Sto. Antônio de Sant'Ana Galvão
Evangelho - Lc 12,54-59
Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é
que não sabeis interpretar o tempo presente?
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas
12,54-59
Naquele tempo:
54Jesus dizia às multidões:
'Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente,
logo dizeis que vem chuva.
E assim acontece.
55Quando sentis soprar o vento do sul,
logo dizeis que vai fazer calor.
E assim acontece.
56Hipócritas! Vós sabeis interpretar
o aspecto da terra e do céu.
Como é que não sabeis interpretar o tempo presente?
57Por que não julgais por vós mesmos o que é justo?
58Quando, pois, tu vais com o teu adversário
apresentar-te diante do magistrado,
procura resolver o caso com ele
enquanto estais a caminho.
Senão ele te levará ao juiz,
o juiz te entregará ao guarda,
e o guarda te jogará na cadeia.
59Eu te digo: daí tu não sairás,
enquanto não pagares o último centavo.'
Palavra da Salvação.
Reflexão - Lc 12,
54-59
Devemos saber reconhecer o tempo em que estamos vivendo.
Vivemos os últimos tempos, o tempo pós-pascal. Tempo de edificação do Reino de
Deus na história dos homens. Tempo de fazer com que o mistério da cruz e da
ressurreição produzirem frutos de fraternidade, justiça e solidariedade. Tempo
de presença do Espírito Santo na vida de todos, tempo de crescimento no amor e
na verdade. Tempo de reconciliação, de construção da paz e da vida nova. Tempo
de sentir os apelos do reino que se manifestam na história, apelos para nos
comprometermos com os pequenos, apelos para celebrarmos o Deus atuante na
história.
OS SINAIS DOS TEMPOS
Lc 12,54-59
HOMILIA
Jesus lamenta que os seus ouvintes sejam capazes de
interpretar os sinais do tempo e não captem os sinais dos tempos que
representam a chegada do Reino de Deus entre eles. Não descobrem nele e nos
seus sinais a importância do momento em que vivem. Portanto, Jesus repreende os
seus contemporâneos, que sabem distinguir os sinais meteorológicos, mas não o
sinal que Ele mesmo é: o Filho Unigênito enviado pelo Pai para salvação de
todos. Compreender o tempo em que
vivemos é compreender as intenções de Deus que, em todo o tempo, sobretudo pelo
mistério da Igreja e dos sacramentos, torna atual o mistério de Jesus com toda
a sua eficácia salvífica.
Saber
fazer previsões do tempo, analisando os dados da meteorologia, implica uma
atenção interessada. Se não estivermos realmente interessados e atentos para
nos darmos conta da importância do tempo como tempo para exercer a justiça e a
caridade, corremos sério risco. Há que reconciliar-se radicalmente com aqueles
com que estamos em conflito. Caso contrário, podemos cair no redemoinho do
não-perdão, donde não sairemos sem danos. É como se Jesus apontasse o sinal do
tempo por excelência, que é Ele mesmo, como sinal de salvação, mas só para quem
se compromete a viver como reconciliado, isto é, na paz, na justiça e na
bondade.
É na
história que podemos compreender as intenções de Deus, e não fora dela. Daí a
atenção que devemos dar aos sinais dos tempos. Deus atua dentro do tempo. É
também no tempo que responde às nossas interrogações. Quantas vezes Lhe fazemos
perguntas na oração, e encontramos as respostas na vida. É, pois, no tempo que
havemos de ler os sinais de salvação e de perdição. O sinal de salvação por
excelência é sempre Cristo, com o seu mistério pascal. Ele salva-nos à medida
que, lendo os sinais dos tempos e confrontando-os com a Palavra, deixamos que
ela mesma, a Palavra, produza frutos em nós e no nosso tempo. Pondo em prática
a Palavra, permitimos a Deus fazer muito mais do que podemos esperar.
Um dos
sinais do nosso tempo é a chamada globalização, em que passamos de um mundo
dividido e fragmentado, àquilo a que M. McLuhan chamou de a «aldeia global». Os
meios de comunicação, que podem ser instrumentos de divisão e guerra, também
podem e devem tornar-se instrumentos de união e de paz. Para isso, todos os
homens de boa vontade, e particularmente nós, os crentes, havemos de superar a
tentação do individualismo, que fragmenta, e dar espaço à unificação da nossa
pessoa, e à união entre os homens. Como crentes, temos a certeza de que Cristo
habita no nosso coração e que, fundados e radicados na sua caridade, podemos ser
repletos da plenitude de Deus, e alcançar a unificação do coração e de todas as
nossas faculdades e forças, a unificação da nossa pessoa. S. Paulo indica-nos
os meios para isso: a humildade, a mansidão, a paciência, e o suportar amoroso
de nossas índoles.
A chave
que temos ao alcance da mão, para contribuirmos para a unidade entre os homens,
é procurar tudo o que une e deixar de parte tudo o que divide como dizia e
fazia João XXIII. Com essa chave chegaremos à unificação pessoal, comunitária,
eclesial, social e… planetária. Vivendo e realizando esse projeto, o nosso
tempo, que está sob o signo de Jesus, tornar-se-á um tempo de claridade,
iluminado pela luz da salvação. E, com Cristo e como Cristo, tornar-nos-emos
instrumentos de unidade e de paz. A exemplo do Fundador, sintonizando com os
sinais dos tempos e em comunhão com a vida da Igreja, queremos contribuir para
instaurar o reino da justiça e da caridade cristã no mundo; queremos participar
na construção da cidade terrena e na edificação do Corpo de Cristo
empenhando-nos sem reserva, no advento da nova humanidade.
Muitas
vezes nós, como os conterrâneos de Jesus, temos um coração duro. Não sabemos
olhar em profundidade e não descobrimos, ou não queremos descobrir, o sentido
dos acontecimentos; inclusive, olhamos para o outro lado se o que vemos nos
compromete.
Pai,
corrige a negligência que me impede de entregar-me inteiramente à ti, sem
demora. Torna-me hábil para as coisas do teu Reino! Cura a minha cegueira,
Senhor, e dá-me a luz do teu Espírito para ver a profundidade das pessoas.
Fonte Homilia: Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
Nenhum comentário:
Postar um comentário