. Somos convidados a reconhecer a ação de Deus nos pequenos gestos de compaixão, nas palavras de quem busca a paz, e até mesmo nos desafios que nos fazem rever nossas certezas.
A mensagem de hoje nos convida a abrir o coração e a mente para a sabedoria divina que pode se manifestar nos lugares mais inesperados: em uma conversa difícil, em um momento de silêncio, ou mesmo nas contradições da vida moderna. Precisamos estar atentos para que não caiamos na tentação de julgar rapidamente, de rejeitar o que nos parece incômodo ou diferente. Ao contrário, devemos aprender a escutar com humildade e a reconhecer a voz de Deus nas situações em que menos esperamos encontrá-la.
Em tempos de dúvida e mudança, a sabedoria de Deus continua a nos chamar, assim como no tempo de Jesus. Cabe a nós sermos como os "filhos da sabedoria", aqueles que, com corações abertos, enxergam além das aparências e reconhecem a verdade de Deus em cada nova experiência. Que possamos, então, abrir nossos ouvidos e nossos corações para essa sabedoria, permitindo que ela nos guie e nos transforme.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos” (Lucas 7:35) contém uma profundidade teológica que nos convida a refletir sobre a natureza da sabedoria divina, sua manifestação e o papel dos "filhos da sabedoria" no mundo.
1. Sabedoria Divina e a Revelação
No contexto de Lucas 7, Jesus está lidando com a incompreensão da geração à sua volta, que rejeita tanto João Batista quanto a Ele próprio, baseando-se em aparências e preconceitos. Jesus responde a essa rejeição destacando que a sabedoria, ou seja, o plano de Deus, não é validada pelas percepções humanas superficiais, mas pelos seus "filhos" — aqueles que a acolhem, vivem de acordo com ela e, assim, revelam sua verdade.
Teologicamente, a sabedoria de Deus não se manifesta de maneira óbvia ou convencional. Ela transcende as expectativas humanas e muitas vezes desafia os critérios de julgamento mundanos. A sabedoria divina se reflete nos ensinamentos, nas ações de Cristo e na revelação do Reino de Deus. No entanto, aqueles que são "filhos da sabedoria" são capazes de reconhecê-la, mesmo quando ela se apresenta de maneira inesperada ou desafiadora. Esses filhos não são necessariamente pessoas eruditas ou intelectuais, mas aqueles que têm um coração aberto à revelação divina, capazes de discernir o que é verdade, mesmo que esteja envolto em simplicidade ou paradoxo.
2. Filhos da Sabedoria: A Verdade Manifestada nas Obras
A expressão "filhos" aqui refere-se àqueles que aceitam e encarnam a sabedoria. O Evangelho aponta que a sabedoria é justificada, ou seja, é demonstrada como verdadeira e válida por seus frutos — as vidas transformadas de seus filhos. Esses filhos são os que vivem em harmonia com a vontade de Deus, demonstrando a verdade do evangelho não apenas por palavras, mas por ações concretas.
Na teologia cristã, a sabedoria não é meramente um conceito filosófico abstrato, mas uma realidade encarnada que se manifesta em atos de amor, misericórdia e justiça. A "justificação" da sabedoria ocorre quando aqueles que são transformados por ela refletem sua verdade em suas vidas. Isso aponta para uma sabedoria prática, ativa, que leva à verdadeira transformação espiritual e moral, em contraste com uma sabedoria puramente teórica ou especulativa.
3. Cristo como a Sabedoria Encarnada
No Novo Testamento, Cristo é frequentemente identificado como a Sabedoria de Deus (cf. 1 Coríntios 1:24). Jesus é a personificação da sabedoria divina, a "sabedoria que estava com Deus desde o princípio" (cf. Provérbios 8:22-31). Portanto, quando Jesus diz que "a sabedoria é justificada por todos os seus filhos", Ele está também falando de si mesmo e da sua missão. Aqueles que reconhecem e seguem Jesus como o caminho, a verdade e a vida tornam-se "filhos da sabedoria", ou seja, são aqueles que, pela sua fé e ações, justificam a sabedoria divina.
Cristo, como a Sabedoria encarnada, age de maneiras que desafiam as normas humanas: Ele se associa com os marginalizados, confronta os poderosos e oferece perdão em vez de condenação. Essas ações frequentemente eram vistas como insensatas ou contrárias às expectativas religiosas e culturais da época. No entanto, os "filhos da sabedoria" — os que seguiram Jesus e aceitaram sua mensagem — justificaram essas ações, mostrando que elas refletiam a verdadeira natureza de Deus.
4. Justificação da Sabedoria no Plano Escatológico
Finalmente, a expressão "justificada por todos os seus filhos" pode ser compreendida também à luz da perspectiva escatológica. Na plenitude dos tempos, a sabedoria de Deus será plenamente revelada e justificada diante de toda a criação. Aquilo que pode parecer insensato ou incompreensível aos olhos humanos hoje — a cruz, o sofrimento, o amor pelos inimigos — será justificado no fim, quando o Reino de Deus for consumado. Os filhos da sabedoria, aqueles que viveram segundo o evangelho de Cristo, serão a prova viva de que a sabedoria de Deus, muitas vezes rejeitada ou mal compreendida no presente, sempre foi o caminho verdadeiro para a vida eterna.
5. Aplicação Prática: A Sabedoria que Transforma
Essa frase nos desafia a sermos "filhos da sabedoria" nos dias de hoje. A sabedoria divina não se manifesta apenas em conhecimento teológico, mas em uma vida vivida em comunhão com a vontade de Deus. Somos chamados a justificar essa sabedoria com nossas ações: acolher os marginalizados, amar incondicionalmente, perdoar generosamente, agir com justiça e misericórdia. Ao vivermos assim, demonstramos que a sabedoria de Deus é verdadeira e transformadora.
Portanto, “a sabedoria é justificada por todos os seus filhos” significa que **aqueles que vivem segundo a vontade de Deus são a prova viva da verdade e validade da sabedoria divina**. Eles são a justificação concreta de que essa sabedoria, embora frequentemente rejeitada pelo mundo, é a que conduz à vida plena e eterna.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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