sábado, 28 de dezembro de 2013

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Mt 2,13-15.19-23 - 29.12.2013 - Levanta-te, pega o menino e sua mãe foge para o Egito.

Branco. Sagrada Família de Jesus, Maria e José Natal

Evangelho - Mt 2,13-15.19-23

Levanta-te, pega o menino e sua mãe foge para o Egito.

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 2,13-15.19-23

13Depois que os magos partiram,
o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse:
'Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o
Egito! Fica lá até que eu te avise!
Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo.'
14José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe,
e partiu para o Egito.
15Ali ficou até à morte de Herodes,
para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta:
'Do Egito chamei o meu Filho.'
19Quando Herodes morreu,
o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito,
20e lhe disse: 'Levanta-te, pega o menino e sua mãe,
e volta para a terra de Israel;
pois aqueles que procuravam matar o menino
já estão mortos.'
21José levantou-se, pegou o menino e sua mãe,
entrou na terra de Israel.
22Mas, quando soube que Arquelau reinava na Judéia,
no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá.
Por isso, depois de receber um aviso em sonho,
José retirou-se para a região da Galiléia,
23e foi morar numa cidade chamada Nazaré.
Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos
profetas:
Ele será chamado Nazareno.'
Palavra da Salvação.



REFLEXÃO
A família de Nazaré

Já começamos a dizer antes que Jesus realiza um novo êxodo, que vai culminar, de modo definitivo, na sua Páscoa. Já dissemos que Jesus é apresentado como o novo Israel e o novo Moisés. Ele é também comparado a Jacó (cf. Gn 46,2-5), que desceu ao Egito, aí cresceu e, ao sair, saiu como se fosse um povo numeroso. José, como no anúncio do nascimento de Jesus, é o destinatário da mensagem do anjo. É apresentado como homem justo, pois realiza o que lhe é pedido da parte de Deus (cf. vv. 13.19).
Com a citação de Oseias no centro do relato: “Do Egito chamei o meu filho” (Os 11,1), na qual o profeta se referia à saída do Egito, o evangelista parece querer comunicar que Jesus percorre as etapas fundamentais da história do seu povo, e que, por isso, ele é plenamente membro do povo eleito.
Estamos celebrando a festa da Sagrada Família de Nazaré. O que a faz santa? É a presença do Filho de Deus que assumiu a nossa humanidade. A presença do Emanuel permitiu revelar Maria como a que recebeu o favor de Deus e José, como o homem justo. A sua presença aproxima a realidade celeste da nossa humanidade. Ademais, a santidade da família de Nazaré se exprime no engajamento em realizar a vontade de Deus. Por isso, o desejável é o que São Paulo exprime tão bem: “Revesti-vos do amor, que une a todos na perfeição”. O amor é a expressão máxima da vida cristã.

Carlos Alberto Contieri, sj



A FUGA PARA O EGITO Mt 2,13-15.19-23
HOMILIA

É característico de Mateus elaborar suas narrativas teológicas como sendo atualizações de antigas narrativas do Primeiro Testamento. Neste texto, sobre a ameaça de Herodes ao menino e a fuga de José, com o menino e a mãe, para o Egito, pode-se ver uma alusão à história de José do Egito. José, o sonhador, um dos doze filhos de Jacó (Ex 37,5-11.19), ameaçado de morte pelos irmãos, encontra refúgio no Egito. Depois, os descendentes de Jacó no Egito são conduzidos de volta para Canaã (Palestina) por Moisés. Na narrativa de Mateus, José, como José do Egito, também tem sonhos reveladores. Advertido em sonho por um anjo, diante da ameaça de morte para o menino Jesus, José também busca refúgio no Egito. Mateus, então, afirma o cumprimento da escritura na volta de José, do menino e da mãe: “Do Egito chamei meu filho” (Os 11,1). De volta à Judéia, José é novamente advertido em sonho sobre o cruel Arquelau, indo buscar refúgio no norte da Palestina, na Galiléia, em Nazaré. Jesus, um novo Moisés na visão de Mateus, ficou conhecido como “o nazareno”. Na família e nas comunidades de discípulos, apesar de todas as tribulações, deve vigorar sempre a harmonia, na estima, no respeito e na gratidão mútuos. Jesus testemunhou um amor vivido na família aberto e transbordante para com todos os demais carentes da sociedade e do mundo.
Aqui Mateus mostra como a revelação do nascimento de Jesus foi recusada por Herodes, que tinha de seu lado “toda a cidade de Jerusalém”, e como fracassou a trama que pretendia entravar o projeto divino.
            O Egito sempre representou, para os judeus residentes na Terra Santa, o mais prático lugar de refúgio. Isso valia também no tempo de Herodes Magno, quando os romanos dominavam o Egito.
            Encontramos no texto, um profeta não nomeado. Fazendo uma releitura descobrimos que se trata de Oseias (Os 11,1). O profeta fala do povo de Israel, que Deus tirou da escravidão do Egito, tratando-o como filho, enquanto este se tornou indigno desse amor. É assim acenado um tema que será bem desenvolvido no resto do evangelho de Mateus, isto é, que em Jesus se realizou plenamente tudo o que Deus havia pedido em vão ao seu povo.
            Nos vv. 19-20, falando no plural “os que buscavam tirar a vida ao menino”, talvez o evangelista queira aludir a toda Jerusalém que era solidária com Herodes e, sobretudo, aos muitos futuros inimigos de Jesus que depois quiseram a sua morte. Arquelau foi mal-visto pelos seus súditos, por causa de sua crueldade, a tal ponto que os romanos o depuseram no ano 6 d. C. Portanto, é historicamente certo o julgamento de Mateus, que considera a Galileia como uma região politicamente mais tranquila do que a Judeia.
            No v. 23, a frase, aqui genericamente atribuída aos profetas, não aparece em nenhum lugar do antigo testamento. É claro, porém, que o evangelista pretende retrucar a quem defendia que o Messias não poderia vir de Nazaré, nem da Galileia (cf. Jo 1,46; 7,41.52). Entretanto, juntamente com esse significado, para o evangelista, o termo “Nazareno” devia ter um outro: provavelmente aludia ao termo hebraico, que significa “broto”. Haveria assim uma alusão ao oráculo messiânico de Is 11,1. Este fato, de que Jesus realiza o Êxodo definitivo, é sublinhado pelo uso do texto de Oséias, 11, 1. Na profecia original, o “Filho” era o próprio povo de Israel. Aqui Mateus a aplica a Jesus como indivíduo, pois Ele representa o início da restauração de todo Israel. A fuga e a volta constituem o Novo Êxodo, com um novo e maior Moisés – Jesus.
No que se refere à família moderna, podemos ver como a família de Nazaré pôs-se no seguimento da vontade de Deus. Sendo pessoas “justas”, José e Maria não hesitam, mas colocam as suas vidas a serviço da vontade divina, de realizar a salvação de Jesus. Era uma família tipicamente judaica - com a sua fé alimentada pela espiritualidade dos “anawim”, ou dos “pobres de Javé”, tão bem expressada pelos profetas Segundo-Isaías, Sofonias e Segundo-Zacarias, entre outros. Foi no seio desta família, com esta espiritualidade, que Jesus descobriu a sua identidade, a sua fé e a sua missão.
Que a celebração desta festa anime a todas as famílias cristãs, num mundo onde a vida familiar é desprezada e até atacada, a fortalecer a sua vivência da fé, criando laços de amor e doação, baseando-se nos valores evangélicos de solidariedade, justiça e partilha. No nosso mundo da idolatria do consumo, do “ter”, e do ‘poder”, a nossa vivência familiar é instrumento valioso na realização permanente do processo do Êxodo em nossa vida, hoje. Que Deus abençoe as nossas família. Jesus Maria e José, nossa família vossa é!
Pai, que a fidelidade demonstrada pela Sagrada Família de Nazaré seja exemplo para as famílias cristãs, cuja fé é provada em meio a tribulações.

Fonte Homilia: Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla

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