terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Mc 8, 22-26 - 15.02.2017

4ª-feira da 6ª Semana do Tempo Comum
15 de Fevereiro de 2017
Cor: Verde

Evangelho - Mc 8,22-26

O cego ficou curado,
e enxergava todas as coisas com nitidez.

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos 8,22-26

Naquele tempo:
22Jesus e seus discípulos chegaram a Betsaida.
Algumas pessoas trouxeram-lhe um cego
e pediram a Jesus que tocasse nele.
23Jesus pegou o cego pela mão,
levou-o para fora do povoado,
cuspiu nos olhos dele,
colocou as mãos sobre ele, e perguntou:
'Estás vendo alguma coisa?'
24O homem levantou os olhos e disse:
'Estou vendo os homens.
Eles parecem árvores que andam.'
25Então Jesus colocou de novo as mãos sobre os olhos dele
e ele passou a enxergar claramente.
Ficou curado,
e enxergava todas as coisas com nitidez.
26Jesus mandou o homem ir para casa,
e lhe disse: 'Não entres no povoado!'
Palavra da Salvação.
Fonte CNBB


Reflexão - Mc 8, 22-26
Jesus retira o homem do povoado, não o cura totalmente na primeira vez que lhe impõe as mãos, o deixa totalmente curado na segunda vez que lhe impõe as mãos e diz para ele não entrar no povoado. Esses elementos nos ajudam numa reflexão sobre o Evangelho de hoje. As pessoas vivem em sociedade e, geralmente, assumem integralmente os seus valores. Esses valores muitas vezes se tornam um obstáculo para a atuação da graça e para a verdadeira libertação dessas pessoas. Depois que a libertação acontece, essas pessoas não podem assumir novamente todos os valores da sociedade, pois voltarão a viver na escuridão do erro e do pecado.
Fonte CNBB


A LÍNGUA E A SALIVA QUE CURA Mc 8,22-26
HOMILIA

Na umidade interior da boca, a saliva é uma espécie de sêmen da palavra. Ela tem como a água, grande importância: une e dissolve os alimentos, pode curar ou corromper, suavizar ou insultar violentamente, como quando se transforma em cuspe. O órgão da saliva é a língua, como na relação entre a lágrima e os olhos. A língua, como um pequeno leme, governa nossa embarcação. A língua é fértil, seu semem é a saliva e seu fruto maduro e criativo é o Verbo, a palavra. Para despertar a palavra, para libertar o Verbo, Jesus empregará sua saliva sob a boca e os ouvidos do surdo-mudo. Para impedir a palavra e aniquilar o Verbo, cuspiram sobre o rosto de Jesus.

Língua e saliva. Como órgão do paladar e do gosto, a língua é símbolo do discernimento. Ela separa o bom do ruim; ela distingue, ela aparta e isola como um chicote, uma faca ou uma espada. Como órgão da palavra, a língua é criadora do Verbo e identifica-se com ele.

A língua é considerada como uma chama, cuja forma e mobilidade é como o fogo que destrói e purifica. Como instrumento da palavra, a língua edifica e arrasa. Comparada ao fiel de uma balança, a língua julga. Comparada a um pequeno leme, dirige o navio inteiro. A língua é como o fogo, o único animal que ninguém consegue dominar Tg 3,2-12. Na maioria das vezes o termo significa a própria palavra. Quando a palavra língua é empregada sem qualificativo, em geral designa a má língua. Como tens utilizada a tua língua?

Na Bíblia, a saliva evoca a vida, a cura e a salvação. Tocados pela saliva, os cegos vêem, surdos ouvem e mudos falam. Ao promover, com os dentes e a língua, uma intimização da pessoa com o alimento – por todos os critérios de reconhecimento derivados do paladar – a saliva fala do nosso desejo de alimentação espiritual, de alimentar-se do divino, de comer Deus. Na cavidade bucal, a saliva está associada às núpcias celestes, ao banquete celeste.

A saliva de Jesus é muito mais do que simplesmente um líquido transparente e insípido, segregado pelas glândulas salivares na base da língua que serve para fluidificar os alimentos, facilitar sua ingestão e digestão. A saliva de Jesus cura e liberta.

Associada aos alimentos, a saliva serve para uni-los e dissolvê-los, pode curar ou corromper, suavizar ou ofender. Ofender e insultar violentamente como quando cospe-se em alguém. Cuspir no rosto é um gesto grave em conseqüências, na tradição judaica. Quem cospe em alguém, não foi capaz de reter sua ira, seu ódio e transforma sua saliva luminosa em cuspe, em “não-luz”. Na Bíblia, cuspir no rosto de alguém é uma suprema vergonha, punida de lepra (Nm 12,14).

Falar de saliva é até certo ponto evocar a salivação que nos lembram sal e salvação. Elas falam do desejo de alimentação espiritual, de um saber que é sabor e sabedoria, de comer Deus, de alimentar-se do divino e saboreá-lo. A sabedoria leva a falar com sabor, com um sabor indestrutível como o do sal.

A saliva lembra a essência da purificação e da iluminação, o caminho terapêutico da intimidade com Deus, o banquete de núpcias, o encontro do Esposo com a esposa.

O tema da cegueira é bastante central na missão de Jesus. Não há dúvida que, entre as curas de Jesus, as mais relevantes devolveram a visão aos cegos. Na tradição judaica, abrir os olhos era a cura messiânica por excelência, o sinal para a identificação do verdadeiro messias, segundo a tradição profética. Ao apresentar-se na sinagoga de Nazaré, Jesus declara-se ungido – precisamente – para abrir os olhos aos cegos. Cristo vem abrir os olhos de todos para enxergarem o Invisível.

Como criaturas somos todos cegos de nascença. A matéria dela mesma não vê nada, não sabe nada. Nossa matéria só vê e sabe, se for tocada pela saliva e palavra de Jesus Cristo, pela fertilidade da água viva. Somos vitimados pelas mais diversas cegueiras. Não vemos sequer a maior das certezas, a realidade da morte fruto do pecado. E vivemos muitas vezes como se fossemos imortais. O mistério da vontade divina é o seu desejo de salvação para todos (Ef 1,9). Jesus vai em direção ao cego, sem distinção. E assim como na gênese do homem, Deus uniu sopro e saliva com o barro do terroso (Gn 2,7), assim Ele pega no barro e unta os olhos do cego. Os padres da Igreja já viam nesse barro feito por Jesus, um sinal da sua encarnação. Jesus usa e sacraliza a natureza, o pó da terra e a terapêutica saliva, para curar. E faz da cura física um sinal da cura espiritual.

Somos cegos e devemos aceitar nossa condição humana: não vemos a luz. Aceitar também, sem contestação, que o sopro e a palavra de Jesus que está por detrás da saliva habitem nosso pó, sinais da presença de Cristo, de nossa divinização e da fonte da nossa salvação. Jesus ao cuspir e passar a saliva nos olhos do homem, ao pôs a mão sobre ele e perguntar se ele via alguma coisa, nos convida a mergulharmos em nossa condição humana e suas racionalidades com uma nova consciência. Só n’Ele, por Ele e com Ele nós conseguimos enxergar o caminho que nos leva ao Pai.

Agora lavados com e pela salva de Jesus temos os nossos olhos abertos! Vemos, sabemos e conhecemos o que nos pode matar. E para tal já não podemos voltar para o povoado! Povoador quer dizer: voltar para a vida do pecado que gera a nossa morte e a dos nossos!
Fonte http://homilia.cancaonova.com/

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