Evangelho (Marcos 1,40-45)
Quinta-Feira, 17 de Janeiro de 2013
Santo Antão
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 40um leproso chegou perto de Jesus, e de
joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. 41Jesus, cheio de
compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” 42No
mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado.
43Então Jesus o mandou logo embora, 44falando com firmeza:
“Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela
tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” 45Ele foi e
começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais
entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda
parte vinham procurá-lo.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Jesus cura o leproso
Pouco a pouco o Evangelho de Marcos vai mostrando quem é
Jesus. O episódio de hoje é o terceiro milagre recordado em vista desse
objetivo.
Já vimos, na I leitura, a situação de marginalidade em que
se encontrava o leproso. Essa situação era mais grave no tempo de Jesus, pois
tudo girava em torno do puro/impuro. Quem controlava esse rígido código de
pureza eram os sacerdotes. Cabia a eles declarar o que podia ou não podia ter
acesso a Deus. Deus estaria sob o controle dos sacerdotes e do código de
pureza.
O leproso certamente sabia disso. Sabia também que sua vida
– e sua libertação da marginalidade – não dependiam do Templo e dos sacerdotes,
pois estes só constatavam a cura ou a permanência da doença em seu corpo.
Diante disso, o leproso toma uma decisão radical: não vai ao sacerdote, e sim a
Jesus. Ajoelha-se diante dele e pede: “Se quiseres, podes curar-me”. Reconhece
que o poder da cura que o tira da marginalidade não vem da religião dos
sacerdotes, e sim de Jesus. Notemos outro aspecto importante: ao invés de ficar
à distância e gritar sua marginalização, aproxima-se e manifesta sua adesão a
Jesus enquanto fonte de libertação e vida: “Se quiseres, podes curar-me”. Viola
a lei para ser curado.
Jesus quer curar o leproso de sua marginalização,
devolvendo-lhe a vida. Para os homens daquele tempo, curar um leproso era
sinônimo de ressuscitar um morto. Mas a ação de Jesus é precedida por uma
reação. De acordo com a maioria das traduções, a reação de Jesus se traduz em
compaixão. Algumas traduções, porém, em vez de ler “compaixão”, lêem “ira”.
Jesus teria ficado furioso. Não certamente contra o leproso, mas contra o
código de pureza que, em nome de Deus, marginaliza as pessoas, considerando-as
como mortas. É contra esse sistema religioso que Jesus se revolta. E o
transgride também.
De fato, acreditava-se que a lepra fosse contagiosa. Jesus
quebra o código de pureza, tocando o leproso. Com isso, de acordo com o sistema
religioso vigente, torna-se impuro: torna-se leproso e fonte de contaminação.
Por exemplo no Lv 5,5-6, além de ficar impuro Jesus deveria oferecer um
sacrifício!. Torna-se marginalizado e não poderá mais entrar publicamente numa
cidade: deverá ficar fora, em lugares desertos, como os marginalizados. O Filho
de Deus foi morar com os marginalizados. Aqui o Evangelho de Marcos mostra quem
é Jesus: é aquele que rompe os esquemas fechados de uma religião elitista e
segregadora, indo habitar entre os banidos do convívio social.
Curado o leproso, Jesus o expulsa. É esse o sentido da
expressão “o mandou logo embora”. A expressão é forte e, ao mesmo tempo,
estranha. Mas não é estranha se a lermos na ótica da ira de Jesus contra o
código de pureza que marginaliza as pessoas: ele não quer que elas continuem
vítimas de um sistema social e religioso que rouba a vida.
Jesus dá uma ordem ao curado: “Não conte isso a ninguém! Vá,
mostre-se ao sacerdote e ofereça o sacrifício que Moisés mandou, como prova
para eles!” Tudo leva a crer que a tarefa da pessoa curada consiste não em
divulgar o milagre, mas em colaborar para que o código de pureza seja abolido.
De fato, ele deverá se mostrar ao sacerdote para que este constate sua cura.
Sinal de que a cura não depende do código de pureza, nem da religião do Templo.
A expressão “como prova para eles” tem este sentido: o sacrifício serve como
testemunho contra o sistema que o declarava um punido por Deus e banido do
convívio social. O sacrifício tem, pois, caráter de denúncia e de abolição do
código de pureza.
Não sabemos se a pessoa curada teve a coragem de testemunhar
contra o sistema religioso que o mantinha na marginalidade. Marcos diz que o
curado “foi e começou a contar e a divulgar muito o fato” (v. 45a). A reação a
esse anúncio é evidente: Jesus não pode mais entrar numa cidade, pois, segundo
o código de pureza, está contaminado e é fonte de contaminação. Todavia, de
toda parte o povo vai procurá-lo, sinal de que está aberto um novo acesso a
Deus. Deus, em seu Filho, pode ser encontrado fora, na clandestinidade, entre
os que o sistema religioso e social discriminou.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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