quarta-feira, 19 de março de 2014

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Jo 4,5-42 - 23.03.2014 - Uma fonte de água que jorra para a vida eterna.

Pai,
em Jesus,
tu nos destes um dom precioso.
Dá-me a graça de reconhecê-lo
e acolhê-lo, cheio de fé,
e deixar minha vida ser transformada por ele.
Roxo. 3º Domingo Quaresma

Evangelho - Jo 4,5-42

Uma fonte de água que jorra para a vida eterna.

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João 4,5-42

Naquele tempo:
5Jesus chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar,
perto do terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José.
6Era aí que ficava o poço de Jacó.
Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço.
Era por volta do meio-dia.
7Chegou uma mulher da Samaria para tirar água.
Jesus lhe disse: 'Dá-me de beber'.
8Os discípulos tinham ido à cidade
para comprar alimentos.
9A mulher samaritana disse então a Jesus:
'Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber
a mim, que sou uma mulher samaritana?'
De fato, os judeus não se dão com os samaritanos.
10Respondeu-lhe Jesus:
'Se tu conhecesses o dom de Deus
e quem é que te pede: 'Dá-me de beber`,
tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva.'
11A mulher disse a Jesus:
'Senhor, nem sequer tens balde e o poço é fundo.
De onde vais tirar a água viva?
12Por acaso, és maior que nosso pai Jacó,
que nos deu o poço e que dele bebeu,
como também seus filhos e seus animais?'
13Respondeu Jesus:
'Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo.
14Mas quem beber da água que eu lhe darei,
esse nunca mais terá sede.
E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de
água que jorra para a vida eterna.'
15A mulher disse a Jesus:
'Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais
sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la.'
16Disse-lhe Jesus:
'Vai chamar teu marido e volta aqui'.
17A mulher respondeu: 'Eu não tenho marido'.
Jesus disse:
'Disseste bem, que não tens marido,
18pois tiveste cinco maridos,
e o que tens agora não é o teu marido.
Nisso falaste a verdade.'
19A mulher disse a Jesus:
'Senhor, vejo que és um profeta!
20Os nossos pais adoraram neste monte
mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar'.
21Disse-lhe Jesus: 'Acredita-me, mulher:
está chegando a hora em que nem neste monte,
nem em Jerusalém adorareis o Pai.
22Vós adorais o que não conheceis.
Nós adoramos o que conhecemos,
pois a salvação vem dos judeus.
23Mas está chegando a hora, e é agora,
em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e verdade.
De fato, estes são os adoradores que o Pai procura.
24Deus é espírito e aqueles que o adoram
devem adorá-lo em espírito e verdade.'
25A mulher disse a Jesus:
'Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar.
Quando ele vier,
vai nos fazer conhecer todas as coisas'.
26Disse-lhe Jesus:
'Sou eu, que estou falando contigo'.
27Nesse momento, chegaram os discípulos e ficaram
admirados de ver Jesus falando com a mulher.
Mas ninguém perguntou: 'Que desejas?'
ou: 'Por que falas com ela?'
28Então a mulher deixou o seu cântaro
e foi à cidade, dizendo ao povo:
29'Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz.
Será que ele não é o Cristo?'
30O povo saiu da cidade e foi ao encontro de Jesus.
31Enquanto isso, os discípulos insistiam
com Jesus, dizendo: 'Mestre, come'.
32Jesus, porém disse-lhes:
'Eu tenho um alimento para comer que vós não
conheceis'.
33Os discípulos comentavam entre si:
'Será que alguém trouxe alguma coisa para ele comer?'
34Disse-lhes Jesus:
'O meu alimento é fazer a vontade daquele
que me enviou e realizar a sua obra.
35Não dizeis vós:
`Ainda quatro meses, e aí vem a colheita!`
Pois eu vos digo: Levantai os olhos e vede os campos:
eles estão dourados para a colheita!
36O ceifeiro já está recebendo o salário,
e recolhe fruto para a vida eterna.
Assim, o que semeia se alegra junto com o que colhe.
37Pois é verdade o provérbio que diz:
`Um é o que semeia e outro o que colhe`.
38Eu vos enviei para colher aquilo que não trabalhastes.
Outros trabalharam e vós entrastes no trabalho deles.'
39Muitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em
Jesus, por causa da palavra da mulher que testemunhava:
`Ele me disse tudo o que eu fiz.`
40Por isso, os samaritanos vieram ao encontro de Jesus
e pediram que permanecesse com eles.
Jesus permaneceu aí dois dias.
41E muitos outros creram por causa da sua palavra.
42E disseram à mulher:
'Já não cremos por causa das tuas palavras,
pois nós mesmos ouvimos e sabemos,
que este é verdadeiramente o salvador do mundo.'
Palavra da Salvação.
Fonte CNBB




REFLEXÃO
Iluminada e saciada, ela se torna discípula.

Com o evangelho de hoje estamos, certamente, diante de uma das páginas mais belas do evangelho. Aquela mulher samaritana, ao redor do poço de Jacó, nasceu para a fé em Jesus Cristo, como nós na fonte batismal fomos gerados para a vida de fé, a fim de vivermos como um povo consagrado ao Senhor.
O trecho do livro do Êxodo nos recorda um momento da longa travessia do povo de Deus pelo deserto, ao longo de quarenta anos. O povo que empreendeu a travessia pôde experimentar, não obstante sua infidelidade e suas resistências, a fidelidade de Deus, sua paciência, sua generosidade, seu cuidado, sua ternura. O povo murmura porque não tem água. Nós que ouvimos o evangelho, e renascemos nas águas do Batismo, sabemos que aquela água que faltava ao povo e que lhe foi dada por Deus era a prefiguração da água dada por Jesus Cristo, uma água que mata definitivamente a sede. Sem água a vida está profundamente ameaçada. Não só a vida pessoal, mas a unidade do povo de Deus. Queriam, diz o nosso texto, apedrejar Moisés. Diante da dificuldade, duvidaram de Deus, da sua promessa e da sua fidelidade. Só põe em questão a fidelidade e a lealdade de Deus quem não é capaz de ser fiel e leal. É preciso, sustentados pelo cuidado de Deus que nos acompanha na travessia da história, lutarmos contra o medo, o desespero, a murmuração.
Era meio-dia quando do encontro de Jesus com a samaritana, ao redor do poço de Jacó, lugar de tantos encontros que transformaram a vida das pessoas. Foi lá que Jacó se apaixonou por Raquel. A observação da hora parece querer fazer o leitor compreender que, diante de Jesus, estamos em plena luz do dia. Aquele que é a “luz do mundo” ilumina também a Samaria, desprezada pelos outros judeus. O diálogo entre Jesus e aquela mulher é catequético, cuja finalidade é despertar a fé, o desejo da água que ela não podia recolher de nenhum poço; água que é dada somente pelo único Senhor da vida. Dando ouvidos a Jesus, ela poderá exprimir o desejo pela água que faz viver. O cântaro da purificação é superado pela água do Espírito Santo derramado no coração dela, lei interna da caridade. Iluminada e saciada, ela se torna discípula, testemunha de Jesus Cristo. Essa mesma água nos foi dada por ocasião do nosso Batismo.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj – Paulinas



O DESEJO DA ETERNIDADE Jo 4,5-42
HOMILIA

                À samaritana e a todos os que de alguma forma se reconhecem em sua situação, Jesus faz uma proposta radical no Evangelho deste domingo: buscar outra «água», dar um sentido e um horizonte novo à própria vida. Um horizonte eterno! «A água que eu lhe darei se converterá nela em fonte de água que brota para a vida eterna.» Eternidade é uma palavra que caiu em «desuso». Converteu-se em uma espécie de tabu para o homem moderno. Crê-se que este pensamento pode afastar do compromisso histórico concreto para mudar o mundo, que é uma evasão, um «despertar no céu os tesouros destinados à terra», dizia Hegel.
Mas qual é o resultado? A vida, a dor humana, tudo se torna imensamente mais absurdo. Perdeu-se a medida. Se na nossa vida faltar a visão da eternidade, todo sofrimento, todo sacrifício parece absurdo, desproporcionado, nos «desequilibra», derruba-nos. São Paulo escreveu: «A leve tribulação de um momento nos produz, sobre toda medida, um pesado caudal de glória eterna». Em comparação com a eternidade da glória, o peso da tribulação lhe parece «leve» (a ele, que sofreu tanto na vida!) precisamente porque é «passageiro». Com efeito, acrescenta:
«As coisas visíveis são passageiras, mas as invisíveis são eternas» (2 Cor 4, 17-18). Já para o filósofo Miguel de Unamuno, dizia a um amigo que reprovava, como se fosse orgulho ou presunção, sua busca de eternidade, respondia nestes termos: «Não digo que mereçamos um mais além, nem que a lógica o demonstre; digo que precisamos, mereçamos ou não, simplesmente. Digo que o que passa não me satisfaz, que tenho sede de eternidade, e que sem esta tudo me é indiferente. Sem ela, já não existe alegria de viver... É fácil demais afirmar: ‘Devemos viver, devemos conformar-nos com esta vida’. E os que não se conformam?». Não é que quem deseja a eternidade mostra que não ama a vida, mas sim quem não a deseja, dado que se resigna tão facilmente ao pensamento de que aquela deva terminar.
Seria um enorme lucro, não só para a Igreja, mas também para a sociedade, redescobrir o sentido de eternidade. Ajudaria a reencontrar o equilíbrio, a relativizar as coisas, a não cair no desespero diante das injustiças e a dor que há no mundo, ainda lutando contra elas. A viver menos freneticamente.
Na vida de cada pessoa, houve um momento em que se teve certa intuição da eternidade, ainda que confusa. Devemos estar atentos para não buscar a experiência do infinito nas drogas, no sexo desenfreado e em outras coisas nas quais, no final, só permanece a desilusão e a morte. «Todo aquele que beber desta água voltará a ter sede», disse Jesus à samaritana. Deve-se buscar o infinito no alto, não no que é baixo; acima da razão, não por abaixo dela, nas ebriedades irracionais.
Está claro que não basta saber que a eternidade existe; é preciso também saber o que fazer para alcançá-la. Perguntar-se, como o jovem rico do Evangelho: «Mestre, o que devo fazer para ter a vida eterna?». Leopardi, na poesia O Infinito, fala de uma cerca que oculta da vista o último horizonte. Qual é, para nós, esta cerca, este obstáculo que nos impede de olhar para o horizonte último, para o eterno? A samaritana, aquele dia, compreendeu que devia mudar algo em sua vida se desejava obter a «vida eterna», porque em pouco tempo a encontramos transformada em uma evangelizadora que relata a todos, sem hesitar, o que Jesus lhe disse: «Ele disse-me tudo o que eu fiz.».

Fonte Homilia Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla

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