Liturgia Diária
28 – SÁBADO
25ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Evangelho: Lucas 9:43-45
A grandeza de Deus se manifesta, mesmo na entrega e no mistério; O Filho do Homem se entrega nas mãos dos homens, e nos chama ao profundo silêncio da fé.
Lucas 9,43-45
43 Todos estavam admirados com a grandeza de Deus. Enquanto todos se maravilhavam com tudo o que Jesus fazia, ele disse aos seus discípulos:
44 "Guardem bem isto: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens".
45 Mas eles não entendiam o que isso significava. Era-lhes encoberto para que não o compreendessem, e tinham receio de lhe perguntar a respeito dessa palavra.
Reflexão:
"O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens." (Lucas 9,44)
A revelação da entrega de Jesus nas mãos dos homens não é apenas um anúncio de sofrimento, mas um convite a transcendermos a compreensão imediata das circunstâncias. O mistério da paixão é um chamado a refletir sobre os processos de evolução espiritual que envolvem dor, transformação e nova vida. Assim como os discípulos não compreendiam, nossa mente humana frequentemente se limita diante dos mistérios profundos. É na aceitação do desconhecido e no processo contínuo de busca pela verdade que encontramos nossa real evolução, crescendo no amor divino e na comunhão com o cosmo.
HOMILIA
A Entrega e a Transcendência do Ser
Queridos irmãos e irmãs,
No Evangelho de Lucas 9,43-45, encontramos um momento significativo na vida de Jesus, onde Ele revela aos seus discípulos que “o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.” Esta frase, que pode parecer uma mera declaração de um destino trágico, carrega em si uma profundidade teológica e existencial que ressoa fortemente em nossos dias.
Vivemos tempos em que a entrega e o sacrifício assumem diversas formas em nossa sociedade. O sacrifício pode ser visto na luta diária por justiça social, nas batalhas contra as injustiças que afligem os mais vulneráveis e nas decisões que tomamos em prol do bem comum. A entrega de Cristo é um convite a reconhecermos que, para que a vida floresça em sua plenitude, muitas vezes precisamos deixar de lado nossos próprios interesses, e buscar a luz que nos une como comunidade.
O apóstolo Paulo nos lembra em suas cartas que somos chamados a viver não para nós mesmos, mas para os outros. A entrega de Jesus é a máxima expressão desse chamado. Ele nos ensina que a verdadeira grandeza não está em dominar, mas em servir. No contexto atual, em que a polarização e o egoísmo parecem dominar as relações, somos desafiados a ser agentes de amor e compaixão, refletindo a entrega de Cristo em nossas ações cotidianas.
Além disso, a passagem nos exorta a refletir sobre a relação entre a dor e a transcendência. Jesus sabia que sua entrega culminaria na cruz, mas também que essa cruz seria o caminho para a ressurreição. Da mesma forma, somos chamados a olhar além das dificuldades que enfrentamos e encontrar nelas a possibilidade de transformação e renovação. O sofrimento, quando vivido à luz do amor e da solidariedade, pode se tornar uma ponte para uma nova realidade.
Hoje, mais do que nunca, precisamos resgatar o sentido de comunidade e de pertencimento. A entrega de Cristo é um convite à reconciliação e à construção de um mundo onde o amor prevalece sobre a divisão. Ao olharmos para o nosso redor, que possamos ser luz em meio às trevas, promovendo a paz e a esperança.
Assim, ao contemplarmos a entrega de Cristo, que possamos também nos perguntar: como podemos nos entregar pelos outros? Como podemos fazer a diferença em nosso mundo? Que a resposta a essas perguntas nos guie em nossa jornada, permitindo que nossas vidas sejam um reflexo da entrega amorosa que Cristo nos ensinou.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase "O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens" (Lucas 9,44) carrega uma profunda carga teológica e revela verdades centrais do mistério cristão da salvação. Cada parte dessa sentença aponta para uma realidade que transcende o momento histórico da Paixão de Cristo e nos conduz ao coração da relação entre Deus, o mundo e o ser humano.
1. O Título "Filho do Homem"
Jesus frequentemente usa o título "Filho do Homem" para se referir a si mesmo, um título messiânico retirado do livro de Daniel (7,13-14), que retrata uma figura gloriosa recebendo de Deus poder e domínio eterno. Mas aqui, Jesus subverte as expectativas messiânicas tradicionais: o "Filho do Homem" não vem imediatamente como um conquistador triunfante, mas como alguém que será entregue ao sofrimento e à morte. Essa tensão entre a glória do título e a humilhação do destino é essencial para entender o mistério da redenção. Jesus revela que a verdadeira glória está no caminho da obediência, do sacrifício e do amor desinteressado.
2. "Vai ser entregue"
A entrega de Jesus não é um ato de fraqueza ou acaso histórico. Ao contrário, é uma entrega voluntária e parte do plano divino de redenção. Jesus, como o "Filho do Homem", não é um mero refém dos acontecimentos ou das autoridades humanas. Ele se entrega livremente, obediente à vontade do Pai, em conformidade com a economia da salvação. Essa "entrega" expressa a kenosis (auto-esvaziamento) divina, na qual o Filho de Deus assume a condição humana ao máximo, inclusive no sofrimento e na morte. Isso demonstra o profundo amor de Deus pela humanidade, que se manifesta em Jesus aceitando ser entregue por nós e por nossa salvação.
3. "Nas mãos dos homens"
A expressão "nas mãos dos homens" contrasta com a ideia de que o destino de Jesus estaria inteiramente nas mãos de Deus. Aqui, o Filho do Homem se coloca deliberadamente nas mãos daqueles que o rejeitam, dos pecadores, dos que não entendem o seu propósito. Isso simboliza a liberdade humana em seu estado de alienação de Deus. Jesus é entregue à humanidade não apenas no sentido de sua condenação física, mas também em um sentido espiritual mais profundo: ele é entregue ao mundo para que, através de sua morte e ressurreição, a humanidade possa ser redimida.
4. O Mistério da Entrega
Teologicamente, a entrega de Jesus é o ápice da aliança de Deus com o seu povo. A encarnação é o primeiro passo dessa entrega, mas é na Paixão que ela atinge sua plenitude. A entrega de Cristo aos seres humanos também simboliza a entrega de Deus ao mundo: Deus entra na história humana, sujeitando-se às suas dinâmicas, incluindo a rejeição e a violência, para transformar essa mesma história. É o mistério pascal — pela morte de Cristo, vem a vida; pela entrega, vem a redenção.
5. Cristo como Novo Adão
Essa entrega também pode ser vista no contexto da tipologia do Novo Adão. Assim como o primeiro Adão trouxe a humanidade ao pecado pela sua desobediência, o Novo Adão, Cristo, inverte essa realidade ao entregar-se em obediência. Essa entrega é a resposta definitiva ao pecado e à morte introduzidos pela queda. Ele se entrega para reabrir o caminho para Deus, restaurando a relação entre Deus e o ser humano, rompida no Éden.
6. A Cruz como Sabedoria de Deus
Por fim, essa entrega nas mãos dos homens revela a sabedoria de Deus, que subverte as expectativas humanas. Onde se vê fraqueza e derrota, Deus manifesta o poder da ressurreição. Onde os homens condenam o Filho, Deus o glorifica. A cruz, instrumento de humilhação, torna-se o símbolo da vitória divina sobre o pecado e a morte.
Portanto, a frase "O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens" nos chama a contemplar o mistério de um Deus que escolhe a vulnerabilidade para restaurar a criação. Essa entrega não é um fim, mas o início de uma nova era, onde a ressurreição transformará o aparente fracasso em triunfo definitivo.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Leia também:
#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão
#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração
#primeiraleitura #segundaleitura #santododia
Nenhum comentário:
Postar um comentário