Evangelho (João 2,1-11)
Sexta-Feira, 12 de Outubro de 2012
Nossa Senhora Aparecida
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, + segundo João.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, 1houve um casamento em Caná da Galileia. A
mãe de Jesus estava presente. 2Também Jesus e seus discípulos tinham sido
convidados para o casamento. 3Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe
disse: “Eles não têm mais vinho”.
4Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes isto a mim?
Minha hora ainda não chegou”.
5Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele
vos disser”.
6Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a
purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou
menos cem litros.
7Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de
água”. Encheram-nas até a boca. 8Jesus disse: “Agora tirai e levai ao
mestre-sala”. E eles levaram. 9O mestre-sala experimentou a água que se tinha
transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo
sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água.
10O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo
mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão
embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho bom até agora!”
11Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em
Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Em Caná Maria inicia a caminho da fé da Igreja
Ao narrar a presença de Maria na vida pública de Jesus, João
nos recorda a sua participação em Caná, por ocasião do primeiro milagre: “Nas
bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus Messias a dar início aos Seus
milagres”. João salienta neste Evangelho de hoje o papel discreto e, ao mesmo
tempo, eficaz da Mãe que, com a sua palavra, leva o filho ao “primeiro sinal“.
Ela, embora exerça uma influência discreta e materna, com a sua presença resulta,
no final, algo determinante. A iniciativa da Virgem aparece ainda mais
surpreendente se considerarmos a condição de inferioridade da mulher na
sociedade judaica.
Em Caná, com efeito, Jesus não só reconhece a dignidade e o
papel do gênero feminino mas, acolhendo a intervenção de Sua Mãe, oferece-lhe a
possibilidade de ser partícipe na obra da salvação. Não contraria com esta
intenção de Jesus o apelativo “Mulher“, com o qual Ele se dirige a Maria. Ele,
de fato, não contém em si nenhuma conotação negativa e será de novo usado por
Jesus em relação à Mãe, aos pés da Cruz (cf. Jo. 19, 26). Segundo alguns
intérpretes, este título “mulher” apresenta Maria como a nova Eva, Mãe de todos
os crentes na fé.
O evangelista usa a expressão “movida de compaixão“, deixando
entender que Maria era inspirada pelo seu coração misericordioso. Tendo notado
a eventualidade da tristeza dos esposos e dos convidados pela falta de vinho, a
Virgem compadecida sugere a Jesus que intervenha com o seu poder salvador. A
alguns o pedido de Maria parece desproporcionado, porque subordina a um ato de
piedade o início dos milagres do Messias. À dificuldade respondeu Jesus mesmo
que, com o seu assentimento à solicitação materna, demonstra a superabundância
com que o Senhor responde as expectativas humanas, manifestando também quanto
pode o amor de uma Mãe.
A expressão “dar início aos milagres” chama a nossa atenção.
O termo início, princípio, foi usado por João no prólogo do seu Evangelho: “No
principio já existia o Verbo” (1, 1). Esta coincidência induz a estabelecer um
paralelo entre a primeira origem da glória de Cristo na eternidade e a primeira
manifestação da mesma glória na sua missão terrena. Ressaltando a iniciativa de
Maria no primeiro milagre e recordando depois a sua presença no Calvário, aos
pés da Cruz, o evangelista ajuda a compreender como a cooperação de Maria se
estende à inteira obra de Cristo.
O pedido da Virgem coloca-se no interior do desígnio divino
de salvação. No primeiro sinal operado por Jesus os Padres da Igreja divisaram
uma forte dimensão simbólica, acolhendo, na transformação da água em vinho, o
anúncio da passagem da antiga à nova Aliança. Em Caná precisamente a água das
jarras, destinada à purificação dos Judeus e ao cumprimento das prescrições
legais (cf. Mc. 7, 1-15), torna-se o vinho novo do banquete nupcial, símbolo da
união definitiva entre Deus e a humanidade.
O contexto de um banquete de núpcias, escolhido por Jesus
para o Seu primeiro milagre, remete ao simbolismo matrimonial, freqüente no
Antigo Testamento para indicar a Aliança entre Deus e o Seu povo e no Novo
Testamento para significar a união de Cristo com a Igreja.
A presença de Jesus em Caná manifesta, além disso, o projeto
salvífico de Deus a respeito do matrimônio. Nessa perspectiva, a falta de vinho
pode ser interpretada como alusiva à falta de amor, que infelizmente, não raro,
ameaça a união esponsal. Maria pede a Jesus que intervenha em favor de todos os
esposos, que só um amor fundado em Deus pode libertar dos perigos da
infidelidade, da incompreensão e das divisões.
A graça do Sacramento oferece aos esposos esta força
superior de amor, que pode corroborar o empenho da fidelidade também nas
circunstâncias difíceis. Segundo a interpretação dos autores cristãos, o
milagre de Caná contém, além disso, um profundo significado eucarístico.
Realizando-o na proximidade da solenidade da Páscoa judaica, Jesus manifesta,
como na multiplicação dos pães, a intenção de preparar o verdadeiro banquete
pascal, a Eucaristia. Esse desejo, nas bodas de Caná, parece sublinhado ainda
mais pela presença do vinho, que alude ao sangue da Nova aliança, e pelo
contexto de um banquete. Desse modo Maria, depois de ter estado na origem da
presença de Jesus na festa, obtém o milagre do vinho novo, que prefigura a
Eucaristia, sinal supremo da presença do seu Filho ressuscitado entre os
discípulos.
No final da narração do primeiro milagre de Jesus, que se
tornou possível pela fé sólida da Mãe do Senhor no seu divino Filho, o
evangelista João conclui: “Os Seus discípulos acreditaram n’Ele“. Em Caná Maria
inicia o caminho da fé da Igreja, precedendo os discípulos e orientando para
Cristo a atenção dos servos. A sua perseverante intercessão encoraja, além
disso, aqueles que às vezes se encontram diante da experiência do “silêncio de
Deus”. Eles são convidados a esperar para além de toda a esperança, confiando
sempre na bondade do Senhor.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova
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