Evangelho (Marcos 16,15-18)
Sexta-Feira, 25 de Janeiro de 2013
Conversão de São Paulo
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, 15e
disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!
16Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17Os
sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em
meu nome, falarão novas línguas; 18se pegarem em serpentes ou beberem algum
veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os
doentes, eles ficarão curados”.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Jesus envia os seus
discípulos
Celebramos hoje com toda a Igreja a conversão de São Paulo
Apóstolo, o grande missionário que levou o Evangelho para todos os cantos do
mundo, fundando, formando e orientando comunidades cristãs. Sabemos de sua
mudança de vida: de perseguidor do Evangelho de Cristo crucificado a redentor
da humanidade.
A questão central abordada no Evangelho de hoje é a do papel
dos discípulos no mundo, após a partida de Jesus ao encontro do Pai. O texto
consta de três cenas: Jesus ressuscitado define a missão dos discípulos; parte
ao encontro do Pai; os discípulos partem ao encontro do mundo, afim de
concretizar a missão que Jesus lhes confiou.
Na primeira cena (vers. 15-18), Jesus ressuscitado aparece
aos discípulos, acorda-os da letargia em que se tinham instalado e define a
missão que, doravante, eles serão chamados a desempenhar no mundo.
A primeira nota do envio e do mandato que Jesus dá aos
discípulos é a da universalidade. A missão deles destina-se a “todo o mundo” e
não deverá deter-se diante de barreiras rácicas, geográficas ou culturais. A
proposta de salvação que Jesus fez e que os discípulos devem testemunhar,
destina-se a toda a terra.
Depois, Jesus define o conteúdo do anúncio: o Evangelho. O
que é o Evangelho? No Antigo Testamento, essa palavra está ligada à “boa
notícia” da chegada da salvação para o Povo de Deus. Depois, na boca de Jesus,
a palavra “Evangelho” designa o anúncio de que o “Reino de Deus” chegou à vida
dos homens, trazendo-lhes a paz, a libertação, a felicidade. Para os
catequistas das primeiras comunidades cristãs, o Evangelho é o anúncio de um
acontecimento único, capital, fundamental: em Jesus Cristo, Deus veio ao encontro
dos homens, manifestou-lhes o seu amor, inseriu-os na sua família, convidou-os
a integrar a comunidade do Reino, ofereceu-lhes a vida definitiva. Tal é o
único e exclusivo Evangelho que muda o curso da história e transforma o sentido
e os horizontes da existência humana.
O anúncio do Evangelho obriga os homens a uma opção. Quem
aderir à proposta que Jesus faz, chegará à vida plena e definitiva (quem
acreditar e for batizado será salvo); mas quem recusar essa proposta, ficará à
margem da salvação (quem não acreditar será condenado – vers. 16).
O anúncio do Evangelho que os discípulos são chamados a
fazer vai atingir não só os homens, mas toda criatura. Muitas vezes, o homem,
guiado por critérios de egoísmo, de cobiça e de lucro, explora a criação, destrói
esse mundo “bom” e harmonioso que Deus criou. Mas a proposta de salvação que
Deus apresenta, destina-se a transformar o coração do homem, eliminando o
egoísmo e a maldade. Ao transformar o coração do homem, o Evangelho,
apresentado por Jesus e anunciado pelos discípulos, vai propor uma nova relação
do homem com todas as outras criaturas – uma relação não mais marcada pelo
egoísmo e pela exploração, mas pelo respeito e pelo amor. Dessa forma, nascerá
uma nova humanidade e uma nova natureza.
A presença da salvação de Deus no mundo tornar-se-á uma
realidade através dos gestos dos discípulos de Jesus. Comprometidos com Cristo,
os discípulos vencerão a injustiça e a opressão, “expulsarão os demônios em meu
nome”, serão arautos da paz e do entendimento dos homens, “falarão novas
línguas”, levarão a esperança e a vida nova a todos os que sofrem e que são
prisioneiros da doença e do sofrimento. Quando impuserem as mãos sobre os
doentes, eles ficarão curados; e, em todos os momentos, Jesus estará com eles,
ajudando-os a vencer as contrariedades e as oposições.
Na segunda cena (vers. 19), Jesus sobe ao céu e senta-se à
direita de Deus. A elevação de Jesus ao céu (ascensão) é uma forma de sugerir
que, após o cumprimento da sua missão no meio dos homens, Jesus foi ao encontro
do Pai e reentrou-se na comunhão d’Ele.
A entronização de Jesus “à direita de Deus” mostra, por sua
vez, a veracidade da proposta de Jesus. Na concepção dos povos antigos, aquele
que se sentava à direita de Deus era um personagem distinto que o rei queria
honrar de forma especial… Jesus, porque cumpriu com total fidelidade o projeto
de Deus para os homens, é honrado pelo Pai e sentado à sua direita. A proposta
que Jesus apresentou e que os discípulos acolheram e vão ser chamados a
testemunhar no mundo, não é uma aventura sem sentido e sem saída, mas é o
projeto de salvação que Deus quer oferecer aos homens.
Na terceira cena (vers. 20), descreve-se, resumidamente, a
ação missionária dos discípulos: eles partiram a pregar, ou seja, anunciar, com
palavras e gestos concretos, essa vida nova que Deus ofereceu aos homens
através de Jesus por toda a parte, propondo a todos eles, sem exceção, a
proposta salvadora de Deus.
O autor desta catequese assegura aos discípulos que eles não
estão sozinhos ao longo desta missão. Jesus, vivo e ressuscitado, está com
eles, coopera com eles e manifesta-se ao mundo nas palavras e nos gestos dos
discípulos.
A festa da Ascensão de Jesus é, sobretudo, o momento em que
os discípulos tomam consciência da sua missão e do seu papel no mundo. A Igreja
(a comunidade dos discípulos, reunida à volta de Jesus, animada pelo Espírito)
é, essencialmente, uma comunidade missionária, cuja missão é testemunhar no
mundo a proposta de salvação e de libertação que Jesus veio trazer aos homens.
É um tremendo desafio testemunhar, hoje, no mundo, os
valores do “Reino” (esses valores que, muitas vezes, estão em contradição com
aquilo que o mundo defende e que o mundo considera serem as prioridades da
vida). Com freqüência, os discípulos de Jesus são objeto da irrisão e do
escárnio dos homens, porque insistem em testemunhar que a felicidade está no
amor e no dom da vida. Com freqüência, os discípulos de Jesus são apresentados
como vítimas de uma máquina de escravidão, que produz escravos, alienados,
vítimas do obscurantismo, porque insistem em testemunhar que a vida plena está
no perdão, no serviço, na entrega da vida.
O confronto com o mundo gera, muitas vezes, desilusão,
sofrimento e frustração nos discípulos. Nos momentos de decepção e de desilusão,
convém recordar-se das Palavras de Jesus: “eu estarei convosco até ao fim dos
tempos”. Esta certeza deve alimentar a coragem com que testemunhamos aquilo em
que acreditamos.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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