Evangelho (Marcos 1,14-20)
Segunda-Feira, 14 de Janeiro de 2013
1ª Semana Comum
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
14Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a
Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15“O tempo já se completou e
o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos, e crede no Evangelho!”
16E, passando à beira do mar da Galileia, viu Simão e André,
seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17Jesus lhes
disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. 18E eles, deixando imediatamente
as redes, seguiram a Jesus.
19Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos
de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; 20e logo os chamou. Eles
deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Início do ministério
público de Jesus
João Batista foi preso por Herodes que, como os chefes
religiosos de Israel, temia a popularidade de João e a contestação que fazia do
sistema opressor sob o qual o povo vivia. Após a prisão, Jesus retorna à
Galiléia, que é um território predominantemente gentílico. Aí, Jesus desenvolve
seu ministério, com o mesmo anúncio de João Batista, da proximidade do Reino e
da conversão à justiça.
Marcos, bem como Mateus e Lucas, narram o chamado dos
primeiros discípulos às margens do Mar da Galiléia. O evangelho de João narra
este chamado já na ocasião do batismo de Jesus, quando alguns discípulos de
João Batista se dispõem a seguir Jesus. O chamado, narrado em estilo sumário,
na realidade se fez em um clima de diálogo e conhecimento mútuo. Assim como
Jesus abandonou sua rotina de vida em Nazaré, também seus discípulos abandonam
seu antigo sistema de vida, não para fugirem do mundo, mas para iniciarem uma
nova prática social alternativa, de justiça e paz.
Segundo a narração de Marcos (1, 16-29) e de Mateus (4,
18-22), o cenário da vocação dos primeiros Apóstolos é o lago da Galileia.
Jesus acabara de iniciar a pregação do Reino de Deus, quando o seu olhar se
pousou sobre dois pares de irmãos: Simão e André, Tiago e João. São pregadores,
empenhados no seu trabalho quotidiano. Lançam as redes, consertam-nas. Mas
outra pesca os aguarda. Jesus chama-os com decisão e eles seguem-no
imediatamente: agora serão “pescadores de homens” (cf. Mc 1, 17; Mt 4, 19).
Lucas, ainda que siga a mesma tradição, faz uma narração mais elaborada (5,
1-11). Ele mostra o caminho de fé dos primeiros discípulos, esclarecendo que o
convite para o seguimento lhes chega depois de terem ouvido a primeira pregação
de Jesus e experimentam os primeiros sinais prodigiosos por ele realizados. Em
particular, a pesca milagrosa constitui o contexto imediato e oferece o símbolo
da missão de pescadores de homens, que lhes foi confiada. O destino destes
“chamados”, de agora para o futuro, estará intimamente ligado ao de Jesus. O
apóstolo é um enviado mas, ainda antes, um “perito” em Jesus.
Precisamente este é o aspecto realçado pelo evangelista João
desde o primeiro encontro de Jesus com os futuros Apóstolos. Aqui o cenário é
diferente. A presença dos futuros discípulos, provenientes também eles, como
Jesus, da Galileia para viver a experiência do baptismo administrado por João,
esclarece o seu mundo espiritual. Eram homens na expectativa do Reino de Deus,
desejosos de conhecer o Messias, cuja vinda estava anunciada como iminente.
Para eles, é suficiente a orientação de João Baptista que
indica em Jesus o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 36), para que surja neles o
desejo de um encontro pessoal com o Mestre. As frases do diálogo de Jesus com
os primeiros dois futuros Apóstolos são muito expressivas. À pergunta: “Que
procurais?”, eles respondem com outra pergunta: “Rabi (que quer dizer Mestre),
onde moras?”. A resposta de Jesus é um convite: “Vinde e vereis” (cf. Jo 1,
38-39). Vinde para poder ver. A aventura dos Apóstolos começa assim, como um
encontro de pessoas que se abrem reciprocamente. Começa para os discípulos um
conhecimento directo do Mestre. Vêem onde mora e começam a conhecê-lo. De
facto, eles não deverão ser anunciadores de uma ideia, mas testemunhas de uma
pessoa. Antes de serem enviados a evangelizar, deverão “estar” com Jesus (cf.
Mc 3, 14), estabelecendo com ele um relacionamento pessoal. Sobre esta base, a
evangelização não será mais do que um anúncio daquilo que foi experimentado e
um convite a entrar no mistério da comunhão com Cristo (cf. 1 Jo 13).
A quem serão enviados os Apóstolos? No Evangelho parece que
Jesus limita a sua missão unicamente a Israel: “Não fui enviado senão às
ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15, 24). De modo análogo parece que ele
circunscreve a missão confiada aos Doze: “Jesus enviou estes Doze, depois de
lhes ter dado as seguintes instruções: “Não sigais pelo caminho dos gentios,
nem entreis em cidade de samaritanos. Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas
da casa de Israel”” (Mt 10, 5s.). Uma certa crítica moderna de inspiração
racionalista tinha visto nestas expressões a falta de uma consciência
universalista do Nazareno. Na realidade, elas devem ser compreendidas à luz da
sua relação especial com Israel, comunidade da aliança, em continuidade com a
história da salvação. Segundo a expectativa messiânica as promessas divinas,
imediatamente dirigidas a Israel, ter-se-iam concretizado quando o próprio
Deus, através do seu Eleito, reunisse o seu povo, como faz um pastor com o
rebanho: “Eu virei em socorro das minhas ovelhas, para que elas não mais sejam
saqueadas… Estabelecerei sobre elas um único pastor, que as apascentará, o meu
servo David; será ele que as levará a pastar e lhes servirá de pastor. Eu, o
Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo David será um príncipe no meio delas”
(Ez 34, 22-24). Jesus é o pastor escatológico, que reúne as ovelhas perdidas da
casa de Israel e vai à procura delas, porque as conhece e ama (cf. Lc 15, 4-7 e
Mt 18, 12-14; cf. também a figura do bom pastor em Jo 10, 11ss.). Através desta
“reunião” o Reino de Deus é anunciado a todas as nações: “Manifestarei a minha
glória entre as nações, e todas me verão executar a minha justiça e aplicar a
minha mão sobre eles” (Ez 39, 21). E Jesus segue precisamente este caminho profético.
O primeiro passo é a “reunião” do povo de Israel, para que assim todas as
nações, chamadas a reunirem-se na comunhão com o Senhor, possam ver e crer.
Assim os Doze, chamados a participar na mesma missão de
Jesus, cooperam com o Pastor dos últimos tempos, indo também eles, em primeiro
lugar, até às ovelhas perdidas da casa de Israel, isto é, dirigindo-se ao povo
da promessa, cuja reunião é o sinal de salvação para todos os povos, o início
da universalização da Aliança. Longe de contradizer a abertura universalista da
acção messiânica do Nazareno, a inicial limitação a Israel da sua missão e da
dos Doze torna-se assim o seu sinal profético mais eficaz. Depois da paixão e
da ressurreição de Cristo este sinal será esclarecido: o carácter universal da
missão dos Apóstolos tornar-se-á mais explícito. Cristo enviará os Apóstolos “a
todo o mundo” (Mc 16, 15), a “todas as nações” (Mt 28, 19); (Lc 24, 47), “até
aos extremos confins da terra” (At 1, 8). E esta missão continua. Continua
sempre o mandato do Senhor de reunir os povos na unidade do seu amor. Esta é a
nossa esperança e este é também o nosso mandato: contribuir para esta
universalidade, para esta verdadeira unidade na riqueza das culturas, em
comunhão com o nosso verdadeiro Senhor Jesus Cristo.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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