Evangelho (João 1,19-28)
Quarta-Feira, 2 de Janeiro de 2013
Ss. Basílio Magno e Gregório Nazianzeno
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.
19Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram
de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar: “Quem és tu?” 20João
confessou e não negou. Confessou: “Eu não sou o Messias”. 21Eles perguntaram:
“Quem és, então? És Elias?” João respondeu: “Não sou”. Eles perguntaram: “És o
Profeta?” Ele respondeu: “Não”. 22Perguntaram então: “Quem és, afinal? Temos de
levar uma resposta àqueles que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?” 23João
declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” —
conforme disse o profeta Isaías. 24Ora, os que tinham sido enviados pertenciam
aos fariseus 25e perguntaram: “Por que então andas batizando, se não és o
Messias, nem Elias, nem o Profeta?” 26João respondeu: “Eu batizo com água; mas
no meio de vós está aquele que vós não conheceis, 27e que vem depois de mim.
Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias”. 28Isso aconteceu em
Betânia além do Jordão, onde João estava batizando.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Preparai o caminho do
Senhor
João Batista, o precursor do Messias Jesus, nos ensina a dar
testemunho de nossa fé cristã: não somos mais que uma voz que clama, no deserto
deste mundo violento e injusto, que em Jesus Deus nos visitou definitivamente,
para mostrar-nos seu amor, sua misericórdia e ternura, para desatar as cadeias
de nossas opressões, para batizar-nos não com água, mas com o fogo de seu
Espírito, que nos transformará em homens e mulheres de paz, justiça e
solidariedade.
Mais uma vez, a figura central do evangelho de hoje é o
Precursor, João Batista. Essa vez, num texto tirado do Evangelho de João, o
Batista é apresentado como testemunha de Jesus. Ele assume a identidade de quem
veio gritar “Aplainai o caminho do Senhor”, usando uma frase tirada de Isaías
40,3. No texto de Isaías, esta frase é usada para preparar o Novo Êxodo, a
volta dos exilados do cativeiro na Babilônia, no início do tal chamado “Livro
da Consolação de Israel” (Is 40-55). A mensagem de João Batista também prepara
o povo para um evento de grande alegria – a vinda do Messias, Jesus de Nazaré!
Nesse texto, já no primeiro capítulo do Evangelho de João,
entram em cena os que serão mais tarde os adversários de Jesus – as autoridades
dos judeus. Embora às vezes no Quarto Evangelho o termo “os judeus” designa o
povo de Israel em geral (cf.3,25;4,9.22 etc), aqui, como na maioria das vezes,
o termo significa os representantes dum mundo que não compreende, e
eventualmente hostiliza Jesus. Nesse sentido, ele caracteriza especialmente as
autoridades religioso-políticas do judaísmo da época – os sacerdotes, fariseus
e escribas.
Atrás do texto também dá para entrever a tensão que existia
dentro da comunidade do discípulo amado entre os seguidores de João Batista e
de Jesus. Por isso a insistência no texto em informar que João “não era o
Cristo”, mas testemunha do fato de que Jesus era o enviado de Deus.
No mais, o evangelho retoma a mensagem dum convite para que
todos nós preparemos o caminho do senhor. “Aplainai o caminho do Senhor”
significa facilitar a sua chegada entre nós, tirando das nossas vidas tudo que
possa impedir um encontro real com Jesus. No nível individual, aqui há um
convite para uma conversão pessoal, que é um processo contínuo na vida de todos
nós. Mas também há o desafio para que nos empenhemos na luta contra tudo que
possa diminuir a vida humana – tudo que causa sofrimento aos nossos irmãos e
irmãs. Pois o pecado que existe no mundo não é somente pessoal, mas também
social – muito mais do que a soma dos erros individuais. O pecado social se
manifesta nas estruturas sociais injustas e opressoras, que tiram de tanta
gente a dignidade dos filhos de Deus. A voz do Precursor, como a de Isaías
quinhentos anos antes dele, nos desafia para que a nossa conversão pessoal
também se manifeste no esforço para a construção dum mundo mais digno, justo,
humano e fraterno – o mundo que Jesus veio estabelecer.
Também nos ensina o Batista que não devemos interpor-nos
entre Jesus, o enviado, o filho de Deus, e tantas pessoas que querem conhecê-lo
e segui-lo. Não podemos pregar a nós mesmos, pretender que acreditem em nós, em
nossos particulares interesses e propósitos. Não podemos pretender impor nossa
mensagem à força ou aproveitando-nos das necessidades dos pobres e dos
pecadores que queiram recebê-lo, ou desprezando-os por sua condição.
O profeta do Jordão proclama que Jesus está no meio de nós
sem que o conheçamos, sem que o tenhamos descoberto. Até o lugar onde João
prega e batiza é significativo: a outra margem do Jordão, uma aldeia perdida
que não é a Betânia próxima a Jerusalém, mas o deserto agreste e inóspito para
onde vão buscá-lo os que esperam a Deus. É o que hoje denominamos “a
periferia”, opondo-a aos centros do poder econômico, político e até mesmo
religioso. Os imensos e supervoados bairros de nossas grandes cidades, cheios de
camponeses imigrantes, de pobres trabalhadores informais, sempre beirando a
miséria absoluta. Ali estão os que de verdade esperam escutar a voz que clama
no deserto: Preparai o caminho do Senhor! Sejas tu meu irmão minha irmã essa
voz que gritando também convida todo o mundo a acolher Jesus o Senhor que
nasceu nos nossos corações.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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